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Capacidade para avaliar a ilicitude do facto ou para se determinar de

II. O Código Penal de 1982 e a eliminação da imputabilidade diminuída –

5. Capacidade para avaliar a ilicitude do facto ou para se determinar de

Diferentemente do que sucede nos casos de inimputabilidade – nos quais a

anomalia psíquica em causa tem como efeito a (total) incapacidade do agente para

avaliar a ilicitude do facto que pratica ou para se determinar de acordo com essa

avaliação, correspondendo esta exigência ao chamado elemento psicológico da

inimputabilidade –, a possibilidade de declarar a inimputabilidade conferida no n.º

2 do artigo 20.º do CP pressupõe, apenas, que estas capacidades estejam

sensivelmente diminuídas.

A questão fundamental que aqui se coloca é, portanto, o significado e

«barómetro» para aferir que sensível diminuição é esta, ou seja, a partir de que

«grau» é que a diminuição de uma daquelas capacidades é suficiente para ser

considerado nos termos da «imputabilidade diminuída». É esta ideia que confere

sentido à denominação «imputabilidade diminuída», expondo uma lógica de

graduação que sempre esteve subjacente a esta categoria.

No entanto, a doutrina e a legislação têm vindo a substituir aquela ideia de

graduação por uma de verdadeira alternatividade. A solução do CP português

actual – segundo a qual o juiz pode declarar, ou não, a inimputabilidade do agente

– é exemplo desta evolução: tal como demos conta no início da Parte II deste

trabalho, o legislador do Código de 1982 procurou a substituição da ligação directa

entre capacidade diminuída e culpa atenuada, abrindo espaço para soluções

E acrescenta: «assim se compreende que o § 3.º do art. 123.º do Projecto de 63, disposição sem correspondência no CP de 1982, prescrevesse que “a perigosidade criminal presume-se relativamente àqueles que forem declarados inimputáveis, nos termos do art. 18.º (casos de imputabilidade diminuída), enquanto o internamento não atingir o mínimo da pena correspondente ao tipo legal de crime que realizaram, sem que o prazo dessa presunção possa, todavia, exceder cinco anos”. O delinquente é inimputável pela personalidade mas imputável ainda pelo facto, o que impõe que, pelo menos, ele cumpra um internamento correspondente ao mínimo da moldura penal do facto» (Antunes, M. J., 1993, pp. 34-35).

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diametralmente opostas a esta, podendo, em última análise, um caso em que a

capacidade de avaliação ou determinação esteja diminuída ser resolvido no

sentido da não declaração de inimputabilidade acompanhada da consideração de

que o agente manifesta no facto praticado uma culpa agravada, à qual

corresponderá uma pena mais próxima do espectro máximo da moldura penal.

Desde logo, Wilhelm Sauer identifica estes casos como situações de

«culpabilidade pura», em que a pena pode ser diminuída ou agravada, à luz de

considerações de justiça retributiva e de acordo com o princípio da culpa

527

.

Recordem-se outros exemplos já mencionados, como o de Jescheck e

Weigend, que configuram esta categoria como integrante do grande grupo em que

o agente tem capacidade de culpa – não um «estádio intermédio da “semi-

imputabilidade”, entre a plena responsabilidade penal e a incapacidade de culpa» –

, permitindo apenas, pelo seu catácter singular, a possibilidade de atenuação da

pena, por força da limitação da capacidade de entendimento ou controlo da acção

do agente

528

.

527 Por conseguinte, «La Capacidad de culpabilidad (imputabilidad) disminuida, § 51 2.ª parte,

existe cuando el estado enfermo de la mente disminuye notablemente en el momento del hecho la capacidad de percibir lo no permitido del hecho o de obrar según éste conocimiento; aquí el juez puede atenuar la pena según las disposiciones de punición de la tentativa. Puede también agravarla, por ejemplo en la criminalidad crónica de impulso y debilidad. Por esta disposición, en otro tiempo vivamente discutida, no está comprendidos aquellos casos límites irremediables entre imputabilidad e inimputabilidad, sino los casos de culpabilidad disminuida, por consiguiente sólo casos de culpabilidad pura. La disposición contiene una regla de medición de la pena según la medida de la Justicia retributiva y a tenor con el principio de culpabilidad» (Sauer, W., 1956, pp. 286-287). Esclarecendo:

«La pregunta de si el hecho se ha de imputa al autor, si se le ha de hacer responsable por su voluntad,

