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Caso 2: Cadeia de Produtos Eletrônicos para Telefones Celulares, Notebooks,

4 RESULTADOS

4.1 Análise Interna de Cada Caso (Within-Case Analysis)

4.1.4 Caso 2: Cadeia de Produtos Eletrônicos para Telefones Celulares, Notebooks,

O mapeamento e caracterização da CSCF completa de produtos eletrônicos do caso 2 esta representada na Figura 14, com os movimentos de produtos novos, produtos pós consumo, produtos renovados (refurbished) matéria-prima primária e reciclada.

Figura 14 - Caracterização da cadeia de suprimentos de ciclo fechado do caso2

Nesta cadeia de suprimentos fica evidenciada também uma grande complexidade e que parte do fluxo esta em ciclo fechado no mesmo setor indústria de eletrônicos, porém ela expandiu suas conexões para além da região/país Brasil sendo exportada uma parte do produto pós-consumo após seleção e análise para ser reciclado na Bélgica, continente Europeu e também para além da indústria de eletrônicos, pois o material reciclado também é fornecido para a indústria de jóias, embalagem e química.

O principal tipo de sucata, o das Placas de Circuito Impresso (em inglês Printed Circuit Board – PCB ou Printed Wiring Board - PWB), em que o processo de reciclagem recupera os metais preciosos precisa de alto volume para ser viável economicamente, então a filial da empresa no Brasil faz uma pré-seleção e desmontagem retirando o que consegue reciclar e recuperar no Brasil e o restante exporta para a planta na Bélgica (detalhado na descrição da empresa ELERECM). Este metal precioso reciclado será fornecido para a indústria de componentes eletrônicos que esta na Asia, Europa e Estados Unidos e depois estes componentes eletrônicos serão importados separadamente como componentes ou como Kits de produtos por montadoras no Brasil para a fabricação de novos produtos eletrônicos.

Entretanto parte do metal precioso reciclado é fornecido para indústria de jóias, assim como também parte será insumo da indústria química, parte dos produtos pós-consumo retornados vem da indústria de jóias. Ocorre algo similar com a ELEREC1, fornecendo parte da matéria-prima plástica reciclada para indústria de embalagem.

O contexto deste caso 2 é o mercado de produtos eletrônicos para informática e telefones celular no Brasil (telefones celulares, notebooks, tablets, impressoras, desktops, monitores, etc.) com vendas estimadas de R$ 136 bilhões em 2017, sendo R$116,5 bilhões para o mercado interno/local e R$ 19,5 bilhões para exportação, com R$ 95,7 bilhões em importações é um setor que tem uma dependência muito grande das importações que representam cerca de 70% do valor total de vendas estimadas (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica [ABINEE], 2018).

Isto ocorre porque práticamente 100% dos componentes eletrônicos utilizados para montagem dos produtos são importados de outros países principalmente asiáticos.

Em termos de quantidade de produtos o mercado brasileiro estimado de telefones celulares em 2017 deve ficar em torno de 50 milhões de unidades, notebooks 3,4 milhões e de tablets 3,8 milhões, sendo estes os principais produtos (ABINEE, 2018).

A legislação ambiental brasileira com algum impacto neste setor também teve inicio com a Lei 9.605 de Fev/1998, dispondo sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente.

Para as empresas deste setor localizadas ou atuantes no Estado de São Paulo a regulamentação evoluiu para Política Estadual de Resíduos Sólidos (PERS), instituída pela Lei Estadual 12.300 de Mar/2006, regulamentada pelo decreto Estadual 54.645 de Ago/2009 (Ribeiro, 2017).

Porém, a regulamentação com algum efeito prático para o fechamento da cadeia ocorreu somente a partir da Lei 12.305 de Ago/2010 que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), alterando a lei 9.605, de Fev/1998. O decreto 7.404 de Dez/2010 regulamenta esta Lei 12.305, criando um comitê interministerial da PNRS e o Comitê Orientador para implantação de sistemas de logística reversa através de acordo setorial.

No desenvolvimento do acordo setorial para esta cadeia foram recebidas dez propostas até junho de 2013, sendo quatro consideradas válidas, resultando em uma proposta unificada recebida em janeiro de 2014, que esta em negociação (SINIR, 2018).

Os principais itens em negociação são: redução dos custos da bitributação dos impostos ICMS e PIS-COFINS que as empresas pagam no transporte e venda do produto novo e do produto retornado (Carneiro, 2014), além da definição das responsabilidades sobre o retorno dos produtos pós-consumo entre as empresas que já estão diretamente envolvidas na cadeia da Figura 13 e as empresas dona das marcas tais como: Samsung, LG, Apple, Motorola, Sony, Positivo, etc., que ainda não tem estratégias de gestão da CSCF definidas e implementadas. A regulamentação contribuiu na criação de uma parte desta cadeia onde esta a empresa ELEREC1, criada em 2012 logo depois da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), com a Lei 12.305 de Ago/2010.

Assim como no caso 1, neste caso 2, a regulamentação também não foi responsável pela criação de grande parte desta cadeia onde temos a recicladora ELERECM (Fig.13) que recicla sucata eletrônica para obtenção de metais preciosos, pois esta empresa já opera há mais de 20 anos neste setor- indústria do Brasil.

Sintetizando este caso 2, fica evidente que as empresas focais (as empresas dona das marcas Samsung, Apple, Dell, Epson, Motorola e Positivo, Fig. 13) não participam diretamente desta CSCF nem na gestão dos retornos, nem no desenvolvimento de processos para reciclagem. O principal direcionador para criação de grande parte desta cadeia foi a escassez do recurso natural metais preciosos.

Entretanto, a definição e aplicação de um acordo setorial que aumente a responsabilidade das empresas dona das marcas sobre a gestão dos retornos e reduza a carga tributaria de impostos do governo pode aumentar a criação e captura de valor para toda esta cadeia. Porém, os desafios são enormes, pois a negociação envolve 3 grandes grupos de partes interessadas (stakeholders) com objetivos conflitantes: as empresas que já criam e capturam valor nesta cadeia e querem que ela fique mais sustentável e viável economicamente, as empresas dona das marcas que não tem gestão para criar ou capturar valor com os retornos e o governo que perderá arrecadação de tributos no curto prazo se eliminar a bitributação. Portanto, a definição e aplicação do acordo setorial para atender estas demandas deve demorar até se encontrar uma equação que crie menos conflitos e possa atender a maioria.