• Nenhum resultado encontrado

Tanto verbos auxiliares (ser, estar, ir) como modais (querer, dever, ter que ) e aspectuais (começar a, terminar de ) acompanhados de forma nominal no infinitivo e gerúndio foram classificados como locução.

S R F TINHA SAÍDO dez horas tempo de fala

19 Tanto verbos auxiliares (ser, estar, ir) como modais (querer, dever, ter que ) e aspectuais (começar a, terminar de ) acompanhados de forma nominal no infinitivo e gerúndio foram classificados como locução.

das formas não finitas como idênticas a das formas finitas das orações às quais são relevantes. A seguir, apresentamos dois exemplos nos quais os pontos de referência são formas não flexionadas:

(53) Eu sei que a gritaria era tanta que um dia mandaram chamar a polícia, pensando que TINHA ACONTECIDO alguma coisa conosco. (FLP 01, L537)

(54) Comprei alguns livros, na época, pra 1er e procurar entender o que que era administração hospitalar pra procurar, pelo menos, não surpreender negativamente aqueles que HAVIAM mè CONVIDADO pro cargo. Até porque não PEDI pra ser. (FLP 21, L238)

No exemplo (53), consideramos pensando como ponto de referência e em (54) o infinitivo surpreender. Aplicando o critério da relevância semântico-sintática, notamos que os dados variáveis (tinha acontecido/haviam convidado/pedi) são relevantes para as formas não flexionadas (pensando/surpreender), e, além disso, estão mais próximos de tais formas.

Decidimos, nos casos de ponto de referência não flexionado, tratar a relevância como hierarquia estrutural e semântica. Representaremos, a seguir, os exemplos (53) e (54):

(55) Representação estrutural do exemplo (53): mandaram

L

chamar

L

pensando

(56) Representação estrutural do exemplo (54): 76 Comprei

L

1er

L

procurar L entender

L

procurar

L

não suipreender HAVIAM CONVIDADO PEDI

As representações acima evidenciam que os dados variáveis estão estruturalmente relacionados à forma não flexionada mais próxima. Com base nessa dependência estrutural, optamos por validar a possibilidade de ocorrência de uma única forma não flexionada como ponto de referência.

3.2.1.4- Um verbo implícito

Esse tipo de ponto de referência ocorre quando uma situação que normalmente seria codificada por um verbo está elíptica, sendo facilmente subentendida no contexto do enunciado. Observe-se o exemplo abaixo:

(57) Aí eu vim embora, a gente, assim, já TINHA se DISCUTIDO, aí ele assim: “É, Preta, não tem mulher não”. Primeiro, ele já TINHA DITO que tinha tudo...(FLP 03, L956)

A forma verbal tinha discutido tem como ponto de referência a situação expressa em vim, mas esse ponto não serve, em princípio, para tinha dito. A inserção

r

daquilo que foi dito “E, Preta, não tem mulher não” possibilita a existência de um ponto implícito na oração antecedente “aí ele (disse) assim”. A situação implícita interpretada por disse é o que consideramos como ponto de referência para tinha dito. Note-se, ainda, que o dado variável tinha dito também está sintática e semanticamente relacionado com o verbo implícito disse. Veja-se também:

(FLP 14, L467)

Consideramos, neste enunciado, a situação implícita era em “uma, assim,

(era) bem pequena” como ponto de referência. Uma característica interessante, com

relação aos exemplos (57) e (58), é a manutenção do mesmo sujeito para dado variável e ponto de referência implícito, o que pode ser também um critério favorecedor para a consideração do verbo implícito como ponto de referência.

Nos enunciados (57) e (58), a organização estrutural e semântica possibilita a interpretação de uma situação implícita como ponto de referência. Todavia, nem sempre isso ocorre. Quando o enunciado não atinge um grau de significância ideal, reportamo-nos, então, ao contexto discursivo ou pragmático, conforme discutido a seguir.

3.2.2 - Ponto de referência contextuai

Nesta categoria estão incluídos os seguintes subtipos de ponto de referência: inferível e discursivo.

