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Avaliação de um sistema complexo que é a escola

Capítulo II Enquadramento teórico

2. Avaliação de escolas

3.2. Avaliação de um sistema complexo que é a escola

Tendo em consideração que, como acentua Rocha (1999, p. 35), a escola é “um sistema muito complexo porque é constituída por diversos subsistemas e integra vários outros”, a sua avaliação deverá ser contextualizada na própria realidade, isto é, na sua cultura e dinâmica e, ainda, em subsistemas exteriores onde se cruzarão outras culturas e outras dinâmicas.

Esta complexidade não invalida todavia, a necessidade de a avaliar com rigor, sendo essencial conhecer a natureza e a configuração das escolas enquanto organizações que pertencem a determinado meio, especialmente as suas diferenças, as suas componentes legais, os seus objectivos específicos, a sua articulação, a diversidade dos seus actores, entre outros aspectos. Cada escola defende assim a sua própria especificidade, o que implica, como bem sublinha Guerra (2002), que no processo de avaliação deva ser respeitado o carácter único, irrepetível, dinâmico e valorativo de cada uma.

Nesta perspectiva, e em conformidade com o que foi antes salientado por Rocha (1999), na avaliação de uma escola convergem, necessariamente, factores diversos de natureza conjuntural. De entre esses factores, são de destacar os movimentos migratórios das populações, dos quais resultam movimentações intensas na escola que levam a que umas possam ficar desertas e outras com excesso de população estudantil; a abertura da escola ao meio, mas ao mesmo tempo a dependência e a centralidade das decisões pelo respectivo sistema educativo; o aumento significativo de novas competências sociais atribuídas à escola, sem existir a preparação adequada, quanto aos recursos materiais e humanos, essenciais para

o desempenho das mesmas; a dificuldade em definir os objectivos educativos de forma clara e adequada, para as contínuas mudanças e para factores como a eficácia, a autonomia, a inovação e as novas formas de comunicação, os conflitos e a resolução de problemas, a utilização e gestão de recursos e a estabilidade necessária a uma organização; e a existência de um grupo de profissionais (os professores) com elevada formação académica que habitualmente costumam resistir com bastante habilidade às mudanças.

De referir ainda que a complexidade do sistema escolar, tal como Azevedo (2005) faz notar, salienta a composição da escola como sendo uma rede escolar e social, razão por que a sua avaliação está dependente da avaliação das diferentes estruturas dos distintos níveis da rede que a compõem, ou seja, dos alunos, dos profissionais, da administração educacional e das medidas de política. Contudo, não deixa de ser verdade que existem neste sistema complexo que é a escola realidades escolares que podem ser avaliadas isoladamente como, por exemplo, a acção social escolar, os equipamentos, as bibliotecas ou os manuais escolares. “Mas é de avaliação das escolas enquanto instituições que aqui se trata. Qual o lugar da avaliação da escola no esforço global de melhoria da educação?” (Azevedo, 2005, p. 16). Partilhando diferentes concepções e constatando que a avaliação de escolas está no centro da actualidade educativa, será o aumento da autonomia, a diversidade de opções e a maior exigência dos alunos, dos pais e da sociedade, que concorrerão para a elaboração e aplicação dos instrumentos, das metodologias e das práticas que podem validar a qualidade do ensino (Coelho, Sarrico e Rosa, 2008).

Mas qual é, em última análise, a principal finalidade da avaliação de uma escola? Mais uma vez se está perante uma questão que, também ela, não estará por enquanto devidamente clarificada. Num debate que continua a ser actual, questionava-se, no final da última década do século passado, se a avaliação das escolas se deve fazer de forma sumativa, comparando e ordenando as escolas, para que os resultados sejam utilizados na atribuição de recursos e na avaliação de funções, ou recorrendo a uma opção formativa, com o objectivo de formar a longo prazo quem de futuro possa proceder a essa avaliação (Thurler, 1994). Este autor considera ainda que são utilizadas outras formas de avaliar as escolas como a da

conformidade, isto é, a verificação do cumprimento das normas instituídas externamente.

Complementando as questões anteriores, Azevedo (2007, p.6) acrescenta: “a que se atribui valor? O que caracteriza uma escola excelente ou uma escola muito boa? Que critérios de classificação se elegem? Que campos de observação são centrais?”

Tendo em conta que todas as questões levantadas acabam por dividir opiniões, causando natural controvérsia, julgamos oportuno deixar expresso o que estabelecem actualmente os normativos legais acerca da finalidade da avaliação das escolas.

