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Avaliação clínica, a titulo demonstrativo, de um paciente

No documento Clínica e cirurgia de pequenos animais (páginas 92-94)

II. Relatório de casuística

12. Casos clínicos

12.2 Avaliação clínica, a titulo demonstrativo, de um paciente

Neste ponto será exposto um caso clínico acompanhado no HCV CEU-UHC, o qual não seguiu os procedimentos padronizados realizados nos pacientes incluídos no estudo explorado anteriormente e, portanto, não se encontra inserido no mesmo. Contudo, por se tratar de um caso onde foram detetadas várias alterações características da infeção pelo FIV e onde o maneio da doença foi mais abrangente, foi também inserido nesta monografia de forma a retratar mais amplamente os vários procedimentos clínicos adequados ao maneio dos animais infetados pelo FIV.

12.2.1. Anamnese

O “15/839P” é um gato macho adulto, não orquiectomizado, de raça europeu comum, com 3.2Kg e proveniente de uma instituição de proteção animal. Havia sido testado para retrovírus há cerca de um mês, com resultados negativos tanto para FIV, como para FeLV.

Este animal apresentou-se à consulta, no dia 31 de outubro de 2015 com uma mancha vermelha-acastanhada no olho esquerdo.

12.2.2. Exame físico e oftalmológico

O exame físico não revelou nenhuma alteração, encontrando-se todos os parâmetros dentro da normalidade.

No exame oftalmológico detetou-se que a PIO no olho esquerdo se encontrava ligeiramente abaixo do normal, com 12mmHG. Detetou-se também a presença de sangue, fibrina e de um ligeiro efeito de Tyndall na câmara anterior do olho esquerdo. Os restantes parâmetros estavam dentro da normalidade.

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12.2.3. Exames complementares

Realizou-se um hemograma que revelou leucopenia (4.7K/µL; limites de referência: 5.5- 19.5K/µL) e trombocitopenia (54K/µL; limites de referência: 300-800K/µL). Também foi feita uma análise bioquímica sérica, onde se detetou um aumento das PTs (9.76g/dL; limites de referência: 5.5-7.9g/dL), da ALT (125mg/dL; limites de referência: 0-80mg/dL), da FA (169mg/dL; limites de referência: 0-80mg/dL) e da bilirrubina (1.59mg/dL; limites de referência: 0-0.5mg/dL).

Foi executada uma ecografia abdominal, onde se constatou que ambos os rins apresentavam limites corticomedulares ecogénicos completos e os córtices apresentavam-se ligeiramente hiperecogénicos. O parênquima hepático encontrava-se ligeiramente hipoecogénico em comparação com o rim.

Foi colhida urina por cistocentése para urianálise, obtendo-se dois mililitros de urina amarela escura. A tira de urina revelou um pH de cinco, presença de proteínas (++), eritrócitos (+++) e leucócitos (+++). A densidade urinária era de 1.050. O exame ao sedimento urinário demonstrou a existência de leucócitos, eritrócitos, células epiteliais, cristais e bactérias.

Adicionalmente foi realizado um proteínograma, que revelou um aumento das gamaglobulinas (

22.9; limites de referência: 7 - 13.3

). Foi então pedida uma sorologia para confirmar o estado de infeção por retrovírus, tendo o resultado vindo positivo para o vírus da imunodeficiência felina.

12.2.4. Diagnóstico

No dia 31 de outubro, de acordo com as alterações observadas durante o exame oftalmológico, diagnosticou-se hifema e uveíte anterior no olho esquerdo.

A ecografia abdominal, realizada no dia três de novembro, revelou que os dados relativos a ambos os rins, eram bastante inespecíficos, porém sugestivos de alteração renal inflamatória, tal como vasculite piogranulomatosa (indicativa de PIF), nefrite intersticial ou ingestão de produtos tóxicos.

A partir dos resultados da urianálise, aos quais se teve acesso no dia cinco de novembro, fez-se o diagnostico de infeção urinária.

Tendo em conta o estado geral e todas as alterações encontradas, fez-se o diagnóstico presuntivo de PIF, porém, dada a ausência de sinais clínicos evidentes, adiou-se a biopsia aos órgãos abdominais lesionados que poderia confirmar a suspeita. Após chegada dos resultados da sorologia para retrovírus, no dia oito de novembro, fez-se o diagnostico definitivo de infeção pelo FIV.

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12.2.5. Tratamento

Os tratamentos realizados neste animal foram apenas de suporte, destinados a combater as afeções presumivelmente secundárias à infeção pelo FIV, não tendo sido aplicado nenhum tratamento para a infeção viral propriamente dita.

A uveíte anterior e o hifema diagnosticados no olho esquerdo foram tratados através da aplicação de terapia tópica. Foi aplicada uma gota de acetato de prednisolona (Pred Forte®) e

uma gota de cetorolaco de trometamina (Acular®), um anti-inflamatório esteroide e não esteroide

respetivamente, a cada oito horas, com o objetivo de reduzir a inflamação (154). Foi também

administrado um cicloplégico parassimpaticolítico, a tropicamida (Colicursi Tropicamida®), na

dose de uma gota a cada 12 horas, com o propósito de dilatar a pupila, controlar a dor através da paralisação dos músculos do corpo ciliar e prevenir a formação de sinequias posteriores (154).

Por fim foi aplicada uma gota de carbómero (Lipolac®) a cada oito horas, para manter o olho

hidratado.

A terapia instaurada para a infeção urinária consistiu na administração oral de um antibiótico de largo espetro, a amoxicilina mais ácido clavulânico, na dose de 20mg/Kg, duas vezes ao dia, durante pelo menos 7 dias, de modo a combater a infeção.

No dia cinco de novembro, tendo em conta as alterações das enzimas hepáticas (ALT e FA) que poderiam indicar a existência de lesão hepática, foi iniciada a terapia com ácido ursodesoxicólico (Ursochol®), usado para dissolver cálculos biliares e para aumentar a secreção

de bílis, na dose de 10mg/Kg, a cada 24 horas, com o objetivo de colocar os valores alterados no intervalo de referência.

12.2.6. Seguimento

No dia oito de novembro de 2015, o animal compareceu a uma consulta de seguimento, onde foi constatada uma melhoria dos parâmetros hepáticos avaliados através da análise bioquímica. O exame oftalmológico também revelou melhoria da uveíte anterior, tendo-se então descontinuado o tratamento tópico oftálmico. Manteve-se apenas a terapia dirigida à infeção urinária, até se completar os sete dias inicialmente previstos.

No dia 12 de novembro, o paciente foi novamente revisto, tendo havido melhoria completa de todas as alterações detetadas inicialmente. A única alteração presente foi uma pigmentação difusa da íris na zona do colarete, uma sequela comum de uveíte. Considerou-se que o paciente poderia ter alta hospitalar.

No documento Clínica e cirurgia de pequenos animais (páginas 92-94)

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