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CAPITULO III. O NEOLIBERALISMO E AS NOVAS RURALIDADES EM

3.3 Dois processos de resistência comunitária em zonas de ladeira do município de Cali

3.3.2 Cabildo urbano Nasa Uka Wesx Tha’j

Os Nasakywe são uma comunidade indígena colombiana que habita em resguardos e se organiza em cabildos. Um resguardo éuma instituição sócio-político legal da origem colonial e reconhecida juridicamente na Colômbia. A figura do resguardo permite que um território seja reconhecido como parte de uma comunidade de ascendência ameríndia, com título de propriedade inalienável, coletiva ou comunitária, ao abrigo de um estatuto especial autónomo, segundo padrões e tradições culturais próprias. Por sua vez, o cabildo é a figura administrativa e organizacional usada pelos povos indígenas na Colômbia para governar, administrar e representar a comunidade perante os órgãos governamentais. O cabildo é a mais alta autoridade dentro de um resguardo indígena. Os Nasakywe concentra a maioria da sua população no nordeste do Departamento do Cauca, embora tenha alguns resguardos nos departamentos de Huila, Tolima, Caquetá e Putumayo. Hoje é considerada a primeira etnia na Colômbia no que tange ao número de população. Historicamente os Nasakywe tem sofrido o despojo de suas terras, primeiro pelos espanholes durante a conquista e na época da colônia, depois pelas elites latifundiárias do Departamento do Cauca no século XIX, e ao longo do século XX, pelos empresários agroindustriais do Departamento do Valle del Cauca que tornaram o cultivo variado a pequena escala nas terras planas do norte do Departamento do

Cauca num sistema latifundiário para o cultivo extensivo de cana de açúcar, hoje vinculado

ao agronegócio no que tange à produção de agrocombustíveis. A falta de terras para uma agricultura de subsistência e a presença dos grupos armados insurgentes e paramilitares na região são as principais dificuldades que os Nasakywe encontram na procura de manter-se como comunidade nos seus territórios, sendo elas também as principais causas do deslocamento forçado da sua população35.

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http://historico.derechoshumanos.gov.co/Observatorio/Documents/2010/DiagnosticoIndigenas/Diagnostico_ NASA-P%C3%81EZ.pdf. Acesso 14 de janeiro, 2016.

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Historicamente, grupos indígenas Nasakywe têm empreendido processos coletivos de tomada de terras contra os fazendeiros no norte do Departamento do Cauca, o que eles têm chamado de recuperação das terras ancestrais. Estes processos de recuperação de terras não tem sido pacífico, e tem gerado inúmeras perdas de vidas aos Nasakywe por conta do confronto com os “donos da terra”. Nas últimas décadas, os massacres do Nilo, do Naya, de Gualanday, contra os Nasakywe, são lembrados pela sevícia com que foram executadas. A Corte Interamericana de Direitos Humanos responsabilizou o Estado colombiano pela cumplicidade da força pública no massacre do Nilo. (Mondragón, 2008).

O antropólogo colombiano José Herinaldy Gómez (2000) mostra a importância que para o povo indígena Nasakywe tem o território na maneira em que se configura a sua cultura. Nasakywe, que poderia traduzir-se como “gente-território”, implica, segundo Gómez, um isomorfismo entre o ser humano e o cosmos, pois “Su mito de origen del universo explica que los humanos devienen de la naturaleza, que son unos seres más de los que ésta ha dado, es decir, son producto de la naturaleza y no de un acto de creación divino” (Gómez, 2000:169).

Os Nasakywe, diz Gómez, constroem a história instalando-se no lugar onde aconteceram os fatos, isto é, contam ou evocam o passado durante seus recorridos cotidianos pelo território e não no tempo abstrato da historiografia ocidental. Por isso, os Nasakywe sabem por experiência própria que “sin territorio o fuera de él, pierden su lengua, identidad, sus derechos y costumbres” (2000:177). O seguinte caso apresentado por Socorro Corrales é ilustrativo da maneira em que se concebe a relação entre tempo, historia y território para os Nasakywe:

[…] se le pidió a una hablante nativa con amplia competencia para hablar español lo siguiente: Rosa (informante) diga en Nasayuwe (língua Nasakywe) “La casa de Pedro”. R/ “Quién es Pedro?”. Cualquier persona, aclaró la lingüista. Rosa se queda pensando y calla. Para romper el silencio, la lingüista pregunta refiriéndose al niño que carga en sus manos “¿Cómo se llama su hijo?” R/ “Se llama José”. Diga entonces “la casa de José”. R/ “José no tiene casa”. Se le hace otra pregunta: Diga “Rosa y María trabajan”. R/ “María no es mi vecina” (Corrales apud Gómez, 2000: 184).

