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Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco

As informações disponibilizadas a seguir sobre a Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (BHSF) são baseadas no extenso trabalho coordenado por Rodriguez (2006), para a Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente (MMA).

A BHSF está situada entre as coordenadas 7o 17’ a 20o 50’ S e 36o 15’ a 47o 39’ O e possui, aproximadamente, 640 mil km², o que equivale a 8% do território nacional. Nela está contido, total ou parcialmente, o território de 503 municípios, bem como parte do Distrito Federal (c. 1.300 km ou 0,2% da bacia). Quase 60% da área da BHSF estão contidos no Semiárido, abrangendo 218 municípios com sede na bacia.

A Bahia possui cerca 310 mil km2 na bacia (48,2% da área total da bacia), seguido por Minas Gerais (c. 230 mil km2; 36,9%), Pernambuco (c. 70 mil km2; 10,8%), Alagoas (c. 15 mil km2; 2,3%), Sergipe (c. 7 mil km2; 1,1%) e Goiás (3 km2; 0,5%).

O rio São Francisco é o principal componente da bacia. Desde a nascente, no município de Medeiros/MG, até a foz, nos municípios de Brejo Grande e Pacatuba, em Sergipe, e Piaçabuçu, em Alagoas, o rio percorre 2.860 km. A vazão natural média anual do São Francisco

é de 2.850 m3/s, ao passo que a vazão média mensal oscila entre pouco mais de 1.000 m3/s a 5.290 m3/s. As menores descargas são verificadas entre os meses de setembro e outubro e as maiores, em março. A Bahia contribui com cerca de 20% da vazão natural média do rio São Francisco, mas vem de Minas Gerais o maior volume — em torno de 75% da vazão, o equivalente a 2.850 m3/s.

A BHSF possui 12.821 microbacias, agrupadas em quatro regiões fisiográficas: Alto, Médio, Submédio e Baixo São Francisco.

O Alto São Francisco, onde o rio nasce (Serra da Canastra, a 1.280 km de altitude), possui cerca de 110 mil km². O segmento desde a cidade de Pirapora/MG até o ponto onde tem início o lago de Sobradinho, no município de Remanso/BA, marca os limites do Médio São Francisco, que possui cerca de 340 mil km2. O Submédio São Francisco tem sua fronteira norte delimitada pela divisa entre de Bahia e Pernambuco, definida pelo próprio rio São Francisco, alcançando o limite com Alagoas. Possui, aproximadamente, 150 mil km2. Por fim, o Baixo São Francisco é delimitado, a leste, na desembocadura do São Francisco no Oceano Atlântico, sempre divisando Alagoas e Sergipe, possui pouco mais de 30 mil km2.

As principais características hidroclimáticas e físicas das regiões fisiográficas da BHSF constam no Quadro 1.5.

A Caatinga (no Médio e Submédio São Francisco) e o Cerrado (no Alto e Médio São Francisco) são os principais biomas encontrados na BHSF. Nas áreas de transição entre tais biomas surgem florestas estacionais decíduas e semidecíduas e, no Baixo São Francisco, campos de altitude e formações pioneiras (mangue e vegetação litorânea).

Quadro 1.5 Principais características hidroclimáticas das regiões fisiográficas da BHSF

Característica Regiões Fisiográficas

Alto Médio Submédio Baixo

Área (km2) 100.076 (16%) 402.531 (63%) 110.446 (17%) 25.523 (4%) Altitudes (m) 1.600 a 600 1.400 a 500 800 a 200 480 a 0 Clima predominante Tropical úmido e Temperado de altitude Tropical semiárido e Subúmido seco Semiárido e Árido Subúmido Precipitação média anual (mm) 2.000 a 1.100 (1.372) 1.400 a 600 (1.052) 800 a 350 (693) 350 a 1.500 (957) Temperatura média (oC) 23 24 27 25

Insolação média anual

(h) 2.400 2.600 a 3.300 2.800 2.800 Evapotranspiração média anual (mm) 1.000 1.300 1.550* 1.500 Trecho principal (km) 702 1.230 550 214 Declividade do rio principal (m/km) 0,70 a 0,20 0,10 0,10 a 3,10 0,10 Contribuição da vazão natural média (%) 42,0 53,0 4,0 1,0 1.303

Característica Regiões Fisiográficas

Alto Médio Submédio Baixo

Vazão média anual mínima (m3/s) 637 (Pirapora, em agosto) 1.419 (Juazeiro, em setembro) 1.507 (Pão de Açúcar, em set.) 1.461 (Foz, em Setembro) Vazão específica (l/s/km2) 11,89 3,59 1,36 1,01 Principais acidentes topográficos Serras da Canastra e Espinhaço

Serras Geral de Goiás e da Tabatinga e as chapadas Diamantina

e das Mangabeiras

Chapada do Araripe e Serras dos Cariris Velho

e Cágados

Serras Redonda e Negra Principais bacias

sedimentares São Francisco São Francisco e Jacaré

Araripe, Tucano e Jatobá Costeira Alagoas e Sergipe Vegetação predominante Cerrados e fragmentos de florestas Cerrado, caatinga e pequenas matas de serra Caatinga Floresta estacional semidecidual, mangue e vegetação litorânea Fonte: Rodriguez (2006)

1.4 Semiárido

O critério adotado para delimitar a região semiárida brasileira, criada oficialmente pela Lei Federal nº 7.827/1989, foi a precipitação pluviométrica média anual inferior a 800mm. Entretanto, a delimitação da região foi sendo modificada ao longo do tempo, incorporando não somente novos critérios técnico-científicos, mas, também, pressupostos de natureza política (Santana, 2007).

