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Cognição Social e Representações Sociais

A cognição social é o processo que orienta as condutas de um sujeito frente a outros indivíduos. No início dos anos noventa, o modelo dominante da cognição social considera o indivíduo como avarento cognitivo (cognitive miser).

A cognição é social pela relação com o seu objecto (igual para pessoas e grupos), isto é, o social refere-se ao objecto da cognição. O ponto fulcral deste modelo é a concepção do indivíduo como processador de informação com capacidade limitada. Neste modelo existe

Funções das representações sociais:

Asseguram uma orientação das condutas e comportamentos nas relações sociais

Enquanto modo de conhecimento funcionam com um sistema de interpretação da realidade

Uma função de organização significante do real Uma função cognitiva de integração do que é novo Constitui, preserva e reforça a identidade dos grupos

Justificam os comportamentos e as tomadas de posição nas relações sociais Facilitam a comunicação social

uma realidade objectiva, neutra. O raciocínio do homem é universal (processos de tratamento da informação próprios à espécie humana). Daí, na sua relação com o mundo, o indivíduo enquanto máquina pensante enfraquecida e de raciocínio enviesado, adoptar estratégias para simplificar problemas complexos. Estas, não sendo as mais correctas, aumentam a rapidez e a eficiência de resposta. Consequentemente, os erros e enviesamentos no tratamento da informação são considerados como resultados das características do sistema cognitivo e não devido às motivações.

O conhecimento é um saber naif ou senso comum errado e enviesado. O objectivo da maioria das investigações em cognições sociais é de analisar estes erros. No entanto, ao longo dos anos noventa emergiu um novo modelo de cognição social, no qual o indivíduo é conceptualizado como táctico-motivado, o indivíduo é considerado como um pensador com múltiplas estratégias cognitivas capazes de escolher baseado em objectivos, motivações e necessidades, umas vezes com o intuito de adaptação, outras como escolhas tácticas defensivas.

3.2. Cognição social e representações sociais – abordagens diferentes do saber naif ou senso comum

“Les représentations ne sont pas exclusivement cognitives, elles sont aussi sociales, ce qui précisément fait leur spécificité par rapport aux autres produtions ou mécanisme cognitifs” (Abric, 1994a:14). Segundo este autor a análise e compreensão das representações sociais pressupõe sempre uma abordagem sociocognitiva que integra as duas componentes da representação: a componente cognitiva e a componente social.

A primeira refere-se à textura psicológica da representação regida pelos processos cognitivos. A componente social influencia estes processos cognitivos nos quais se elabora ou se transforma uma representação. “La coexistence de ces deux logiques permet de rendre compte et de comprendre, par exemple, porquoi la représentation integre des contradictions apparents” (Abric, 1994a:14).

Também Flament considera que “une représentation sociale est un ensemble organisé de cognitions relatives à une objet, partagées par les membres d’une population homogène par rapport à cet objet” (Flament, 1994:37). Este autor refere que as propriedades essenciais das cognições que constituem uma representação são a prescrição e/ou descrição.

O aspecto prescritivo da cognição, que engloba as lógicas deontológicas e as normas, é o elo fundamental entre a cognição e as condutas. O aspecto descritivo de uma cognição é o modo como os sujeitos utilizam os termos descritivos acerca de um objecto. No domínio das representações sociais “les deux aspects sont à chaque fois présents, distinguables au niveau discursif, mais nom au niveaux cognitif” (ibid.:38).

Nas representações sociais o raciocínio do saber naif ou senso comum é lógico e adaptado à gestão da vida quotidiana. A realidade social é construída pelo indivíduo. O raciocínio do indivíduo depende da sua inserção social. O social refere-se ao sujeito da representação.

Cognição social Representações sociais

O raciocínio do saber naif é errado e enviesado O raciocínio do saber naif é lógico e adaptado à gestão do quotidiano

A realidade é objectiva e neutra A realidade é social e construída

O raciocínio do indivíduo é universal O raciocínio do indivíduo depende da sua inserção social

O “social” refere-se ao objecto da cognição O social refere-se ao sujeito da representação Análise das condutas humanas em função da

interpretação que o indivíduo faz do seu ambiente social

Análise das condutas humanas em função do modo como o indivíduo interpreta e constrói o seu ambiente social

Vala (1993:373) sistematizou as principais diferenças entre as orientações na cognição social e as orientações na análise das representações sociais:

1- nas representações sociais, o estudo dos conteúdos e a sua ligação aos contextos

históricos, culturais e ideológicos é um objectivo essencial, na cognição social, que visa a elucidação de processos individuais, os conteúdos não são, geralmente relevantes;

2- nas representações sociais as questões fundamentais centram-se nos processos de

interacção e de influência que orientam a construção e a dinâmica do pensamento social, na cognição social as questões fundamentais são os processos internos através dos quais o conhecimento se forma e transforma;

3- nas representações sociais o pensamento social é concebido numa perspectiva molar

na qual se articulam e envolvem as configurações do conhecimento, na cognição social compreender o conhecimento equivale a descrever sucessivos processos e estruturas

simples, numa tradição molecular em psicologia.

4- nas representações sociais o plano cognitivo é articulado com os planos avaliativo e

emocional, na cognição social o plano emocional não é considerado.

Vala (1993) considera que a articulação entre os conceitos de representação social e

esquema pode ser frutífera, pois apesar de terem diferenças têm também algumas

semelhanças.

Ambos os conceitos atribuem um papel determinante às estruturas cognitivas na produção do conhecimento social. São estruturas de conhecimento, nas quais a actividade cognitiva e simbólica corresponde ao modelo O-S-O-R (Organisme-Stimulus-Organisme- Réponse) que guiam e facilitam o processamento da informação social.

No entanto, este processamento nas representações sociais é considerado como profundamente relacionado com os processos intergrupais, sendo criado através das interacções sociais e na aplicação das teorias, o que não acontece no conceito de esquema em que o conhecimento é conceptualizado sobretudo como resultado de um processamento de informação onde interagem dados e teorias.

Outra semelhança entre os dois conceitos é que, quer os esquemas, quer as representações são vistos como um produto de um mesmo processo básico – a categorização. “E, em ambos os casos, não é restringido à organização do meio, mas igualmente entendido como princípio organizador das relações entre os agentes sociais” (Vala, 1993:375).

Vários autores consideram que o “entrecruzamento temático e conceptual destas duas perspectivas de análise do conhecimento social da realidade poderá ser benéfica para ambas” (Vala, 1993:373), pois o conceito de representações sociais consegue um novo olhar sobre os problemas formulados e analisados no quadro do paradigma da cognição social.

Também Jodelet (1989:75) afirma “penser la cognition comme quelque chose de social ouvre en fait des voies de recherche nouvelles. Il en va de même pour les sciences sociales qui n’ont pas intégré dans leur approche de la penséee social la dimension proprement cognitive et ne sont pas en mesure de penser le social como cognitif”.

Cognição social e Representações sociais

1. Objecto de estudo similar (psicologia do senso comum)

2. As representações como forma de cognição (um saber, um conhecimento de um objecto da realidade social)

3. Representações definidas como um conjunto de cognições - a construção do conhecimento implica processos cognitivos:

a) a categorização b) a esquematização c) a atribuição causal d) as atitudes