Segundo Gómez, as perguntas anteriormente referidas carecem de sentido para um Nasakywe, pois se fazem em abstrato ou de maneira hipotética sem ter referência ao plano concreto, espacial, dos acontecimentos. (2000:184).

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Os Nasakywe que tem que abandonar o território ancestral, seja pela violência, seja porque devem procurar meios para subsistir fora da comunidade, ainda como comunidade eles assentam-se em lugares onde possam construir novos territórios, na intenção de manter sua cultura e sua identidade. Para os Nasakywe, a identidade instaura o território.

Assim, na construção desses territórios, os Nasakywe praticam rituais de harmonização e identificação de lugares sagrados, precedidos por um the`wala36, para se apropriar e significar os novos espaços, de acordo à cosmovisão Nasakywe. Os lugares sagrados para os Nasakywe, seguindo expressado por Portela (2003), são lugares para o saber xamânico, onde moram os ancestrais e se originam os heróis culturais, lugares desde onde se sustenta o mundo. Eles são restritos para se cultivar. Encontrar os sites sagrados se faz importante na procura de construir os novos territórios para os Nasakywe.

Em setembro de 2009, por causa do deslocamento forçado e da falta de meios de subsistência, indígenas da comunidade indígena Nasakywe, que habitavam ao norte do Departamento do Cauca, assentam-se coletivamente na zona de ladeira do município de Cali, mais exatamente na Comuna 18, bairro Alto Nápoles, conformando o cabildo urbano Nasakywe Uka Wesx Tha´j (que significa Alto Buena Vista, em espanhol).

No cabildo urbano Uka Wesx Tha´j já se fazem os rituais de harmonização, os quais são feitos numa quadra de futebol que se tem disponibilizado para esse propósito. Também já se tem identificados os lugares sagrados. Porém, a comunidade tem a dificuldade de não dispor das plantas medicinais que muitas vezes são requeridas para o ritual, assim como da disponibilidade do The´wala no assentamento, pois eles devem vir dos resguardos que estão conformados nos territórios originais. (Basante e Tágala, 2014).

Antes de se assentar na zona de ladeira y se conformar como cabildo, muitos dos indígenas Nasakywe já moravam na zona urbana de Cali, vivendo em casas de inquilinato espalhadas pela cidade ou, no caso das mulheres que laboravam no serviço doméstico, nos próprios lugares de trabalho. Num principio foram 20 famílias que viviam na zona pagando aluguel os que decidiram tomar os prédios e assentar-se, depois foram chegando outras famílias que já viviam na cidade.

Esto era de secretaría de vivienda [municipal], estaba abandonado, era monte. Los compañeros se cansaron de pagar arriendo, servicios

36 Um The´wala é um médico tradicional para os Nasa, por meio dele a comunidade tem comunicação com os outros mundos e com a sabedoria dos ancestrais.

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públicos, transporte, se unieron 20 personas, una pelea brava, ayudó mucho los derechos humanos, desde que entraron se nombraron cabildo indígena y eso fortaleció bastante, esto es un albergue temporal, queremos un territorio propio (Wilber, indígena Nasakywe).

Para os indígenas que ocuparam as terras foi muito difícil, nos primeiros dias a polícia queria tirá-los dali, mas eles resistiram, construíram dois barracões, a polícia voltou logo e derrubaram eles.

[...] al mes llegaron los del comité permanente de derechos humanos para asesorarnos, para poder ganar, nos dijeron, ustedes como indígenas pueden conformar un cabildo, con quince personas lo pueden hacer (Florentino Guetoto, indígena Nasakywe).

