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Como foi mencionado acima, o município escolhido para nossa pesquisa, Mirante do Paranapanema, concentra grande número de projetos de reforma agrária, contando com 35 assentamentos, formados por 1.526 famílias assentadas, que ocupam 28% do seu território. A partir da década de 1990, as políticas de assentamento rural no Brasil e no estado de São Paulo, realizaram uma relativa distribuição fundiária. Convém lembrar que o período 1970-1991 foi marcado por um

imenso êxodo rural no município de Mirante do Paranapanema, em razão, notadamente, da “grande geada” de 1973, que provocou a redução drástica da produção de café na região. Desde o começo das ocupações e do processo de implantação dos assentamentos, essa situação foi invertida (FERNANDES; RAMALHO, 2001). Porém, essa redistribuição das terras não alterou radicalmente a estrutura fundiária do município, cuja paisagem ainda é marcada pela presença do latifúndio. Dados do Projeto LUPA mostram que as propriedades inferiores a 100 ha representam 91% das unidades produtivas, ocupando 39% da área do município. Por outro lado, os estabelecimentos rurais com tamanho superior a 1.000 representam apenas 0,80% do total, mas ocupam 23% da área do município (SÃO PAULO, 2008).

A Tabela 4 permite observar as principais características dos 35 assentamentos de Mirante do Paranapanema. A maioria deles encontra-se sob a responsabilidade do ITESP.

Tabela 4 – Assentamentos do município de Mirante do Paranapanema

Fonte: BRASIL, 2010

Quanto à produção, a introdução dos assentamentos no Pontal não alterou de forma radical a matriz produtiva existente na região. Este quadro pode ser explicado pela baixa fertilidade dos solos, pela expectativa dos produtores de obter maior ganho com a produção de leite e pelo incentivo, por parte dos técnicos do ITESP, à produção de gado leiteiro. Registra-se, no entanto, nos assentamentos existentes na região, um aumento na diversidade de produtos cultivados, associada, sobretudo, à produção para o autoconsumo e seus excedentes (LEITE et al., 2004). Esse processo de diversificação é hoje reforçado através do PAA.

No que se refere à organização produtiva no âmbito dos assentamentos, a COCAMP, fundada em 1994, na sede da Fazenda São Bento, em Mirante do Paranapanema, foi estruturada tendo como objetivo constituir-se como uma ferramenta de luta dos assentados. Visava o desenvolvimento dos assentamentos locais, através da diversificação dos sistemas produtivos e agroindustrialização da produção. No plano estadual, a COCAMP está vinculada à Cooperativa Central dos Assentados do Estado de São Paulo (CCA/SP); no plano nacional, à Confederação das Cooperativas de Reforma Agrária do Brasil (CONCRAB) (RIBAS, 2002).

A partir de 1996, a cooperativa passou a ter uma sede física, estruturada a partir do funcionamento de seus projetos agropecuários e agroindustriais. Em 2003, a sede da cooperativa encontrava-se instalada na cidade de Teodoro Sampaio. A entidade contava, além disso, com outros três escritórios localizados nos municípios de Mirante do Paranapanema, Sandovalina e Euclides da Cunha Paulista. Em 2004, possuía oficialmente 2.220 cooperados, distribuídos em 12 municípios da região. A maioria dos associados trabalhava em lotes individuais de 3 a 20 hectares (PIMENTEL, 2005). Para que se possa ter uma idéia comparativa, o módulo fiscal no município de Mirante do Paranapanema é de 30 ha (INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA - INCRA, 1980).

A COCAMP iniciou suas atividades em 1996, com a instalação de uma grande infraestrutura, implantando um extenso parque agroindustrial, a fim de armazenar e processar a produção de seus sócios. A obra, instalada na cidade de Teodoro Sampaio, era composta por: (i) silos e armazéns com capacidade de armazenamento de seis mil toneladas; (ii) um barracão de 2.500 metros quadrados; (iii) uma empacotadeira de grãos com capacidade de dois mil quilos por hora; (iv) um laticínio com 120 resfriadores destinado à produção de leite, iogurte, bebida láctea, creme e cinco tipos de queijo); (v) uma despolpadeira com capacidade para processar três mil quilos por hora, que deveria processar frutas como maracujá, abacaxi, acerola, manga e morango (entrevista realizada em 27/07/2011).

A elaboração do projeto do parque agroindustrial da COCAMP apresentou diversas falhas, especialmente no cálculo dos custos. A parte elétrica não foi computada no orçamento, o que impediu a finalização da obra. Os trabalhos de pesquisa que buscaram reconstituir a trajetória da entidade registram ainda, em 2002, divergências importantes, entre as lideranças, no que diz respeito aos rumos

da cooperativa: de um lado, aqueles que defendiam que a COCAMP era uma ferramenta de luta pela terra e, de outro lado, aqueles que acreditavam que ela deveria gerar resultados econômicos (entrevista realizada em 27/07/2011).

Em razão destas dificuldades, esta grande infraestrutura nunca operou. A dispersão dos sócios por um grande território dificultava sua participação na dinâmica da cooperativa, em seus processos sociais, econômicos, políticos e organizativos. Com efeito, ser cooperado representava ter seu nome inscrito no quadro de filiados, mas não a participação efetiva na vida da entidade. Pesquisa realizada por Ribas (2002) mostrou que 87% dos cooperados tinham uma participação restrita na tomada de decisões da cooperativa. A assembléia geral dos sócios era, em princípio, a principal instância de tomada de decisões. No entanto, a participação dos associados nas assembléias era limitada, em razão, notadamente, da distância existente entre as residências dos cooperados e a sede da cooperativa, representando investimentos de tempo e de recursos consideráveis no deslocamento. Segundo Ribas (2002), uma visão “predominantemente imediatista”, a falta de confiança no quadro diretivo da COCAMP e a ausência de informações capazes de orientar os associados para que pudessem participar do processo de tomada de decisões no âmbito da organização, atuaram também como fatores de desestímulo.

Os principais movimentos sociais que atuam na região do Pontal são o MAST (Movimento dos Agricultores Sem-Terra) e, mais conhecido nacionalmente, o MST. O primeiro foi fundado 1998, no município de Rosana/SP. Sua formação tem como base uma articulação da Social Democracia Sindical do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) com movimentos dissidentes do MST, dentre eles: Movimento Sem-Terra Rosana, Brasileiros Unidos Querendo Terra, Movimento Esperança Viva, Movimento da Paz, Movimento Terra Brasil, Movimentos Unidos pela Paz, Movimento da Paz Sem-Terra, Movimento Sem-Terra do Pontal e Movimento Terra da Esperança A estrutura política e ideológica deste movimento se caracteriza, essencialmente, por um desacordo com os princípios do MST (PIMENTEL, 2004).

Este último é o movimento social que abriga o maior número de famílias na região do Pontal do Paranapanema. A primeira ocupação do MST na região data do dia 14 de julho de 1990, na Fazenda Nova Pontal, no município de Rosana. Em

2003, o MST sofreu uma divisão em razão de desavenças envolvendo José Rainha, do MST local, que foi afastado das instâncias do movimento. Assim, nasce o “MST da Base”, ou o “MST do Rainha” ou ainda o “Grupo do Rainha” como são conhecidos os trabalhadores rurais sem terra ligados à José Rainha Junior e sua esposa, Diolinda Alves de Souza (PIMENTEL, 2004).

3.5 Experiência anterior dos assentados em atividades de produção,