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Em outros termos, a grande meta do Neurobusiness é permitir que um melhor conhecimento de nós mesmos, como seres biológicos, transforme-se em resultados mais efetivos, seja em termos de nosso padrão de vida material, do resultado das empresas ou da evolução de nossas carreiras.

Tudo isso, sem abrir mão de dois outros princípios:

a busca contínua da qualidade de vida, dentro fora do trabalho, e

a ação ética na geração e no emprego do conhecimento neurocientífico aplicado.

Por essa razão, iniciamos o módulo com uma breve – e densa – discussão sobre a ética do Neurobusiness e concluiremos com o mindfulness – uma prática cada vez mais associada à qualidade de vida, dentro e fora do mundo empresarial.

MÓDULO IV – AUTOCONHECIMENTO E

PERFORMANCE

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Neurobusiness e ética

Neuroética – origem e conceituação

O primeiro uso conhecido do termo neuroética ocorreu em 1973, em um artigo de Anneliese Pontius (1973). O texto analisou questões éticas relacionadas à pesquisa neurológica com recém-nascidos. Desde então, o uso do termo tem-se ampliado. Em 2002, realizou-se, em San Francisco, a conferência Neuroethics: mapping the field. Outro marco importante ocorreu em 2006, com a criação da INS – International Neuroethics Society -, cuja missão é promover o desenvolvimento e a aplicação responsável da neurociência em nível internacional, incluindo as suas aplicações interdisciplinares, caso típico do Neurobusiness.

O interesse por esse campo também fica evidente pelo número crescente de publicações, tais como as revistas Neuroethics, American Journal of Bioethics, American Journal of Law and Medicine, Bioethics e Cambridge Quarterly of Healthcare Ethics, entre outras.

Em termos conceituais, pode-se definir neuroética como o estudo das implicações éticas, sociais e jurídicas dos avanços da neurociência e das suas múltiplas aplicações. Partindo da ética clássica, a neuroética visa aprofundar a discussão das questões morais relativas à pesquisa e à aplicação do conhecimento no campo neurocientífico. Vejamos:

Figura 14 – Da ética à neuroética

Fonte: Gonçalves e Paiva (2018, p. 450).

Evidentemente, no contexto do Neurobusiness, o interesse em questões éticas recai sobre a aplicação da neurociência. Esquematicamente, neuroética tem um campo comum com a bioética e, ao mesmo tempo, trata de temas próprios, como sugere a Figura 14.

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Neuroética e ética do Neurobusiness

A partir da compreensão da neuroética, é preciso avançar e definir o campo da ética do Neurobusiness. Esses dois campos, apesar de possuírem áreas e temáticas em comum, não se confundem. Dessa forma, a ética do Neurobusiness se caracteriza como uma extensão da neuroética, que, por sua vez, possui toda uma relação com a bioética. No entanto, existe um campo da ética do Neurobusiness que lhe é próprio, fora das fronteiras da neuroética e da bioética. A figura, a seguir, ilustra esses vários campos e as suas interseções.

Figura 15 – Ética do Neurobusiness além da neuroética

Fonte: Gonçalves e Paiva (2018, p. 453).

O que a figura acima destaca é que a neuroética abrange parte da temática da bioética, ao mesmo tempo em que possui uma área externa a ela. O mesmo ocorre com a ética do Neurobusiness, pois ela possui uma área ampla nos limites da neuroética, mas também possui um campo próprio, que vai além desses limites.

Avançando ainda mais, é possível afirmar que a ética Neurobusiness, possui três dimensões.

A primeira é uma extensão da ética na pesquisa neurocientífica, dentro do campo da neuroética e da bioética (área 1 da Figura 16, abaixo). Nessa área, discute-se a conduta dos pesquisadores em estudos de neurociência com potencial de aplicação no campo dos negócios. A influência das emoções nos processos decisórios ou os mecanismos de formação de memórias são bons exemplos dessa primeira área.

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Figura 16 – Três áreas da ética do Neurobusiness

Fonte: Gonçalves e Paiva (2018, p. 454).

A segunda área se refere, especificamente, à ética da pesquisa aplicada, própria das disciplinas do Neurobusiness (área 2 da Figura 16). O estudo clássico do neuromarketing, envolvendo Coca e Pepsi, situa-se nessa área. Pesquisas assim, de caráter diretamente aplicado ao Neurobusiness, também exigem uma conduta ética dos pesquisadores (área 1), mas o foco recai sobre a relação entre os consumidores (voluntários dos experimentos e das pesquisas) e as suas marcas de refrigerante preferidas (área 2).

