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Com base em tudo que foi estudado no presente trabalho, é salutar que sejam analisadas algumas ementas relacionadas ao princípio da primazia da decisão de mérito, as quais demonstrarão no caso concreto o sistema processual civil atual e suas implicações nas decisões de mérito.

As ementas colacionadas a seguir tratam de casos apreciados pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO

DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CADASTRO

RESTRITIVO DE CRÉDITO. ORDEM DE CANCELAMENTO EMANADA EM OUTRA AÇÃO QUE TRAMITOU ENTRE AS PARTES. COISA JULGADA. INOCORRÊNCIA. SENTENÇA DESCONSTITUÍDA. Uma ação é idêntica à outra quando tem as mesmas partes e idêntica causa de pedir e pedido. Ausente identidade quanto ao pedido, não há falar em coisa julgada a autorizar a extinção do feito sem resolução do mérito. Intelecção do art. 337, §§ 1º e 3º, do CPC/2015. EXAME DO MÉRITO. APRECIAÇÃO IMEDIATA PELO TRIBUNAL "AD QUEM". VIABILIDADE. CAUSA MADURA. PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DA DECISÃO DE MÉRITO. ART. 6º DO NCPC. DOUTRINA. PROVA DOCUMENTAL SUFICIENTE AO DESATE DA LIDE. ART. 1.013, § 3º, DO CPC/2015. A prova documental aportada aos autos na fase postulatória, no caso concreto, autoriza o imediato exame do mérito da pretensão indenizatória. SENTENÇA EXARADA EM DEMANDA ANTERIOR QUE DETERMINOU O CANCELAMENTO DE INSCRIÇÃO EM CADASTRO RESTRITIVO DE CRÉDITO. SEGUNDA AÇÃO. PEDIDO EXCLUSIVAMENTE DE REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS. Transitou em julgado Acórdão que, em demanda anterior, determinou o cancelamento de registro desabonatório à autora por falta de notificação prévia à inclusão em cadastro restritivo de crédito. É ilícita a inscrição do nome do consumidor em órgão de proteção ao crédito - a dar azo à reparação por danos morais in re ipsa -, ausente a notificação prevista no art. 43, § 2º, do Código de Defesa do Consumidor. APELO PROVIDO

PARA DESCONSTITUIR A SENTENÇA TERMINATIVA

IMPUGNADA, E, COM ESTEIO NO ART. 1.013, § 3º, INC. I, DO CPC/2015, JULGAR PROCEDENTE O PEDIDO. (grifo nosso) (RIO GRANDE DO SUL, 2016)

No caso supracitado, primeiramente, foram reconhecidos os pressupostos de admissibilidade do recurso de apelação, no qual a apelante postula reforma da sentença de primeiro grau, a qual extinguiu o feito com base no artigo 267, V do CPC e posteriormente o reconhecimento da indenização por danos morais em face da apelada. Os desembargadores reconheceram o direito da apelante, visto a inocorrência de coisa julgada, além disso, foi viável o pronto exame do mérito, com base na autorização do artigo 1.013, § 3º, I do CPC, pois a prova documental autorizava o imediato desate da lide, por se tratar de uma causa madura. Citou-se também o princípio da primazia da decisão de mérito como garantidor da parte à solução integral do mérito.

A ementa seguinte trata de um caso indicando que o Tribunal pode valer-se do princípio como garantidor da tutela jurisdicional, tornando o direito buscado pela apelante viável e solucionando o mérito da demanda.

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. SOCIEDADE LIMITADA. ILEGITIMIDADE ATIVA DO SÓCIO-PROPRIETÁRIO. VÍCIO SANÁVEL. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO. VEDAÇÃO DE DECISÃO-SURPRESA. PRIMAZIA DO MÉRITO. ECONOMIA PROCESSUAL. - É certo que "ninguém poderá... Ver íntegra da ementa pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico" (art. 18, caput, do CPC/2015), de sorte que o sócio-proprietário da sociedade limitada não possui, formalmente, legitimidade para defender, em nome próprio, o patrimônio da empresa, embora não remanesça dúvida da confusão e inter-relação entre a sua pessoa e a pessoa jurídica que representa; o que é aferível pela circunstância de que os embargos foram recebidos e processados, inclusive com a realização de audiência, sem que a ausência do referido pressuposto processual fosse notada. - O processo é instrumento e não fim em si mesmo. O desatendimento à forma processual não acarreta necessariamente a invalidação do ato quando não prejudicar a parte (pas de nullité sans grief - art. 282, §1º, do CPC/15). Não é por outra razão que, de acordo com o art. 139, IX, do novo diploma processual, incumbe ao juiz "determinar o suprimento de pressupostos processuais e o saneamento de outros vícios... processuais", bem como, antes de proferir decisão sem resolução de mérito, "conceder à parte oportunidade para, se possível, corrigir o vício" (art. 317). Por seu turno, o art. 352 dispõe que "verificando a existência de irregularidades ou vícios sanáveis, o juiz determinará sua correção em prazo nunca superior a trinta dias". Todas essas disposições, aliadas a tantas outras, consagram o que a doutrina identifica no art. 4º do Novo CPC como "princípio da primazia do mérito". - Provimento do apelo para desconstituir a sentença e determinar a retificação do polo ativo, com a juntada da respectiva procuração, convalidando-se os atos

