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4 Apresentação dos dados e Análise dos resultados

4.2 Apresentação e Análise dos dados IES ALFA

4.2.1 Planejamento da avaliação pelos atores envolvidos no processo

4.2.1.1 Atores Proponentes

A análise da entrevista, do guia de entrevista online, e dos documentos coletados permitiu identificar os proponentes do processo avaliativo nos níveis macro, meso e microssocial (ALFONSO, 2003). Identificaram-se em nível macro, os órgãos oficiais a quem compete o estabelecimento de normas para a modalidade de ensino a distância e em nível meso, a IES estudada representada pelo Conselho Acadêmico, pela Diretoria de Tecnologias Educacionais e pela Pró-Reitoria Acadêmica, cabendo a esses três últimos, segundo resolução interna da IESALFA, a função de avaliar os projetos educacionais, de verificar se os requisitos para o funcionamento do curso estão em conformidade com a legislação vigente e de realizar o acompanhamento didático. Em nível meso e micro, ao mesmo tempo, foi

identificado o professor uma vez que ele atua como proponente tanto na elaboração quanto na implementação do processo avaliativo.

Pelo que se constatou nas observações, os proponentes dos três grupos dialogam entre si, seguindo, contudo uma hierarquia no planejamento da avaliação que é realizado respeitando-se o que estabelecem os dispositivos legais (nível macro) e as resoluções internas da IES (nível meso) que por sua vez fundamentam as tomadas de decisão do professor em relação a avaliação dos seus alunos (nível micro).

Os cursos de pós-graduação a distância deverão incluir, necessariamente, provas presenciais e defesa presencial individual de monografia ou trabalho de conclusão de curso (Resolução No1, de 8 de Junho de 2007 que estabelece normas para o funcionamento de cursos de pós-graduação lato sensu, em nível de especialização) (Nível macro)

A verificação do aproveitamento do aluno deve ser feita ao longo do curso, mediante avaliação única ou em partes, compreendendo notas de acordo com a determinação de cada projeto. (Resolução interna da IESALFA artigo oitavo) (Nível meso)

O resultado final do aproveitamento dos alunos deve ser expresso por meio de notas graduadas de zero a dez, permitindo-se a fração decimal.(Resolução interna da IESALFA artigo oitavo, parágrafo primeiro) (Nível meso)

As provas devem ser presenciais (Resolução interna da IESALFA artigo oitavo, parágrafo segundo). (Nível meso)

A aprovação do aluno se dá mediante requisitos tais como o desenvolvimento de atividades propostas, obtenção de média mínima de 7,0 pontos em todas as disciplinas e a realização de avaliações presenciais, devendo os resultados de essas avaliações prevalecerem sobre os demais resultados obtidos em quaisquer outras formas de avaliação. (Resolução interna da IESALFA artigo oitavo, parágrafo nono). (Nível meso)

A partir da análise desses trechos constatou-se que o planejamento da avaliação na IES ocorre em função das resoluções que normatizam a priori como deve ser realizado o processo avaliativo na modalidade de ensino a distância adotada pela IES. Verificou-se que o planejamento ocorre mediante exigências que preveem desde a utilização dos instrumentos avaliativos (“provas presenciais”, “atividades propostas”), ao momento e o acompanhamento da avaliação (“ao longo do curso”, “avaliação única ou em partes”), até os critérios (“notas”, “notas de 0 a dez, permitindo a fração decimal”) em um nível de exigência tal que lembra Moran (2009, p.66) quando diz que a “legislação da educação é bastante detalhista e restritiva”.

Em conformidade com as exigências trazidas pelos órgãos reguladores e pelas resoluções internas da IES, constatou-se, a partir das observações e da entrevista, que os proponentes de nível meso e micro articulam-se no sentindo de definir como o processo avaliativo deverá ocorrer formando uma equipe multidisciplinar responsável pela estruturação do curso, orientação e suporte ao professor como sugere a fala da Coordenação da IESALFA:

Tem uma equipe de designers instrucionais que atua no suporte a organização do curso, além do direcionamento que eu dou, existem esses designers instrucionais que acabam dando esse direcionamento. Então, o professor tem todo o suporte pra elaboração do plano do módulo. Então, eles colocam em linhas gerais a atividades com o conteúdo a ser trabalhado, esse designer instrucional sugere a melhor forma de colocar isso (ENTREVISTA COORDENAÇÃO IESALFA)

O professor, identificado como dito anteriormente, como proponente de nível meso e micro, uma vez que ele participa do processo de elaboração e implementação da avaliação da aprendizagem, discute com os demais proponentes como será estruturada a sua disciplina como se vê na fala da coordenação:

O próprio professor do módulo discute comigo, como é que vai ser o modelo do módulo que vai ser trabalhado (ENTREVISTA COORDENAÇAO ALFA1).

