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A TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO FACETADA DE RANGANATHAM

5.1 CARACTERÍSTICAS E FACETAS

Diante de todas as contribuições apresentadas por Ranganathan, sem dúvida, a obra de maior expressão foi a Colon Classification que, inclusive, tem sido objeto de vários estudos nos últimos tempos, aos quais, destacamos as teses das professoras Maria Luiza de Almeida Campos (2001) e Gercina Ângela Borém de O. Lima (2004).

A Colon Classification, traduzida para o português como Classificação de Dois Pontos, também chamada de Classificação em Facetas, TCF ou Classificação Analítico-Sintética, publicada pela primeira vez em 1933, foi proveniente da constatação de Ranganathan quanto à rigidez dos sistemas de classificação do seu período, no caso, CDD e CDU, chamando a nossa atenção para o uso desta classificação em ambientes digitais. Além disso, em seus estudos, verificou, em cinco periódicos diferentes, que a maioria dos assuntos tratados era composto.

A partir de suas contestações, Ranganathan, entendeu a necessidade de criação de um sistema mais flexível, fazendo uso do método hipotético- dedutivo, nos três planos já citados na subseção 4.2.1: plano das idéias, plano verbal e plano notacional.

A criação de Ranganathan foi baseada na aliança entre Matemática e Biblioteconomia, fazendo-o imergir na classificação de todo conhecimento. Lima (2002, p.190) complementa, ao afirmar que Ranganathan, “sob influência de sua área inicial, a matemática, estruturou o conhecimento de maneira que os assuntos compostos, sinteticamente, surgiam a partir de conceitos elementares”.

As publicações da Colon Classification continuaram nos anos de 1950, 1952, 1957 e 1960, sendo este último a publicação da sexta edição, chamada de Basic Classification. Porém, a segunda parte da sexta edição ainda não foi publicada, com exceção de alguns trechos divulgados em periódicos, além de um esboço da sétima edição, que seria publicado no ano do seu falecimento.

A Colon Classification, segundo Piedade (1983, p.158), é definida como “[...] um sistema que tem futuro, [e] que será o germe de futuros sistemas, que ofereçam esperança de superar a produção de conhecimentos, que cresce diariamente”.

A classificação de Ranganathan é formada por uma estrutura facetada, considerada uma grande inovação na área da Teoria da Classificação, vista por Campos (2001, p.31), “como o momento em que a teoria tradicional é confrontada com a teoria moderna, ou que a teoria descritiva é confrontada com a teoria dinâmica”.

Diante da estrutura de Ranganathan ser desenhada por facetas, é comum chamarmos seu sistema de classificação como Teoria de Classificação Facetada (TCF), dentre as denominações já apresentas, a qual será usada ao longo deste trabalho.

A teoria em discussão surgiu a partir dos estudos para a criação da Colon Classification por Ranganathan, ao compreender a infinitude, tomando como base a Árvore Baniana, na quantidade de assuntos específicos que podem ser selecionados em uma classificação.

Na TCF, o mapeamento do conhecimento é uma de suas grandes características, tanto para um determinado período específico, como para permitir a descoberta de conexões e analogias entre diferentes campos do conhecimento, facilitando a recuperação da informação (SPEZIALI, 1973).

A noção de facetas tem sido freqüentemente apresentada como a maior contribuição teórica da CI (MANIEZ, 1999), nos estudos sobre classificação, e tem “inspirado vários estudos nas últimas décadas” (MAS et al., 2008, p.3).

Para Ávila (2006, p.125), uma nova constatação surge quanto às divisões dos sistemas de classificação após o surgimento da TCF:

Se as teorias da classificação podem ser divididas conforme a finalidade (filosóficas e bibliográficas) e estas últimas conforme a amplitude de aplicação (gerais ou enciclopédicas e especializadas) ou tipo de características (naturais e artificiais), após a teoria da classificação facetada elas também podem ser divididas, de acordo com a forma de apresentação, em enumerativas (hierárquicas) e analítico-sintéticas.

O diferencial da TCF é a utilização de uma estrutura dinâmica multidimensional, com a introdução do termo faceta, “que ficou sendo, nos modernos estudos sobre teoria da classificação, o substituto de característica” (BARBOSA, 1969, p.16).

Na TCF, as unidades classificatórias são formadas por assuntos básicos e idéias isoladas. Segundo Ranganathan (1967, p.83), cada assunto básico seria um “assunto sem nenhuma idéia isolada como componente”, ou seja, seria uma área mais abrangente do conhecimento, como Agricultura, por exemplo.

A idéia isolada, ainda conforme Ranganathan (1967, p.83), é “alguma idéia ou complexo de idéias ajustadas para formar um componente de um assunto, mas, em si mesma, ela não é considerada um assunto”. Em outras palavras, Milho pode ser uma idéia isolada, porém, ao ser combinada como o assunto básico Agricultura, tem-se o assunto composto Cultivo de Milho. Assim, a união entre o assunto básico e seu componente (constituído de uma ou mais idéias isoladas) forma um assunto composto.

A idéia isolada pode ser considerada um conceito, porém, também funciona como uma unidade combinatória, que tem por função facilitar a formação da notação. Neste caso, passa a se chamar de especificador (CAMPOS, 2001) ou qualificador.

Retomando o exemplo do assunto básico Agricultura, diante da afirmação de Campos, temos Milho como idéia isolada e Milhos Branco e Transgênico como especificadores, conforme pode ser observado na figura 8.

Figura 8: Unidades classificatórias. Fonte: Adaptado de Campos (2001).

Para Ranganathan (1967, p.82), assunto deve ser entendido como:

Um corpo de idéias organizadas ou sistematizadas, cuja extensão e intensão devem ser coerentes com o domínio de interesse e confortavelmente ajustadas à competência intelectual e campo especializado de uma pessoa qualquer.

A idéia, segundo o indiano, é produto do pensamento humano. O conjunto desse produto forma o conhecimento. A partir do momento em que os elementos formadores do conhecimento, ou seja, as idéias são comunicadas, surge a informação. Conforme Lima (2004, p.80), “todos esses processos são sensoriais, permeados pelas experiências cognitivas de cada indivíduo”.

Diante de suas interpretações, quanto ao significado do tripé idéia, conhecimento e informação, além das influências citadas, como a cultura brâmane e a Árvore Baniana, Ranganathan dividiu o conhecimento humano em

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