processuais praticados. APELO PROVIDO. SENTENÇA DESCONSTITUÍDA. (grifo nosso) (RIO GRANDE DO SUL, 2017).

Os vícios meramente procedimentais não devem acarretar a nulidade dos atos firmados. Para tanto, neste anterior caso, o juiz de segundo grau, através do aludido princípio da primazia da decisão de mérito, desconstitui a sentença e determinou a correção do vício e a convalidação dos atos processuais firmados.

O próximo julgado trata de um recurso de apelação da sentença que julgou procedente o pedido e declarou o direito público subjetivo à remissão referente aos exercícios reclamados e, por conseguinte, julgou extinta a execução fiscal. Foi apontada a exceção de pré-executividade, porém os Desembargadores afastaram essa premissa, visto que as provas existentes nos autos foram suficientes ao julgamento. Foram apontados os demais fatos e o Tribunal decidiu por desconstituir a sentença de primeiro grau.

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. IPTU. EMBARGOS À EXECUÇÃO. EXCEÇÃO DE PRÉ- EXECUTIVIDADE. ISENÇÃO. REMISSÃO. NÃO ATENDIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS. 1. Consabidamente, todas as decisões exaradas pelo Poder Judiciário devem estar devidamente fundamentadas, com base no art. 93, inciso IX, da Constituição Federal. Inteligência do art. 489 do Código de Processo Civil. A sentença contém fundamentação suficiente, o que não pode ser confundido com fundamentação equivocada, que é exatamente o objetivo nuclear da pretensão recursal. Afastada a alegação de nulidade da sentença por ausência de fundamentação. 2. Embora o procedimento realizado pelo juízo de origem não guarde a melhor técnica (atribuição de efeitos de exceção de pré-executividade aos embargos à execução), é preciso ter-se em mente que a efetividade da tutela jurisdicional está relacionada com a obtenção de resultados na ótica de um processo justo, entre os quais está a primazia da decisão de mérito, que está identificada como norma fundamental do processo civil atual. De acordo com essa linha de raciocínio, conquanto a exceção de pré-executividade seja medida criada na doutrina e desenvolvida pela jurisprudência, que obsta a dilação probatória, sendo a prova existente nos autos suficiente ao... julgamento, inclusive para fins de análise de isenção/remissão, é caso de afastar as arguições preliminares do ente público municipal, consistentes na impossibilidade de utilização da exceção de pré-executividade para postular benefícios tributários e por ausência de formalização de penhora. 3. A remissão é uma das causas de extinção do crédito tributário, na forma do art. 156, inciso IV, do Código Tributário Nacional, enquanto que a isenção é uma das causas de exclusão do crédito tributário, conforme o art. 175, inciso I, do referido Diploma. Quanto à isenção, à luz do art. 18, incisos X e XI, do Código Tributário Municipal, não há prova cabal de que a renda familiar do casal não ultrapasse dois salários mínimos e a

embargante não conta com mais de 65 anos, visto que nasceu em 21/12/1954. No que refere à remissão por notória pobreza contribuinte , com base no Decreto Municipal n. 9.621/2016 referido no art. 212, § 2°, do Código Tributário Municipal, não há nos autos prova suficiente para afastar a motivação do indeferimento realizado pelo fisco. Nesse sentido, não tendo a embargante se desincumbido do ônus que lhe competia, na forma do art. 373, inciso I, do Código de Processo Civil, impõe-se a reforma da sentença, a qual analisou equivocadamente a prova e os... requisitos legais para a concessão dos benefícios. DERAM PROVIMENTO À APELAÇÃO. UNÂNIME. (grifo nosso) (RIO GRANDE DO SUL, 2018).

