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Capítulo 3. A Arquitectura Popular

3.2 A Casa Popular e Suas Variantes Regionais

3.2.1 Síntese Descritiva dos Tipos de Habitação Popular

3.2.1.1 Casa Minhota

As características desta casa nortenha, tal como todas as outras, registam influências locais da geologia, orografia e clima. O solo granítico e xistoso do norte fornece o material

247 MOUTINHO, Mário; A Arquitectura Popular Portuguesa; Editorial Estampa; Lisboa; 1995; p.41

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empregue na sua construção, são assim casas erguidas em granito ou xisto, geralmente bem aparelhado, unido por argamassa.248 Além da facilidade de extracção e recolhimento do

material, existe também a sua adequada apropriação às especificidades climatéricas da região. O granito e o xisto são indicados para climas húmidos devido à sua impermeabilidade. Em termos estruturais, outra característica da casa minhota, é que se trata de uma casa- bloco, com piso sobradado, onde o rés-do-chão resguarda os animais. “(…) é legítimo relacionar-se a estrutura desta casa, de rés-do-chão e andar, com as qualidades de resistência e força do material de que ela é feita.”249

A casa minhota retrata a casa-bloco, mas no povoamento disseminado dos vales por onde se estende, é também reconhecida uma casa-pátio. (figura 42) O Inquérito à Arquitectura

Popular em Portugal vê o pátio como um núcleo distribuidor:

“O pátio ou eido, vedado à volta pelo conjunto de que se compõem estes organismos, é uma autêntica sala ao ar livre. Por ela se tem acesso a tudo e para ela dão todas as portas.”250

Sendo uma casa sobradada com um quinteiro, consoante o referido, o acesso ao piso superior é efectuado por uma escadaria externa em pedra, paralela ou perpendicular à fachada, que dá acesso a uma varanda, ou alpendre. (figura 43) Ela é coberta pelo prolongamento da cobertura e apoiada, a partir do chão, por pilares de madeira ou granito.251O telhado da casa

minhota é na maioria executado com quatro águas, mas também é provável encontrar de apenas duas. No norte do país, estes telhados não eram providos de chaminé, pois o fumo escoava de telhas-vãs. Os casos onde a chaminé aparece são mais recentes.252

O interior destas casas era composto, no piso superior, por sala, quartos e cozinha. A cozinha era o compartimento principal e mais utilizado, em contrapartida a sala destinava-se apenas a ocasiões solenes. No piso inferior, já acima foi descrito que se destinava a acolher os animais e outros compartimentos para fins agrícolas.253

248 OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, e Fernando Galhano; Arquitectura Tradicional Portuguesa; Publicações

Dom Quixote; Lisboa; 2000; p.31

249 OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, e Fernando Galhano; Op. cit.; p.30

250 AA.VV.;Arquitectura Popular em Portugal; volume 1; Edição Sindicato Nacional dos

Arquitectos/Ordem dos Arquitectos Portugueses; Lisboa; 1961; p.38

251 OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, e Fernando Galhano; Arquitectura Tradicional Portuguesa; Publicações

Dom Quixote; Lisboa; 2000; pp.35-37

252 OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, e Fernando Galhano; Op. cit.; p.119

253 TEIXEIRA, Manuel C.; Arquitecturas do Granito, Arquitectura Popular; Município de Arcos de

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3.2.1.2 Casa Serrana

Segundo o esquema de Mário Moutinho acima exposto, a demarcação que contém o tipo de casa serrana, envolve não só o Minho, como também Trás-os-Montes e Beiras Alta e Baixa. A maior diferença entre as casas do noroeste e as do nordeste, prende-se ao facto da pulverização da população. No noroeste, os casais disseminados ao longo das várias aldeias, permitem que a casa possua um quinteiro, ou pátio, ao redor do qual se vão enquadrando os seus anexos. No nordeste, entrando nas serras, o povoamento aglomera-se e as casas perdem a liberdade de usufruir de um quinteiro, visto que a sua área de implantação diminui. O Inquérito à Arquitectura Popular em Portugal confirma-o:

