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2 ANÁLISE DA GESTÃO DA ESCOLA ESTADUAL MATTA MACHADO A

2.3 Os conceitos de eficiência, eficácia e efetividade: a qualidade no ensino

2.3.1 Avaliação externa e responsabilização: uma breve reflexão

A avaliação, enquanto componente do processo pedagógico, sempre foi vista com temeridade pelos alunos devido ao caráter classificatório que, por muitos anos, esse conceito carregou. É importante que a avaliação não seja vista dessa forma pelos professores para não reduzi-la a momentos estanques no processo de ensino e de aprendizagem, em determinadas etapas do processo didático-pedagógico.

Ao longo da história, a visão sobre a avaliação vem passando por mudanças devido às transformações ocorridas no setor educacional. Admite-se, atualmente, que o ato avaliativo se inicia na ação de planejar e permeia vários momentos da prática educativa. Nessa lógica, a avaliação passa a ser percebida como um processo contínuo de acompanhamento dos avanços dos alunos. Pode-se dizer que a avaliação acontece antes, durante e depois da execução das aulas. É o principal instrumento metodológico responsável por aferir se o que foi ensinado foi aprendido. Serve como norte para a redefinição da prática pedagógica em busca da eficácia do trabalho.

Hoffmann (1996, p. 20), ―[...] considera que avaliar é dinamizar oportunidades de ação-reflexão, num acompanhamento permanente do professor, que incitará o aluno a novas questões a partir de repostas formuladas‖. Sendo assim, atualmente, o ato educativo engloba

um conjunto de competências que vão além do repasse de informações. Exige-se dos envolvidos a capacidade de organizar tais conhecimentos e agir de forma rápida ante os desafios impostos pela nova sociedade informacional. Portanto, o ensino e a avaliação estão estreitamente ligados, sendo que cabe à avaliação apontar se o ensino ofertado produziu a aprendizagem esperada para que se possam tomar medidas de intervenção no processo pedagógico.

Em virtude da demanda social por uma educação de qualidade, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996 –, no artigo 9º, apontou a necessidade de se avaliar externamente as escolas ao incluir o inciso VII, o qual determina: [...] ―assegurar processo nacional de avaliação do rendimento escolar no ensino fundamental, médio e superior, em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a definição de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino‖ (BRASIL, 1996, p. 15).

Essa medida fez com que o SAEB – Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, criado em 1993, assumisse um papel estratégico neste processo, uma vez que passou a se vincular diretamente ao Ministério da Educação – MEC. O SAEB foi instituído com o objetivo de verificar a qualidade do sistema educacional brasileiro no sentido de conhecer os problemas causadores das deficiências das escolas, na intenção de orientar as políticas governamentais voltadas para a melhoria da qualidade do ensino. A respeito do que vem a ser o SAEB, Castro (2009, p. 8) esclarece:

[...] é uma avaliação de desempenho acadêmico e de fatores associados ao rendimento escolar, realizada a cada dois anos, em larga escala, aplicada em amostras de escolas e alunos de 4ª e 8ª séries do ensino fundamental e de 3ª série do ensino médio, representativas de todas as Unidades da Federação, redes de ensino e regiões do país.

Sobre esse mesmo tema, Becker (2010, p. 3) também discorre:

O SAEB tornou possível identificar os problemas do ensino e suas diferenças regionais por meio de dados e indicadores que possibilitam uma maior compreensão dos fatores que influenciam o desempenho dos alunos e proporcionou aos agentes educacionais e à sociedade uma visão concreta dos resultados dos processos de ensino e aprendizagem e das condições em que são desenvolvidos.

Desde 1995, o SAEB é aplicado de forma amostral a cada dois anos em todos os estados brasileiros nas redes públicas e particulares de ensino. A institucionalização do SAEB em âmbito nacional favoreceu o monitoramento das políticas públicas voltadas para a

qualidade da educação. Além disso, é uma forma de prestação de contas do governo à comunidade. Existe, ainda, o desafio de se fazer a apropriação dos resultados das avaliações externas e usá-los na sala de aula, de forma que esses exames não fiquem apenas com a função de descrever resultados para traçar diagnósticos e possam, de fato, contribuir para uma mudança no sistema educacional.