A ementa destacada expõe de forma bem clara o que se pretende com o princípio em questão, uma tutela jurisdicional efetiva e justa, além de que o magistrado também concluiu que a primazia do mérito se identifica como norma fundamental do processo civil atual. Conforme fundamentado no primeiro capítulo, esse princípio deve ser visto como norma fundamental, a fim de que as garantias constitucionais prevaleçam sobre o processo, garantindo a tutela efetiva.

O seguinte caso trata de recurso de apelação da sentença que indeferiu a petição inicial que, segundo o magistrado deveria ser emendada para esclarecer um valor incontroverso, porém a Parte Autora não o fez. Os Desembargadores não aplicaram a primazia de mérito ao caso, pois, segundo eles, o processo não se encontrava em condições de imediato julgamento. Portanto, neste caso o apelo acabou prejudicado, mas a sentença desconstituída.

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. AÇÃO REVISIONAL. ALTERAÇÃO DA CAUSA DE PEDIR APÓS A CITAÇÃO. NECESSIDADE DE DELIMITAÇÃO DO OBJETO DA AÇÃO. O autor buscou alteração do pedido até o saneamento do processo, porém não foi oportunizado ao réu manifestar- se expressamente acerca de consentir, ou não, a alteração pretendida, nos termos do art. 329, inc. II, do CPC. Necessidade de reabertura da instrução para delimitação do objeto da ação para, então, ser proferida sentença. Inaplicabilidade do princípio da primazia da decisão de mérito. Embora o atual

regramento processual traga em seu bojo

como princípio estruturante e cogente

a primazia da decisão de mérito (art. 4º, CPC), impondo, sempre que possível, o enfrentamento do mérito, inclusive em grau recursal (art. 1013, caput e §3º, CPC/15), no caso concreto, o mesmo resulta inaplicável, ante a necessidade de consentimento do réu. SENTENÇA DESCONSTITUÍDA. APELO PREJUDICADO. (grifo nosso) (RIO GRANDE DO SUL, 2018).

Neste caso supra, o princípio da primazia da decisão de mérito não foi aplicado. No entanto, o juiz reconheceu a aplicação do princípio em determinados casos, inclusive em grau recursal e sua importância como princípio estruturante e cogente. A primazia da decisão de mérito tem o condão de tornar o processo mais célere e eficaz, porém não deve se sobrepor aos demais direitos das partes, eles devem estar em igualdade.

A ementa que segue é do Superior Tribunal de Justiça, demonstrando a aplicação da primazia da decisão de mérito também pelo egrégio Tribunal.

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. RECURSO

MANEJADO SOB A ÉGIDE DO CPC/73. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. APELAÇÃO EM FOTOCÓPIA. FALTA DE ASSINATURA ORIGINAL NAS RAZÕES RECURSAIS DO APELO MANEJADO NA INSTÂNCIA ORDINÁRIA. VÍCIO SANÁVEL. PRECEDENTES DO STJ. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. Inaplicabilidade do NCPC neste julgamento ante os termos do Enunciado Administrativo nº 2, aprovado pelo Plenário do STJ na sessão de 9/3/2016: Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/1973 (relativos a decisões publicadas até 17 de março de 2016) devem ser exigidos os requisitos de admissibilidade na forma nele prevista, com as interpretações dadas até então pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. 2. Na espécie, a única solução plausível para o caso delineado, já que o recurso especial foi manejado sob a égide do CPC/73, e que está em perfeita sintonia com os princípios da economia processual, instrumentalidade do processo e da primazia do julgamento do mérito, é a de que tratando-se de vício sanável, a teor do disposto no art. 13 do Código de Processo Civil, deve ser franqueado à parte prazo razoável para suprir o defeito relativo à falta de assinatura de recurso interposto nas instâncias ordinárias (AgRg no REsp nº 1.373.634/SC, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Terceira Turma, DJe 8/9/2014). 3. Sendo incontroverso o quadro fático, aplica-se o direito à espécie, nos termos da Súmula nº 456 do STF, por analogia. 4. Recurso especial provido. (grifo nosso) (STJ, 2018)

Neste julgado, o relator considerou a aplicação do princípio da primazia da decisão de mérito ao caso concreto, visto que o vício era sanável e que deveria ser dado à parte prazo para corrigi-lo, sendo esse a falta de uma assinatura nas instâncias ordinárias. De fato, o Ministro proferiu decisão correta, sendo a aplicação da primazia do mérito um meio para que o processo siga seu curso regular.

