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Adelaide Ramos e Côrte Introdução

Entendemos que a atuação política do profissional bibliotecário está ligada diretamente a dois importantes fatores. O primeiro diz respeito à sua formação como cidadão, formação essa que vem do berço, dos valores e culturas do ambiente familiar em que foi criado. A postura cidadã de alguém que passou a infância e adolescência participando junto com pais, familiares e vizinhos, de movimentos sociais, encontros, rodas ou saraus de discussões sobre os caminhos e descaminhos da sociedade, os rumos de suas organizações político-partidárias, as políticas públicas definidas pelo Governo que interferem no dia a dia da comunidade em que vivem, é totalmente diferente do cidadão criado em ambiente de total alienação e desconhecimento das ações políticas que cercam a comunidade em que vivem.

O segundo fator é a análise da origem e os fundamentos da profissão observando as características exigidas para o exercício profissional, a preparação dos indivíduos, os programas de ensino oferecidos, a motivação de professores e direção dos cursos para o olhar crítico e comprometido das políticas públicas que interferem no dia a dia do exercício profissional. A apatia do primeiro fator poderá ser totalmente dissipada nesse momento.

Para Guedes (1985), o bibliotecário deve estar preparado para cumprir, com qualidade, todas as etapas do ciclo documental, organizando o conhecimento de tal forma que seja útil ao usuário no atendimento de suas necessidades de informação. O campo de atuação desse profissional é amplo e exige do bibliotecário a capacidade de transformar usuários em leitores, assim, contribuirá para a "nossa sobrevivência como povo e nação livres". Nesse trabalho observa-se ênfase nas atividades técnicas, mas observa-se, também, uma possibilidade de atuar de forma política, no verdadeiro sentido da palavra, quando atua na transformação de usuários em leitores. Isso se

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faz não pela técnica somente, mas pela atenção ao usuário como ser social.

O Fórum (2014), promovido pela Associação Brasileira de Profissionais da Informação (ABRAINFO) que tratou sobre a formação do profissional da informação, dentre esses profissionais temos o bibliotecário, concluiu sobre a necessidade de os cursos de Biblioteconomia participarem ativamente na elaboração de políticas públicas que implicam, direta ou indiretamente, no fazer bibliotecário.

Essa conclusão teve por base os problemas identificados nos grupos de trabalho, quais sejam: a inexistência de uma "voz política", a passividade dos cursos, incluindo professores e alunos frente às questões discutidas nas próprias universidades e a falta de representatividade nas instâncias políticas, gestoras e sociais no âmbito da universidade.

Walter e Baptista (2008), ao elaborarem estudo sobre a formação profissional do bibliotecário, encontraram na literatura indicações de que os profissionais bibliotecários continuam dissociados da realidade, privilegiando mais a área técnica que os aspectos sociais da profissão. Podemos, ainda, acrescentar os aspectos políticos da profissão.

Castro (2000, p.9) analisa que o perfil desejado para o moderno profissional da informação deve contemplar, em sua formação, "[...]

ativa participação nas políticas sociais, educacionais, científicas e tecnológicas".

Mais recentemente, Spudeit, Moraes e Correa (2016, p.42), em preciosos estudos sobre a formação política do bibliotecário no Brasil, concluíram que existe "[...] uma lacuna evidente nos conteúdos das disciplinas no sentido de uma formação política mais evidenciada," e relacionam os seguintes questionamentos:

Diante dessa realidade, durante a realização desta pesquisa vários questionamentos foram surgindo, tais como: o que poderia ser feito para ultrapassar essa falta de participação política dos bibliotecários contemporaneamente, como forma de ter uma atuação contra hegemônica dos bibliotecários? Outra questão a ser colocada é em relação à formação dos bibliotecários, ou seja: a formação dos bibliotecários propicia a defesa de um projeto ético, político e crítico da profissão

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comprometido com a construção do projeto de emancipação humana e com a defesa dos direitos sociais? E ainda: o projeto político pedagógico propicia aos estudantes terem uma visão crítica da profissão de forma a que os mesmos transformem em práxis os conhecimentos adquiridos, na luta contra o ensino precarizado e também pelos interesses da sua profissão? Tais questões ainda ecoam sem resposta e consistem em novas possibilidades de pesquisa ainda a serem exploradas.

De fato, no campo da formação profissional, do ensino da Biblioteconomia percebe-se a inexistência quer seja de disciplinas, ou mesmo de conteúdos programáticos inseridos em disciplinas, ou em ações que privilegiem o desenvolvimento crítico e o "pensar" sobre as políticas públicas que interferem no fazer bibliotecário.