“Nas zonas altas de sequeiro, onde o gado é um dos sustentáculos principais da vida do serrano, a construção limita-se praticamente à casa e ao curral; onde o milho aparece, aparecem também os espigueiros e as eiras (…).”254

Esta casa serrana, é em muito similar à minhota, porém com uma execução mais tosca. (figura 44) O granito ou o xisto empilham-se para formar as paredes, sem qualquer tipo de aparelho ou de argamassa entre eles A construção da casa parte directamente da rocha natural do solo, e ela acaba por se envolver nos declives naturais do terreno, aproveitando-os para a criação de acessibilidades em diferentes pisos.255 O sistema de cobertura é executado,

254 AA.VV.;Arquitectura Popular em Portugal; volume 1; Edição Sindicato Nacional dos

Arquitectos/Ordem dos Arquitectos Portugueses; Lisboa; 1961; p.29

255 MOUTINHO, Mário; A Arquitectura Popular Portuguesa; Editorial Estampa; Lisboa; 1995; p.42

Fig.42 – Entrada para o pátio de uma casa-bloco minhota

Fig.43 – Casa-bloco minhota com as suas duas varandas

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geralmente, em lâminas de xisto ou lousa.256 O mais arcaico, em colmo, também pode ser

encontrado pelo norte, sobretudo nas montanhas, menos evoluídas.257

Algumas das casas do norte, mesmo as serranas, podem também ser dotadas de uma varanda que percorre a fachada mais comprida. Esta varanda é utilizada como sequeiro ou para arrumações. A estrutura da varanda varia consoante a região.258

Na Cova da Beira, algumas casas serranas possuem um terceiro piso chamado balcão (figura 45), que se trata de uma varanda coberta com um balaústre de madeira, cuja finalidade é também servir de sequeiro para fruta e milho.259

Em suma, as semelhanças formais que a casa serrana pode revelar em relação à casa minhota de vale, apresentam maior diversidade de solucionamento, passando por algumas adaptações mais contextualizadas na pobreza e rudeza do local, como é o caso da substituição da telha pelas lâminas de lousa ou até mesmo o colmo. No fundo, estas casas imbuíram-se do conceito das casas de vale, e há que ter em conta que, mesmo na montanha, ainda é possível encontrar casas características da zona de vale, embora seja raro, e normalmente, quando esta situação sobrevém, associa-se a casa a uma família mais abastada que as demais famílias serranas.260

256 MOUTINHO, Mário; A Arquitectura Popular Portuguesa; Editorial Estampa; Lisboa; 1995; p.42

257 AA.VV.;Arquitectura Popular em Portugal; volume 1; Edição Sindicato Nacional dos

Arquitectos/Ordem dos Arquitectos Portugueses; 1961; p.31

258 OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, e Fernando Galhano; Arquitectura Tradicional Portuguesa; Publicações

Dom Quixote; Lisboa; 2000; p.35

259 MOUTINHO, Mário; A Arquitectura Popular Portuguesa; Editorial Estampa; Lisboa; 1995; p.42

260 TEIXEIRA, Manuel C.; Arquitecturas do Granito, Arquitectura Popular; Município de Arcos de

Valdevez; 2013; p.51

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Passando para o Centro Litoral, afigura-se o tipo de povoamento organizado ao longo das vias de comunicação. Aqui pressupõe-se um maior planeamento territorial, reflectido também nas aldeias. As cidades costeiras e piscatórias, são as mais estruturadas, sendo dotadas de um ordenamento cuidado, com a frequente aparição de traçados ortogonais. Sobre elas o Inquérito à Arquitectura Popular em Portugal cita:

