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Breve histórico do Estatuto da Cidade

No documento I S S E R T A Ç Ã O D EM ESTRADO (páginas 91-95)

2.7 EMBASAMENTO LEGAL PARA A PREVISÃO DE IMPACTOS

2.7.1 Breve histórico do Estatuto da Cidade

A Constituição da República de 1988, no título referente à ordem econômica e financeira, já que um adequado desenvolvimento urbano constitui condição essencial para o crescimento e, mais, o desenvolvimento das atividades econômicas, dedicou um capítulo à política urbana expostos nos artigos 182 e 183. Entretanto, havia a necessidade de regulamentação desta mesma política em níveis inferiores e, posterior, alcance do fim a que se destina, ou seja, ordenar o desenvolvimento das funções sociais da cidade, bem como sua sustentabilidade, garantindo qualidade de vida a seus habitantes.

O encarecimento do solo urbano, a ocupação descontrolada e degradadora do meio ambiente, especialmente por contingentes populacionais de baixa renda, tangidos para a periferia por inúmeros fatores, a especulação imobiliária, o estoque de áreas que permanecem não utilizadas, subutilizadas ou utilizadas de forma inadequada, como se não existisse o preceito da função social da propriedade...(CAMMAROSANO, 2002, p.25).

A condição precípua do Estatuto consiste na garantia da função social da propriedade e, para tanto regulamenta o uso e ocupação do solo urbano, tendo em vista a dicotomia existente entre espaço público e privado, e os impactos advindos desta ocupação e, por sua

vez, interferentes nas condições de vida da coletividade tais como as condições de tráfego, segurança no trânsito e modificação do tipo de uso do solo, escopo deste trabalho.

A preocupação com a regulamentação da política urbana já é questão que remota aos anos de 1960. Em 1963, conforme Moreira (2002), no governo de João Goulart, a realização do Seminário Nacional de Habitação e Reforma Urbana, revela uma tentativa de dar um tratamento ao assunto. Neste período criou-se o Serviço Federal de Habitação e Urbanismo - SERFHAU, o BNH - Banco Nacional da Habitação, institui-se o Sistema Financeiro da Habitação - SFH, ao passo que, na década seguinte, 1970, foram instituídas as regiões metropolitanas.

No entanto, até 1983 o país não possuía adequada legislação relativa ao assunto em tratamento. Reclamações populares por melhores cond ições de vida e direito ao local de moradia incentivaram a elaboração de projeto de lei, em 1983, de Nº 775/1983, no qual estavam inseridos propostas de medidas e instrumentos de regularização urbana, passíveis de discussão, com o fim de efetivar a sua prática. Moreira (2002.p. 11) afirma que até este momento a maioria da legislação existente fora editada quando a sociedade se caracterizava fortemente como rural.

Segundo o autor tal projeto de lei, bem como os seus subseqüentes, explicitavam a questão da função social da propriedade. O desenvolvimento urbano, fundamentado neste princípio, consistia na solução dos problemas relacionados aos distúrbios conseqüentes do crescimento das cidades, ao uso do solo, aos investimentos públicos ou de outro interesse, mas que promovessem a valorização de imóveis urbanos, à política fiscal e financeira, à participação da iniciativa privada nas atividades de urbanização. O projeto de lei permaneceu na Câmara até 1988, resultando na atual Constituição Federal.

Uma nova tentativa, em 1989, depois de promulgada a Constituição, resultou no Projeto de lei substitutivo Nº-2191/1989 o qual apresentava-se adaptado à nova norma constitucional. Moreira (2002) relata, a respeito da proposta de lei, que era considerado, mesmo para municípios com número de habitantes inferior a 20.000, aos quais não havia obrigatoriedade de elaboração de Plano diretor, necessária à criação de uma legislação urbanística tendo como conteúdo mínimo uma proposta para a estrutura urbana, limites de

área e expansão urbana, áreas preferenciais para urbanização, diretrizes de uso e ocupação do solo.

Em 1990, novo projeto de lei foi levado à Câmara dos deputados onde tramitou e foi assunto de avaliação e substitutivos por comissões da própria câmara por uma década, sendo aprovado em 10 de julho de 2001, transformando-se na Lei Federal 10.257 intitulada como Estatuto da Cidade.

Entre as diversas alterações que convergiram no atual Estatuto, encontra-se o substitutivo elaborado pela comissão de defesa do consumidor, meio ambiente e minorias. A preocupação centrava-se nas questões ambientais, objetivando a harmonia entre regulação urbana, uso do espaço urbano com o meio ambiente, principalmente, em áreas onde se verificava crescente demanda por urbanização. Daí nasceu a proposta da realização de estudos prévios de impacto ambiental e de vizinhança como pré – requisito para aprovação de projetos e licenciamento de construção para empreendimentos geradores de impactos.

