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Caracterização da bacia hidrográfica do rio Zêzere a montante da estação

2.2 Caracterização das zonas de estudos quantitativos: zonas de Ponte Panasco,

2.2.3 Caracterização da bacia hidrográfica do rio Zêzere a montante da estação

Com grande parte da sua área localizada no concelho de Manteigas, esta bacia possui uma área de aproximadamente 27 km2, tendo como principal curso de água o rio Zêzere. À

semelhança das bacias anteriores também a sua delimitação foi efectuada a partir das cartas militares, designadamente através das cartas nos 223 e 224 (Fig. 10), verificando-se um valor de cota mínima de 950 e um valor máximo acima dos 1950, ocorrendo este no extremo SO da bacia.

Fig. 10 - Limite da bacia hidrográfica a montante da estação hidrométrica de Manteigas (11L/01H-EDP e

11L/02H-INAG) e respectiva rede hidrográfica.

Através do MDT verifica-se que esta bacia possui vertentes bastantes íngremes, com as áreas de declive muito acentuado a deterem quase 63% da área total da bacia. Também as classes de declives classificado como moderadamente acentuado e acentuado possuem alguma expressão no território, com a primeira classe a representar cerca de 16,5% da área da bacia e a segunda cerca de 6%. Por sua vez as áreas planas ou de baixo declive representam aproximadamente 12% da área da bacia, sendo que tal distribuição de classes resulta do

referido vale glaciar possuir um formato de “U”. Devido ao desenvolvimento longitudinal do vale na direcção SSO – NNE predominam, na margem esquerda, as vertentes orientadas a E e SE e na margem direita do rio Zêzere predominam as vertentes orientadas a NE e N, representando respectivamente 11% e 12% da área total da bacia.

A região na qual se encontra a bacia é essencialmente constituída por materiais graníticos e xistosos, surgindo também aluviões, depósitos de vertente e depósitos fluvio- glaciares, sendo os últimos constituídos por calhaus arredondados de vários tipos de granitos, de dimensão variável, que se encontram misturados com materiais mais finos. As regiões graníticas ocorrem a maiores altitudes e apresentam rede hidrográfica influenciada pela tectónica. O rio Zêzere encaixa-se na falha Bragança-Vilariça-Manteigas, de direcção NNE-SSO. Na área de Manteigas ocorrem nascentes termais cuja localização se relaciona com zonas de tectónica quaternária activa.

No que concerne à ocupação do solo, verificava-se à data de 2000 e segundo o CLC2000, a predominância de áreas possuidoras de vegetação esparsa (44% da área da bacia), assim como a existência de uma vasta área de rocha nua (32%). A presença tanto de florestas resinosas como florestas mistas situava-se à referida data abaixo dos 10%, como é possível constatar no Quadro 5.

Quadro 5 – Ocupação do solo na bacia hidrográfica a montante de Manteigas com base na cartografia CORINE

Land Cover 2000 (o valor entre parênteses refere-se ao código CLC referente a cada classe).

Classe Área (ha) Área (%)

Vegetação esparsa (333) 1187 44

Rocha nua (332) 870 32

Florestas mistas (313) 227 8

Florestas de resinosas (312) 182 7

Espaços florestais degradados, cortes e novas plantações (324) 106 4

Pastagens naturais (321) 81 3

Pastagens (231) 31 1

Culturas anuais de sequeiro (211) 19 1

Matos (322) 18 1

De acordo com os dados disponibilizados pela DGRF (2007b) relativos às áreas ardidas no período 1990 a 2004, esta bacia registou a ocorrência de fogos afectando pequenas áreas no ano de 1991, tendo ardido cerca de 48 ha (1,8% da área total da bacia), e nos anos de 1992 e 1996, tendo ardido 0,6% e 1,8% da área total da bacia, respectivamente. No ano 2000 verificou-se um incremento no valor da área ardida (3,7% da área da bacia) comparativamente a 1997, ano em que a ocorrência de um incêndio consumiu uma área de 29 ha na parte central da bacia. Nos anos de 2001 e 2003 voltou a constatar-se a ocorrência de fogo no sul da bacia e, à semelhança de algumas das situações decorridas anteriormente, a área consumida foi pouco representativa face à extensão da bacia, não se atingindo um valor superior a 1,3% da

área total em análise. Em 2005 a situação foi consideravelmente distinta das situações anteriores dado que as chamas consumiram aproximadamente 65% da área da bacia, em resultado do fogo que deflagrou a 7 de Agosto na freguesia de Manteigas (São Pedro) (Fig. 11).

Fig. 11 - Distribuição espacial da área ardida na bacia a montante da estação hidrométrica de Manteigas,

resultante do incêndio ocorrido a 07 de Agosto de 2005.

Ao nível da monitorização do escoamento superficial verifica-se para a bacia a disponibilidade de dados relativos ao caudal médio diário para o período de 1948 até 1996, monitorizados através da estação hidrométrica não automática 11L/01H. Mais recentemente, e com a substituição da referida estação, é disponibilizada através da estação automática 11L/02H a informação relativa ao nível hidrométrico instantâneo para o período entre 11/12/2001 e 27/04/2007, podendo-se determinar os respectivos caudais a partir da curva de vazão para a referida estação. No primeiro caso verifica-se a existência de diversas lacunas do QMD, e no segundo verifica-se a inexistência de dados relativamente ao NIHIDI no período compreendido entre as 20h do dia 12/07/2006 até às 15h do dia 17 do mês seguinte.

Devido às características climáticas da bacia, esta torna-se particularmente interessante na tentativa de se identificar possíveis alterações hidrológicas decorrentes da acção do fogo em sistemas onde se verifica o processo de degelo, permitindo incorporar o modelo de degelo referido no capítulo seguinte, e verificar a existência de alterações no escoamento superficial e/ou suas componentes.

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Estudo dos Impactos dos Fogos na Quantidade de Recursos

Hídricos Subterrâneos

Neste capítulo é apresentado o estudo dos impactos dos fogos na componente quantitativa do ciclo hidrológico. O texto deste capítulo mereceu publicação individual em relatório LNEC, sendo referenciada como Martinho e Oliveira (2008). O capítulo inicia-se por uma revisão bibliográfica de diversos aspectos que se relacionam com o impacto dos fogos nos solos e coberto vegetal das áreas ardidas, que afectam de forma directa a componente quantitativa do ciclo hidrológico. De seguida apresenta-se a análise destes impactos aos casos de estudo nas áreas de Ponte Panasco, Couto de Andreiros e de Manteigas.