Por fim, existe um terceiro campo que se refere ao uso feito por empresas e profissionais de do conhecimento e das ferramentas geradas pelo Neurobusiness em uma clara interface com a ética empresarial ou ética dos negócios (área 3 da Figura 16 e da Figura 17).

Figura 17 – Ética do Neurobusiness e ética empresarial

Fonte: Gonçalves e Paiva (2018, p. 455).

Desse modo, questões como assédio moral, igualdade de gênero, relações de poder dentro das empresas, formas de motivação com ou sem apelo a ganhos financeiros e altruísmo podem e devem ser abordadas tanto do ponto de vista da ética clássica quanto da neurociência aplicada. Por exemplo, o uso aplicado do conhecimento neurocientífico no âmbito das relações empresariais está sendo feito eticamente? Ou estamos usando esse conhecimento para influenciar o comportamento de outros agentes, dentro e fora da organização, de forma moralmente inadequada?

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Princípios da ética do Neurobusiness

No livro Triuno: neurobusiness e qualidade de vida, os autores desta apostila definiram cinco princípios para a ética do Neurobusiness inspirados na bioética (Gonçalves e Paiva, 2018, pp. 471-475). São eles:

Princípio da não maleficência – Princípio em comum com a bioética e a neuroética aplicada à pesquisa neurocientífica pura. Sejam quais forem as práticas do Neurobusiness, é preciso assegurar que os agentes envolvidos não sofrerão mal algum, seja do ponto de vista da sua integridade física, no caso das pesquisas envolvendo neuroimagem com voluntários, por exemplo, seja do ponto de vista moral no que tange às suas opiniões, crenças e escolhas.

Princípio da transparência – Idealmente, é desejável que os participantes de um experimento em Neurobusiness tenham conhecimento dos propósitos e métodos do teste, desde que isso não venha a interferir nos resultados. Se o consumidor ou comprador soubesse do uso das técnicas, a sua eficácia seria comprometida? Infelizmente, não há uma resposta consolidada para essa questão, de modo que ela merece ampla discussão.

Princípio da autonomia – Influenciar sem condicionar comportamentos e escolhas é a síntese desse princípio. A prática do nudge deixa claro que as ações de Neurobusiness – sejam no âmbito do consumo ou para incentivar comportamentos mais altruístas, como a doação de órgãos – mantêm níveis elevados de autonomia para os agentes, algo eticamente muito desejável.

Princípio da privacidade – Esse princípio destaca que é fundamental garantir a privacidade das pessoas envolvidos tanto na pesquisa neurocientífica aplicada quanto nas práticas do Neurobusiness. O uso de recursos de eye tracking, por exemplo, pode demonstrar que um consumidor que visite um ponto de venda teve o seu interesse voltado para a vendedora, muito mais do que para os produtos em exposição. Esse interesse estaria completamente fora do objetivo da pesquisa e associado a questões de natureza pessoal.

Descartar tal informação seria a atitude ética mais recomendável, desde que não tenha avido assédio em relação à profissional. O mesmo se passa, em escala muito mais ampla, com a utilização de técnicas de Big Data, associadas ou não com o Neurobusiness, que rastreiam nossos hábitos de consumo.

Princípio do controle comportamental e controle social – As técnicas originadas nas aplicações da neurociência não devem ser utilizadas para o monitoramento e potencial controle comportamental nas organizações, o que, em um contexto amplificado, poderiam resultar em controle social. Dessa forma, por exemplo, a medição do nível de certas substâncias no sangue poderia sugerir comportamentos potenciais indesejados de um colaborador, indicando que ações “corretivas” deveriam ser tomadas pela empresa.

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Em resumo, o grande desafio da ética aplicada ao Neurobusiness é influenciar sem limitar a autonomia, emocionar sem dramatizar, proporcionar experiências atrativas de forma explícita e não velada. Esse é, em suma, o equilíbrio desafiador proposto pela ética aplicada ao Neurobusiness.