O EIV -Estudo de Impacto de Vizinhança e sua descrição através do RIVI – Relatório de Impacto de Vizinhança são instrumentos que permitem, através da prognose de impactos, a tomada de medidas preventivas pelo órgão administrativo, evitando-se ou minimizando condições de desequilíbrio decorrentes do crescimento desordenado das cidades.

Os artigos 36 e 37 do Estatuto da Cidade descrevem em quais instâncias devem ser definidos os critérios para elaboração do EIV e exemplifica situações impactantes passíveis de avaliação.

Art. 36. Lei municipal definirá os empreendimentos e atividades privadas ou públicas em área urbana que dependerão de elaboração de Estudo Prévio de Impacto de Vizinhança (EIV) para obter as licenças ou autorizações de construção, ampliação ou funcionamento a cargo do Poder Público Municipal. Art.37. O EIV será executado de forma a contemplar os efeitos positivos e negativos do empreendimento ou atividade quanto à qualidade de vida da população residente na área e suas proximidades, incluindo análise, no mínimo, das seguintes questões:

Adensamento populacional;

Equipamentos urbanos e comunitários; Uso e ocupação do solo;

Valorização imobiliária;

Geração de tráfego e demanda por transporte público; Ventilação e iluminação;

Paisagem urbana e patrimônio natural e cultural.

Parágrafo único. Dar-se –á publicidade aos documentos integrantes do EIV, que ficarão disponíveis para consulta, no órgão competente do Poder Público Municipal, por qualquer interessado. (BRASIL, Lei Federal 10257- Estatuto da cidade, 2001).

Atualmente grande parte dos municípios brasileiros, ou melhor, municípios com número de habitantes igual ou superior a 20.000 habitantes e, principalmente, as médias e grandes cidades brasileiras devem possuir um plano de desenvolvimento urbano onde constam regras urbanísticas que limitam a liberdade de uso da propriedade em prol de um interesse maior, no caso as necessidades de toda a sociedade.

Entretanto, é sabido que um projeto pode estar de acordo com todas as normas constantes no código de obras, bem como respeitar os índices urbanísticos exigidos para cada zona e, logicamente, apto a receber licença para desenvolvimento e construção, mas, ao mesmo tempo, ser causador em potencial de distúrbios no meio urbano os quais trarão conseqüências indesejáveis para toda a coletividade.

Soares M. (2002) destaca que não apenas os serviços prestados na região, entre eles o transporte, saneamento e demais infra-estruturas, como o próprio comportamento dos habitantes residentes nas proximidades pode ser afetado pela construção e implantação de um empreendimento, mesmo em consonância com a legislação urbanística.

Assim, a autora ratifica a necessidade de estudos prévios de impactos quando da construção, ampliação ou modificação de uso, tendo como conteúdo mínimo os itens sugeridos no Estatuto da cidade, artigo 37, considerando como critério principal a localização do impacto. Isto implica que obras fora do perímetro urbano também são passíveis de avaliação, já que seus impactos podem apresentar tal amplitude que extrapole os limites entre zona urbana e rural, incidindo, desta forma, em áreas da cidade.

Conhecendo os possíveis e prováveis impactos gerados pelo empreendimento, pode-se exigir do empreendedor, em prol da qualidade do espaço urbano e da coletividade que, por

sua vez, é usuária do espaço, formas de compensar e medidas para minimizar estes distúrbios e alterações na dinâmica original do espaço.

Assim, de forma mais democrática, os custos com suprimento de infra-estruturas solicitadas e cuja demanda foi aumentada com a inserção da edificação serão transferidos para o empreendedor, principal interessado no sucesso de seu empreendimento, ao contrário do que é corriqueiro nas políticas de crescimento da cidade, ou seja, a responsabilização de toda a sociedade na realização de melhorias que muitas vezes não favorecem o uso do espaço pela mesma.

O Estudo de Impacto de vizinhança - EIV, instrumento de planejamento da cidade, visa o equilíbrio de uma determinada região e /ou de toda a cidade dependendo do porte do empreendimento em combinação com sua finalidade. Estes dois aspectos associados podem indicar ou sugerir a possível geração de impactos futuros e a necessidade de estudos mais detalhados, tais como, a avaliação da circulação da área em destaque.

Ressalta-se que o EIV não isenta a obra ou empreendimento de estudos de impacto ambiental - EIA e RIMA - Relatório de impacto ambiental, cuja regularização tem como instância superior às resoluções do CONAMA -Conselho Nacional do Meio Ambiente, e, especificamente, tratando de Pólos de atração de viagens, um dos elementos de estudo deste trabalho, tem-se em vigor o CTB - Código de Trânsito Brasileiro. O EIA teve sua regularização antes mesmo do EIV.

Não obstante, cabe ao Estado e a cada município elaborar sua legislação, em conformidade com legislação federal e com as características e necessidades regionais e locais, respectivamente.

No documento I S S E R T A Ç Ã O D EM ESTRADO (páginas 91-95)