Para aprimorar o processo de avaliação externa, o sistema federal de ensino instituiu, em 2005, a Prova Brasil, que, ao contrário do SAEB, é de caráter censitário e avalia todos os estudantes da rede pública urbana de ensino, de 5º e 9º anos do ensino fundamental, com foco em língua portuguesa e matemática. Castro (2009, p. 11) salienta que ―[...] o aspecto mais relevante da Prova Brasil é oferecer a todas as escolas participantes um diagnóstico consistente sobre o desempenho de seus alunos, usando a mesma métrica de avaliação do Saeb‖.

O Saeb e a Prova Brasil, além da relevância apresentada nos aspectos citados no parágrafo anterior, compõem o conjunto de indicadores responsáveis pela geração do Ideb – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Nesse sentido, Castro (2009, p. 11) explica:

O Ideb reúne num só indicador dois conceitos importantes para a qualidade da educação: fluxo escolar e desempenho dos alunos nas avaliações. Seu cálculo baseia-se nos dados de aprovação escolar, apurados no Censo Escolar e nas médias de desempenho obtidas nas avaliações nacionais: o Saeb, para as unidades da federação e o país; e a Prova Brasil, para os municípios. O novo indicador considera dois fatores que interferem na qualidade da educação: as taxas de aprovação, aferidas pelo Censo Escolar; e as médias de desempenho medidas pelo Saeb e pela Prova Brasil. A combinação entre fluxo e aprendizagem resulta em uma média que varia de 0 a 10.

Desta forma, o Ideb consegue avaliar o rendimento da escola no que se refere à efetividade no ensino sem que isso ocasione o ônus da repetência e da evasão. Esse indicador colabora para que medidas intervencionistas de inclusão escolar sejam implementadas.

Conforme já descrito no Capítulo 1, o Estado de Minas Gerais tem também o seu próprio sistema de avaliação, o SIMAVE – Sistema Mineiro de Avaliação da Educação Pública. A partir desses pressupostos, o Simave foi criado para implementar o Programa de Avaliação da Rede Pública de Educação Básica (Proeb), dirigido, inicialmente, pelo Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação (CAEd) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Posteriormente, mais dois programas foram criados: o Proalfa e o Paae.

Essas avaliações são aplicadas nas etapas estratégicas da educação básica. O Proalfa é uma avaliação voltada para a verificação dos níveis de alfabetização alcançados pelos alunos

do 2º, 3º e 4º anos do ensino fundamental da rede pública; o Proeb verifica a eficiência e a qualidade do ensino com base no desempenho nas séries finais dos blocos de ensino, ou seja, do 5º ano e do final do 9º ano; o Paae é um sistema on-line de geração de provas e emissão de relatórios de desempenho por turma. Realiza diagnósticos progressivos da aprendizagem para subsidiar intervenções pedagógicas em todos os anos do Ensino Fundamental e no 1º ano do Ensino Médio.

No Estado de Minas Gerais, a avaliação do Sistema Estadual de Educação foi tomada como prioridade na reforma da educação e prevista no artigo 196 da Constituição Estadual de 1989. Dessa forma, a temática foi entendida como princípio mediante o qual se garantiria a qualidade da educação no estado e descrita no inciso X do referido artigo como: ―Avaliação cooperativa periódica por órgão próprio do sistema educacional, pelo corpo docente e pelos responsáveis pelos alunos‖.

Para acompanhar o dinamismo do mundo moderno, a política de avaliação em Minas Gerais teve de passar por mudanças desde a sua concepção até os dias atuais. No entanto mantém as características iniciais quanto aos objetivos de monitoramento da qualidade da educação. Assim como o Saeb, o Simave se orienta pelo princípio da descentralização por meio de um trabalho cooperativo entre as Secretarias Municipais de Educação, Superintendências Regionais de Educação e escolas para a realização da avaliação.

Diante disso, pode-se dizer que as políticas de responsabilização atreladas aos resultados das avaliações externas vão muito além de punições administrativas por rendimento insatisfatório ou bonificação por melhor desempenho. Apesar do ranqueamento feito pela mídia entre estados, municípios e escolas, os órgão técnicos governamentais sabem que não se pode fazer uma leitura isolada dos números. Os resultados apresentados são influenciados por fatores externos. Portanto, fatores ligados à questão socioeconômica, educacional e cultural possuem uma influência significativa nos resultados.

O grande desafio que se coloca ao gestor é promover a apropriação, por parte das escolas, dos resultados obtidos por seus alunos e a utilização desses resultados para orientar as atividades de ensino. Acredita-se que, à medida que o gestor se envolve nos aspectos pedagógicos através da deliberação de ações, por meio de mecanismos democráticos de descentralização, a escola apresenta evolução nos padrões de qualidade.