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Categoria de análise 5 espaços informais de troca de informações

5. Análise de dados – pesquisa qualitativa com coordenadores de cursos superiores de

5.1 Análise por categorias – práticas para aprendizagem organizacional

5.1.5 Categoria de análise 5 espaços informais de troca de informações

Para além dos espaços formais, os entrevistados mencionaram alguns espaços informais onde existe troca de informações sobre o andamento do curso. Estes espaços são mais diversificados, dependendo da dinâmica de cada instituição e até dos estilos de cada coordenador de curso. Espaços informais podem oferecer maior extensão para articular as questões individuais e coletivas de modo mais orgânico e socialmente compartilhado, já que a interação dos indivíduos é constante, fazendo parte do dia a dia (ELKAJAER, 2004, BRANDI; ELKAJAER, 2011). O intuito desta categoria é identificar e analisar esses espaços informais, onde interações ocorrem em cada um dos cursos, tentando encontrar algum padrão.

Para a entrevistada E1, o principal espaço para conversas informais é a própria sala dos professores. Neste caso, a instituição não dispõe de gabinetes individuais de trabalho, todos

os professores e coordenadores dividem a mesma sala, onde existem bancadas e estações de trabalho. Quando da realização das entrevistas, por algumas horas o pesquisador utilizou um espaço nesta sala, quando foi possível perceber conversas constantes. Muitas delas eram sobre assuntos de ordem pessoal, mas algumas versavam sobre o andamento das aulas e dos cursos. Diferentemente de E1, o entrevistado E2, pertencente à mesma instituição, menciona que não gosta de trabalhar naquela sala de professores, pois a considera muito barulhenta e as discussões não são produtivas. Ele diz, porém, que existem conversas informais produtivas, as mais comuns ocorre durante o ‘cafezinho’. Ele menciona que sempre que deseja trocar alguma ideia com um professor convida para um bate-papo no ‘cafezinho’.

Com um modelo tradicional de sala dos professores em sua instituição, E4, E5 e E7 mencionam este espaço físico como interessante para troca de informações informais do dia a dia. A entrevistada E4 é quem expressa com mais detalhes o tipo de informação trocada na sala dos professores e o porquê de este ser um espaço adequado:

Com os professores eu acho que o momento sala dos professores é bem bacana, antes da aula. Esse eu acho que às vezes funciona. Eu acho que a gente consegue resolver... e acho é por isso que eu não faço tanta reunião também. Como todo mundo é amigo, a gente não tem muitos professores específicos. Se eu reunir o meu NDE, mais uns três ou quatro professores, eu pego o colegiado específico se duvidar... (risos) Porque tem muitos professores que tem mais disciplinas também. Então o momento sala dos professores eu acho que é bem legal... Antes da aula até tento né? Meu horário aqui na coordenação normalmente vai até às sete, se eu conseguir descer um pouco antes ali, quarenta minutos, meia hora, às vezes tu resolve um mundo de coisas... Tu já comenta “bah, olha, só o fulano está com problemas”... “não, deixa pra mim!”... e assim tu vais, né? Esse momento é bem bacana (E4).

A entrevistada E5 menciona a sala dos professores como o primeiro lugar para troca de ideias, mas, logo em seguida, cita a própria sala. Ela diz que os professores costumam procurá-la em sua sala, que está sempre aberta para eles.

A entrevistada E7 explica que a sala dos professores é, muitas vezes, o único espaço que os docentes têm para trocar alguma informação, já que muitos são horistas e só chegam para dar aula. Ela expõe que sempre incentiva os docentes a irem até a sala dos professores durante o intervalo, pois acredita que através desses encontros o curso ganha maior unidade e alinhamento, o que é bom e é percebido pelos alunos.

A gente tem uma sala de professores e a gente estimula muito que eles venham na hora do intervalo ou antes. Antes é um pouco difícil, pois como eles trabalham, às vezes, eles chegam cinco minutos antes de iniciar a aula e então eles vão direto para a sala. Mas, na hora do intervalo, a gente procura fazer um momento em que a gente se encontre, em que a gente troque experiências, em que a gente discuta até algumas questões de alunos ali... a gente estimula o lanche compartilhado, e aí a cada semana alguém traz alguma coisa... e a gente faz trocas. Então esse é um momento bem legal assim, que a gente procura cultivar lá dentro sabe? Porque dá resultado. A gente

percebe que dá resultado. Essa interação do professor ali dá resultado na sala de aula, e os alunos percebem que a gente tem essa unidade bem fechadinha assim, sabe? (E7).

Alguns entrevistados reforçam que conversas informais com colegas são uma boa forma de alinhar as práticas, aperfeiçoando o curso. O entrevistado E2 diz que muitas decisões do dia a dia são tomadas com base em encontros informais, sem passar pelo NDE ou pelo colegiado. São decisões que, na opinião dele, precisam ser tomadas de forma rápida e que não poderiam esperar até uma próxima reunião formal.