A grande maioria dos recursos pesquisados no Superior Tribunal de Justiça são de não aceitar o aludido princípio como garantidor da tutela jurisdicional. O

julgado colacionado acima é um dos poucos que, com uma fundamentação clara e objetiva, propõe a aplicação da primazia da decisão de mérito ao caso concreto.

O seguinte Agravo Interno trata de decisão em que a parte foi intimada para complementar o preparo, pois o mesmo tinha sido em valor inferior ao efetivamente devido, conforme leciona o artigo 1.007, § 2º do CPC. No entanto, o Recorrente tornou-se inerte e foi aplicada pena de deserção ao mesmo. O agravo não foi provido.

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.

PROCESSUAL CIVIL. PREPARO INSUFICIENTE.

COMPLEMENTAÇÃO INTEMPESTIVA. DESERÇÃO.

HONORÁRIOS RECURSAIS. ART. 85, § 11, CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. INAPLICABILIDADE. 1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2. À luz do disposto no art. 1.007, § 2º, do Código de Processo Civil de 2015, sendo recolhido o preparo em valor inferior ao efetivamente devido, cumpre ao juízo intimar a parte recorrente abrindo-se um prazo de 5 (cinco) dias para a complementação do preparo. 3. Após a intimação para complementar o preparo, o decurso do prazo e a inércia do recorrente justificam a aplicação da pena de deserção. 4. Não cabe a majoração dos honorários advocatícios nos termos do § 11 do art. 85 do CPC/2015 quando o recurso é oriundo de decisão interlocutória, sem a prévia fixação de honorários. 5. Agravo interno não provido. (grifo nosso) (STJ, 2018)

Dessa forma, na ementa supracitada o Ministro Relator reconheceu a aplicabilidade do artigo 1.007, § 2º do CPC, uma vez que o valor recolhido do preparo foi inferior ao devido, cabendo ao juízo intimar a parte recorrente, para que no prazo de cinco dias complemente o preparo. Porém, neste caso, após intimado o recorrente para a complementação, ele não cumpriu em tempo hábil o requisito.

Sobre a não aplicação do princípio pelo STJ, cabe citar parte de decisão proferida pela Ministra Assusete Magalhães, em sede de Recurso Especial (STJ, REsp. 1752002, 2018):

Com a leitura do artigo 4º se observa o princípio da primazia da resolução do mérito. É essencial que se dê primazia à resolução do mérito (e à produção do resultado satisfativo do direito) sobre o reconhecimento de obstáculos à produção do resultado normal do processo. No caso em tela, poderia ter restado resolvida toda questão, pois faz a recorrente jus ao recebimento dos valores

pretéritos, pois a jurisprudência é pacífica. O Código de Processo Civil consolida a partir de um modelo estabelecido pela Constituição da República de 1988, que o processo pode se conduzir as decisões constitucionalmente legítimas, que serão, preferencialmente, decisões de mérito. (...) Aparentemente, tudo leva a crer que as previsões e sanções legais insertas no NCPC remetem o processo a um avanço significativo. Por outro lado, essas mesmas providências podem retardar o andamento processual, em vista das demandas excessivas que extrapolam a estrutura de recursos humanos que o atual Poder Judiciário dispõe. (...) Apesar de o Novo Código trazer um formato de uma justiça mais célere e efetivamente satisfativa, em busca de resoluções rápidas e comprometidas em atenção aos valores constitucionais, deve-se atentar para questões que permeiam elaboração de novas tecnologias estruturais, que possam acompanhar os vultuosos numerários existentes, que avançam consideravelmente, inclusive no que se refere à contratação de recursos humanos e investimento em material e equipamento adequados, visando otimizar os serviços em tempo hábil e minimizar as demandas, de modo a desafogar o excesso de processos à espera de julgamento. O que não será tarefa fácil. (...). As discussões e dúvidas a respeito da sua efetiva aplicabilidade e possíveis melhorias à celeridade processual sancionadas no Novo Código buscam, em tese, desafogar o ordenamento Jurídico Brasileiro, direcionando-o a reduzir o número de demandas judiciais, além de trazer maior organicidade ao diploma legal, posto que depois de ser fartamente alvejado por inúmeras reformas legislativas, este se transformou numa misteriosa colcha de retalhos. (grifo nosso)

A partir da decisão da Ministra, demonstra-se, obviamente, a carência do Poder Judiciário em várias áreas. Porém, de nada adianta retardar o andamento processual através de mazelas, pois as leis existem para serem cumpridas, e o processo para satisfazer as pretensões das partes através de decisões legítimas de mérito. O que ocorre, através da aplicabilidade do Código de Processo Civil e de seus princípios basilares, como a própria Ministra relatou, é uma maior organização do diploma legal a fim de desafogar o ordenamento jurídico brasileiro.