O Que Significa Atuar Politicamente

Norberto Bobbio é considerado um dos maiores cientistas e estudiosos da Ciência Política. Atribuía o conceito à palavra política àquilo que é da sociedade, de interesse do homem, do cidadão. Ribeiro ([201-?], p.1), ao analisar a obra de Bobbio, observa:

Ao longo do tempo, o termo política deixou de ter o sentido de adjetivo (aquilo que é da cidade, sociedade) e passou a ser um modo de “saber lidar” com as coisas da cidade, da sociedade.

Assim, fazer política pode estar associado às ações de governo e de administração do Estado. Por outro lado, também diria respeito à forma como a sociedade civil se relaciona com o próprio Estado.

Spudeit, Moraes e Correa (2016, p.37) observam que em Bobbio o conceito de política se refere à "prática humana e a forma como a sociedade civil se relaciona com o Estado".

Para Telésforo (2012 apud SPUDEIT; MORAES; CORREA, 2016), formação política não significa somente "aprender a pensar". Significa aprender a fazer, ser capaz de atuar de modo "conscientemente político".

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Se entendermos que atuar politicamente é organizar os ambientes, a comunidade, de tal forma que seja possível garantir qualidade de vida ao cidadão, então, devemos procurar desempenhar ações que conduzam a esse resultado. Nesse momento estamos fazendo política.

Para Aristóteles, o homem é um animal político, porque, pela sua natureza, não consegue viver sozinho; vive sempre acompanhado de outros, desde o nascimento até sua morte. Esse convívio em grupos, em sociedade, exige o estabelecimento de ações que contribuam para a melhoria de todos, em benefício de todos (DALLARI, 1983).

Como seres humanos, somos seres sociais por natureza, não podemos fugir da característica de vida em sociedade, em grupo, a começar pelo grupo familiar, o mais próximo de cada um de nós, e tal situação se expande para os vizinhos da rua, habitantes do bairro, da cidade, na escola, com colegas de sala, professores, no trabalho, no clube, nas igrejas.

Agir politicamente é respeitar as características individuais de cada um, os interesses particulares, mas sem deixar de lado o foco no coletivo. Em determinados momentos, o coletivo deve prevalecer ao individual. Essa é a ciência do agir como ser político e social.

Ainda Dallari (1983) afirma que o momento em que o homem mais se assemelha a um outro é no nascimento e na fase da infância. À medida em que cresce, e em função do meio ambiente em que vive (mais um fato de convívio social), cada um vai procurando o caminho que o conduzirá na jornada pela vida e, dessa maneira, os indivíduos vão se distanciando ou se aproximando uns dos outros. Os conflitos surgem quando, na fase adulta ou de amadurecimento, as diferenças surgem, e é natural que surjam.

Viver em sociedade não é tarefa fácil. Há muitos exemplos de vizinhos que vivem brigando, de colegas de profissão que trabalham em uma mesma sala, mas não se falam, de famílias cujos pais não falam com filhos, filhos que ignoram pais e irmãos.

A vida em sociedade pressupõe que existem interesses sociais e coletivos e que os indivíduos são considerados como um todo e não isoladamente. Os problemas políticos, que envolvem interesses comuns, são também comuns ao grupo social.

Nesse contexto é preciso considerar os aspectos éticos do convívio político. Se somos seres sociais por natureza, somos seres

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éticos também por natureza. Política e ética andam de mãos dadas.

Infelizmente vivemos uma época, um triste momento no nosso País em que a política se distanciou dos interesses coletivos e o comportamento ético distanciou-se das decisões coletivas. Predominam o interesse individual e o comportamento umbilical e, assim, perdeu-se a capacidade de olhar para e pelo o outro. Predomina o interesse individual ao coletivo. Esse comportamento é consequência do próprio agir e fazer política e não da ciência política.

Nesse cenário é natural que pessoas se agrupem para defender ideias comuns. Isso encontramos em associações de classe, de bairro, grupos de amigos, em uma perspectiva de sociedade civil.

Na esfera pública e governamental encontramos os partidos políticos, agrupamentos organizados da sociedade, criados para representar os desejos e as necessidades da população, para servir como instrumento de articulação entre os interesses da sociedade e dos governantes, estabelecer políticas públicas de interesse à população, canalizar a vontade do povo e afastar o caos da vida das pessoas (BATISTA, 2015).