Plasticidade cerebral

Discussão sobre a plasticidade

Como vimos no primeiro módulo, ao contrário do que se pensava até o final do século passado, o número de células cerebrais não é algo fixo que sofre um declínio lento e contínuo ao longo da vida. A depender das experiências que vivemos ao longo da vida, nosso cérebro se transforma plasticamente não apenas alterando o seu número de neurônios, mas, principalmente, alterando as conexões entre os neurônios existentes. Ou seja, sinapses podem ser criadas, eliminadas ou reforçadas.

Exercícios físicos estimulam a produção de novos neurônios, além de oxigenar o cérebro e adestrar nossa habilidade motora. Exercícios mentais, como aprender uma nova língua ou a tocar um instrumento, atuam plasticamente no cérebro mudando a sua formação, deixando-o mais alerta e preparado para novos desafios, além de ajudar a prevenir doenças como Alzheimer.

No entanto, se a plasticidade é estimulada pelo treinamento do cérebro, o contrário também vale: sem estímulo, as células cerebrais podem ser perdidas e as conexões entre os neurônios existentes podem ser enfraquecidas, perdendo velocidade e precisão. Como veremos adiante, para nosso cérebro vale o lema: “use ou perca”.

Muitas pessoas que sofrem acidentes vasculares cerebrais (AVC) sofrem danos que atingem partes inteiras do cérebro. Alguns perdem totalmente a sua capacidade de controle motor ou ficam com a fala comprometida, por exemplo. Ainda assim, muitos conseguem se recuperar e voltar às suas atividades normais depois de alguns meses. Como isso acontece?

As diversas técnicas de neuroimagem têm demonstrado que, de fato, as áreas comprometidas não se recuperam. Com isso, se as habilidades afetadas pelo AVC foram total ou parcialmente recuperadas, elas tiveram que ser “reaprendidas” por outras partes do cérebro. Por isso, o tratamento para aqueles que sofreram AVC é tão lento e difícil. Nosso cérebro precisa “desaprender” habilidades básicas, isto é, deixar de utilizar as antigas áreas cerebrais no exercício dessas habilidades – um hábito exercitado por anos – e reaprender essas mesmas habilidades, isto é, passar a utilizar outras áreas para poder executá-las. De certa forma rearrumamos nossa “casa cerebral”, atribuindo antigas funções a áreas do cérebro que jamais tinham feito aquilo, exatamente como já havíamos feito quando crianças.

Essa é uma realidade dramática e, ao mesmo tempo, fascinante. Se o cérebro é plástico, então o seu tamanho e a distribuição de funções nas suas diversas regiões podem mudar. Até certo ponto, nós mesmos podemos orientar essas mudanças, direcionando a plasticidade cerebral.

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Outro exemplo, menos dramático do que o das vítimas de AVC, ocorre com os violinistas.

Quando esses músicos são destros, é possível observar, por meio de técnicas de neuroimagem, que a área do cérebro associada à mão esquerda é maior e mais ativa que a sua correspondente no outro hemisfério cerebral. Isso porque, assim como ocorre com os que tocam outros instrumentos da mesma família, a mão esquerda precisa de grande habilidade para pressionar de forma rápida e coordenada as cordas do instrumento. Enquanto isso, a tarefa da mão direita é mais simples e se limita aos movimentos do arco.

Reserva cognitiva

A reserva cognitiva é a resistência da mente às lesões no cérebro. Ou seja, ela é a resiliência da mente, sendo avaliada em termos comportamentais, enquanto os danos neuropatológicos são avaliados em termos histológicos.

Um cérebro que tem a sua plasticidade estimulada tende a aumentas a sua reserva cognitiva.

Sendo assim, ainda que desenvolva algum tipo de problema, como o Alzheimer, a reserva cognitiva pode fazer com que o cérebro consiga, de certa forma, driblar a doença. Existem diversos casos de pessoas que desenvolveram Alzheimer e nunca exibiram os sintomas.

Use ou perca: a competitividade do cérebro

A plasticidade do cérebro tem natureza competitiva. Tudo se passa como se nossas diferentes habilidades disputassem espaço no sistema neural. Desse modo, se pararmos de exercitar determinadas habilidades mentais, a região do cérebro associada a ela poderá ser ocupada por outras funções. É o famoso termo da neurociência: “use ou perca”.

