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CAPÍTULO II – REVISÃO DA LITERATURA

II. 6 – Autorregulação

A evolução do terceiro setor redimensionou o papel do Estado face às organizações/políticas sociais, sendo que este tem vindo a diminuir a sua ação reguladora e as suas funções (Alencar, s.d.). Atualmente, o Estado já não consegue “regular de forma eficiente” as atividades organizacionais do terceiro setor, pese embora lhe caiba essa missão, e assim a autorregulação assume-se como uma estratégia reguladora (Breier & Carril, 2013). No entanto, é preciso ter em conta que enquanto as organizações sociais não se organizarem para apoiar o Estado no seu papel regulador, estas, podem entrar em decadência, sendo importante a adoção de uma postura pró-ativa a fim de suprimir a intervenção do Estado (Vinha, 2003).

Segundo Bauby, (2002), citado por Barroso, (2005), regular está diretamente ligada aos

modos de ajustamento permanentes de uma pluralidade de acções e seus efeitos que permitem assegurar o equilíbrio dinâmico de sistemas instáveis (...). A regulação resulta do facto de que as regras não podem prever tudo e por isso devem ser interpretadas, postas em causa (numa adaptação perpétua em função das situações e dos objectivos). A regulação de um grupo social corresponde, assim, às interacções entre os interesses particulares de cada componente do grupo e o interesse comum ou geral do mesmo. (p. 730)

Se o termo regulação, enquanto ato de regular, se traduz na forma como se ajusta a ação a determinadas finalidades com base em regras e normas previamente definidas, garantindo assim outro estatuto à intervenção do Estado perante as políticas públicas, a autorregulação incide na implementação dessas práticas próprias que vão além dos procedimentos legais, podendo influenciar as restantes organizações para as boas práticas (Vinha, 2003). Esta, tem

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ganho importância no seio das organizações, no sentido em que se estas se preocupam mais com a estruturação interna (Breier & Carril, 2013).

Como produto dos processos de autorregulação, aliado ao compliance, surgem os códigos de conduta” que têm por objetivo, descrever as regras para situações de riscos que podem surgir, determinar quais as obrigações e os direitos, bem como, informar o que é ou não permitido. (Breier & Carril, 2013, s.d.)

Para que a autorregulação “seja virtuosa e benéfica” é preciso considerar e valorizar a organização como um todo – interno e externo, e ter atenção às reações de todos os stakeholders, pois quanto mais se satisfazem, mais vantagem competitiva a organização ganha (Vinha, 2003). É fundamental que exista uma “estratégia de envolvimento e compromisso” (Vinha, 2003, p. 4) e que se estabeleçam canais de comunicação a fim de dar a conhecer as práticas implementadas a todos.

Um dos fatores primordiais para que a autorregulação funcione é a existência de confiança mesmo antes da consolidação de instrumentos e práticas, devendo esta ser implementada de forma flexível, combinando a elaboração de normas internas com as normas jurídicas (Vinha, 2003).

A autorregulação:

- Impõe a adoção de estratégias de articulação de interesses socialmente negociadas;

- Imprime maior flexibilidade, organização . . . e dinamismo na formulação de políticas e de estratégias de longo prazo;

- Torna mais ágil a incorporação de inovações tecnológicas . . .;

- Está mais exposta às penalidades das leis e por isso as respeitam mais, contribuindo para o aperfeiçoamento da legislação reguladora;

- Estabelece parcerias entre o Terceiro Setor e o Estado;

- Contribui para organizar seus funcionários, além de envolvê-los em ações de cidadania de maneira a capacitá-los a colaborarem a favor da empresa (Vinha, 2003, pp. 10-11).

Enquanto forma de superar as lacunas do Estado, a autorregulação e a criação de procedimentos próprios acabam por ser instrumentos de apoio na gestão das organizações. Sendo os recursos humanos o elemento essencial e estratégico na gestão das organizações sociais para alcançar a missão e os objetivos organizacionais, torna-se então necessário começar por atuar nesta área.

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Síntese do Capítulo

O terceiro setor abrange uma série e complexa estrutura de organizações sociais que apesar das suas especificidades, nomeadamente não terem apropriação de lucro e trabalharem para a sua missão, encontram-se obrigadas, tendo em conta a conjuntura sociopolítica, os efeitos da globalização e o aumento da competitividade, a inovarem nos produtos/serviços, a serem dinâmicas e associarem valores e comportamentos das empresas comerciais, a fim de garantirem a sua sustentabilidade e ganharem vantagem competitiva no mercado. Assim, entende-se que é de todo pertinente que adotem modelos estratégicos de gestão.

Uma das áreas mais complexas de gerir nas organizações sociais são os recursos humanos. A GRH tem vindo a evoluir e a incorporar novas preocupações, nomeadamente como pensar estrategicamente a gestão das pessoas, dado que são elas que mais contribuem para a realização dos objetivos organizacionais e consequente missão.

Nas organizações sociais a GRH assume-se como fator estratégico e de particular importância dada a natureza social e humana que impera nos serviços e na cultura da organização. A cultura organizacional define os comportamentos e cria coesão e espírito de pertença entre todos os colaboradores, no entanto, para que a GRH funcione e a cultura organizacional prevaleça é necessário transmitir e comunicar a todos os colaboradores o que é expectável de cada um, sendo importante a criação de canais de comunicação.

Através da revisão da literatura efetuada verificou-se que apesar de não haver consenso nas práticas de GRH, a análise e descrição de funções, o recrutamento e seleção, o acolhimento e integração, o desenvolvimento de competências e formação, a avaliação de desempenho, a gestão de carreiras e o sistema de recompensas são as práticas mais comuns e devem articular-se entre si de forma integrada.

A relação do Estado com as organizações sociais tem vindo a modificar-se, não só pelos cortes financeiros como na atribuição/transferência de competências por parte deste organismo para as organizações sociais. A descentralização do papel do Estado, que continua a ser o órgão tutelar e financiador destas organizações, tem incutido nas organizações sociais a responsabilidade pelas políticas públicas sociais. No entanto, estas organizações também se veem restringidas na sua iniciativa por se encontrarem debaixo da alçada do Estado. Esta descentralização acaba por ser a estratégia encontrada pelo Estado para dar resposta aos

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problemas sociais e assim as organizações sociais são uma alternativa de eficácia na gestão das políticas sociais, através da constituição de parcerias com o Estado.

Face ao exposto, no sentido de consolidar a gestão nas organizações sociais e sustentar as práticas de GRH e uma vez que o Estado tem vindo a diminuir a sua ação reguladora e as suas funções bem como a legislação criada por ele ser ambígua e por vezes desajustada às atuais necessidades das organizações, dificultando em muito as decisões ao nível da gestão de recursos, a criação de códigos de conduta e procedimentos de autorregulação assumem- se como estratégia reguladora e ganha cada vez mais pertinência na reestruturação das organizações sociais.

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