“Fundadas por esta ou aquela razão, acidente geográfico que facilite a indústria, vizinhança de estabelecimento humano aglutinante, circunscritas primeiro por defesa ao espaço fechado das suas muralhas, transbordando depois em torno pelo exterior, e mais tarde radialmente ao longo das estradas que as atravessam ou passam ao seu alcance, e que são outros tantos factores de sobrevivência e crescimento.”261

Vizinha de Entre-Douro-e-Vouga, a cidade de Espinho é um exemplar desse modelo urbanístico, com a sua característica malha quadriculada (figura 46), onde as ruas são conhecidas pela sua numeração e as vias principais são perpendiculares à linha da costa. Dentro desta região do Centro Litoral, Mário Moutinho evidencia mais quatro géneros de casa.

3.2.1.3 Casa de Madeira

A casa de madeira é precisamente o tipo de habitação edificado nas zonas costeiras. A casa de madeira associa-se ao norte do Douro, a “barracos de abrigo e habitação temporária262 de

pescadores”263 e a sul do Douro a casa de madeira aparece em maior número e passa a

261 AA.VV.;Arquitectura Popular em Portugal; volume 1; Edição Sindicato Nacional dos

Arquitectos/Ordem dos Arquitectos Portugueses; Lisboa; 1961; p.33

262 O carácter temporário diferia a norte e a sul do Douro. A norte do Douro conjugava-se a actividade

agrícola com a marítima, visto que os povoados agrícolas ficavam próximos dos marítimos. Neste caso, os barracos eram usados para dormidas de curta duração e, também como arrecadações de barcos e outros materiais. A sul do Douro, a actividade era exclusivamente marítima, e os pescadores apenas permaneciam durante a época da apanha da sardinha, estando afastados durante o Inverno.

263 OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, e Fernando Galhano; Arquitectura Tradicional Portuguesa; Publicações

Dom Quixote; Lisboa; 2000; pp.256-257

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designar-se por ‘palheiro’.264 Estas casas de madeira começaram a estabelecer-se, agrupadas

em pequenos núcleos, em locais que outrora eram desocupados. Só mais tarde as habitações se foram organizando ao longo das vias. O seu uso era sazonal, os povoados de barracos ou palheiros apenas ganhavam vida durante a época da faina. Estruturalmente, este tipo de casa dos pescadores construída em tabuado vertical ou horizontal, possui um só piso elevado sobre estacas em madeira, ou pilares de pedra. Quando a estacaria não é evidente, pode estar encerrada em madeira, ou pedra, o que cria um compartimento vazio para arrumos. É cumeada por um telhado de duas águas, com a empena voltada para a rua. O acesso à casa é feito por uma varanda corrida na sua fachada frontal, ao nível do andar, que por sua vez faz a ligação à rua por uma escadaria.265

Também no distrito de Aveiro, existe o exemplo das típicas casas da Costa Nova, em Ílhavo. (figura 47) São casas de madeira, famosas pelo seu tabuado colorido. Mais perto ainda de Entre-Douro-e-Vouga, existem alguns exemplos dessas casas de madeira coloridas no concelho circunjacente de Ovar, em Esmoriz. Os palheiros de Esmoriz podem ter mais de dois andares acima da estacaria.266 (figura 48)

3.2.1.4 Casa Alpendrada

O segundo tipo de casa é a casa alpendrada. Dentro da zona Centro Litoral, de acordo com Ernesto Veiga de Oliveira, encontramos com grande força a casa alpendrada na região gandaresa. Sobre esta região ele refere:

264 OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, e Fernando Galhano; Arquitectura Tradicional Portuguesa; Publicações

Dom Quixote; Lisboa; 2000; pp.256-257

265 MOUTINHO, Mário; A Arquitectura Popular Portuguesa; Editorial Estampa; Lisboa; 1995; p.89

266 OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, e Fernando Galhano; Arquitectura Tradicional Portuguesa; Publicações