Entretanto o que se observa é que os interesses coletivos, atualmente, não fazem parte das estratégias e das prioridades dos partidos políticos. Há, explicitamente, prevalência dos interesses individuais quer seja do próprio partido ou de seus representantes, como indivíduos. Esse comportamento aumenta a distância entre representantes e representados e favorece o não cumprimento dos programas e planos de governos para os quais foram eleitos. Observa-se, ainda, que as políticas públicas estabelecidas são aquelas relacionadas aos determinantes ideológicos dos partidos (PIMENTEL, 2014), e não dos interesses e necessidades da própria comunidade.

Qual o Espaço que o Bibliotecário Possui para Atuar Politicamente O bibliotecário é, sem sombra de dúvidas, um profissional altamente comprometido com o interesse comum da sua comunidade usuária.

O princípio básico, e o que nos encanta no exercício da profissão de bibliotecário, é que não existe ambiente de maior sociabilização, espaço mais democrático que uma biblioteca.

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Se pensarmos que os livros e as informações estão disponíveis para os usuários que, por sua vez, circulam livremente pelas estantes, pelas bases de dados à procura do que lhes interessa, sem nenhuma censura do que se pode ou não pode ler, isso não tem preço.

As bibliotecas especializadas oferecem acervos para uma comunidade que tem um interesse específico. Por isso, é comum presenciar usuários felizes por terem encontrado a informação de que necessitam para o seu trabalho.

É inegável a importância da biblioteca escolar na formação do hábito de leitura do cidadão do futuro, ser social, político e ético que será responsável pelo olhar geral e não específico da sociedade.

Não há dúvidas da importância da biblioteca universitária na formação técnica dos profissionais que comporão o grupo de pessoas que gerarão conhecimento para a melhoria da qualidade de vida do cidadão.

E o que dizer da importância democrática exercida pelas bibliotecas públicas?

O espaço e a liberdade de acesso à informação que o cidadão, de qualquer credo, cor, raça, formação, tem são ímpares. Conheci um rapaz que era guarda noturno do cemitério de uma determinada cidade. Novo na cidade, foi o emprego que conseguiu. Não tinha onde morar. Quando chegava para trabalhar tinha a sua disposição um banheiro onde tomava banho e colocava seu uniforme. De manhã, ao tomar banho e trocar sua roupa, saía a perambular pela cidade até que entrou em uma biblioteca pública. Passava seus dias lá. E como aprendeu, como leu, como viveu...Como melhorou de emprego, de vida. Isso não tem preço também. E assim encontraremos, por esse Brasil afora, exemplos de pessoas que resgataram sua dignidade como cidadãos frequentando bibliotecas públicas.

Temos exemplos também de bibliotecários de bibliotecas públicas que, pela importância do trabalho que desenvolvem junto à comunidade usuária, são "paparicados" pelos deputados, prefeitos e vereadores, convidados para todos os eventos políticos, porque os representantes do povo têm a noção exata da credibilidade do bibliotecário junto à comunidade. E por isso querem tê-lo por perto.

Se o homem é um ser político, social, e o bibliotecário é homem, então o bibliotecário também é um ser político, social. Verdade? Nem tanto.

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Para isso precisará construir uma identidade que o caracterize e seja reconhecido como esse ser social.

Walter (2008) analisa que a construção da identidade do profissional bibliotecário, da visão e da compreensão dos papéis social e político da profissão, poderia ser influenciada positivamente pelas organizações representativas da profissão.

Essa afirmativa nos conduz a refletir sobre o bibliotecário e sua atuação política não sob o ponto de vista da atuação político-partidária, mas sob o ponto de vista da política pelo convívio, pelo social, pelo trabalho em prol da melhoria de qualidade de vida da sociedade. E nisso precisamos ser bons. Precisamos ser bons, porque nossa atividade é extremamente democrática.

O espaço de trabalho é um espaço igualmente democrático onde não existe (ou não deve existir) acepção de pessoas. Mas é possível reconhecer que um profissional com consciência política desempenha melhor sua profissão. E essa consciência inicia no ambiente familiar, aprimora em sala de aula, é exercida com a participação e o envolvimento em movimentos e atividades sociais, no período de formação profissional, dentro e fora das universidades.

No período de formação profissional, o envolvimento com os movimentos políticos se dá nos Encontros de Estudantes, na participação nas atividades dos grêmios estudantis ou nos Centros Acadêmicos. É um momento de liberdade de expressão. Livre mesmo.

Falar e falar. Discutir e discutir. Sem compromisso com sustento financeiro. Usar esses espaços na vida estudantil é de muita importância para a formação do futuro profissional.

