No Brasil, aproximadamente 70% dos solos cultivados são ácidos e o grande problema é o baixo uso de calcário. Quando a calagem é feita, muitas vezes, é de forma indevida.
Relação calcário/fertilizante:
4:1 desejável ou que alguns países usam;
1:1 usada no Brasil (é baixíssima).
A correção da acidez do solo tem por objetivo:
a) elevar o pH, aumentando a disponibilidade de vários nutrientes, como: N, P, K, S, Ca, Mg e Mo;
b) neutralização de elementos como Al3+ e Mn2+, que são tóxicos para as plantas quando em quantidades relativamente altas;
c) fornecer Ca e Mg às plantas, como nutrientes.
Outros benefícios da calagem:
- diminuir a adsorção ou "fixação" de P pelo solo;
- aumentar a CTC do solo;
- aumentar a decomposição da matéria orgânica (atividade microbiana);
- melhorar o meio para as bactérias fixadoras do N do ar;
- neutralizar ácidos orgânicos tóxicos;
- diminuir a solubilidade de Fe2+ e Mn2+ (para o arroz irrigado por inundação).
Por outro lado, a elevação acentuada do pH causa diminuição da disponibilidade de Fe, Mn, Cu, Zn e B.
Em arroz de sequeiro, embora não se possa negar a importância da calagem, o assunto é controvertido, tendo em vista os resultados nem sempre coerentes observados nos trabalhos experimentais.
Em arroz irrigado, ocorre elevação natural do pH, devido à inundação do solo, inibindo com isso a ação do Al3+. Entretanto, em alguns casos tem havido resposta do arroz à calagem, principalmente em solos de extrema acidez e com baixos teores de Ca2+ e Mg2+.
No Brasil, apenas 50% dos trabalhos com arroz mostram respostas significativas à aplicação de calcário. Os resultados de outros países mostram resposta positiva do arroz à calagem, sendo que em 67% dos casos recomendam-se 2 t/ha de calcário.
Comportamento do calcário no solo: as reações que ocorrem ao adicionar-se calcário a um solo ácido são as seguintes:
Tipos de calcário (diferenciam-se pelos teores de CaO e MgO):
- calcário calcítico < 5% MgO 40-45% CaO;
- calcário magnesiano 5-12% MgO 31-40% CaO;
- calcário dolomítico > 12% MgO 25-30% CaO.
Deve-se usar calcário dolomítico quando Mg2+ < 0,5 cmolc/dm3 Observação: atentar para a relação Ca/Mg 4:1
Gramíneas - 4 a 6:1
Leguminosas - essa relação é menos importante
Época e modo de aplicação
a) Arroz de sequeiro
Em áreas novas, a aplicação deverá ser feita logo após a retirada ou enleiramento da vegetação, em única aplicação e com um mínimo de dois meses de antecedência à semeadura. Novas aplicações devem ser feitas quatro a cinco anos depois, com o objetivo de manter o pH desejado e devolver ao solo o Ca2+ e Mg2+ perdidos por lixiviação, erosão e remoção pelas plantas.
A aplicação deve ser uniforme e o calcário incorporado o mais profundo possível, de forma a neutralizar o Al3+ e o Mn2+ na camada subsuperficial do solo. Incorporação pouco profunda do calcário propicia a correção de apenas uma pequena camada do solo. Quando as raízes da planta atingem a camada não corrigida do solo, tendem a desenvolverem-se horizontalmente, explorando um volume de solo muito menor do que o normal e expondo as plantas a veranicos.
Além do mais, o Ca2+ é o elemento estimulante ao desenvolvimento das raízes. Logo sua presença nas camadas mais profundas proporcionaria um maior desenvolvimento radicular, conferindo às plantas maior resistência a veranicos.
b) Arroz irrigado
É provável que o efeito do calcário se deva à correção da acidez do solo no período anterior à inundação, da emergência até o perfilhamento médio, visto ser um período de alta exigência nutritiva.
Alguns autores recomendam que, nas lavouras em que a irrigação é iniciada tardiamente, ou seja, após 30 dias da semeadura, deve-se aplicar calcário de acordo com a análise de solo.
No Rio Grande do Sul, recomenda-se que o calcário dolomítico, de preferência, seja aplicado uniformemente e incorporado por meio de gradagem, com antecedência mínima de 60 dias à semeadura .
Em outras regiões, como o Baixo São Francisco, recomenda-se incorporar o calcário com aração e gradagem, o mais profunda possível, de preferência a uns 30 cm de profundidade.
A calagem em arroz irrigado é importante, sobretudo em áreas com problemas de toxidez de ferro ou quando, devido a cortes profundos durante a sistematização, ocorrerem altos teores de alumínio.