Dom Quixote; Lisboa; 2000; p.257

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“Gândara é um topónimo que se aplica a muitos lugares do Noroeste Peninsular; neste estudo, porém, referimo-nos em especial à zona do nosso país compreendida entre as bacias do Vouga e do Mondego, que se distingue, no conjunto provincial da Beira Litoral, por um certo número de características muito peculiares.”267

Nesta região da Gândara destacam-se algumas casas alpendradas, tais como as casas de Mira e as de Murtosa.268 De modo geral, Mário Moutinho traça as casas alpendradas com a

frequente planta rectangular, térreas, com um telhado de duas águas. São construídas em adobe de barro e caiadas de branco. Costumam possuir contrafortes, também em adobe, no exterior a reforçar as suas paredes, atributos que em muito as identificam com as demais casas térreas espalhadas ao longo do país, exceptuando a maior distinção, e neste caso a sua particularidade, que se trata do característico alpendre.269

Existem mais algumas terras pontuais no mapa nacional com casas caracteristicamente alpendradas, embora a sua situação seja fora dos limites do Centro Litoral; pode-se mencionar as casas da Maia, Matosinhos e Vila do Conde, nos arredores do Porto.270

Voltando aos casos das casas de Mira e Murtosa, se o alpendre é a maior particularidade que as une, a disparidade mais manifesta reside no seu formato. A casa de Mira “é pois uma construção em L, com pátio fechado à retaguarda, que não se nota da rua.”271 O seu alpendre

confronta-se na retaguarda, orientado para o pátio interior. Formata-se num prolongamento da cobertura que se apoia em colunas de adobe ou de madeira, consoante os casos.272 Em Murtosa (figura 49), a planta passa a ser simplesmente rectangular, e quanto ao alpendre é a principal entrada na habitação, mesmo que orientado para a eira, na retaguarda.273 Ainda

assim, segundo a descrição de Ernesto de Oliveira, deduz-se que os alpendres da casa de Murtosa são algo mais elaborados que os de Mira. Entre outros pontos, eles são dotados de um poal, um pequeno murete, sobre o qual assentam as colunas que sustentam a cobertura. Este poal deixa espaço para uma ou duas aberturas que permitem aceder ao alpendre, sempre numa das extremidades, nunca no meio.274

267 OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, e Fernando Galhano; Arquitectura Tradicional Portuguesa; Publicações

Dom Quixote; Lisboa; 2000; pp.182-183

268 OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, e Fernando Galhano; Op. cit.; pp.192-205

269 MOUTINHO, Mário; A Arquitectura Popular Portuguesa; Editorial Estampa; Lisboa; 1995; pp.89-90 270 OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, e Fernando Galhano; Arquitectura Tradicional Portuguesa; Publicações

Dom Quixote; Lisboa; 2000; pp.86-89

271 OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, e Fernando Galhano; Op. cit.; p.194 272 Idem; p.198

273 Ibidem; pp.205-207 274 Ibidem; p.209

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Estas poderão ser as casas alpendradas que merecem maior destaque, naturalmente existem muitas outras variantes, que não estão restritas apenas a Mira e a Murtosa. De facto, a zona litoral central do país possui várias referências neste parâmetro, todas elas com suas afinidades. Desde Leiria, com fachadas pouco gandaresas, mas alpendres aparentados de Murtosa, a outros concelhos com casas mais influenciadas pela arquitectura da Gândara.275

3.2.1.5 Casa Saloia

A casa saloia aproxima-se da região da Estremadura, e por isso ela evidencia certos delineamentos pombalinos.276 Este género define-se pelo agrupamento de dois blocos

distintos277, erguidos em taipa.278 De um lado, um bloco térreo, do outro um bloco de dois pisos, ambos adjacentes. No bloco de dois pisos o telhado detém duas águas, enquanto no térreo destacam-se quatro águas.279 Pode-se constatar que a casa saloia possui um certo

charme, com certos pormenores decorativos e traçados aprimorados não granjeados por outras casas. Distinguem-se os seus telhados arqueados com motivos de andorinhas, ou os cachorros de pedra ladeando na parte superior das janelas, como alguns dos apontamentos responsáveis pela fina atmosfera estremenha desta casa.280

