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g 17 O cinturáo e a espada de Órion, vistos através do telescápio de Galileu demonstraran» a existencia de mais

oitenta estrélas (pelo menos) do que podia ser discernido a ólho nu.

posta por Galileu em termos de “ a natureza e o material da Via Látea” . Com o auxilio do te­ lescopio, escreveu éle, “ a via Látea foi vasculhada táo diretamente e com tal grau de confianza que todas as disputas que tém preocupado os filósofos através de tantas épocas foram resolvidas, e esta­ mos por fim livres de debates oráis a seu respei-

to” . Vista através do telescopio, a Via Látea “ nada mais é que uma reuniáo de inumeráveis es­ trélas enfeixadas em grupos. Para qualquer parte déla que se dirija o telescopio, uma vasta multidáo de estrélas imediatamente se apresenta á vista” . E isto era verdade náo sómente quanto á Via Látea, ñas também quanto “ ás estrélas que tém sido cha­ madas ‘nebulosas’ por vários astrónomos até o pre­ sente” , e que “ mostram ser grupos de estrélas muito pequeñas, dispostas de maneira máravilho- sa” . Agora, vamos ás grandes novas:

“ Já resumimos as observaqóes feitas até aqui, relativamente á Lúa, ás estrélas fixas e á Via Látea. Resta a matéria que em minha opiniáo merece ser considerada a mais impor­ tante de todas, a descoberta de quatro P L A ­ N ÉTAS nunca vistos desde a criagáo do mun­ do até o nosso tempo, juntamente com o fato de eu ter descoberto e estudado suas disposi-

qoes, e as observares feitas de seus movimen­

tos e alterares durante os dois últimos meses. Convido todos os astrónomos a que se dedi- quem a examiná-Ios e determinar seus perío­ dos, coisa que até o presente foi iwteiramente impossível completar, devido ao curto lapso de tempo. Uma vez mais, contudo, previno que será necessário dispor de um telesco­ pio bem construido, tal como descrevemos no inicio déste discurso” .

É interessante observar que Galileu chamou os novos objetos descobertos “ estrélas medicianas” em­ bora pudéssemos chamá-las lúas ou satélites de Jú­ piter. Devemos nos lembrar que, nos dias de Gali­ leu, quase todos os corpos celestes eram chamados estrélas —■ térmo que podia incluir tanto estrélas fixas como planétas (ou estrélas errantes). Daí

serení chamados estrélas os objetos recentemente descobertos, que eram “ errantes” , e portanto uma espécie de planétas. Grande parte do livro de Galileu é de fato dedicado as suas metódicas observagóes de Júpiter e das “ estrélas” próximas déle. Eram vistas algumas vézes a leste e algumas vézes a oeste de Júpiter, mas nunca muito longe do planéta. Acompanhavam Júpiter em “ ambos os seus movi­ mentos, retrógado e direto, de maneira constante” , sendo portanto evidente que estavam de algum modo ligadas a éle.

Júpiter como Evidencia

As primeiras hipóteses, de que estas pode- riam ser simplesmente algumas novas estrélas, pró­ ximo as quais se via Júpiter, foram afastadas quando Galileu observou que ésses objetos recentemente descobertos continuavam a mover-se juntamente com Júpiter. Foi também possível a Galileu mostrar que os tamanhos de suas respectivas órbitas ao redor de Júpiter eram diferentes e que da mesma forma os períodos eram diferentes. Deixemos Ga­ lileu apresentar com suas próprias palavras as con­ clusóes que tirou dessas o b serv a res:

sfS‘ Temos aquí um belo e elegante argumento para tirar as dúvidas dos que, embora aceitan­ do com a mente tranquila as revoluqóes dos pla­ nétas em torno do Sol, no sistema de Copérni­ co, ficam grandemente perturbados em ter só- mente a Lúa a mover-se ao redor da Terra e a acompanhá-la numa rotaqáo anual ao redor do Sol. Acreditaram alguns que esta estrutura do universo deveria ser rejeitada como impossível. Mas agora náo temos só um planéta girando ao redor de outro, enquanto ambos percorrem uma grande órbita ao redor do Sol; nossos

próprios olhos nos mostram quatro estrélas que viajam ao redor de Júpiter como o faz a Lúa ao redor da Terra, enquanto todos jun­ tos tragara uma grande revolugáo ao redor do Sol no espago de doze anos” .

Júpiter,, modélo em pequeña escala de todo o sistema de Copérnico, no qual quatro pequeños objetos se movem ao redor do planéta, exatamente como os planétas se movem ao redor do Sol brilhan- te, dava resposta a uma das maior es objegóes ao sistema de Copérnico. Neste ponto, Galileu náo podia explicar como era que Júpiter podia mover-se em sua órbita sem perder os quatro acompanhan- tes que o circundam, como também nunca seria capaz de explicar como podia a Terra mover-se através do espago sem perder a própria Lúa que a circunda. Mas, soubesse éle ou náo a razáo, era perfeitamente claro que em qualquer sistema do mundo que ainda tivesse de ser concebido, Júpiter teria de'ser considerado movendo-se em uma órbita, e, se éle assim podia fazer e náo perder suas quatro lúas, por que náo podia se mover a Terra sem perder uma só lúa? Mais ainda, se Jú­ piter tem quatro lúas, é difícil considerar a Terra com a sua única lúa, como um objeto singular, único nos céus.

Embora o livro de Galileu termine com a descri- gáo dos satélites de Júpiter, será conveniente, antes de explorarmos as conseqüéncias da sua pesquisa, discutir trés outras descobertas astronómicas, feitas por Galileu com o seu telescopio.

A primeira foi a descoberta de que Vénus apre- senta fases. Por muitas razóes Galileu exultou com essa descoberta. Em primeiro lugar, isto prova que Vénus brilha por luz refletida, e náo por luz própria; isto significa que Vénus é como a Lúa

quanto a ésse fato, e também como a Terra (a qual Galileu tinha anteriormente mostrado brilhar por luz refletida do Sol). Aqui havia outro ponto de seme- melhanqa entre os planétas e a Terra, outro enfra- quecimento da antiga barreira filosófica entre a Ter­ ra e os corpos celestes. Mais ainda, como podemos ver na Fig. 18A, se Vénus se move numa órbita ao

Fig. 18. A s fases de Vénus, observadas pela primeira vez por Galileu, eram um poderoso argumento contra a antiga Astronomía. Em ( A ) podemos ver como a existéncia de fases está de acórdo com o sistema de Copérnico, e como a mudanza do diámetro aparente de Vénus ajpóia o conceito de ter o planéta uma órbita solar. Em ( B ) vemos porque o fenómeno seria -impossível no sistema de Ptolomeu.