O professor tem todo o suporte pra elaboração do do do plano do módulo então, eles colocam em linhas gerais a atividades com o conteúdo a ser trabalhado (ENTREVISTA COORDENAÇAO ALFA1).

Pelo que se constatou a partir das observações, uma vez definidas todas as questões referentes ao funcionamento da disciplina, a equipe elabora o Plano de Trabalho que estrutura todo o processo de ensino e aprendizagem e consequentemente o processo avaliativo por módulo no curso. No plano estão previstas atividades avaliativas formadas por trabalhos e exercícios de fixação, testes, provas online e presenciais, momento da avaliação, tempo de duração, prazos de entrega e critérios avaliativos. É, portanto, pautado nesse plano de trabalho que o professor efetivará a sua prática avaliativa.

Segundo o COORDENADOR da IESALFA, “o professor tem liberdade total pra sugerir um modelo diferente”. Contudo, apesar da alegada autonomia outorgada ao professor para alterar o módulo, como se viu na fala da Coordenação, percebeu-se, tanto por meio das observações no AVA, quanto da análise dos Planos de Trabalho, que o curso segue uma estruturação rígida que oferece aos professores as mesmas ferramentas módulo a módulo. Isso sugere certo engessamento que limitaria o professor a elaborar e implementar a avaliação da aprendizagem dentro daquilo que os proponentes normatizam uma vez que todas as propostas do professor passariam pelo crivo dos proponentes para ver se estão de acordo com as propostas do curso e se atendem as normas estabelecidas. A fala da COORDENAÇAO da IESALFA evidencia isso:

Obviamente o professor tem liberdade pra sugerir uma mudança nessa estrutura. Mas a gente sugere, sim, e os designers instrucionais atuam com o professor verificando se está sendo cumprido ou não. (ENTREVISTA COORDENADOR ALFA1)

A gente dá uma orientação sobre o peso, tah, mas ele que define. Ate a gente faz isso pra poder.. não deixar tão engessado. Tah, por que o modulo tem uma dinâmica diferente um pouco do outro e o professor tem uma certa liberdade pra poder colocar sua dinâmica dentro do modulo ne (ENTREVISTA COORDENADOR ALFA1)

A resposta de um participante ao guia de entrevista enviado online, PROFESSORIESALFA01, evidencia o controle mantido pela instituição em relação ao processo avaliativo praticado pelo professor. Segundo o participante:

Há uma “supervisão dos professores, que acompanha o que está sendo postado e como está o processo de avaliação. Quando isso não ocorre de maneira fluída e contínua, recebemos advertências. (PROFESSORALFA01).

A análise dos Planos de Trabalho de cada professor permitiu constatar que boa parte dos professores estrutura o processo de avaliação da mesma forma, utilizando-se dos mesmos elementos disponíveis para conduzir o processo. Acredita-se que isso possa ter relação com questões tais como o controle que a IES exerceria sobre as decisões tomadas pelo professor – controle esse, que adviria da busca em se atender à legislação e às normas, que, como dito anteriormente, poderia trazer engessamento para o processo. Ou questões ligadas à preparação do professor para a condução do processo avaliativo ou ao seu conhecimento em relação a maneiras diferentes de avaliar a aprendizagem além daquelas apresentadas pela IES ou, ainda, à falta de motivação do professor para buscar formas alternativas de avaliar uma vez que as já sugeridas pelos proponentes de nível hierárquico mais elevado seriam suficientes. Seja qual for o caso, acredita-se que a instituição tem responsabilidade no processo avaliativo, não só como proponente e reguladora do processo mas também na função de acompanhar o processo junto ao professor. A esse respeito, lembra-se Arredondo e Diago (2003, pg. 510) quando ressaltam que:

Em toda organização, a cúpula dirigente tem uma responsabilidade e capacidade de decisão fundamental para seu funcionamento. Se a equipe diretiva do centro não mantém uma atitude de transformação e melhora, é difícil fazer com que a prática avaliadora tenha um desenvolvimento mais formativo. A implantação de propostas inovadoras em uma instituição depende, em grande parte, da capacidade de liderança e estímulo que os responsáveis máximos desenvolvam nos diferentes setores da comunidade educacional, particularmente o corpo professor.