• Nenhum resultado encontrado

Avaliações dos Desfechos dos Mecanismos Inibitórios Espinhais

4.5 Avaliações dos Desfechos

4.5.3 Avaliações dos Desfechos dos Mecanismos Inibitórios Espinhais

As inibições pré-sináptica e recíproca foram avaliadas por meio do condicionamento do reflexo-H no músculo sóleus. O reflexo-H é análogo ao reflexo de estiramento, no entanto, é obtido com uma estimulação elétrica superficial sobre o nervo tibial na fossa poplítea, que causa a despolarização das fibras aferentes Ia do músculo sóleus, gerando sinapses excitatórias diretas com seus respectivos motoneurônios e consequente contração (KNIKOU, 2008). Assim, para avaliar o reflexo-H todos os indivíduos permaneceram sentados em uma poltrona, com o quadril posicionado a 120º, o joelho a 135º e o tornozelo a 110º de flexão. Como o reflexo-H e as inibições medulares sofrem diversas influências, por exemplo, movimentos da cabeça, dos braços e dos pés (KNIKOU, 2008), os indivíduos foram instruídos a permanecerem sentados na poltrona com as mãos relaxadas sobre as pernas e sem se mover ou dormir. Além disso, o segmento da perna mais afetada foi fixado em um pedal situado abaixo do equipamento de neuroestimulação (Nicolet® Viking Quest portable EMG apparatus, CareFusion, Wisconsin,

USA) (Figura 9).

O reflexo-H do músculo sóleus foi realizado por meio de uma estimulação bipolar do nervo tibial com eletrodos de superfície auto-adesivos (Valutrode) que foram fixados na fossa poplítea (1cm largura e 2cm de comprimento), e na face anterior no joelho sobre o ligamento patelar (3,2cm de diâmetro). Os pulsos de estimulação foram retangulares, com 1ms de duração. A captação do reflexo-H do músculo sóleus foi feita através de dois eletrodos de superfície auto-adesivos (Kendall,1,0 cm de diâmetro), fixados sobre o músculo sóleus a 4cm e 6cm (i.e., distância intereletrodo de 2cm) abaixo da união dos ventres dos músculos gastrocnêmio lateral

e medial na região postero-medial da perna (HUGON, 1973). O eletrodo referência foi fixado na porção medial da tíbia. Antes da fixação dos eletrodos de estimulação e captação, a pele da região foi tricotomizada e limpa com uma gaze umedecida em álcool isopropílico. Os eletrodos de estimulação e de captação foram fixados com esparadrapo e fitas de velcro para melhorar o contato entre a pele e o eletrodo (Figura 9). A taxa de aquisição dos sinais foi de 2 kHz. A resposta reflexa foi mensurada pela amplitude pico a pico do reflexo-H. A intensidade de um estímulo para o outro foi aumentada em 0.05 mA, começando em um baixo limiar de reflexo- H e aumentando até um nível de intensidade supramáxima para mensurar a resposta máxima motora (onda Mmax). O valor da onda Mmax do músculo sóleus foi obtido através da aplicação de pelo menos três estímulos de intensidade crescente (ou progressiva) em que não houve aumento da amplitude pico a pico da onda M. Depois, a intensidade de estímulo que produziu uma amplitude do reflexo- H entre 15 e 20% da Mmax foi determinada para posterior condicionamento (CRONE, HULTBORN, JESPERSEN & NIELSEN, 1987).