275 OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, e Fernando Galhano; Arquitectura Tradicional Portuguesa; Publicações

Dom Quixote; Lisboa; 2000; p.218

276 OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, e Fernando Galhano; Op. cit.; p.178

277 MOUTINHO, Mário; A Arquitectura Popular Portuguesa; Editorial Estampa; Lisboa; 1995; p.90

278 OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, e Fernando Galhano; Arquitectura Tradicional Portuguesa; Publicações

Dom Quixote; Lisboa; 2000; p.178

279 MOUTINHO, Mário; A Arquitectura Popular Portuguesa; Editorial Estampa; Lisboa; 1995; p.90

280 OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, e Fernando Galhano; Arquitectura Tradicional Portuguesa; Publicações

Dom Quixote; Lisboa; 2000; p.178

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3.2.1.6 Casa Ribatejana

Aproximando-se mais do sul da região Centro, eis o Ribatejo com a sua casa típica. (figura 50) Trata-se de uma edificação térrea, erigida em adobe ou tijolo e de acabamento caiado, com um telhado de duas águas coroado de uma chaminé rectangular. É algo semelhante à casa alpendrada, porém sem o alpendre e com caiações policromadas.281 Esta casa pode ser

julgada uma variante da casa alentejana, visto que aproxima das suas feições e só em determinados casos pode ter uma certa especialidade local.282

Nesta zona do mapa (a sul do Centro) deparam-se as portas que abrem para o Alentejo. Vasta planície de exíguos relevos e paisagem homogénea, de tonalidades quentes, enfrenta extremo calor nos longos meses de verão (ultrapassando os 40ºC) e ao longo do ano a pluviosidade é baixa. Pode ser o Alentejo apelidado de deserto português, pela sua baixa ocupação e demográfica e densidade populacional e pela sua planura quente e seca.283 Onde as

propriedades agrícolas passam a latifúndios de cultura extensiva284, neste território a

população agrupa-se em pequenos aglomerados nos centros urbanos e dispersa-se nos montes.285 Ernesto Veiga de Oliveira aponta que “o Alentejo rural se partilha

fundamentalmente entre os dois extremos: o proprietário – senhor de vastos domínios, que em muitos casos explora a sua propriedade por sistemas racionalizados, mas que com muita frequência a aluga a um rendeiro – e o trabalhador amarrado à terra, mas que nada possui.”286

281 MOUTINHO, Mário; A Arquitectura Popular Portuguesa; Editorial Estampa; Lisboa; 1995; p.90

282 OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, e Fernando Galhano; Arquitectura Tradicional Portuguesa; Publicações

Dom Quixote; Lisboa; 2000; p.177

283 CAVACO, Carminda; Portugal Rural. Da Tradição ao Moderno; Direcção Geral de Planeamento e

Agricultura; Lisboa; 1992; pp.104-105

284 CAVACO, Carminda; Op. cit.; pp.107-108

285 OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, e Fernando Galhano; Arquitectura Tradicional Portuguesa; Publicações

Dom Quixote; Lisboa; 2000; p.168

286 OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, e Fernando Galhano; Op. cit.; pp.159-164

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3.2.1.7 Monte Alentejano

As casas do monte alentejano situam-se em vastas propriedades de agricultura extensiva. (figura 51) Por serem elementos de um povoamento disperso, devem ser abrangentes às necessidades dos senhores e trabalhadores locais. De tal modo, estes edifícios, que cumprem as premissas básicas da arquitectura popular meridional, são grandes complexos térreos, de planta rectangular, construídos de adobe de taipa ou tijolo, caiados, com telhado de duas águas que contém várias chaminés, e reúnem ao longo do seu comprimento, o espaço de habitação juntamente com outras dependências essenciais ao trabalho rural. As paredes são reforçadas com contrafortes no seu exterior, o pavimento quer interior como exterior é de terra batida, na maioria dos casos, ou em habitações mais abonadas, em laje ou ladrilhos.287