No presente estudo foi adotada a delimitação do Semiárido definida pelo Grupo de Trabalho Interministerial (GTI), do Ministério da Integração Nacional (MI) e MMA, em 2005, que tomou por base três critérios técnicos: (i) precipitação pluviométrica média anual inferior a 800mm; (ii) índice de aridez de até 0,5, calculado pelo balanço hídrico e que relaciona a precipitação e a evapotranspiração potencial, no período entre 1961 e 1990; e (iii) risco de seca maior que 60%, tomando-se por base o período 1970-1990.

Os municípios que se enquadram em pelo menos um dos critérios são considerados como parte integrante do Semiárido. A nova delimitação foi estabelecida oficialmente pela Portaria Interministerial no 01/2005 (Brasil, 2005a). Os municípios contidos no Semiárido estão relacionados na Portaria no 89, de 16 de março de 2005 (Brasil, 2005b),

Com base nos novos critérios, o Semiárido passou a abranger 982.563,3 km, distribuídos por 1.133 municípios3 (Figura 1.4). Nesse novo cenário, a Bahia possui, percentualmente, o maior número de municípios inseridos no Semiárido (23,4% - 265 municípios) e a maior área: pouco mais de 390 km², cerca de 40% da área do Semiárido (Nascimento, 2010). Cumpre salientar, entretanto, que o MI poderá, em breve, atualizar a delimitação da região, levando em

3 Santana (2007) alerta, porém, que Jundiá/RN e Barrocas/BA deveriam constar do novo perímetro do Semiárido, ausência que

consideração os mesmos critérios adotados para o atual enquadramento. O novo GTI do Semiárido, reunido pela primeira vez em julho de 2014, prevê que não haverá redução no número de municípios que integram ou que estão enquadrados na área. Porém, a caracterização do risco de seca deverá levar em consideração uma série de 30 anos de dados climatológicos observados, ao invés de 20 anos, atualmente em vigor (Portal Brasil, 2014).

O Semiárido tem como aspecto mais marcante a incidência frequente de secas caracterizadas pela ausência, escassez, alta variabilidade espacial e temporal das chuvas, não sendo incomum haver anos seguidos de seca. Além da vulnerabilidade climática, grande parte dos solos estão degradados, ao passo que os recursos hídricos estão ameaçados pela sobre- explotação ou apresentam níveis significativos de poluição. Uma descrição mais apurada do Semiárido, considerando aspectos edafoclimáticos, pode ser encontrada em Araújo (2011).

A má utilização dos recursos hídricos, associada a elevadas taxas de desmatamento e exaustão dos recursos edáficos, são especialmente deletérios no Semiárido, onde se observa a formação de vastas áreas estéreis, “desertificadas”. Tal situação coloca em risco não somente a biodiversidade, mas o desenvolvimento e a manutenção de atividades econômicas, culturais e sociais (Sá et al., 2010; IBAMA, 2010, apud Brasil, 2011b).

Em 1994, as áreas susceptíveis de desertificação, em nível elevado de gravidade, alcançavam o equivalente a 22% da região (cerca de 210 mil km2). Levando-se em consideração as regiões onde o fenômeno se manifesta em intensidade moderada, a área total afetada alcançaria 1/3 da Região Nordeste, ou cerca de 600 mil km2 (Sá et al., 2010). Na Bahia, as áreas susceptíveis de desertificação somavam, em 2005, cerca de 490 mil km2 ou, aproximadamente, 87% do Estado (PAN-BRASIL, 2005b).

O MMA identificou quatro Núcleos de Desertificação para efeito de desenvolvimento de ações prioritárias. Na Bahia, a Área Piloto para Estudos da Desertificação (APED) abrange terras de vários municípios do TI Sertão do São Francisco, dentre os quais constam Uauá, Macururé, Chorrochó, Abaré, Rodelas, Curaçá, Glória, Jeremoabo e Juazeiro (Santana, 2007).

O processo de desertificação é intenso, em especial no município Rodelas, onde a precipitação pluviométrica oscila em torno de 300 mm/ano. Conhecida como “deserto de

Surubabel”, a região possui em torno de 400 ha afetados pela degradação ambiental, em parte

motivada pela formação do lago de Itaparica. Da mesma forma, os tabuleiros de Jeremoabo, na região do Raso da Catarina, bem como os campos dunários da margem esquerda do São Francisco, em terras dos municípios como Casa Nova, Pilão Arcado e Barra, estão propensos em alto grau à desertificação (Paiva et al., 2007).

Figura.1.4 Regiões fisiográficas da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (A), Bioma Caatinga (B) e região do Semiárido (C), com relação a Área de Estudo

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