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CAPÍTULO 4 – O Garrote no evento

4.2. As associações

Diante de tantos grupos folclóricos a rivalidade entre eles é inevitável. Ao ter o primeiro contato com dirigentes de alguns grupos foi fácil perceber como cada um fala de seu grupo com elogios e contando vantagens sobre suas conquistas nos festivais anteriores. Embora mostrasse interesse no processo do trabalho de cada grupo e não na festa em si de nada adiantava, pois o que mais orgulha esses brincantes são as notas e as glórias alcançadas no festival maior.

Toda essa “auto-descrição” vinha sempre acompanhada de muito respeito pelos outros dirigentes de grupos por causa de um coleguismo presente nos anos de festivais. Há um misto de rivalidade e solidariedade entre eles que se percebe por exemplo na forma como emprestam materiais e instrumentos musicais ou quando um integrante ajuda de alguma forma outro grupo. Em vários momentos fui até encarregada de mandar recados saudosos - Se você encontrar o Chiquinho fala pra

ele que ele que eu mandei um abraço! Ou ainda – Aquele cara tem um trabalho muito lindo. Ele é muito esforçado! Esse relato mostra como a rivalidade está

presente sem deixar escapar a simpatia e a identificação com aqueles que perseveram nas mesmas atividades, ou como às vezes mencionam, na mesma missão.

Além desses conflitos entre grupos também podemos refletir sobre o que acontece internamente. Já citei antes sobre o dono da brincadeira o que já revela a presença de uma autoridade, que por sua vez tem o apoio de um vice-diretor e mais recentemente comissões que são divididas de acordo com as tarefas a serem executadas no grupo, como confecção de figurino, montagem de ferragem das alegorias ou ainda na produção musical.

Segundo relatos colhidos por Silva (2011) alguns membros mais antigos olham com estranheza as novas distribuições de tarefas, pois agora é preciso contratar profissionais especializados em algumas áreas como figurinistas para desenhar

figurinos, cenógrafos e músicos, e antigamente os próprios brincantes confeccionavam o todo necessário.

Ao consultar outros trabalhos bibliográficos percebe-se que é recorrente citar os trâmites burocráticos que atravessam os bastidores da festa e como os conflitos dele derivados são muitos. No trabalho de campo realizado para esta pesquisa verificamos alguns problemas enfrentados por grupos menores. Não só da ordem financeira, mas também com relação à agenda e ao acesso.

Desde 1957 o Festival sedia o principal encontro dos grupos folclóricos da cidade de Manaus que recebem uma verba para a produção de suas apresentações. Atualmente, a SEC disponibiliza esse dinheiro para as associações (AGFAM, AGFM, LIGFM, AMBM) que repassam para os dirigentes de grupos. Os valores a serem recebidos são distribuídos de acordo com a associação a qual o grupo se filia, a categoria na qual o grupo se encontra e ao tipo de manifestação.

Muitos integrantes de grupos afirmam que há atrasos com o repasse de verbas e isso atrasa a compra de materiais e confecção de figurinos e alegorias, o que leva a outro problema, a compra de materiais em lojas de tecido antecipadamente e sem pagamento, do jeito popularmente conhecido como fiado.

Segundo Silva (2011, p. 111) há um acordo de cavalheiros em que os lojistas aceitam vender os produtos sob a promessa da liberação de verba pela SEC para os grupos folclóricos. Além desses, problemas com o calendário das atividades também são citados pela imprensa local38, como no caso do ano de 2014 em que o Festival foi realizado no mês de agosto e setembro por causa da Copa Mundial de Futebol, e tradicionalmente deveria acontecer em junho ou julho.

Além do aporte da SEC e das associações folclóricas, há outras alternativas de captação de recursos adotadas pelos grupos como meio de garantir que todos os compromissos financeiros sejam sanados, visto que o dinheiro repassado nem sempre é suficiente para cobrir os gastos. Desde a origem dos primeiros grupos folclóricos o suporte financeiro sempre foi questão prioritária a ser discutida pelos dirigentes fazendo-os pensar em estratégias variadas para angariar recursos. Em cada grupo há o chamado “dono da brincadeira” que busca simpatizantes residentes

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no bairro ou mediações do local onde a brincadeira é sediada, composto de comerciantes, empresários, funcionários públicos e políticos.

...Dentre as estratégias podemos ressaltar o título de “Padrinho ou Madrinha da brincadeira”, título carregado de simbolismo que pressupõe prestígio a esses dentro do grupo; em algumas situações, estabelecem valores a serem cobrados por apresentações; circulam o “Livro de Ouro”, ter a assinatura neste livro é, também, um pressuposto de prestígio, pois é preciso pagar para assinar; assim como festas com rifas e bingos que somada às demais, respondem por provimentos financeiros para custear a brincadeira, ou seja, confecção de indumentárias, aquisição de instrumentos musicais, pagamento de músicos, confecção de alegorias e adereços (SILVA, 2011, p. 65).

Cada associação têm um determinado regulamento interno, número de associados, taxas administrativas e contribuições específicas. Nelas, os grupos folclóricos são classificados em categorias, sendo o nível máximo a super categoria, nível intermediário a categoria especial e em última instância a categoria A. Dentre os grupos folclóricos que as associações abrigam estão: Bois-Bumbás, garrotes, quadrilhas, danças nordestinas, tribos, cacetinhos, cirandas, danças regionais e xotes. Vale ressaltar que os grupos que mais recebem verba na super categoria são os Bumbás, que, em se tratando de Manaus, são três: Brilhante, Corre-Campo e Garanhão.

Também há outra categoria entre os grupos que é o Regional e o Tradicional. Essa divisão se refere ao jeito como o grupo pratica e apresenta sua performance. A categoria tradicional inclui brincantes que buscam manter uma essência de tradições na forma como dançam, cantam e se vestem. As marcações dos passos são mais simples e não valoriza o uso de alegorias extravagantes e efeitos espetaculosos. Nos últimos anos esta categoria representa uma parcela muito pequena de grupos pois a grande maioria tende a seguir o padrão regional a qual se aproxima do visto em Parintins, com uma prática assumidamente performática. É comum o uso de instrumentos eletrônicos e a dedicação em cumprir os itens obrigatórios dos grandes festivais, como a presença dos personagens centrais, uso de alegorias, figurinos mais detalhados e banda musical compondo a marujada ou batucada.

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