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Importante!!!

As hipóteses de cabimento de recurso em sentido estrito trazidas pelo art. 581 do CPP são: exaustivas (taxativas);

admitem interpretação extensiva não admitem interpretação analógica.

A decisão do juiz que revoga a medida cautelar diversa da prisão de comparecimento periódico em juízo (art. 319, I, do CPP) pode ser impugnada por meio de RESE?

SIM, com base na intepretação extensiva do art. 581, V.

O inciso V expressamente permite RESE contra a decisão do juiz que revogar prisão preventiva. Esta decisão é similar ao ato de revogar medida cautelar diversa da prisão. Logo, permite-se a interpretação extensiva neste caso.

Em suma: é cabível recurso em sentido estrito contra decisão que revoga medida cautelar diversa da prisão.

STJ. 6ª Turma. REsp 1628262/RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 13/12/2016 (Info 596).

Imagine a seguinte situação hipotética:

João foi preso em flagrante pela prática do crime de furto.

O juiz concedeu a liberdade provisória ao flagranteado, determinando, no entanto, que ele comparecesse todo dia 05 de cada mês na Secretaria da Vara para assinar seu nome e informar suas atividades. Essa medida cautelar diversa da prisão foi determinada com fulcro no art. 319, I, do CPP:

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:

I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades;

O Ministério Público ofereceu denúncia, tendo esta sido recebida pelo magistrado. Já havia se passado dois anos sem que o processo chegasse ao fim.

Diante disso, o Defensor Público pediu que o réu fosse dispensado de comparecer periodicamente na Secretaria da Vara, considerando que isso estava prejudicando seu trabalho.

O juiz acatou o pedido da defesa e revogou a medida cautelar diversa da prisão de comparecimento periódico em juízo.

O Promotor de Justiça não concordou com a decisão e interpôs recurso em sentido estrito.

Ocorre que o Tribunal de Justiça não conheceu do recurso interposto por entender que a presente situação não está abrangida pelo rol do art. 581 do CPP, que é taxativo e não admitiria interpretação extensiva.

Veja o que diz o art. 581 do CPP:

Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença: I - que não receber a denúncia ou a queixa;

II - que concluir pela incompetência do juízo;

III - que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição; IV - que pronunciar o réu;

V - que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir requerimento de prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória ou relaxar a prisão em flagrante;

VI - (Revogado pela Lei nº 11.689/2008)

VII - que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor;

VIII - que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade;

IX - que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra causa extintiva da punibilidade; X - que conceder ou negar a ordem de habeas corpus;

XI - que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena; XII - que conceder, negar ou revogar livramento condicional;

XIII - que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte; XIV - que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir;

XV - que denegar a apelação ou a julgar deserta;

XVI - que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial; XVII - que decidir sobre a unificação de penas;

XVIII - que decidir o incidente de falsidade;

XIX - que decretar medida de segurança, depois de transitar a sentença em julgado; XX - que impuser medida de segurança por transgressão de outra;

XXI - que mantiver ou substituir a medida de segurança, nos casos do art. 774; XXII - que revogar a medida de segurança;

XXIII - que deixar de revogar a medida de segurança, nos casos em que a lei admita a revogação; XXIV - que converter a multa em detenção ou em prisão simples.

Agiu corretamente o Tribunal?

NÃO.

É cabível recurso em sentido estrito contra decisão que revoga medida cautelar diversa da prisão. STJ. 6ª Turma. REsp 1628262/RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 13/12/2016 (Info 596).

O rol do art. 581 do CPP é exaustivo ou exemplificativo?

Exaustivo. As hipóteses de cabimento do recurso em sentido estrito trazidas no art. 581 do CPP são EXAUSTIVAS (taxativas). No entanto, apesar disso, é admitida a interpretação extensiva dessas hipóteses legais de cabimento.

"O artigo 581 do Código de Processo Penal regula as hipóteses de cabimento do recurso em sentido estrito. Em geral, esse recurso serve para impugnar decisões interlocutórias, no entanto, ele não se iguala ao agravo previsto no Código de Processo Civil, pois sua hipótese de incidência é taxativa. Ademais, em alguns casos, esse recurso também é cabível contra sentenças e decisões administrativas. Em essência, é um recurso que se dirige a impugnar decisões de juiz singular.

Embora seja um rol taxativo, em razão das mudanças da legislação processual penal, não é aceitável a estagnação das hipóteses de cabimento. Ademais, em razão da paridade de armas, não se pode permitir um desequilíbrio entre as partes, de tal forma que a acusação fique privada de um instrumento de impugnação das decisões proferidas por juiz de primeiro grau, considerando que a defesa sempre poderá impetrar ordem de habeas corpus.

De fato, não se admite a ampliação das hipóteses para abranger situação que evidentemente o legislador quis excluir. No entanto, diante de uma omissão involuntária do legislador, a hipótese pode ser suprida por meio de interpretação extensiva." (Voto da Min. Maria Thereza de Assis Moura no REsp 1550458/SP,

Sexta Turma, julgado em 05/04/2016).

Exemplo: o inciso I prevê que é cabível o recurso em sentido estrito contra a decisão que "não receber a denúncia ou a queixa". Por meio de interpretação extensiva, a jurisprudência admite também o RESE contra a decisão que não recebe o aditamento da denúncia ou da queixa.

Rol que não admite interpretação analógica

Vale ressaltar que a interpretação extensiva não se confunde com a interpretação analógica.

Em razão da legalidade estrita e do próprio princípio do devido processo legal, não é admissível que, por interpretação analógica, se permita a utilização de determinado recurso quando a lei não o prevê para aquela situação concreta.

Além disso, o recurso em sentido estrito constitui exceção à regra geral da irrecorribilidade das decisões interlocutórias no processo penal, motivo pelo qual não se admite a ampliação da sua abrangência por meio da interpretação analógica.

Observação pessoal: aqui, quando o STJ falou em "interpretação analógica", acredito que ele tenha querido dizer "analogia" ("aplicação analógica"), que são conceitos diferentes.

Resumindo:

As hipóteses de cabimento de recurso em sentido estrito trazidas pelo art. 581 do CPP são:  exaustivas (taxativas);

 admitem interpretação extensiva  não admitem interpretação analógica.

Voltando ao caso concreto: a decisão que revoga medida cautelar diversa da prisão admite RESE com base em qual inciso do art. 581?

Com base no inciso V:

Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença:

V - que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir requerimento de prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória ou relaxar a prisão em flagrante;

O ato de revogar prisão preventiva, previsto expressamente no inciso V, é similar ao ato de revogar medida cautelar diversa da prisão, o que permite a interpretação extensiva do dispositivo e, consequentemente, o manejo do recurso em sentido estrito.