O envolvimento dos cursos de Biblioteconomia na vida da universidade, mesmo que, em determinados momentos, prejudiquem a carga horária e atrasem o conteúdo a ser ministrado aos alunos também faz parte do aprendizado e da consciência política que se refletirá em toda a vida profissional. O incentivo a projetos comunitários de criação de bibliotecas é tão importante na formação do profissional quanto o desenho de uma belíssima base de dados.

Já, no exercício profissional, a atividade do bibliotecário é muito rica e intensa. E todas as funções: seleção, aquisição, tratamento, armazenagem, difusão, uso e transferência da informação se interagem. Por quê? Porque o objetivo de todas essas funções é um só:

atender às necessidades de informação do usuário, o nosso maior e

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único cliente que faz parte de um grupo social, que interage e interfere na comunidade em que vive.

Dessa maneira, é impossível o bibliotecário responsável pelo processo de seleção, não saber, do bibliotecário de referência, as necessidades, características e os limites dos usuários.

Por sua vez, o processo de tratamento da informação (catalogação, classificação e indexação) só será completo se o bibliotecário responsável por esse serviço conhecer as características e os tipos de perguntas feitas pelos usuários.

E de nada adiantará as estantes estarem muito bem organizadas se os usuários a elas não têm acesso, quer seja pela complexidade de entender a ordem dos números de classificação, quer seja pela altura das estantes, ou pela pouca luz existente no salão onde se encontram os livros e demais documentos de consulta e pesquisa.

Desta forma, o bibliotecário desenvolve suas habilidades políticas e de convívio, exercendo um comportamento ético dentro do próprio espaço da biblioteca, no seu dia a dia.

Certamente encontraremos excelentes acervos com índice baixíssimo de consulta quando o elo de comunicação entre os profissionais é quebrado. O contrário também é verdadeiro. Bibliotecas, com poucos recursos, porém com serviços de primeira linha, cheia de usuários, pois isso é resultado de trabalho cooperativo, ético e político do bibliotecário.

É importante registrar que, no ambiente e espaço da biblioteca, não deve existir posição político-partidária. O maior partido político do bibliotecário, no exercício de sua profissão, é a Biblioteca. Lá fora, é livre.

Com certeza existem muitos bibliotecários que são totalmente envolvidos com um determinado partido político. Isso é muito bom. E é um direito individual que deve ser respeitado em sua totalidade e plenitude. Mas, a partir do momento em que as posições político-partidárias interferem na formação de coleções e nos serviços que serão prestados e, principalmente, na escolha de qual usuário tem prioridade independente das condições próprias institucionais, um grande e grave erro está sendo cometido.

Voltemos aos estudos de Walter (2008). A Biblioteconomia foi criada, como profissão, pelo Estado brasileiro para atender uma

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necessidade da sociedade. E essa profissão precisa de uma identidade, de uma imagem e uma atuação política junto à sociedade.

Para isso é fundamental o papel de quatro organizações: o curso de formação, as associações, os conselhos de fiscalização do exercício profissional e os sindicatos, além, claro, do comportamento ético do profissional bibliotecário no seu dia a dia, na sua instituição.

A pergunta que se faz é: como o aluno recebe, durante sua formação, informações sobre a importância dessas organizações no exercício profissional? Se o corpo docente não as valoriza, como o aluno, hoje, profissional de amanhã as valorizará? E qual o papel dos dirigentes dessas instituições junto aos alunos e junto aos profissionais?

É muito comum encontrar bibliotecário que não sabe a diferença e o papel dos conselhos de fiscalização profissional, das associações de classe e dos sindicatos. Há uma confusão geral nessa área. Ressalte-se que o cenário profissional é integrado por essas instituições no nosso País.

Se, por um lado, compete ao Estado a organização do exercício profissional, por outro lado, as profissões surgem não por força de medidas do Estado, mas por demanda da sociedade, com base em necessidades sociais ocorridas em diversos contextos e momentos históricos. Uma vez existindo a demanda, é preciso organizá-las, preservando e zelando pelos interesses coletivos e não individuais ou corporativos.

Desse modo, se a atividade profissional nasce do desejo de uma sociedade, ela assume um caráter público, tornando-se objeto de fiscalização do Estado. Nesse contexto, considera-se a importância da regulamentação profissional tanto para assegurar o exercício profissional de pessoas qualificadas e habilitadas para tal, quanto para assegurar e defender os interesses da comunidade e dos cidadãos, que procuram atendimento especializado.

O Estado, na busca de agilizar suas atribuições, delega aos conselhos profissionais a função pública de fiscalizar, defender e disciplinar o exercício da atividade profissional, bem como o dever de zelar pelo interesse público. Delega, também, a supervisão qualitativa, ética e técnica do exercício das profissões, de acordo com a Lei, com o único objetivo de assegurar qualidade aos serviços prestados à sociedade, de uma perspectiva do profissional para a sociedade e não

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do profissional para o profissional de forma corporativa. Mesmo assim, é o profissional fiscalizando o profissional.