A entrevistada E4 menciona o termo ‘panelinha’, falando que existem grupos de afinidade, nos quais acontecem trocas mais intensas. Nessas ‘panelinhas’ surgem ideias relevantes, tanto para manutenção como para aprimoramento do curso. O senso de coleguismo nas ‘panelinhas’ é intenso, com forte senso de colaboração. Ela analisa que, na universidade, um acaba sendo chefe do outro, pois muitos assumem algum cargo de coordenação de curso ou de área, ao mesmo tempo em que dão aulas em cursos diversos. Assim, se forma uma relação empática, em que um ajuda o outro.

Cada sala tem a sua panelinha, como eu brinco (risos)... Obviamente, a gente conversa mais. Sobre professores dos cursos. Eu brinco, para a [nome suprimido] eu trabalho intercâmbio, que é do meu curso e da [nome suprimido]. A [nome suprimido] trabalha a questão da pesquisa de marketing, da Administração, acaba pegando bastante gente. O [nome suprimido] trabalha a disciplina do empreendedorismo, que eu coordeno o eixo. Então assim a gente vai... todo mundo e a gente tem uma troca bem boa assim, bem bacana (E4).

A entrevistada E2 também evidencia alguns benefícios das trocas informais. Durante a entrevista, a reitora da universidade passou pelo corredor e abanou pela pequena janela que fica na porta da sala. Neste momento, ela comentou que existe uma interação muito próxima com a reitoria, a qual tem as portas de sua sala sempre abertas para trocar ideias, o que ela avalia como sendo muito bom.

Mencionado pelos entrevistados E5 e E6, os espaços digitais aparecem como forma de manter o alinhamento do curso e também realizar troca de ideias. E5 menciona o e-mail, contando que troca muitas informações com professores por e-mail. Quando necessário, o contato é complementado por telefone.

outro espaço seria a própria troca de e-mails, que talvez comigo ela é até mais frequente do que a própria vinda dos professores na sala de coordenação. Porque é muito comum o professor encaminhar um e-mail e a gente ali vai trocando informação, se necessário eu ligo pro professor (E5).

O entrevistado E9 revela que tem grupos de e-mail e de mensagens de texto no WhatsApp com os professores. Ele explica que sempre manda informações para os professores por meio destes grupos, sendo a troca bastante intensa.

A gente tem alguns canais que fazem isso formalmente, mas eu prefiro trabalhar meio que no informal. Não informal de não seguir os manuais, mas naquela coisa do contato mais direto, com uma frequência bem razoável, mesmo, uma vez por semana talvez, eu falo com os professores, eu ligo para o cara, eu mando um ‘zap’ ele, eu mando um

e-mail para ele, eu mando ‘torpedinho’ para ele... eu fiz um grupo aqui do celular de

professores, então eu mando coisas, né? Nos meus e-mails ali eu tenho um grupo de professores, que são os meus professores e os tutores que participam junto de tudo isso... então a gente pega e troca coisas, mando coisas para eles... Eu leio muito... E aí vem o informal... (E9).

Além dos espaços mencionados, a entrevistada E1 conta que alguns encontros acontecem fora da instituição. Ela diz que costuma se reunir com o grupo de professores do NDE e alguns outros mais íntimos em um almoço periódico, quando conversam sobre questões do curso. Com a mesma finalidade, ela, algumas vezes, também se encontra em cafés com professores.

Apesar de entenderem a importância das trocas informais, E3 e E8 procuram direcionar as discussões para as reuniões formais. No caso de E3, existe uma prática de reuniões semanais, logo ela entende que os assuntos podem ser direcionados para essa reunião. E8 considera que o colegiado é o espaço mais adequado para estas trocas, até mesmo por uma organização de agenda. Logo, busca direcionar as discussões para as reuniões de colegiado, embora elas aconteçam apenas bimestralmente.

Conforme Brandi e Elkjaer (2011), que estudam a aprendizagem organizacional pela ótica social, informalidade, improvisação, ação coletiva e conversão são importantes no processo de interação entre aprendizagens individuais e coletivas, contribuindo sobremaneira para o fazer sentido. Por esta perspectiva, que encontra indícios nas falas dos entrevistados, a aprendizagem ocorre de forma constante, em diferentes espaços, pela participação das pessoas em grupos, interagindo umas com as outras.

5.1.5.1 Afirmativas criadas a partir da categoria de análise ‘espaços informais de troca de informações’

Com base nos dados e nas análises qualitativas realizadas, associadas aos conceitos teóricos, afirmativas foram elaboradas para mensurar quantitativamente, na segunda fase da pesquisa, as práticas que contribuem para processos de aprendizagem organizacional relacionados aos espaços informais de troca de informações. Esta afirmativas estão, a seguir,

listadas, sendo o código entre parênteses a identificação da questão na base de dados quantitativa:

a) a partir de conversas informais com meus colegas é possível aplicar melhorias em minha(s) disciplina(s) (Q11_1);

b) existem espaços para conversas informais sobre o curso na própria instituição (Q11_2);

c) as conversas informais com colegas são uma boa forma de alinhar as práticas, aperfeiçoando o curso (Q11_3);

d) o grupo de professores costuma se reunir fora da Instituição de Ensino, em cafés, jantares, bares, churrascos etc., onde trocam informações e ideias sobre o curso (Q11_4);

e) existem reuniões informais que contribuem para a avaliação do projeto do curso (Q11_5).