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Entende-se por automedicação a utilização de medicamentos não sujeitos a receita médica de forma responsável, sempre que se destine ao alívio e tratamento de situações de saúde passageiras e sem gravidade, com a assistência ou o aconselhamento opcional de um profissional de saúde.(26) Por outras palavras, a automedicação é a instituição de um

tratamento farmacológico por iniciativa própria e vontade do doente. É neste âmbito que o farmacêutico desempenha um dos papéis de maior relevo, cabendo-lhe orientar a utilização ou não do medicamento solicitado pelo doente. Desta forma, estará a contribuir para que o ato de automedicação se realize mediante uma indicação adequada, culminando num uso racional do medicamento.(1)

Ainda assim, apesar de a utilização de medicamentos não sujeitos a receita médica em regime de automedicação ser uma prática integrante do sistema de saúde, esta deve reservar-se a situações clínicas bem definidas e de acordo com as especificações definidas para este grupo de medicamentos (Anexo I).(26)

Durante o estágio na Farmácia Modelar assisti a diversas situações passíveis de automedicação bem como ao aconselhamento efetuado pelos farmacêuticos nestes casos, o que contribuiu consideravelmente para que, nos atendimentos que realizei posteriormente, soubesse encontrar uma resolução para condições semelhantes. Ainda assim, sempre que surgisse alguma dúvida ou insegurança da minha parte, consultava algum dos farmacêuticos que me acompanharam, que se mostraram sempre disponíveis para me ajudar.

8.1. Distinção entre MSRM e MNSRM

No que diz respeito à dispensa ao público, os medicamentos podem ser classificados em medicamentos sujeitos a receita médica (MSRM) ou medicamentos não sujeito a receita médica (MNSRM).(7)

Para que um medicamento se encontre sujeito a receita médica, deve enquadrar-se numa das seguintes condições:(7)

• Pode constituir um risco para a saúde do doente, direta ou indiretamente, mesmo quando utilizado para o fim a que se destina, caso ocorra a sua utilização sem vigilância médica;

• Pode constituir um risco, direto ou indireto, para a saúde, quando utilizado frequentemente e em quantidades consideráveis, para fins diferentes daquele a que se destina;

• Contém substâncias, ou preparações à base de substâncias, cuja atividade ou reações adversas é necessário aprofundar;

Os medicamentos que não preencham qualquer uma destas condições não estão sujeitos a receita médica.(7) Os medicamentos deste grupo são comummente denominados de

venda livre ou Over the Counter (OTC).

8.2. Quadros sintomáticos que exigem cuidados médicos

Antes do aconselhamento de qualquer medicamento por parte do farmacêutico, este deve avaliar as necessidades do utente e assegurar-se de que reúne informações suficientes que permitam identificar o seu problema de saúde. Para tal, deve procurar conhecer os sintomas, a duração dos mesmos e se já foram tomados medicamentos para a situação em causa. Caso o farmacêutico verifique uma associação dos sintomas a uma patologia ou situação grave, que não se trate de um transtorno menor e necessite de diagnóstico médico, deve incentivar o utente a procurar o aconselhamento daquele profissional.(1)

Entre as situações que podem carecer de apoio médico, destacam-se aquelas em que se verifique uma necessidade de revisão da terapêutica instituída (seja na dose do medicamento, na sua forma farmacêutica, na via de administração, etc), que não possam ser solucionadas com recurso a um MNSRM ou que requeiram a utilização de um antibiótico (por exemplo, infeções urinárias). Destacam-se, igualmente, quadros febris alarmantes (com duração superior a três dias ou em que a temperatura corporal seja igual ou superior a 39ºC), assim como situações em que os valores de glicémia, colesterol e pressão arterial se encontrem muito acima dos valores de referência. Neste último caso, é ainda importante ter em conta a sintomatologia associada, como dor no peito, cefaleias, hemorragia nasal, derrame ocular ou distúrbios visuais, mesmo que a alteração em relação aos valores de referência não pareça significativa.