Foi assim que assessorados e organizados como cabildo conseguiram reconhecimento pelo governo do município, embora o processo para se legalizar como proprietários dessas terras até hoje continua. “El gobierno habla de reubicación que porque es zona de riesgo, nosotros no nos reubicamos porque nos quieren enviar para barrios distintos en Cali y la comunidad no se puede separar” (Marco Elías, indígena Nasakywe).

Com eles acontece o mesmo que com os outros habitantes de Alto Nápoles, o governo municipal declara para eles que não podem ficar ali porque desabamentos de terras são possíveis no lugar, mas as construtoras querem os terrenos para seus projetos de vivenda de interesse social. “Aquí lo que quieren hacer es apartamentos, las constructoras, la excusa es que es de alto riesgo, pero aquí es colocar muros de contención y no hay problema” (Wilber.) No começo, as condições do terreno eram bem difíceis, os indígenas Nasakywe careciam de rede de esgotos, sistema de encanamento de água e energia.

Después de cuatro meses, solamente teníamos una letrina para todos, para poder entrar tocaba hacer fila. Fue la misma comunidad la que hizo el alcantarillado. Hicimos eventos y recogimos dinero para comprar los tubos y el cemento. Después compramos mangueras de caucho para coger el agua del tanque de la Reforma [estação de tratamento de agua] y logramos hacer llegar el agua hasta las canchas. La energía la cogimos de los postes de alumbrado público. Aquí las empresas públicas no nos han hecho nada (Florentino Guetoto).

Ao carecer de terra para plantar e não poder produzir seus próprios alimentos, as pessoas do cabildo urbano indígena Alto Buena Vista devem arranjar empregos para obter dinheiro e

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subsistir segundo uma lógica urbana. Os homens trabalham principalmente na construção ou de vigias de rua, as mulheres no serviço doméstico ou catando lixo (Basante e Tágala, 2014).

Yo era campesino, acá me toca trabajar de construcción, es más duro y uno estar más puntual, en el campo cualquier hora usted llega, pero acá en la ciudad, que uno llegando faltando cinco minutos le dicen porque está llegando tarde, que está pasando, a uno hasta lo echan (Marcos Elías).

Embora continuem chegando famílias desde os resguardos do Departamento do Cauca, hoje a situação do cabildo urbano indígena Alto Buena Vista fica mais sossegada. Porém, eles são conscientes que precisam de um território onde possam, além de plantar, desenvolver um relacionamento com a natureza que permita também fortalecer a sua cultura. Por isso, para as autoridades do cabildo, é importante lograr do governo colombiano seu relocalização em terras rurais. Hoje, a grande ameaça que as autoridades do cabildo identificam é que os jovens estão começando a não falar mais a língua materna (Nasa-yuwe), a não consumir mais os alimentos tradicionais, a não saber mais dos rituais que dão sentido as práticas tradicionais.

Necesitamos un territorio proprio, aquí en la ladera no es lo mismo, necesitamos de nuestros territorios, aquí no hay futuro para ellos, allá sí, aquí ni como indígenas ni como jóvenes … Este pedazo no soltarlo, los mayores no se quieren ir, ellos si se quieren quedar, pero si sale el territorio sería enviar a los más jóvenes, sería construir la casa, la huerta y los animales, volver a la tulpa37, yo sé que lejos de las laderas ellos volverán a mantener las cultura (Wilber).

Em suma, apesar das difíceis condições de vida que se têm nas ladeiras de Cali como consequência da carência histórica duma politica de governo que aja em favor das comunidades que em zonas rurais são vitimas de deslocamentos forçados, existem ali processos comunitários de empoderamento territorial assumidos pelas próprias famílias que habitam no lugar, às vezes, acompanhados por organizações não governamentais.

No caso dos Nasakywe, processos que tentam não só a recuperação de o que para eles são parte de seus territórios ancestrais, mas também a possibilidade de levar a sério outros modos de vida na cidade que tem menos a ver com a exploração, a discriminação e a violência que as dinâmicas predominantes na vida urbana oferecem-lhes do que com os saberes, as

37 A tulpa é um ritual Nasakywe que se faz ao redor duma fogueira conformada por três pedras, durante o ritual se cozinha, mas também se transmite a tradições das pessoas mais velhas para os mais novos, é um momento de encontro para a comunidade.