3.2.2.1 - Ponto de referência inferível20

20No âmbito deste trabalho, consideramos o ponto de referência inferível com base nos dados coletados para

a análise variacionista. Sabemos, entretanto, que podem existir outras possibilidades de inferência, como as apresentadas a seguir. Não pretendemos, porém, discuti-las.

a) Inferência pela fala do interlocutor (a pergunta já é conhecida): Onde está o Nado Mendonça? Você já TINHA me FEITO esta pergunta ontem na boate. (Novela - O Fim do Mundo)

b) Inferência pela intenção prévia do falante recuperada por algum elemento do enunciado: Você tem roupas para dar? Eu já TINHA até SEPARADO.

c) Inferência pelo questionamento: Você já TINHA OUVIDO esta música? Você já TINHA PROVADO esta comida?

78 Em muitos casos de passado anterior, há uma pressuposição envolvida que dá condições para a interpretação de um esquema de três pontos: ponto de fala, referência e situação. É pela constituição do dado variável que pressupomos qual ponto foi levado em consideração como ponto de referência. Selecionamos dois tipos de ponto de referência inferível:

a) Inferência pela negação no passado:

Uma situação negada no pretérito mais-que-perfeito ou no pretérito perfeito, sem menção de outra situação passada, pode possibilitar uma inferência como ponto de referência. Vejamos essa possibilidade em alguns casos:

(59) E21. Ah, então conta pra mim como é que é.

F. Eu nunca TINHA SAIDO em carnaval, que eu sempre gostei, né? mas na época que era criada, era daquela de pai, né? eu sou filha única e não saia... (FLP 17, L237)

O exemplo (59) mostra que a inserção do pretérito mais-que-perfeito juntamente com uma expressão adverbial de negação possibilita a interpretação dessa mesma situação como tendo ocorrido em um passado posterior. O passado posterior inferível

(saí) é o que consideramos como ponto de referência para nunca tinha saído. Veja-se

ainda:

(60) Ah, tem um monte assim, porque assim, tem samba, um samba. Eu nunca VI aquela brincadeira. Nunca VI, eu acho que era... (FLP, Andreza/08)

No exemplo (60), é possível variar o pretérito perfeito vi por tinha visto e, além disso, é possível inferir que há um ponto de referência passado que é a própria afirmação daquilo que é negado: se nunca viu aquela brincadeira, mas acha que era, então, deve ter visto. Esse ‘ver’, posterior no passado, pode ser o ponto de referência.

verbal como ocorre com o pretérito mais-que-perfeito, é necessário também um apoio contextual. O pretérito perfeito somente será interpretado como um tempo passado anterior se o contexto favorecer tal interpretação. Considere-se, ainda, o seguinte enunciado:

(61) E - Mas tu nunca pensaste em te profissionalizar com isso, ganhar dinheiro com isso? F - Nunca PENSEI. (FLP 19, L69)

Neste enunciado, a situação codificada pelo pretérito perfeito (pensei) é negada em todo o tempo passado anterior ao tempo de fala e o contexto não consegue mudar essa interpretação inicialmente pretendida. Se a forma de pretérito perfeito fosse alterada para pretérito mais-que-perfeito, mudaria a perspectiva temporal, ou seja, ao invés de negar todo o tempo passado, negaria uma parte, ficando a outra para a pressuposição: uma possível afirmação daquilo que foi negado. Exemplos como (61) não podem ser considerados como passado anterior, portanto não fazem parte da análise.

b) Inferência pela referência temporal passada:22

Este tipo de inferência caracteriza-se pela presença de uma expressão adverbial que especifica a referência temporal da situação codificada por uma forma verbal variável. Por causa desta expressão adverbial, inferimos qual situação no passado está sendo o ponto de referência.

(62) Porque naquele tempo, antes de eu nascer, pelo menos aqui, FORAM AGLOMERADOS muitos escravos. (FLP 12, L872)

22 Devido ao fato de termos encontrado apenas dois dados e ambos no pretérito perfeito, esse tipo de ponto de