Todo esse entendimento em casos concretos faz com que se pense na verdadeira aplicação da primazia do mérito, que deve ser adequada ao caso em questão, pois um processo justo é direito das partes, além de ser necessário para que elas tenham sua tutela jurisdicional efetiva. Com base nesse paradigma, Humberto Theodoro Júnior (2016, p. 63) leciona:

Dentro da perspectiva ética do direito moderno, o processo justo é visto como poderoso instrumento de superação (ou pelo menos de redução) do tecnicismo jurídico, por meio do emprego de critérios de

interpretação e aplicação do direito positivo, que possam otimizar a busca de resultados democráticos e moralmente corretos.

Assim como algumas decisões reconheceram a aplicação do princípio da primazia da decisão de mérito, outras, no entanto, não procedem em observância ao aludido princípio. Com o tempo, o Poder Judiciário irá moldar-se aos padrões do Código de Processo Civil, aplicando a primazia de mérito a todos os casos concretos que se encaixem nas suas regras de aplicação, pois é direito de todos o acesso à justiça e, sempre que possível, a resolução do mérito da demanda.

CONCLUSÃO

O desenvolvimento do presente estudo possibilitou uma ampla análise da aplicação do princípio da primazia da decisão de mérito. Com isso, pode-se perceber a importância do acesso à justiça pelas partes para que se obtenha uma tutela jurisdicional justa e efetiva.

Compreendeu-se que o princípio da primazia da decisão de mérito é visto como norma fundamental no processo civil, pois através dele é garantida a pretensão das partes, superando-se obstáculos meramente formais, chegando a resolução do mérito da demanda.

Além disso, foram abordadas as regras de aplicação referentes ao princípio, a partir das quais compreendeu-se a sua utilização independente do grau de jurisdição. Através dessa análise pode-se dizer que o princípio da primazia da decisão de mérito trouxe ao ordenamento jurídico o dever de fazer com que o processo civil brasileiro seja eficiente e produza resultados legítimos, trazendo às partes mais celeridade processual e efetividade nas decisões.

Em relação à aplicação na fase recursal constatou-se que um dos empecilhos ao julgamento de mérito é a jurisprudência defensiva dos Tribunais Superiores, gerando entraves e pretextos para a admissão de recursos.

O formalismo exacerbado é o grande vilão do ordenamento jurídico, fazendo com que os processos se prolonguem no tempo por meras formalidades que poderiam ser facilmente sanadas com as regras de aplicação do princípio da primazia da decisão de mérito, elencadas por todo o Código de Processo Civil.

De fato, o julgamento de mérito deve ser sempre o fim processual, porém em alguns casos, não se pode passar por cima de certas premissas processuais.

Portanto, verifica-se que a primazia de mérito não deve ocorrer a qualquer custo, deve ser de conhecimento do magistrado o limite processual cabível para sua aplicação, para que não seja causado nenhum prejuízo para uma das partes.

Através da análise dos casos concretos colacionados conclui-se que o princípio ainda não tem total aplicabilidade no ordenamento jurídico brasileiro, mas com o passar do tempo as leis devem se fazer valer e juntamente com elas seus princípios basilares.

Dessa forma, evidencia-se que é preciso de tempo e de uma nova mentalidade por parte dos juízes e jurisdicionados, para que amadureçam e com isso aperfeiçoem-se, aplicando os princípios processuais como forma de obtenção da primazia do mérito e garantindo às partes um processo justo e eficaz.

REFERÊNCIAS

ALI, Anwar Mohamad. Teoria da causa madura nos Tribunais Superiores. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 278/2018, p. 23-54, abr. 2018. Disponível em: <https://bit.ly/8rrLOEf>. Acesso em: 02 nov. 2018.

ARAÚJO, José Henrique Mouta. O recurso de apelação no CPC/2015: algumas

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