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tradições e as práticas rurais das quais fazem parte e que graças às redes familiares os vincula ainda vitalmente com os lugares da origem.

Não sem obstáculos. Demasiadamente difícil é a pressão que hoje se exerce sobre as comunidades de ladeira, por parte das empresas construtoras particulares que fazem projetos de vivenda de suposto interesse social na procura por capitalizar as terras na ladeira, é claro, com o aval do governo municipal que vai cobrar impostos pelas licenças dessas construções. Assim, vai morar lá quem terem dinheiro para pagar, quem não terem não. Mas antes, para isso, o governo precisa parar as contínuas ocupações de gente sem moradia que chegam às ladeiras e expulsar as pessoas que por décadas habitam ali.

Apesar disso, Ecolprovys como uma proposta de ladeira vai se espalhando num sistema de rede além da Comuna 18 de Cali, envolvendo outros processos, tanto urbanos quanto rurais, de plantio e de troca não mediada pelo dinheiro, na busca de outros modos de vida que sejam alternativas ante o empobrecimento e o isolamento da população, gerados eles pelas discursividades do neoliberalismo que procuram a reconfiguração do capitalismo mundial. Como eles salientarem, sozinhos ninguém pode.

A luta na ladeira do cabildo urbano Alto Buena Vista é por se preservar as práticas sociais e culturais que faz deles membros da comunidade Nasakywe, com a clareza que precisam conseguir terras rurais como condição para conformar o território. Para os Nasakywe sem território faz-se difícil manter a comunidade.

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CONSIDERAÇOES FINAIS

Compreendendo as ordens sociais como discursividades que de modo contingente logram hegemonia, tentamos reconstruir o desenvolvimentismo e o neoliberalismo entendendo-as como discursividades capazes de estruturar essas ordens sociais. Nossa pesquisa permite-nos dizer que ambas as discursividades foram construídas como saberes e práticas politicas no Primeiro Mundo, as duas vezes com a liderança de Estados Unidos, além de mobilizar desde as organizações internacionais, principalmente o Banco mundial e o FMI, e a partir não só dos condicionamentos que uma lógica do sistema-mundo impõe aos Estados latino-americanos, mas também levando em conta as reconfigurações que as elites nacionais fizeram dessas discursividades na procura por manter a governamentalidade.

Além disso, tentando assumir uma perspectiva de lugar, no sentido de olhar em e desde, procurou-se reconhecer as marcas e os efeitos dessas reconfigurações nas dinâmicas existentes entre o rural e o urbano no município de Cali, na Colômbia.

Quanto ao desenvolvimentismo, segundo nosso estudo, é claro que como discursividade para América Latina ele se desenhou a partir de organizações internacionais que agiam nos âmbitos financeiro, comercial, militar, educativo e agrícola, fornecendo como ajuda tanto assessoria técnica quanto recursos monetários, na maioria das vezes empréstimos, na procura por criar o subdesenvolvido ao tempo que promover a industrialização como caminho para superá-lo. No contexto da Guerra Fria, a discursividade do subdesenvolvimento constituiu uma estratégia por meio da qual os Estados Unidos afastaram da vizinhança a ameaça comunista.

No caso da Colômbia, as discursividades hegemônicas do subdesenvolvimento foram reconfiguradas pelas elites nacionais no contexto de um vetusto bipartidarismo em pugna pelo poder do Estado. Além disso, o corporativismo hispânico, marcadamente anticomunista e antianarquista, difundido desde colégios e universidades jesuítas, foi importante na formação das mentalidades dos líderes conservadores que em 1946 ganharam, via eleitoral, o regímen presidencial instaurado no país.

