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Movimento Carismático Católico encaixa-se perfeitamente no prin cípio de Ralph Mahoney de que um novo mover de Deus está ligado a algum evento histórico na nação de Israel. 0 derrama­ mento do Espírito sobre os católicos aconteceu no mesmo ano da toma­ da de Jerusalém — 1967. Foi chamado pelo Cardeal Suenens de “a surpresa do Espírito Santo”.

Na década de 60 a Igreja Católica estava passando por uma fase de falência e decadência. Milhares de sacerdotes, monges e freiras aban­ donaram suas vocações e retornaram à vida secular.

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sistema de es­ colas paroquiais católicas romanas, que foi o orgulho da igreja ameri­ cana, começou a fechar suas portas, atingindo a média de uma escola fechada por semana.

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número de seminários alcançou declínio seme­ lhante.

VATICANO U

Vários fatores e contribuições foram chaves para preparar o ce­ nário para o mover do Espírito Santo na Igreja Católica. Um deles aconteceu em 1962, quando o Papa João XXIII causou mn reboliço no mundo religioso ao convocar o prim eiro concilio depois de quase um século, chamado Vaticano II. Nunca houve um concilio mais intimamen­ te ligado aos “ventos do Espírito” que estavam soprando na igreja. De acordo com o Papa João XXIIl, o propósito do concilio era “abrir as

janelas para que a igreja pudesse respirar ar fresco”. Dois m il e qui­ nhentos bispos de todas as partes do mundo se reuniram em Rom a e falaram abertamente de uma “nova reforma” dentro da igreja — incluin­ do até “reformulação de doutrinas”. Nunca tal linguagem fora usada na igreja desde os dias de Martinho Lutero. ^

0 Papa João também falou profeticamente sobre o concílio, refe­ rindo-se a ele como “um novo Pentecoste”, e pedindo a todo católico do mundo que orasse diariamente durante os três anos de duração das as­ sembléias do concílio para que “Deus renove suas maravilhas em nossos dias através de um novo Pentecoste”. Poderia ele imaginar que essa oração seria cumprida depois de um ano do encerramento do concílio? ^

Um dos quatro presidentes do concílio foi o Primaz da Bélgica, Cardeal Suenens, que ficou conhecido como um dos prelados “liberais” que exigiu mudança e renovação na igreja.

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único hder pentecostal clássico presente foi David du Plessis, que compareceu como “observa­ dor” oficial. Tanto ele como Suenens estavam destinados a exercer pa­ péis importantes na renovação carismática católica. ^

À medida que o Vaticano II avançava, muitos documentos refleti­ am uma ênfase ao Espírito Santo e à natureza carismática da igreja. Liderando o movimento para enfatizar a pessoa e a obra do Espírito Santo estavam os bispos do Chile. Esta nação havia experimentado um poderoso movimento pentecostal desde 1909 e isto talvez tenha influenci­ ado os prelados chilenos. A o todo o Espírito Santo foi mencionado 258 vezes nos documentos do concflio.

Quando a velha questão da cessação dos dons veio à tona, o con­ cflio pendeu totalmente para o lado da manifestação nos dias de hoje de todos os dons do Espírito. 0 problema foi levantado depois da pri­ meira leitura da Constituição sobre a Igreja, na qual se afirmava que o Senhor reparte seus dons “particularmente a cada um como quer (1 Co 12:11), e ele distribui dons especiais entre os fiéis de todo nível” . Ainda declarava que os dons carismáticos foram “largamente difundi­ dos” e são “para serem recebidos com ações de graça e consolação, pois eles são muitíssimo apropriados e úteis para as necessidades da igreja”. ^

Durante as discussões depois desta leitura, o Cardeal da Itália, Ruffini di Palermo, protestou fortemente contra a atuação dos dons do Espírito hoje dizendo que eram “extremamente raros e quase excepcio­ nais”. Muitos dos bispos imediatamente discordaram desta declaração que representava a visão tradicional da igreja. Em favor desses bispos,

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Cardeal Suenens deu a clássica réplica que mais tarde se tornou uma “Carta Magna” para os carismáticos da igreja: ^

“Este documento fala muito pouco sobre os ‘carismas’ dos fiéis; isto pode causar a impressão de que nós estamos tratando aqui com um fenômeno meramente periférico e acidental à vida da igreja. Mas é che­ gada a hora de expor mais explícita e completamente a importância vital desses carismas para a formação do Corpo Místico. Devemos a qual­ quer custo evitar dar a impressão de que a estrutura hierárquica da Igreja é um aparato administrativo sem nenhuma ligação íntima com os dons carismáticos do Espírito Santo que estão difundidos por toda a igreja. ^

“Para o apóstolo Paulo, a igreja de Cristo não aparece como algu­ ma organização administrativa, mas como um conjunto orgânico e vivo de dons, carismas e serviços. 0 Espírito Santo é dado a todos os cris­ tãos, e a cada um em particular; e ele por sua vez dá a cada um e a todos ‘diferentes dons segundo agraça que nos foi dada’ (Rm 12:6).” *

A réplica de Suenens prevaleceu sobre a visão tradicionalista e o alicerce estava lançado para a aprovação da renovação carismática que viria apenas três anos mais tarde.

0 Vaticano II terminou em 1965 com um programa revolucionário que levou anos para ser totalmente implantado nas igrejas catóUcas ao redor do mundo. A mudança mais impressionante exigiu a realização da missa nas línguas dos povos em lugar do latim. Exigiu-se também que os sacerdotes ficassem de frente para a congregação durante a mis­ sa. Os hinos deveriam ser cantados pela congregação, ao invés de serem entoados somente pelos sacerdotes e corais. As Escrituras seriam lidas tanto pelos leigos com o também pelo clero. Os católicos foram encora­ jados a orar com outros cristãos, embora a participação mútua da mesa do Senhor ainda fosse proibida. A informal “missa popular” foi permiti­

da. As freiras tiveram permissão para abandonar seus hábitos tradicio­ nais por vestes convencionais. '*

Por causa dessas mudanças, que na verdade pareceram revoluci­ onárias demais para os tradicionalistas, a igreja se tornou menos “es­ tranha” para os protestantes, especialmente quando católicos começa­ ram a cantar o “hino-tema da Reforma” , “Castelo Forte” , de Martinho Lutero. Pela prim eira vez, sacerdotes católicos começaram a participar de reuniões protestantes e protestantes foram convidados a falar em reuniões catóUcas. Uma nova era ecumênica começou em 1960 com o estabelecimento da Secretaria para Unidade Cristã em Roma, que ime­ diatamente iniciou diálogos com igrejas protestantes. 0 fato de João XXIII ter chamado os protestantes de “irmãos separados” abriu cami­ nho para im i respeito e apreciação mútuos que tornaram possível o diá­ logo ecumênico. *

Geralmente o Espírito move “onde ele quer” , e os teólogos ten­ tam explicar os fatos depois. Desta vez, os teólogos expUcaram e aprova­ ram a renovação carismática antes de ela acontecer. Esta é uma daque­ las raras vezes na história em que os teólogos estiveram à frente dos profetas. Portanto, antes que o “novo Pentecoste” profetizado por João XXIII acontecesse na Igreja Católica, foram tomadas medidas no concí- ho para assegurar que tal Pentecoste fosse aceito quando ocorresse. *