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Operar nos mercados é um jogo difícil. Os investidores que pretendem al- cançar o sucesso duradouro devem ser muito sérios no que fazem. Não pode dar-se ao luxo de serem ingênuos ou de investirem em função de al- guma agenda psicológica oculta.

Infelizmente, operar nos mercados quase sempre exerce forte atração sobre pessoas impulsivas, sobre jogadores, e sobre quem acha que o mun- do deve prover-lhes os meios de sobrevivência. Quem opera nos mercados como algo excitante, tende a realizar transações com chances adversas e a aceitar riscos desnecessários. Os mercados são implacáveis, e os investi- mentos emocionais sempre resultam em perdas.

Jogo

Jogar significa apostar em jogos de azar ou de habilidades. Esses jogos exis- tem em todas as sociedades e a maioria das pessoas já jogou em algum mo- mento de sua vida.

Freud achava que o jogo exerce uma atração universal por ser um suce- dâneo da masturbação. A atividade repetitiva e vibrante das mãos, a pres- são irresistível, a decisão de parar, a qualidade inebriante do prazer e o sen- timento de culpa ligam o jogo à masturbação.

O Dr. Ralph Greenson, eminente psicanalista da Califórnia, dividiu os jogadores em três grupos: as pessoas normais, que jogam pela diversão e conseguem parar quando querem; o jogador profissional, que escolhe o jogo como meio de vida; e o jogador neurótico, que joga sob o impulso de necessidades inconscientes e é incapaz de parar.

O jogador neurótico ou se considera com sorte ou quer testar a sua sor- te. A vitória lhe transmite uma sensação de poder. Sente-se bem, como o bebê que se alimenta no seio materno. O jogador neurótico sempre perde, pois tenta recriar esse sentimento onipotente de bem-aventurança, em vez de concentrar-se num plano de jogo de longo prazo.

A Dra. Sheila Blume, do programa de jogo compulsivo do South Oaks Hospital, em Nova York, chama o jogo de “dependência sem droga”. A maioria dos jogadores é composta de homens que jogam pela ação. As mu- lheres tendem a jogar como meio de fuga. Os perdedores geralmente ocul- tam as perdas e tentam parecer e agir como vencedores, mas são afligidos pelas dúvidas a respeito de si mesmos.

Operar nos mercados, com ações, futuros e opções, provoca no joga- dor a mesma sensação de êxtase, mas sem dúvida parece muito mais respei- tável do que apostar nos cavalinhos. Além disso, jogar nos mercados finan- ceiros tem uma aura de sofisticação e proporciona melhor diversão inte- lectual do que manipular números com o bookmaker.

Os jogadores sentem-se felizes quando o jogo vira a seu favor. Por ou- tro lado, sentem-se tremendamente por baixo quando perdem. Diferem dos profissionais bem-sucedidos, que se concentram nos planos de longo prazo e não ficam muito chateados ou empolgados em razão de suas ativi- dades de investimentos.

Os corretores sabem muito bem que vários de seus clientes são jogado- res. Por isso, raramente deixam recado com as esposas desses investidores, mesmo quando telefonam apenas para confirmar uma negociação. Mas os amadores não são os únicos que se envolvem com o jogo – boa parte dessa distorção ocorre entre profissionais. Sonny Kleinfield descreve em seu li- vro, The Traders, o movimento endêmico de apostas em eventos esporti- vos nas salas de negociações das bolsas de valores.

O principal sinal de jogo nas operações de mercado é a incapacidade de resistir à tentação de apostar. Se você sentir que se dedica demais às opera- ções de mercado, com resultados insatisfatórios, pare de investir durante um mês. Essa pausa lhe dará a chance de reavaliar seus investimentos, se o impulso para investir for tão forte a ponto de você não conseguir afastar-se dessa atividade por tanto tempo, é hora de visitar a seção local dos Jogado- res Anônimos ou começar a seguir os princípios dos Alcoólatras Anônimos, apresentados mais adiante, neste capítulo.

Auto-sabotagem

Depois de praticar psiquiatria por muitos anos, convenci-me de que a maioria dos fracassos na vida resulta de auto-sabotagem. Fracassamos em nossas atividades profissionais, pessoais e de negócios não por ignorância ou incompetência, mas para realizar um desejo inconsciente de fracassar.

Um amigo meu, brilhante e espirituoso, tem toda uma história de vida de demolição do próprio sucesso. Quando jovem, era um vendedor técni- co bem-sucedido e acabou sendo demitido; participou de cursos de treina- mento como corretor e chegou quase ao topo da empresa onde conseguiu emprego, mas foi processado; tornou-se investidor bem-conhecido, mas quebrou, enquanto tentava desvencilhar-se de desastres anteriores. Atri- buiu a culpa por todos esses fracassos a chefes invejosos, a reguladores in- competentes e à esposa pouco solidária.