As “ajudas” econômicas e militares que desde os inícios dos anos 50 começaram a chegar à Colômbia, por causa do interesse de Estados Unidos de manter a raia o comunismo, foram

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utilizadas para afiançar esse bipartidarismo ao passo que serviam para criminalizar qualquer proposta partidária que buscasse representar as demandas tanto dos movimentos camponeses quanto dos nascentes movimentos obreiros. Além disso, os recursos técnicos e financeiros que chegaram para o setor rural favoreceram a intensificação técnica na produtividade agrícola sem que se reestruturasse a posse da terra que continuou concentrada em mãos das elites latifundiárias regionais, apesar das recomendações de reforma agrária que fizera o Banco Mundial em 1950, a traves do informe Currie, como condição para atingir o desenvolvimento rural no país.

Por outra parte, as boas relações com os Estados Unidos, dado os bons ofícios do Estado colombiano na cruzada contra o comunismo, enviando efetivos militares para a Guerra da Coreia e sendo diplomaticamente chave para o isolamento de Cuba no cenário da Organização de Estados Americanos, permitiu não só que os exportadores de café lograssem assegurar a maior parte da venda da sua produção no mercado estadunidense, mas também que a incipiente indústria colombiana, organizada através da ANDI, estabelecera acordos comerciais com Estados Unidos para gravar impostos às importações, apesar da politica de livre comercio promovida pelo país do norte.

No tocante ao neoliberalismo, a crises na taxa de lucro nos anos 70 fez que as “ajudas” fossem cobradas. Na sua maioria tratava-se de empréstimos concedidos pelas organizações de crédito internacional aos Estados latino-americanos, que, sem ter como pagar, viram-se condicionados para negociar a dívida, o que virou pressão para realizar as reformas do Estado tendentes a criar o cenário legal que desmontasse a governamentalidade desenvolvimentista e permitira uma governamentalidade que estimulasse o aumento da competividade e o melhoramento do capital humano individual, sempre que se deixasse atuar “livremente ao mercado” na procura por atingir o crescimento econômico das nações.

No caso da Colômbia, fizeram-se as reformas jurídicas para permitir os acordos de livre comércio em vistas a sintonizar a produção do país com a procura do mercado global. Expediram-se leis que tomaram conta do trabalho menos como um direito do que um mercado e iniciaram-se processos de legalização de terras sem levar em conta as inúmeras expropriações ilegais que durante o conflito armado se tem feito a comunidades camponesas, negras e indígenas.

Desde a década dos oitenta, o café não é mais o maior produto de exportação de Colômbia e a agricultura familiar não produz já o alimento que consume o país. Hoje, o extrativismo e o

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narcotráfico são as atividades que mais rendem divisas no exterior, enquanto os cultivos de cana de açúcar e de palma africana para a produção de agrocombustíveis se expandem por grandes extensões do território nacional com a promessa de gerar bem-estar no campo e altos rendimentos econômicos ao país.

Na busca das marcas e os efeitos em La Leonera, corregimento do município de Cali, tanto da discursividade do desenvolvimento quanto da discursividade neoliberal, procuramos falar enquanto caminhávamos pelo corregimento com alguns camponeses que moram e plantam (ou plantaram) no lugar. A partir do falado e do observado em La Leonera podemos dizer que o uso de fertilizantes e pesticidas químicos ao tempo que não se usava mais o adubo natural (Gallinaza), as capacitações técnicas dadas pelo SENA e os créditos bancários para camponeses foram mudanças que influenciaram nas práticas do plantar em La Leonera, por volta da segunda metade do século XX.

Os camponeses entrevistados associam o uso dos fertilizantes e pesticidas não só com o surgimento de pragas que antigamente não se encontravam no lugar, mas também ao que eles chamam cansaço da terra, o seja, à dificuldade de plantar por envenenamento dos solos. As capacitações, segundo o que eles falam, foram apenas simulacros que em quase nada ajudaram nos processos de plantar. Quanto aos créditos bancários, dizem eles, apresentavam muitas travas na autorização dos empréstimos.

Poderíamos relacionar esses três elementos que se apresentaram em La Leonera, segundo o dito por as pessoas entrevistadas, a saber: insumos, técnica agrícola e créditos como sendo efeitos das discursividades do desenvolvimento, na medida em que eles foram introduzidos no lugar a partir da governamentalidade estatal que por volta de segunda metade do século XX imperou na Colômbia.

Os elementos anteriormente mencionados, somados à impossibilidade de conseguir bons