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CAPÍTULO 3 – PERFIL DO DOCENTE DE FILOSOFIA DA REDE ESTADUAL

3.3 Dados funcionais

3.3.2 Categorias funcionais

A classificação dos docentes da Rede Estadual de São Paulo tem por base a sua categoria funcional. Para facilitar a identificação das categorias funcionais apresentadas, o Quadro 3.2, a seguir, indica o código e sua respectiva legenda.

QUADRO 3.2 – Legenda das categorias funcionais – São Paulo – 2011

Código Categoria Funcional

A Efetivos – Concursados – Titulares de Cargo

P Adm. Lei no 500/1974 – Estáveis – art. 18 da CE F Adm. Lei no 500/1974 – até 1o de junho de 2007

L Adm. Lei no 500/1974 – a partir de 2 de junho de 2007 até 15 de julho de 2009 O Adm. Lei Complementar no 1.093/2009 a partir de 16/7/2009

D Designados

Fonte: Elaborado pela autora.

No tocante à situação funcional, os professores da Rede Estadual são categorizados em duas faixas: a) titulares de cargo e docentes contratados; e b) docentes contratados considerados estáveis.

Na primeira categoria estão os professores titulares de cargo efetivo, que, após aprovação em concurso público e durante o período probatório de três anos, terão estabilidade garantida, conforme disposto no art. 41 da Constituição Federal. Esses titulares também gozam dos benefícios e deveres estabelecidos na Lei no 10.261/1968 (Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado de São Paulo) e na Lei Complementar no 444/1985 (Estatuto do Magistério Estadual de São Paulo). Essa categoria será reconhecida neste trabalho como “A”.

Na segunda categoria encontram-se os docentes contratados, que podem ser estáveis, temporários ou de contratação precária.

São considerados professores estáveis aqueles servidores que antes da Constituição de 1988 exerceram, no mínimo, cinco anos de magistério. Esses servidores não podem ser demitidos, exceto se cometerem falta grave. De acordo com a Lei Complementar Estadual no 706/1993, esses docentes, mesmo que não tenham classe ou aulas atribuídas, receberão por 10 aulas semanais, devendo cumpri-las na Unidade Escolar.

Os docentes ocupantes de função atividade (OFA) são regidos pela Lei Estadual no 500/1974, que dispõe sobre o Regime Jurídico dos Servidores Admitidos em Caráter Temporário. Admitidos até 1o de junho de 2007, os docentes categoria “F” têm estabilidade garantida e receberão o mínimo de 12 horas-aula, mesmo sem classe ou aulas atribuídas. Para isso, devem ser aprovados no processo seletivo mediante prova classificatória. Os docentes da categoria “L” foram admitidos entre 2 de junho de 2007 e 15 de julho de 2009, tendo participado de um processo de seleção com prova eliminatória. Estão vinculados à Previdência pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS).

Os docentes temporários são regidos pela Lei Complementar no 1.093/2009 e são contratados em caráter precário com vínculo previdenciário com o INSS, e sua assistência à saúde se dá pelo Sistema Único de Saúde (SUS), diverso das demais categorias que são assistidas pelo São Paulo Previdência (SPPREV) e pelo Instituto de Assistência Médica do Servidor Público Estadual (Iamspe). Outros benefícios, como licenças gala e nojo, faltas abonadas, justificadas e injustificadas, também são bem inferiores aos das demais categorias. O gráfico da Figura 3.5 demonstra a divisão dos docentes de toda a Rede Estadual por categoria funcional.

FIGURA 3.5 – Percentual de professores da Rede Estadual Paulista por categoria funcional – São Paulo

– 2011.

Fonte: Elaborada pela autora.

No caso específico dos professores de Filosofia optamos por agrupar no mesmo quadro22 a distribuição dos professores de Filosofia segundo as Diretorias de Ensino às quais pertencem. Assim o fizemos porque, para além de identificar suas categorias funcionais, poderemos visualizar onde se concentra o maior número de professores efetivos ou contratados.

Na COGSP/Capital, o maior número de professores se concentra na DE Leste 2 e o menor está na DE Centro-Oeste. Os professores efetivos somam 43% do total de docentes nessa Coordenadoria. Com 74% dos seus professores na condição de efetivos, a DE Centro-Oeste é a que reúne o maior número de professores concursados. Dentre as 13 diretorias, a Leste 3 é a que possui menos professores efetivos – apenas 15% dos seus docentes passaram na seleção pública. Os docentes regidos pela categoria “F” representam 38% do total de professores da Capital paulista, seguidos pelas categorias “L”, com 11%; e “O”, com 8%. As categorias “P” e “D” não somam 1% desses docentes.

Das 15 Diretorias de Ensino que compõem a Coordenadoria da Região Metropolitana de São Paulo, a DE de São Bernardo do Campo concentra o maior número professores de Filosofia – são 79 ao todo –, ao passo que a DE de Itapecerica da Serra possui o menor número.