Diferentemente dos sindicatos, os conselhos não se caracterizam pelo corporativismo. Se um determinado profissional cometer algum erro, no exercício de sua profissão, o seu respectivo conselho abrirá processo ético-disciplinar, aplicará a penalidade e, se for o caso, denunciará ao Ministério do Público.

A natureza jurídica da profissão leva ao entendimento de que a regulamentação profissional é uma questão de cidadania. Primeiro, porque, em essência, as ações desses órgãos visam garantir a prestação de serviços de informação aos cidadãos brasileiros com uma qualidade presumida e, por isso, os conselhos de fiscalização profissional lutam para que esses serviços sejam prestados por profissionais habilitados, única maneira de assegurar que as funções social e ética das profissões que representam sejam cumpridas de modo eficaz (CÔRTE, 2015).

O compromisso social dos conselhos é observado, também, em suas ações que fortalecem os mecanismos de controle social e promovem a democratização das políticas públicas.

Mas, se os conselhos desempenham papel fundamental para a sociedade, por que é corriqueiro ver um profissional menosprezando a atuação de seu conselho? Uma das causas, certamente, é o desconhecimento da real função dos conselhos que leva o profissional a crer que, se ele paga o tributo, deve ser devidamente retribuído, por meio da defesa de interesses de sua categoria.

Esse profissional não deixa de ter razão, porque o sistema contributivo é, por excelência, retributivo. Porém, as ações oriundas do tributo pago devem ser revertidas para dar proteção à sociedade, em relação aos serviços que lhe são prestados por seus profissionais.

Um instrumento importante para a classe sob a responsabilidade dos conselhos é o Código de Ética Profissional. Se em outras profissões esse documento é a Bíblia dos profissionais, bibliotecários há que nunca sequer o abriram para uma leitura geral. É esse documento que estabelece as normas de atuação política e técnica do bibliotecário.

As associações de classe são as maiores responsáveis pelo processo de educação continuada. Mas o que é mais grave é que os profissionais estão totalmente ausentes de suas Associações, poucos são os profissionais filiados, há pouquíssima representatividade, muito

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embora as associações são importantes para o desenvolvimento das profissões. Isso a história mostra e registra. Almeida Junior, citado por Walter (2008), aponta algumas razões pelas quais o bibliotecário não participa das associações: a) complexo de inferioridade; b) descrença na importância da profissão; c) desconhecimento da real função social; e) a Biblioteconomia é unicamente técnica; f) o bibliotecário não se vê como agente de transformação; e acrescentamos: é melhor permanecer na zona de conforto onde o mais importante é o contracheque ao final do mês; além disso, normalmente as atividades da associação ocorrem após o expediente, e o cansaço se faz presente.

Durante o dia, é impossível sair do trabalho. Nem tanto por causa do trabalho em si, mas certamente porque os próprios dirigentes não reconhecem a importância da profissão e, portanto, não liberam os profissionais para essas atividades. Resta ao pequeno grupo de interessados assumir e participar das programações.

Aos sindicatos compete a luta pelos salários e por melhores condições de trabalho. Mas também, na Biblioteconomia, essas instituições são frágeis e sobrevivem pelo esforço de um pequeno grupo. De maneira geral, as associações promovem o desenvolvimento profissional, os conselhos fiscalizam o exercício profissional sempre em benefício da sociedade e os sindicatos lutam por melhores salários e condições de trabalho. Mas de nada adianta a existência dessas instituições se o profissional delas não participar. Esse é o cenário atual.

Elaine Faria (BIBLIOTECÁRIO, 2015) observa que o caráter tecnicista da profissão fala mais alto, ainda hoje, que os benefícios sociais que essa mesma profissão pode trazer para a comunidade.

Lembra que, no período em que a profissão foi regulamentada, a parte técnica era importante e necessária, mas, com o decorrer do tempo e com o avanço tecnológico, a área humana, político e social da Biblioteconomia deveria ter recebido maior atenção por parte do profissional. Sente falta da representatividade política do Bibliotecário nas câmaras municipais, estaduais, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Não possuímos representação política e só a amizade dos parlamentares para com as bibliotecas, a informação e o bibliotecário não têm sido suficientes para que alcancemos vitórias no estabelecimento de políticas públicas.

Em se tratando de serviços e produtos, estamos muito bem, reflete Elaine. Mas continuamos trabalhando e nos modernizando da