Um bom exemplo são aquelas aulas de química ou física do período pré-vestibular. Talvez, você até se lembre de um ou outro detalhe da tabela periódica ou de alguma aplicação da segunda lei de Newton. No entanto, é bastante provável que muitas das fórmulas aprendidas já tenham sido esquecidas se você não as usou mais depois de entrar na faculdade. Isso ocorre porque as áreas que armazenaram aquelas informações foram demandadas por outros fatos, habilidades e dados, deslocando o que não foi usado.

Esse aspecto competitivo da plasticidade cerebral também explica por que é tão difícil aprender uma segunda língua depois de adulto. Antes de tudo, como vimos, existe um período crítico para aprender línguas. Quando esse período acaba, as novas línguas que aprendemos serão armazenadas e controladas em outras regiões do cérebro, áreas diferentes das que guardam as línguas aprendidas no período crítico e que são as regiões ideais para essa tarefa.

Além disso, ao aprender uma língua depois de adulto, o mais difícil é que, quanto mais falamos uma mesma língua, mais dominante ela se torna em nosso cérebro. Por isso, muitas pessoas que vão morar em outro país têm maior facilidade em aprender a língua do que só fazendo algumas aulas por semana. Em um país diferente, a língua dominante do cérebro perde um pouco da sua

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força, já que será pouco utilizada, enquanto a língua nova começa a ser realmente essencial para o conforto e sobrevivência, sendo usada de forma intensiva. Em outras palavras, nosso cérebro, realmente, muda em função dos hábitos. Quanto mais intensamente exercitarmos novos hábitos, mais rápida será a mudança.

Essa é uma das lições mais importantes ensinadas pela neuroplasticidade. Hábitos estão associados a atividades específicas e disputam espaço em nosso cérebro. Quando descobrimos isso e passamos a prestar atenção aos processos por trás da neuroplasticidade, nossa capacidade de aprendizado e de desenvolver novas habilidades aumenta muito.

Quando chegamos à fase adulta, por volta dos 40 anos, nossa vida, finalmente, acalma um pouco. A estabilidade profissional já foi atingida, adquirimos um conhecimento maior de nós mesmos e dos nossos objetivos de vida e carreira. Se, por um lado, essa estabilidade é muito boa, já que podemos aproveitar mais a vida, por outro lado, temos de tomar certo cuidado. Muitas vezes, ficamos acomodados e deixamos de buscar novas experiências, desafios, aprendizados realmente inéditos. Dessa forma, ao chegarmos nos 70 anos, se tivermos seguido esse padrão, teremos acostumado nosso cérebro a não usar todo o seu potencial de plasticidade que, afinal, não se esgota no final da infância.

O mesmo acontece com nosso corpo. Nós nos acostumamos a sentar na mesma posição no trabalho, ficar de pé para nos locomovermos e deitar na hora de dormir. Deixamos de nos alongar, pular, dançar, correr, desenhar, tocar instrumentos, brincar. Quanto menos fazemos essas tarefas, menor nosso controle sobre movimentos que necessitam precisão, força, alongamento ou resistência.

Da mesma forma que nossos músculos vão perdendo a sua precisão motora, força e rapidez quando não fazemos exercícios, nosso cérebro sofre as mesmas consequências. Por isso, buscar desafios ao longo de toda a vida é algo extremamente positivo. Não que trabalhar ou criar um filho não sejam desafios, mas são ações já conhecidas pelo cérebro, pois já existe alguma parte dele que se dedique a funções relacionadas a isso.

Realmente, exercitar o cérebro é pisar em algum terreno desconhecido, fazer algo totalmente novo, como aprender a dançar, tocar algum instrumento, aprender alguma língua estrangeira, entre outras várias possibilidades.

Em resumo, com alguns conhecimentos de neuroplasticidade, podemo-nos preparar para viver uma vida muito mais saudável, buscando estimular diferentes áreas do cérebro de acordo com nossas necessidades. Além disso, nosso autoconhecimento se torna muito maior e também nossa compreensão do comportamento de outras pessoas. Isso é muito útil não só na medicina, mas gestores de pessoas também podem utilizar conhecimentos da neuroplasticidade em seu favor e em favor da organização!

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Neurônios usados juntos trabalham juntos

Esse conceito da neurociência foi introduzido por Donald Hebb ainda nos anos de 1940: se treinarmos nosso cérebro a associar tarefas diferentes, ele vai aprender a fazer a associação sozinho.

