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No que se refere à avaliação, os professores podem, teoricamente falando, utilizá-la de duas formas bem distintas, ainda que articuladas entre si. Por um lado, podem utilizar a avaliação formativa alternativa, ao longo de todo o ano, para melhorar o ensino e a aprendizagem. Por outro lado, têm de utilizar a avaliação para atribuir classificações, para selecionar e para, em última análise, certificar os seus alunos. Trata-se, neste caso, de uma avaliação pontual, que só deve ter lugar em certos períodos do ano, assumindo mais a sua natureza verdadeiramente certificativa dos finais de ciclo. É, por isso, uma avaliação que não está integrada no processo de ensino-aprendizagem e que, por natureza, não é interativa (Domingos Fernandes, 2005).

Na prática, a utilização certificativa da avaliação prevalece, determinando muito do que os professores pensam e fazem (Black et al citados em Domingos Fernandes, 2005)

Apesar desta tendência, muito professores continuarão a viver em coabitação com avaliações de natureza formativa e de natureza certificativa. Assim, é fundamental que a natureza, as funções e as características de cada uma sejam bem conhecidas.

A avaliação formativa tem uma dupla natureza (Harlem e James, 1998, citados por Domingos Fernandes, 2005):

- criterial - no decorrer do processo de ensino-aprendizagem-avaliação, professores e alunos analisam as aprendizagens à luz de critérios que se definem previamente; isto é, as aprendizagens dos alunos não são comparadas com algum padrão ou norma, mas em termos dos critérios definidos.

- ipsativa - por se referir ao aluno, porque se compara o aluno consigo mesmo, tendo em conta aspetos como o esforço, o contexto em que o trabalho se desenvolve e os seus progressos.

Por outro lado, referem que a avaliação sumativa ou certificativa tem igualmente natureza dual. Partilha a natureza criterial com a avaliação formativa e é normativa, isto é, compara as aprendizagens dos alunos com uma norma (uma média, por exemplo) ou com as aprendizagens de um determinado grupo. Ou seja, a avaliação formativa e a sumativa ou certificativa estão fortemente relacionadas, até porque partilham a sua natureza criterial e, por isso, um conjunto de critérios comuns.

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No caso da Avaliação Formativa Alternativa, o professor tem um papel que, necessariamente, tem de estar muito sustentado e apoiado na didática, nos processos de comunicação, com particular realce para o feedback, no desenvolvimento dos processos de interação e na criação de um ambiente de sala de aula que valorize a participação responsável dos alunos. A seleção de tarefas, a clarificação e a transparência relativamente aos objetivos de ensino-aprendizagem e ao papel da avaliação, recorrendo a estratégias que facilitem a participação e o envolvimento ativo dos alunos na regulação das aprendizagens, assim como, a utilização de uma adequada diversidade de estratégias, técnicas ou instrumentos de recolha de informação, que constituem importantes funções do professor. Nada nem ninguém poderá substituir o papel principal que o professor deve desempenhar na promoção da autoestima e na motivação dos seus alunos para aprenderem e para se envolverem ativamente na aprendizagem e na avaliação. Outras preocupações centrais dos professores, no âmbito da Avaliação Formativa Alternativa, são:

- Contribuir para melhorar as aprendizagens dos alunos, regulando ativamente o seu ensino;

- Contribuir para que os alunos aprendam com compreensão (daí a relevância da seleção das tarefas);

- Produzir melhores avaliações e não um maior número de avaliações;

- Produzir feedback que vá para além da mera atribuição de uma classificação e que possa orientar os alunos a superar eventuais problemas;

- Dar mais tempo aos alunos para poderem responder, expressar as suas dúvidas, poderem mostrar o que sabem e podem fazer (Domingos Fernandes, 2005).

Ao nível da avaliação certificativa, os professores terão um papel substancialmente diferente, que poderá ser facilitado se a Avaliação Formativa Alternativa decorrer como aqui foi preconizado. Afinal, o que se pede na avaliação certificativa? Trata-se de fazer uma análise e uma interpretação de informação e, de provas de aprendizagem que permitam a elaboração de uma apreciação global e integrada do que o aluno sabe e é capaz de fazer, tendo em conta um qualquer tipo de estado a atingir. Normalmente, esta apreciação é traduzida por uma classificação numa dada escala, com ou sem descrição detalhada das competências demonstradas pelos alunos. O processo de atribuição de classificação é, em si mesmo, complexo, difícil de investigar e de apreender em todas as suas dimensões (Domingos Fernandes, 2005).

Segundo Pais (1988, citado por Domingos Fernandes, 2005):

- As professoras, participantes no estudo, pretendem que a classificação expresse um conjunto complexo de constructos, para além do rendimento do aluno, tais como capacidades académicas e atitudes;

- A classificação é entendida como uma retribuição pelo trabalho do aluno, com base numa conceção aberta de mérito;

- As classificações são atribuídas com diversas intenções, nomeadamente, punir ou gratificar o grau de empenhamento do aluno;

- A justiça é o valor que preside à distribuição de classificações, enquanto expressão adequada do mérito do aluno, embora o entendimento daquele valor admita uma margem razoável de flexibilidade, capaz de integrar outros valores, como a tolerância e a generosidade;

- As professoras valorizam a ponderação das consequências das classificações em decisões problemáticas ou situações-limite.

