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Clarificação de conceitos: Muxarabis | Rótulas | Gelosias

Muxarabis | Rótulas | Gelosias das estruturas de madeira à expressão da arquitetura

1.4 Clarificação de conceitos: Muxarabis | Rótulas | Gelosias

As estruturas de madeira, objetos de estudo, são adjacentes à fachada, adaptam-se ao clima e ao modo de vida das populações. Realizam o controlo de iluminação, facilitando a ventilação e simultaneamente atribuem, para além de um valor estético, um caráter funcional e sustentável, proporcionando iluminação e ventilação naturais. São elementos treliçados dispostos numa tela com intervalos regulares com um formato geométrico intricado, que protege o interior dos espaços, uma vez que é possível observar do interior para o exterior, por outro lado, não é praticável a opção contrária. Estes elementos caracterizam o alçado das habitações islâmicas uma vez que existe o contraste destas aberturas, sendo estas salientes ou não, com a restante fachada.

Considera-se que não existe uma designação fixa para estes termos, e as expressões podem apresentar divergências.

Figura 4 - Capa livro de Hassan Fathy, Natural energy and vernacular architecture de 1986

Figura 5 - Capa do livro do Congresso Proceedings of the Third International Congress on Construction History, em Maio de 2009

Figura 6 – Blog “Coisas da Arquitetura” de Silvio Colin, Técnicas construtivas do período colonial, 2010

Figura 7 - Capa de livro de Mariano Filho, Influências Muçulmanas na arquitetura tradicional brasileira de 1943

Muxarabis, de acordo com Haussan Fathy, advém do árabe mashrabiya que significa beber. Esta designação estava ligada ao lugar no qual eram instalados os jarros com água para refrescar. Além das funções já citadas, para o autor, reduzem a temperatura da corrente; controlam o fluxo de ar, visto que, o espaçamento entre treliças é disposto consoante a radiação local; e aumentam a humidade do ar, dado que, os jarros são colocados junto destes. 45

Segundo Ficarelii, o taktabush, varanda coberta que se localiza no resto de chão, tem a função de receber os convidados. Com uma orientação a Sul, é geralmente empregue um muxarabi, de modo a garantir a ventilação do interior, conferindo ao espaço um carácter de sombra e uma leve brisa. Para o autor, estes elementos são painéis com uma estrutura de grelhas em madeira que no século XVII, se tornou numa janela de parede saliente da fachada, protegida por uma grelha plana ou arredondada. Apresentava três funções, proteger a privacidade da habitação do mundo exterior, controlar a entrada da radiação solar e filtrar as impurezas do ar. Estes elementos funcionavam por correntes de convecção, ou seja, a movimentação do ar é realizada da zona de alta para a baixa pressão. 46

O treliçado de madeira apresenta diferentes espaçamentos na malha. A malha de maior dimensão é posicionada no topo da estrutura, mais próximo do teto, uma vez que permite penetrar o ar e a luz. Por outro lado, a malha de menor dimensão é aplicada nas aberturas inferiores, de modo a proteger a privacidade das mulheres dos olhares indiscretos do exterior, contudo, é possível manter uma visão para o exterior.

45 FATHY, Hassan. Natural energy and vernacular architecture: principles and examples with reference to hot and arid climates.Chicago/London: Univeristy of Chicago Press, 1986 Disponível em: < http://archive.unu.edu/unupress/unupbooks/80a01e/80A01E09.htm#The%20takhtabush>. Acesso em: 04Agosto2018

46 FICARELLI, L. The domestic architecture in Egypt between past and present: the passive cooling in traditional construction. In: Proceedings of the Third International Congress on Construction History. Cottbus: maio, 2009.p.3-5

Colin admite que as designações apresentam divergências. Porém, na sua investigação, a designação aplicada de muxarabis concorda com a de outros autores. Atribui a um elemento de varanda fechado por treliças ou com janelas de rótulas. 47

Contudo, para o autor, as rótulas são elementos treliçados nas janelas com uma articulação sob um eixo horizontal. Por gelosias designa-se o enchimento da estrutura das janelas com treliças em madeira. As janelas com dobradiças em eixo vertical, este designa abertura à francesa ou de guilhotina. Por outro lado, Sylvio Vasconcelos citado por Colin, distingue as rótulas das gelosias através da sua articulação. Para Vasconcelos, as rótulas são articuladas sob um eixo horizontal, e as gelosias com uma abertura segundo o eixo vertical. 48

Segundo Mariano Filho, as rótulas e as gelosias compunham os muxarabis. (figura 8). As rótulas eram utilizadas na parte superior, uma vez que, possuíam uma articulação das secções segundo um eixo horizontal superior, ou seja, no “sentido antero-posterior” ou eixo vertical49(figura 9). No entanto, as gelosias eram aplicadas nas partes inferiores, constituídas por uma estrutura fixa treliçada que também proporcionava a ventilação. As reixas são consideradas as treliças no interior de cada estrutura. 50(figura

10)

De modo a clarificar os conceitos, considera-se para efeito desta vertente teórica, a definição utilizada por Mariano Filho, no seu livro “Influências Muçulmanas na arquitetura tradicional brasileira”. Esta decisão recaiu pelo facto da existência de uma clara justificação dos elementos, e ser a

47 COLIN, Silvio. Técnicas construtivas do período colonial. [Em linha]. p.28 [Consult. 10Maio2018]. Disponível em: < http://www.ceap.br/material/MAT02092011153107.pdf>.

48 COLIN, Silvio. Técnicas construtivas do período colonial. Disponível em: < http://www.ceap.br/material/MAT02092011153107.pdf>. Acesso em: 10Maio2018

49 FILHO, Mariano- Influências Muçulmanas na arquitetura tradicional brasileira. Rio de Janeiro: Editora A

Noite, 1943. p.24

50 FILHO, Mariano- Influências Muçulmanas na arquitetura tradicional brasileira. Rio de Janeiro: Editora A

designação que é mais frequente entre os historiadores. Assim, os Muxarabis, rótulas e gelosias, apresentadas do mais complexo para o mais elementar constituem um léxico de elementos arquitetónicos.

Figura 8 - Exemplo de Muxabi nas Festas da cidade de Lisboa 1935

Figura 10 - Janela de um prédio com varanda protegida por uma gelosia, em Alfama de Armando Maia Serôdio 1959

Figura 9 - Exemplo de uma Rótula e uma gelosia no Beco de São Miguel fotografado por Mário de Novais 1930