Seria como aprender pelo hábito, como já visto antes. Se, no começo de um aprendizado, é preciso se policiar para lembrar de dizer “obrigado” toda vez que alguém nos faz um favor, depois de certo tempo, isso passa a ser natural e, às vezes, até nos escapa um “obrigado” quando nem queríamos falar. Ou quando trancamos a porta de casa tão automaticamente que, depois, ficamos sem saber se realmente lembramos de trancar ou não.

Quando aprendemos algo novo, como dirigir, precisamos conciliar diversas atividades ao mesmo tempo, como olhar para frente, olhar no retrovisor, virar a direção, mudar a marcha, pisar na embreagem, respirar e ainda prestar atenção se tem alguma criança correndo no meio da rua.

No entanto, ao treinarmos nosso cérebro com a prática, ele começa a dar conta de tudo isso com facilidade e nos deixa tão tranquilos a ponto de conseguir cantar alguma música que toque no rádio enquanto dirigimos.

Os vícios que adquirimos ao longo da vida também estão ligados a essa capacidade de associação do nosso cérebro. Muitas pessoas que tentam largar o cigarro comentam que, além da dependência da nicotina, os hábitos também são muito difíceis de serem abandonados. Como fumar sempre depois de tomar café ou em situações estressantes. Situações assim envolvem, antes de tudo, um aprendizado associativo ou um condicionamento.

Pensando no dia a dia, estamos acostumados a fazer associações ainda mais banais, que acabam influenciando nossa vida negativamente, tais como vincular o fato de ter de falar em público com algo negativo, o que provoca um nervosismo maior do que o necessário e uma queda da qualidade da performance, além do estresse que realimenta o problema.

Pascual-Leone, professor de neurologia na Faculdade de Medicina de Harvard, tem uma metáfora que ilustra bem as situações observadas aqui. Ele diz que a neuroplasticidade é como uma montanha de neve fofa. Ao descermos a montanha de trenó, podemos ser flexíveis, pois temos várias opções de caminho na neve fofa. No entanto, se toda vez que descermos a montanha nós o fizermos pelo mesmo caminho, uma trilha vai ficar marcada na neve, e cada vez mais funda, dificultando um desvio. Nossa rota ficará mais rígida, como as ligações dos nossos neurônios quando repetimos diversas vezes a mesma tarefa até ela se tornar dominante e automática.

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Criatividade

O que é a criatividade

A criatividade é a capacidade de recombinar informações já existentes para resolver problemas de maneiras novas. É a habilidade de perceber o mundo de formas diferentes, de perceber padrões escondidos, fazer conexões entre elementos aparentemente não relacionados e gerar soluções novas em qualquer área da vida.

Essa habilidade se desenvolve mais intensamente durante a infância. Por isso, crianças são tão criativas e conseguem criar um mundo novo por meio da sua imaginação. Ainda assim, como vimos na unidade anterior, nosso cérebro é plástico mesmo durante a fase adulta. Se treinarmos o nosso cérebro a pensar de forma criativa, aprenderemos a ser mais criativos em qualquer situação.

Assim como uma pessoa que exercite os músculos do braço na academia vai ter braços fortes em qualquer situação, seja jogando tênis ou levantando uma caixa pesada, quem exercita o cérebro criativamente consegue aplicar esse mesmo padrão de pensamento em diversas situações.

Pensamento criativo

No final dos anos 1990, o neurocientista inglês Stephen Kosslyn mostrou que a imaginação, isto é, a capacidade de visualizar mentalmente o que não está acessível aos sentidos, ativa as mesmas partes do cérebro que recebem informações dos sentidos (Kosslyn, 2005). Ou seja, de certa forma, quando imaginamos alguma ideia ou situação na nossa cabeça, o cérebro a simula utilizando as mesmas áreas que seriam usadas para perceber a situação real.

A capacidade de encontrar novos caminhos entre ideias e conceitos – também conhecida como insight – depende do esforço conjunto de regiões dos dois lados do cérebro que também participam de outras atividades, tais como da memória de trabalho e da memória de longo prazo, da representação de objetos e ações, das emoções, entre outras. Ou seja, ela resulta da combinação

A capacidade de encontrar novos caminhos entre ideias e conceitos – também conhecida como insight – depende do esforço conjunto de regiões dos dois lados do cérebro que também participam de outras atividades, tais como da memória de trabalho e da memória de longo prazo, da representação de objetos e ações, das emoções, entre outras. Ou seja, ela resulta da combinação

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