Estes resultados podem questionar de forma algo dramática as conceções mais orientadas por uma visão objetiva e quantitativa da avaliação (Domingos Fernandes, 2005).

Durante a preparação para as aulas, materiais e instrumentos de avaliação, tomei consciência de que é necessário muito tempo de trabalho para conseguir criar todo o material necessário. Acredito que este diminuirá à medida que a experiência do professor aumentar, assim como o seu repositório pessoal de tarefas.

Com a introdução dos Testes Intermédios e das provas de fim de ciclo, os professores ficam mais livres para a avaliação formativa, uma vez que parte dos instrumentos de avaliação sumativa são externos e não requerem a sua conceção. Assim, o professor pode utilizar o tempo que iria dedicar a conceber os instrumentos de avaliação sumativa para preparar tarefas e atividades que ajudem os alunos a refletir e a melhorar as suas aprendizagens.

Na minha opinião, as provas nacionais permitem, pela justeza de serem iguais para todos os alunos do país, fazer convergir os objetivos de aprendizagem e “forçando” o cumprimento dos programas.

Dentro da mesma escola, os professores podem cooperar e conceber testes em conjunto, de forma a uniformizar a avaliação dentro da própria escola.

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4.2.5. Avaliação Formativa Alternativa

No âmbito do Projeto M10, o método de avaliação implementado para a disciplina de Matemática, baseia-se no que Domingo Fernandes (2005) designa por Avaliação Formativa Alternativa.

Este método tem como principal função regular e melhorar as aprendizagens dos alunos, levando a que aprendam melhor, com compreensão, utilizando e desenvolvendo as suas competências, incluindo a reflexão sobre as próprias aprendizagens. As suas características mais relevantes são:

- A avaliação é deliberadamente organizada para proporcionar feedback tendo em vista melhorar as aprendizagens dos alunos;

- O feedback é determinante para levar os alunos a refletir sobre os seus processos e aprendizagens, contribuindo para melhorar a sua motivação e autoestima;

- A interação e comunicação entre professores e alunos é absolutamente central porque os professores têm de estabelecer pontes entre o que se considera ser importante a aprender e o que os alunos são, o que sabem, como pensam, como aprendem, o que sentem e como sentem;

- Os alunos são deliberada, ativa e sistematicamente envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, sendo responsabilizados pelas suas aprendizagens e tendo amplas oportunidades para elaborar as suas respostas e para partilhar o que, e como, compreenderam;

- As tarefas propostas são, desejavelmente, de ensino-aprendizagem-avaliação, criteriosamente selecionadas e diversificadas, representando os domínios estruturantes do currículo e ativando os processos mais complexos do pensamento (ex, analisar, sintetizar, avaliar, relacionar, integrar e selecionar).

- As tarefas refletem uma estreita relação entre as didáticas específicas das disciplinas, que se constituem como elementos de referência indispensáveis, e a avaliação, que tem um papel relevante na regulação dos processos de aprendizagem;

- O ambiente da avaliação das salas de aula induz uma cultura positiva de sucesso baseada no princípio de que todos os alunos podem aprender.

Trata-se de uma avaliação para as aprendizagens, no sentido em que deve contribuir inequivocamente para a sua melhoria, com a participação ativa dos alunos. Para tal, é

necessário contar com o papel dos professores e dos alunos, que têm respetivamente as seguintes responsabilidades:

Professores

- Organizar o processo de ensino; - Propor tarefas adequadas aos alunos;

- Definir prévia e claramente os propósitos e natureza do processo de ensino e de avaliação;

- Diferenciar as suas estratégias;

- Utilizar um sistema permanente e inteligente de feedback que apoie efetivamente os alunos na regulação das suas aprendizagens;

- Ajustar sistematicamente o ensino de acordo com as necessidades;

- Criar um adequado clima de comunicação interativa entre os alunos e entre estes e os professores.

Alunos

- Participar ativamente nos processos de aprendizagem e de avaliação;

- Desenvolver as tarefas que lhe são propostas pelos professores ou as que resultam de uma livre escolha e iniciativa;

- Utilizar o feedback que lhes é fornecido pelos professores para regularem as suas aprendizagens.

- Analisar o seu próprio trabalho através dos processos metacognitivos e da autoavaliação;

- Regular as suas aprendizagens tendo em conta os resultados da autoavaliação e dos seus recursos cognitivos e metacognitivos;

- Partilhar o seu trabalho, as suas dificuldades e os seus processos com o professor e com os colegas;

- Organizar o seu próprio processo de aprendizagem;

Importa sublinhar que, a Avaliação Formativa Alternativa pressupõe uma partilha de responsabilidades entre alunos e professores em matéria de avaliação e da regularização das aprendizagens.

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