A Lei nº 31/2002, de 20 de Dezembro, que consagra o sistema de avaliação da educação e do ensino não superior, no seu art.º 3º, apresenta o sistema de avaliação, como o instrumento central de definição das políticas educativas, devendo prosseguir, de forma sistemática e permanente, os seguintes objectivos:

a) Promover a melhoria da qualidade do sistema educativo, da sua organização e dos seus níveis de eficiência e eficácia, apoiar a formulação e desenvolvimento das políticas de educação e formação e assegurar a disponibilidade de informação de gestão daquele sistema;

b) Dotar a administração educativa local, regional e nacional, e a sociedade em geral, de um quadro de informações sobre o funcionamento do sistema educativo integrando e contextualizando a interpretação dos resultados da avaliação;

c) Assegurar o sucesso educativo, promovendo uma cultura de qualidade, exigência e responsabilidade nas escolas;

d) Permitir incentivar as acções e os processos de melhoria da qualidade, do funcionamento e dos resultados das escolas através de intervenções públicas de reconhecimento e apoio a estas;

e) Sensibilizar os vários membros da comunidade educativa para a participação activa no processo educativo;

f) Garantir a credibilidade do desempenho dos estabelecimentos de educação e de ensino;

g) Valorizar o papel dos vários membros da comunidade educativa, em especial dos professores, dos alunos, dos pais e encarregados de educação, das autarquias locais e dos funcionários não docentes das escolas;

h) Promover uma cultura de melhoria continuada da organização, do funcionamento e dos resultados do sistema educativo e dos projectos educativos;

i) Participar nas instituições e nos processos internacionais de avaliação dos sistemas educativos, fornecendo informação e recolhendo experiências comparadas e termos internacionais de referência.

Recorrendo a uma breve análise do que atrás ficou referido, compreendemos que existe no que está legislado para a avaliação das escolas as perspectivas sumativa e de conformidade, quando o legislador garante que a administração educativa nacional, regional e local possa ter disponível sobre as escolas a informação necessária ao conhecimento da qualidade de ensino e à gestão do sistema, disponibilizando a informação existente; quando exige credibilidade no desempenho dos estabelecimentos de educação e de ensino; e ao participar nos processos internacionais de avaliação dos sistemas educativos possa estar em posse de informações que forneçam dados para comparar com referentes internacionais.

Também registamos a existência de um alcance formativo no normativo, pois diversos objectivos apresentam referências à promoção da qualidade educativa, ao incentivo a acções

e aos processos de acção de melhoria, à sensibilização da comunidade educativa para a participação activa e à valorização do papel dos elementos da comunidade educativa.

Este instrumento legal realça também o papel da prestação de contas e do cumprimento das normas externas na avaliação das escolas, em confronto com as práticas existentes, especialmente quando menciona aspectos como assegurar o sucesso educativo, dotar a administração de informações e promover uma cultura de melhoria continuada da organização, do funcionamento e dos resultados do sistema educativo e dos projectos educativos.

Num olhar distanciado da norma, Azevedo (2005) refere que o processo de avaliação das escolas pode estar a ser utilizado como forma instrumental, desviando a atenção dos responsáveis do que considera a essência do debate em educação. Contudo, a discussão sobre a escola aparentemente deve sustentar-se e qualificar-se no que se pretende para a educação e para a escola, sem que subsistam dúvidas relativas à essência da avaliação, nomeadamente em relação aos valores e aspirações da sociedade.

A sociedade aspira a uma educação de qualidade. Dias e Melão (2009, p. 194) sublinham que a qualidade é “um atributo que a maioria das organizações deseja ver associada a tudo aquilo que faz, e as escolas…não fogem à regra” pelo que são muitas as que já apostam na promoção desta propriedade.

As razões desta aposta são diversas, salientando-se a necessidade de satisfazer os desejos dos alunos, dos pais, dos encarregados de educação e da sociedade, em geral, e a procura das escolas de um maior conhecimento de si próprias, através de processos internos de avaliação, implementando processos de melhoria (Dias e Melão, 2009).

Nos últimos anos, por outro lado, e na sequência das diversas alterações legislativas, a autonomia das escolas parece estar em crescendo. É disso sinal a publicação da Portaria nº 1260/2007, de 26 de Setembro, que definiu as regras relativas ao contrato de autonomia a estabelecer entre as escolas e a respectiva Direcção Regional de Educação, em regime de experiência pedagógica e que, no seu preâmbulo, consagra a importância do aprofundamento do “nível de base da autonomia destas unidades de gestão como instrumento de melhor prestação do serviço público de educação”. Também o Decreto-Lei nº 75/2008, de 22 de Abril, que aprovou o regime de autonomia, administração e gestão dos estabelecimentos públicos da educação pré-escolar aos ensinos básico e secundário, no seu preâmbulo, salienta a necessidade de um reforço da autonomia das escolas, salvaguardando, todavia, que esta não

constitui “um princípio abstracto ou um valor absoluto, mas um valor instrumental, o que significa que do reforço da autonomia das escolas tem de resultar uma melhoria do serviço público de educação”. Para a sua concretização, será necessário criar as condições, “conferindo maior capacidade de intervenção ao órgão de gestão e administração, o director, e instituindo um regime de avaliação e de prestação de contas. A maior autonomia tem de corresponder maior responsabilidade.”

Todas estas exigências legislativas têm levado as escolas a procurar desenvolver procedimentos de auto-avaliação para poderem requerer junto das entidades competentes, uma maior autonomia, mas frequentemente avançam para o processo com receio, por não dominarem os conceitos e sem o apoio fundamental para a elaboração dos instrumentos necessários ao incremento dos procedimentos.

Sendo a avaliação um processo de pesquisa e de melhoria da qualidade para o sistema de ensino e de educação, a escola terá como condicionantes a prestação de contas do que faz, o modo como executa as suas acções para atingir os objectivos propostos, pelo que cada vez mais se compreende a organização escolar como objecto de investigação.

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