Finalmente, chegou ao fundo do poço. Não tinha emprego nem dinhei- ro. Tomou emprestado um terminal de cotações de outro operador falido e levantou capital com algumas pessoas que conheciam seu passado de bom investidor. Ele realmente sabia operar nos mercados e ganhou um bom dinheiro para o seu grupo. À medida que a notícia se espalhava, mais pessoas entravam com dinheiro. Meu amigo estava numa boa. A certa altu- ra, ele partiu para uma excursão de conferências na Ásia, mas continuou a operar durante a viagem. Por fim, desviou-se do itinerário programado para visitar um país famoso por suas prostitutas, deixando em aberto uma posição muito grande, sem stop de proteção. Quando retornou à civiliza- ção, o mercado dera uma grande virada e o dinheiro do pool de investido- res sumira do mapa. Depois de tudo isso, será que ele ao menos tentou ava- liar o problema? Será que procurou mudar? Não – culpou o corretor!

Dói buscar em si mesmo a causa dos fracassos. Quando certos investi- dores enfrentam problemas, tendem a culpar outras pessoas, a má sorte ou qualquer outra coisa.

Um importante investidor procurou-me para uma consulta. Seu patri- mônio estava sendo destruído por forte alta no dólar, em que assumira grande posição vendida. Analisando seus antecedentes, descobri que ele fora criado às turras com um pai repulsivo e arrogante. Tornara-se conhe- cido por seus próprios méritos ao apostar muito dinheiro em reversões de tendências em curso. Esse investidor continuou a aumentar sua posição vendida, pois não podia admitir que o mercado, que para ele representava seu pai, fosse maior e mais forte do que ele.

Esses são apenas dois exemplos de como as pessoas agem em decorrên- cia de tendências autodestrutivas. Sabotamo-nos quando atuamos como crianças impulsivas, em vez de como adultos inteligentes. Aferramo-nos a nossos padrões auto-agressivos, ainda que sejam curáveis – o fracasso é uma doença tratável.

A bagagem mental da infância pode impedir o seu sucesso nos merca- dos. Você precisa identificar os seus pontos fracos para mudar. Mantenha um diário sobre suas operações de mercado – anote nele as razões que o le- varam a entrar ou a sair de todas as posições. Busque padrões repetitivos de sucesso ou fracasso.

O dérbi da demolição

Quase todas as profissões e empresas proporcionam uma rede de seguran- ça a seus membros. Seus chefes, colegas e clientes podem adverti-lo quan- do você se comporta de maneira perigosa ou autodestrutiva. Nas opera- ções de mercado, você não conta com essa sustentação protetora, o que torna essa atividade mais perigosa do que a maioria dos esforços humanos. Os mercados oferecem muitas oportunidades de autodestruição, sem rede de segurança.

Todos os membros da sociedade fazem pequenas concessões para pro- teger uns aos outros das conseqüências de nossos erros. Quando se dirige, tenta-se evitar bater nos outros veículos e os demais motoristas agem da mesma maneira. Se alguém abre de repente a porta de um carro estaciona- do, você dá uma guinada brusca para desviar-se do obstáculo repentino. Se alguém corta a sua frente numa rodovia, você até pode xingar, mas freia o carro para não bater. Você evita colisões porque elas são muito dispendio- sas para ambas as partes.

Os mercados operam sem a solidariedade humana normal. Todos os operadores de mercado tentam bater nos outros. Todos os operadores de mercado são atingidos pelos demais. A auto-estrada das operações de mer-

cado está apinhada de carcaças de veículos acidentados. As operações de mercado são o mais perigoso empreendimento humano, quase tanto quanto a guerra.

Comprar no momento mais movimentado do dia é como abrir a porta do carro numa via expressa com tráfego intenso. Quando sua ordem de compra chega à sala de negociações, os operadores correm para vender – para arrancar a sua porta e levar junto o seu braço. Os outros investidores torcem pelo seu fracasso porque ficam com o dinheiro que você perde.

Controlando a autodestrutividade

A maioria das pessoas passa a vida cometendo os mesmos erros, e chegam aos 60 fazendo as mesmas besteiras que faziam aos 20. Outras estruturam a vida para serem bem-sucedidas numa área, enquanto manifestam conflitos internos em outras. Muito poucas pessoas amadurecem e superam seus problemas.

Você precisa estar consciente de sua tendência de sabotar-se. Pare de a- tribuir a culpa por suas perdas à má sorte ou aos outros e assuma a responsa- bilidade pelos resultados. Comece um diário – um registro de todas as suas negociações, com os motivos para entrar e sair delas. Busque padrões repeti- tivos de sucesso e fracasso. Quem não aprende com o passado está condena- do a repeti-lo.

Você necessita de uma rede de segurança psicológica, da mesma manei- ra como os montanhistas não podem dispensar equipamentos de seguran- ça. Acho que os princípios das Alcoólatras Anônimos, apresentados mais adiante neste capítulo, são de grande ajuda. Regras rigorosas de gestão do dinheiro também fornecem uma rede de segurança.

Se você está em busca de terapia para seus problemas de investimento, escolha um profissional competente, que saiba o que é investir em renda variável. Você é o responsável final por sua própria terapia e deve monito- rar seu progresso. Geralmente digo a meus pacientes que, quando se passa um mês sem sinais evidentes de melhoria, algo está errado com a terapia. Quando a terapia não apresenta resultados em dois meses, é hora de recor- rer a outro terapeuta.