sólo puede ser, sin embargo, firmada o negada. En caso de la llamada imputabilidad disminuida es afirmada y se establece sólo un grado más pequeño de culpabilidad. Esta disminución debe ser notable y causal en el hecho, debe estar con él en una conexión de motivaciones y consecuencias; quedaría fuera de consideración, por ejemplo, una estafa o un hurto de uno que estuviera inclinado perversamente en el aspecto sexual. La “disminución” se refiere, por consiguiente, al aspecto jurídico, a la culpabilidad, no a los estados patológicos que ponen ya de manifestó en sí muchas formas de aparición gradualmente diferentes: Inferioridad psicopática, imbecilidad, histeria, fanatismo, inestabilidad emotiva, anomalía del instinto sexual y madurez tardía. Entran en consideración, según eso, ante todo, los delitos de impulso y debilidad de personas veleidosas y débiles de voluntad. Puede ser también disminuidamente imputables las personas asociales e incluso antisociales, “los delincuentes habituales peligrosos” según el § 20ª aunque en ellos regularmente la culpabilidad no es atenuada sino al contrario elevada; la disminución puede afectar, sin embargo, a la capacidad de obrar según su mejor conocimiento. Aquí se habrá de introducir la correspondiente seguridad; también puede el tribunal prescindir de la atenuación de la pena. Por los psiquiatras y aún más por los juristas se previno repetidas veces de la excesiva utilización de la facultad de atenuación; más bien al hombre inferiormente predispuesto se le ha de enseñar, en caso necesario por medio de la pena, por medio de grandes esfuerzos, a cumplir los deberes jurídico-sociales.» (Sauer, W., 1956, p. 287).

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Jorge de Figueiredo Dias insere-se na orientação de alternatividade,

identificando as circunstâncias previstas no n.º 2 do art. 20.º do CP como casos de

imputabilidade duvidosa, como supra analisado.

Note-se que esta ideia de alternatividade não assume, ainda assim, um

significado pacífico na doutrina. Autores há que defendem que, embora a

imputabilidade diminuída não corresponda, na sua óptica, àquela ideia de

graduação – numa perspectiva de grau intermédio entre imputabilidade e

inimputabilidade

529

–, também não pode ser entendida, como propugnado por

Jorge de Figueiredo Dias, como uma imputabilidade duvidosa. Com efeito, negam

orientações como a defendida pelo ilustre Autor português, defendendo que estes

casos de dúvida devem ser resolvidos pelas regras de prova, nomeadamente pelo

princípio do in dubio pro reo

530

.

Tome-se o exemplo de Maurach, cuja orientação destaca a dimensão de

superior esforço que esta categoria de agentes necessita exercer para atingir o

«grau de conhecimento e direcção de um sujeito animicamente normal»

531

,

impondo, por conseguinte, um juízo de culpa diminuída, quando (reitere-se o

carácter facultativo da decisão) não for capaz de evitar sucumbir ao estímulo

criminal

532

.

529 Neste sentido: «La expresión “imputabilidad disminuida” es, por equívoca, desafortunada.

No nos hallamos ni ante un caso límite, (…), ni ante un grado intermedio entre la plena imputabilidad y la inimputabilidad en el sentido de que el sujeto únicamente podía conocer “en parte” el injusto del hecho, o de que tan sólo “hasta un cierto grado” era dueño de sí; estos casos suprimen la imputabilidad» (Maurach, R., 1962, p. 119).

530 Assim: «ni ante la duda de si el autor es imputable o inimputable – estos casos, conforme las

reglas de prueba antes tratadas, excluyen la imputabilidad» (Maurach, R., 1962, p. 119).

531 Uma vez que «en la imputabilidad disminuida, el autor es imputable, pero para alcanzar el

grado de conocimiento y dirección de un sujeto anímicamente normal, debe esforzar mucho más su voluntad» (Maurach, R., 1962, pp. 119-120).

532 «La disminución de la imputabilidad importa disminución de la culpabilidad. La necesidad

de compensar la menor capacidad de conocimiento y mayor inestabilidad, por el correspondiente esfuerzo de las potencias intelectuales-morales, beneficiará al autor. Si sucumbe al estímulo criminal, deberá tenerse en cuenta que su capacidad de resistencia frente a los impulsos pasionales es, en él, menor que en un sujeto normal. Este defecto del poder origina una disminución de la reprochabilidad y, por tanto, del grado de culpabilidad. Y como la disminución de la culpabilidad determina solamente una atenuación de la pena, las disposiciones de los parágrafos 51 párrafo 2 e 55 párrafo 2, carecerán de significación material para la estructura del delito – el sujeto con imputabilidad disminuida realiza un hecho plenamente delictivo –, y deberán ser tratadas como simples reglas de medición de la pena. El que a pesar de ello se estudien aquí, se debe a que sus bases biológicas son las mismas que las de la inimputabilidad; existe pues una relación, no sistemática sino material, entre la imputabilidad y la imputabilidad disminuida. La atenuación de la pena producida por la disminución de la imputabilidad no es, como cabía esperar, obligatoria, sino, por expreso mandato legal, puramente facultativa»

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Pese embora o desenvolvimento da lógica de alternatividade, encontra-se,

ainda, na doutrina, orientações baseadas na ideia de uma verdadeira diminuição

(no sentido de menor grau) da imputabilidade, à qual poderá, coerentemente

(embora a questão da possibilidade/obrigatoriedade seja discutida), de atenuação

da pena. Mezger, por exemplo, identifica a imputabilidade diminuída com uma

causa especial de graduação da pena

533

. Já mencionamos, também, a forma como

Günther Stratenwerth se bateu pela obrigatoriedade da atenuação da pena nestes

casos de diminuição da capacidade de culpa, embora conceda alguns casos

excepcionais

534

e reconheça a natureza normativa desta graduação da

imputabilidade

535

.