22 Os quadros com o número de professores de Filosofia distribuídos segundo suas Coordenadorias de

Na COGSP, os professores Categoria “F” superam o número de efetivos; enquanto os primeiros representam 45% dos docentes, os segundos não ultrapassam 36%. A DE de Santo André conta com a maior parte dos professores titulares de cargo em Filosofia, ao passo que na DE de Guarulhos Norte estão em maior número os professores contratados como Categoria “F”.

Dentre as três Coordenadorias, a CEI é a que concentra o maior número de professores de Filosofia do Estado. A DE de Santos, com 131 professores, seguida pela DE de Ribeirão Preto, com 115, são as que contam com maior número de professores de Filosofia.

No que tange às categorias funcionais, a relação se inverte se compararmos a CEI com a COGSP/Grande São Paulo. Nela têm cargo efetivo 1.020 dos professores, o que significa 45% da Coordenadoria. A DE de Guaratinguetá é a que possui maior representatividade de professores nessa categoria, enquanto os docentes categoria “F” abrangem 38% e se concentram em maior parte na DE de Bauru. Incluem os 17% restantes, com 237, 135 e 10 professores, os que pertencem às categorias “L”, “O” e “P”, nessa sequência.

O gráfico da Figura 3.6 a seguir refere-se à divisão dos docentes de filosofia por categoria funcional e nos mostra que 43% desses professores foram aprovados em concurso público, por isso pertencem ao quadro de servidores efetivos da SEE-SP. Já 57% desses profissionais, portanto a maioria, são servidores contratados.

FIGURA 3.6 – Porcentagem de professores de Filosofia do Estado de São Paulo segundo suas

categorias funcionais – São Paulo – 2011.

Cação (2001; 2007) e Fontana (2008) recuperam a trajetória histórica da organização do trabalho docente da escola pública estadual paulista e demonstram que, desde a década de 1930 quando ocorreram as primeiras formulações legais da carreira do magistério, houve divisão entre a categoria dos professores segundo critérios de admissão/contratação.

Ao longo desse processo de organização, o professor do ensino público paulista foi-se tornando um trabalhador horista, sem local de trabalho definido e único, sem vínculo empregatício com o Estado, ao mesmo tempo em que a categoria foi exposta a aviltamento salarial sem precedentes, a certa pauperização do trabalho, ao lado da ocorrência de alta rotatividade de mão- de-obra, específicas do modo de produção capitalista. (CAÇÃO, 2011 apud CAÇÃO, 2007, p. 153)

Não cabe, neste estudo, remontar o delineamento histórico feito pelas autoras supracitadas, mas seus trabalhos nos instigaram determinadas reflexões, por isso faremos algumas conjeturas sobre possíveis implicações que essa divisão da categoria pode acarretar não só para o ensino de Filosofia, mas para todo o contexto educacional.

O primeiro entrave que essa divisão pode acarretar é a segregação entre os docentes. A classe dos professores repartida em categorias com os mesmos deveres, mas com direitos diferentes faz que suas reivindicações também não sejam unificadas.

[...] Fatores como a não contratação de professores pelas leis trabalhistas e sua admissão em caráter temporário pela Lei n. 500, fizeram (e fazem, até os dias atuais) com que esses trabalhadores não tivessem garantias no emprego, nem as vantagens usufruídas pelos funcionários. Podiam ser dispensados quando as aulas passassem a compor um cargo oferecido aos titulares de cargo ou quando houvesse flutuação no número de classes mantidas pela escola e decréscimo do número de aulas a serem oferecidas. (CAÇÃO, 2007, p. 165)

Essa instabilidade dos não efetivos, além de gerar desconforto para o próprio professor – já que nunca sabe se terá trabalho no próximo ano –, acentua a disputa pelas aulas no processo de atribuição, pois os professores da Rede Pública Estadual de São Paulo têm o seu salário com base no número de aulas semanais que ministram. No caso específico dos professores de Filosofia, as poucas aulas na grade curricular instigam ainda mais essa disputa. Isso – por exemplo, o processo de atribuição de aulas dos professores contratados – não seria um motivo de mobilização dos professores em geral.

Outro obstáculo reporta à continuidade do trabalho desenvolvido pelo professor com suas turmas durante o ano letivo. Os professores efetivos, ao assumirem o cargo, assumem também uma “escola sede” na qual deverão permanecer até o fim de sua carreira. Esses docentes podem optar pela troca de “sede” mediante concurso de remoção.

Os professores contratados nem sempre permanecem na mesma escola. Essa é uma das causas da fragmentação do trabalho docente. A todo início de ano, uma nova escola, com novos alunos, novos colegas. Essa descontinuidade do trabalho docente acarreta alguns prejuízos tanto para os professores quanto para os alunos. A não permanência dos docentes em uma mesma escola pode ser uma das causas pelas quais não se desenvolva o trabalho coletivo no interior das escolas paulistas. Ao encerrar o ano letivo e ao atribuir aulas novamente ao mesmo docente, no ano seguinte, mas em outra escola, “desqualifica-se o trabalho pedagógico, a união da equipe, o envolvimento com a comunidade escolar” (FONTANA, 2008, p. 125)23.