4.5.3.2 Condicionamento do Reflexo-H no Músculo Sóleus

Posteriormente, as inibições pré-sináptica e recíproca foram evocadas através de estimulações condicionantes do reflexo-H. O reflexo-H do músculo sóleus foi condicionado pela estimulação das vias aferentes Ia do nervo tibial anterior através de um pulso retangular de 1ms de duração (estímulo condicionante) aplicado por meio de um eletrodo de superfície, fixado com velcro posicionado 2,0cm abaixo da cabeça da fíbula. Os eletrodos de captação do músculo tibial anterior foram fixados sobre o ventre muscular do mesmo com uma distância intereletrodo de 2,0cm na altura do primeiro quarto da fíbula com mesmo eletrodo de referência. A determinação da intensidade de condicionamento correspondente ao limiar motor foi 1.1 × limiar motor para obter uma onda M submáxima no músculo tibial anterior sem causar contrações vigorosas do mesmo. Esta intensidade de condicionamento (1.1 x limiar motor) é utilizada para observar ativação de todos os interneurônios inibitórios e assim verificar os efeitos facilitatórios e inibitórios (CAPADAY, LAVOIE & COMEAU, 1995; GEERTSEN, LUNDBYE-JENSEN & NIELSEN, 2008; PATIKAS, KOTZAMANIDIS, ROBERTSON & KOCEJA, 2004; PETERSEN, MORITA & NIELSEN, 1998), além de ser suficiente para estimular as vias aferentes do músculo tibial anterior que estimulam as vias inibitórias espinhais do músculo sóleus (CAPADAY, LAVOIE & COMEAU, 1995; GEERTSEN, LUNDBYE- JENSEN & NIELSEN, 2008; PATIKAS et al., 2004; PETERSEN, MORITA & NIELSEN, 1998). Assim, as inibições pré-sináptica e recíproca foram obtidas em duas condições: 1) teste, somente o reflexo-H do músculo agonista (músculo sóleus) foi obtido com um estímulo

aplicado sobre o nervo tibial, e 2) condicionado, o reflexo-H do músculo antagonista (tibial anterior) foi gerado, através da estimulação do nervo fibular comum, antes do reflexo-H do músculo agonista. O estímulo condicionante foi realizado antes do estímulo teste com intervalo (intervalo condicionante-teste) de 100ms e 2-3ms, a fim de recrutar as fibras aferentes Ia e ativar as vias inibitórias das inibições pré-sináptica e recíproca, respectivamente.

No intervalo condicionante-teste de 100ms, uma estimulação do nervo fibular comum evoca uma inibição que pode ser causada pela inibição pré-sináptica dos terminais das Ia aferentes sobre os motoneurônios do músculo soleus (CAPADAY, LAVOIE & COMEAU, 1995; EARLES, VARDAXIS & KOCEJA, 2001; ILES, 1996; PATIKAS et al., 2004). No intervalo condicionante-teste de 2-3ms, uma estimulação no nervo fibular comum produz uma significante depressão do reflexo-H do músculo sóleus sendo que essa depressão é mediada pela inibição recíproca (CRONE, HULTBORN & JESPERSEN, 1985; CRONE et al., 1987). Para os indivíduos que apresentaram facilitações (i.e., valores negativos) ao invés de inibições no pré-treinamento, o mesmo intervalo condicionante-teste foi utilizado no pós-treinamento. Estes indivíduos não foram excluídos da análise estatística porque o interesse do presente estudo também foi verificar se esses indivíduos poderiam apresentar inibições, após os treinamentos.

Dessa forma, foram obtidos 25 reflexos-H testes e 25 reflexos-H condicionados para cada intervalo condicionamento-teste com intervalo entre cada reflexo-H de 10 segundos. O cálculo da porcentagem das inibições pré-sináptica e recíproca foi feito de acordo com a seguinte equação: % Inibição = [1 - (Hcond/Htest)]× 100, onde, Hcond representa o reflexo-H do músculo sóleus condicionado em cada um dos dois diferentes intervalos, e Hteste o reflexo-H do músculo sóleus sem condicionamento (SILVA-BATISTA et al., 2012).

FIGURA 9. Posicionamento dos eletrodos de estimulação e captação. (A) eletrodo de estimulação do nervo tibial localizado na fossa poplítea para estimular o músculo sóleus; (B) eletrodo de estimulação localizado na cabeça da fíbula para estimular o nervo fibular comum; (C) eletrodos de captação localizados abaixo da união dos ventres dos músculos gastrocnêmios lateral e medial para captação no músculo sóleus.