Em relação à organização do espaço interior, a entrada principal é feita pela cozinha ou pela sala de fora, um espaço contíguo à cozinha.288 Uma das particularidades destas casas trata-se de uma parede que surge a meio da largura do edifício e eleva-se até formar o cume do telhado. Esta parede acaba por funcionar como divisória de funções: do lado maior geralmente habita o senhor, e do lado menor o seu caseiro.289

Ernesto Veiga de Oliveira, mostra que existem casas de monte pequeno, pertencentes ao simples lavrador, e de monte grande, as residências solarengas, onde habitam o senhorio da terra e alguns caseiros.290 As casas de monte pequeno, como o previsto, são de menores

dimensões e possui menos dependências, geralmente, apenas as essenciais ao armazenamento de produtos agrícolas e resguardo de gado de um homem de poucos recursos: despensas ou arrecadações, a amassaria, um forno exterior cilíndrico, celeiro, palheiro e cavalariça.

287 MOUTINHO, Mário; A Arquitectura Popular Portuguesa; Editorial Estampa; Lisboa; 1995; p.117 288 MOUTINHO, Mário; Op. cit.; p.117

289 OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, e Fernando Galhano; Arquitectura Tradicional Portuguesa; Publicações

Dom Quixote; Lisboa; 2000; p.169

290 OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, e Fernando Galhano; Op. cit.; p.169

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Os montes grandes, por vezes deixam de ser casas térreas e passam a ter até três pisos. Estes são de dimensões bem maiores e possuem uma dinâmica que Ernesto de Oliveira compara a uma “aldeia do Norte”291, condensada num só complexo que abriga vários cómodos, capaz de

hospedar e zelar por vários trabalhadores e criados dentro das suas paredes, inclusive abrigar forasteiros ou mendigos. Além das dependências de um monte pequeno, contém também uma casa de entrada, onde estão as loiças, uma despensa maior, uma queijaria ou rouparia, entre outras necessidades.292

As casas do monte, basicamente, são um acomodar de diversas funções, lado a lado umas com as outras, em torno de um “vasto recinto de limites pouco determinados”293, logo apreende-

se que se trata de uma organização em modelo de pátio aberto. 3.2.1.8 Casa de Povoado

Este é o tipo de casa que perfila os aglomerados populacionais, as aldeias alentejanas. As casas do povoado dispõem-se de forma continuada, adjacentes umas às outras, ao longo da rua e frente a frente com outras fileiras de casas. (figura 52) Um aspecto típico de um povoamento aglomerado.

Ao contrário do monte, estas aldeias “(…) são habitadas por operários rurais que não possuem terras nem alfaias (…). As suas casas, por isso, são unicamente de habitação e não de lavoura; a própria ferramenta agrícola fica na herdade.”294 Quer isto dizer que os trabalhadores que

trabalham permanentemente, alojam-se no monte alentejano, e os outros ficam nas aldeias

291 OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, e Fernando Galhano; Arquitectura Tradicional Portuguesa; Publicações

Dom Quixote; Lisboa; 2000; p.169

292 OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, e Fernando Galhano; Op. cit.; p.169 293 Idem; p.169

294 Ibidem; p.164

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mais próximas.295 Por estes motivos, a casa de povoado é bem mais reduzida que o monte,

além de não desempenhar todas aquelas funções. Mário Moutinho, sucintamente a descreve como uma casa térrea, ou de dois pisos, planta rectangular e cobertura em telha de uma ou duas águas; em suma, diversas características comuns ao monte, tal como o pavimento, o

No documento Arquitectura Popular de Entre-Douro-e-Vouga (páginas 84-99)

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