Em circunstâncias menores, que não exijam encaminhamento médico, o farmacêutico deverá fornecer ao utente toda a informação adequada, dispensando-lhe medicamentos apenas em caso de manifesta necessidade.(1)

8.3. Quadros que podem ser abordados com medidas não farmacológicas

Medidas não farmacológicas, isoladas ou quando acompanhadas por um tratamento farmacológico, são essenciais para obtenção de uma melhoria na maior parte dos transtornos menores. Sugerir mudanças ou reforçar hábitos higiénicos e/ou dietéticos, bem como proporcionar informações para a saúde, permite ao utente melhorar o cuidado pessoal.(1)

Entre as mais variadas situações em que há possibilidade de abordagem com medidas não farmacológicas, destacam-se, pela elevada frequência, os estados iniciais de uma constipação, que não originem grande desconforto. Nestes casos, as recomendações passam pela elevada ingestão de líquidos, bem como pelo repouso, evicção tabágica e de bebidas

alcoólicas e ainda de ambientes poluídos e com fumo. Caso haja obstrução nasal, podem aconselhar-se soluções salinas para inalação ou humidificação do ambiente através de vapores, de forma a facilitar a drenagem do muco. Aconselhar a elevação da cabeceira durante a noite também é importante, pois auxilia a respiração.

Casos de diarreia em que se pressuponha uma origem viral também podem ser abordados por medidas não farmacológicas, essencialmente ingestão de elevadas quantidades de líquidos e soluções que permitam corrigir a perda de eletrólitos. Algum repouso também se aconselha.

8.4. Indicação farmacêutica de um MNSRM

“A indicação farmacêutica é o ato profissional pelo qual o farmacêutico se responsabiliza pela seleção de um medicamento não sujeito a receita médica e/ou indicação de medidas não farmacológicas, com o objetivo de aliviar ou resolver um problema de saúde considerado como um transtorno menor ou sintoma menor, entendido como problema de saúde de caráter não grave, autolimitante, de curta duração, que não apresente relação com

manifestações clínicas de outros problemas de saúde do doente.” (1)

Perante o exposto, após a recolha de todas as informações necessárias para a avaliação do problema de saúde do doente e da sua correta identificação como sendo um problema menor e resolúvel com um MNSRM, o farmacêutico indicará uma opção terapêutica para tratar ou aliviar o mesmo.

Qualquer que seja o medicamento indicado, o farmacêutico deve ter em conta o princípio ativo selecionado, a sua forma farmacêutica, bem como a dose, frequência de administração e duração do tratamento. Todos estes parâmetros estarão dependentes das condições fisiológicas do doente, quer ao nível de possíveis alergias que este possa apresentar, quer de problemas de saúde já existentes ou da medicação concomitante. Para tal, o farmacêutico necessita de uma constante formação e atualização dos seus conhecimentos acerca da qualidade, eficácia e segurança dos medicamentos, podendo também reger-se por normas específicas, protocolos de indicação e guias clínicos ou farmacoterapêuticos.(1)

A promoção do uso racional do medicamento, a educação para a saúde e a indicação de hábitos saudáveis, são conselhos que não devem ser esquecidos. A par com todos eles, deve ressalvar-se a importância de controlar a evolução do problema. Assim, quando se denote um agravamento ou um prolongamento anormal do mesmo, o doente deve ser incentivado a recorrer ao médico.

No decorrer do estágio, as situações que envolveram a dispensa de um MNSRM estiveram essencialmente relacionadas com cefaleias ligeiras, estados gripais, tosse (seca ou

produtiva com expetoração), rinite alérgica, azia, diarreia, obstipação, endoparasitoses intestinais, hemorróidas, entre outras.

8.5. Riscos da automedicação

As principais razões que conduzem à automedicação prendem-se com conselhos de familiares ou amigos, experiências prévias que aparentam ser semelhantes, problemas económicos, dificuldades no acesso a cuidados de saúde, entre outras.

Quando devidamente realizada, a automedicação mostra-se vantajosa e célere no tratamento de problemas de saúde menores. Contudo, um aconselhamento inadequado e/ou uma falta de conhecimento por parte do utente podem resultar num uso irracional de medicamentos, acartando diversos riscos como, por exemplo, os que se seguem:

• Erros no modo de administração; • Reações indesejáveis;

• Interações medicamentosas; • Subdosagem;

• Sobredosagem, que pode exacerbar os efeitos adversos ou levar a intoxicações; • Ocultação de doenças não diagnosticadas e que requerem cuidados médicos, com

possibilidade do seu agravamento.

9. Aconselhamento e dispensa de outros produtos de saúde

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