Determinação da quantidade de calcário
No Brasil, existem atualmente três métodos para recomendar calcário:
a) Método SMP (de Shoemaker, McClean e Pratt)
Baseia-se no uso de uma solução tamponada com pH conhecido (7,5). Ao se misturar o solo com a solução, há uma depressão do pH original causada pela acidez do solo e que indica a necessidade de calagem. É necessário que se tenha a tabela previamente calibrada com a necessidade de calcário para atingir um determinado pH, geralmente 6,0 a 6,5. As recomendações por esse método resultam em doses elevadas e têm tido boa aceitação na região sul do Brasil (RS e SC), provavelmente pelos solos apresentarem maior CTC e maiores teores de Al3+ trocável. É muito utilizado também nos Estados Unidos.
b) Método da neutralização do Al3+ e da elevação dos teores de Ca2+ e Mg2+
O método da neutralização do Al3+ e da elevação dos teores de Ca2+ e Mg2+ baseia-se na susceptibilidade ou tolerância da cultura à elevada acidez trocável (considerando a máxima saturação
por Al tolerada pela cultura (mt)) e a capacidade tampão do solo (Y) e, por outro lado, quando se quer elevar a disponibilidade de Ca e Mg, de acordo com as exigências das culturas nestes nutrientes.
A necessidade de calagem (NC, em t/ha) é assim calculada:
NC (t/ha) = Y [ Al3+ - (mt . t/100) ] + [ X - (Ca2+ + Mg2+ )], em que:
Y = 0 a 1: para solos arenosos (< 15% de argila)
1 a 2: para solos de textura média (15% a 35% de argila) 2 a 3: para solos argilosos (35% a 60% de argila)
3 a 4: para solos muito argilosos (60% a 100% de argila)
Estes valores de Y estratificados em relação aos teores de argila podem ser estimados de forma contínua pela equação:
y = 0,0302 + 0,06532Arg - 0,000257Arg2 ; R2 = 0,9996 Al3+ = acidez trocável, em cmolc/dm3
mt = máxima saturação por Al3+ , tolerada pela cultura, em %. No caso do arroz mt = 25.
t = CTC efetiva, em cmolc/dm3 (t = SB + Al = Ca + Mg + K + Na + Al) X = requerimento de Ca e Mg pelas culturas, em cmolc/dm3 (para o arroz=2) Para a cultura do arroz, a expressão fica assim resumida:
NC (t/ha) = Y [ Al3+ - (25 . t/100) ] + [ 2 - (Ca2+ + Mg2+ )],
Caso algum dos membros da expressão seja negativo, considerar seu valor igual a zero.
c) Método da saturação por bases
É baseado na elevação de saturação por bases (V%) da CTC a pH 7. No caso do arroz, o valor de V% mais adequado está situado entre 40 e 50%.
A necessidade de calcário é calculada pela seguinte expressão:
(V2 - V1) T 100 (V2 - V1) T
NC (t/ha) = --- x --- = --- em que:
100 PRNT PRNT
V2= % de saturação por bases desejada (40% a 50% em arroz, dependendo do sistema de cultivo, ou seja, sequeiro ou irrigado por inundação).
V1 = % de saturação por bases revelada na análise = 100 . SB/T %
SB = Ca + Mg + K + Na, em cmolc/dm3
T = CTC a pH7 = SB + (H + Al) = Ca + Mg + K + Na + H + Al, em cmolc/dm3
Segundo o Manual de Recomendações para Uso de Corretivos e Fertilizantes em Minas Gerais (5ª aproximação), utilizar as seguintes quantidades de calcário:
c.1) Quantidade para o arroz de sequeiro
Aplicar a quantidade de corretivo recomendada pelo critério do Al3+ e do Ca2+ e Mg2+, levando em consideração o valor de Y, X = 2 e mt = 25%. No caso de se utilizar o critério da saturação por bases, recomenda-se a elevação desta para cerca de 40%.
Se for conduzida outra cultura após a do arroz, a calagem poderá ser feita utilizando-se a quantidade total recomendada para a nova cultura.
c.2) Quantidade para o arroz irrigado
No sistema de cultivo sob inundação com sementes pré-germinadas, o fenômeno da
“autocalagem” pode dispensar a aplicação do calcário, desde que a saturação por bases seja de, no mínimo, 50%.
No entanto, quando o arroz é semeado em solo seco e a inundação iniciada cerca de 30 dias após a emergência, a correção da acidez pela inundação ocorrerá próxima ao fim da fase vegetativa, período compreendido entre a emergência e o início da difrenciação floral. Essa fase tem duração de 50 a 70 dias após a emergência. Nesse período, a planta absorve grande parte dos nutrientes. Assim, a calagem, para elevar a saturação por bases a 50%, feita cerca de quatro meses antes da semeadura, corrige a acidez, propiciando melhores condições para o desenvolvimento inicial da cultura.