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A coleta de dados da pesquisa socionômica traz diversos desafios, já que se busca captar aspectos relacionais e afetivos, os quais se manifestam de outras formas além da linguagem verbal, como micro gestos e posturas. Para tal é imprescindível que o registro da sessão seja realizado por meio de vídeo e gravação de áudio (Nery et al., 2006). Além disso, a atuação do pesquisador deve ser mais ativa, contando com experiência clínica para o uso de instrumentos adequados na coleta de informações (Nery & Costa, 2008). Nery et al. (2006) apontam que na coleta de dados devem ser observadas as posições e atuação de todos os participantes, incluindo

a unidade funcional, as cenas trazidas e os sentimentos e falas apresentados, estando eles relacionados ou não ao tema central.

As entrevistas e observação de participantes são instrumentos que permitem a externação de representações sociais que são pensamentos, ações e sentimentos expressos categorizados no sentido de explicar, justificar ou questionar a realidade (Lucca & Schmidt, 2004). Em sua pesquisa, Lucca e Schmidt (2004) também apostaram na realização de atividades grupais para a coleta de dados acreditando "ser possível por meio destas, a intercomunicação dos participantes e a manifestação coletiva acerca do cotidiano" (p. 0). Toloi e Souza (2015) afirmam que a prática da co-construção possibilita a expressão de conteúdos pessoais sendo possível o vislumbramento da realidade psíquica e investigação profunda das dinâmicas e padrões sociais presentes.

A coleta de dados desta pesquisa foi realizada de duas formas: (1) entrevistas semiestruturadas com especialistas do Psicodrama e (2) atos terapêuticos. Ambas as formas de coleta contaram com gravação de vídeo e áudio e posteriormente foram integralmente transcritas.

3.1 Entrevistas

A seleção dos especialistas foi realizada por conveniência. O critério de seleção dos entrevistados foi por indicação e disponibilidade. Cada entrevistado realizou indicações de profissionais que apresentavam vasta experiência com atos psicodramáticos, até encerrarem as vagas. Após cada contato com o profissional, era questionado se teriam indicação de outros profissionais que também trabalhavam com atos terapêuticos e tinham bastante experiência no assunto. Alguns dos especialistas participantes desta pesquisa foram indicados mais de uma vez, bem como os especialistas se indicaram entre si.

As entrevistas semiestruturadas foram baseadas na experiência pessoal dos especialistas, sendo conversas livres, com intuito de recolher o conhecimento dentro de sua autenticidade, espontaneidade e liberdade de expressão. Elas seguiram um roteiro de entrevista, encontrado no Apêndice 1 deste trabalho. No entanto, muitas perguntas não foram realizadas em razão do assunto já ter sido abordado pelo especialista previamente, em respostas anteriores. Os principais assuntos investigados foram: a experiência pessoal com atos terapêuticos, a diferença de ato e processo, a diferença de Psicodrama clínico e não clínico, o aquecimento do diretor e do grupo, a influência de ter ou não um tema previamente estipulado, as atitudes, características e os comportamentos do diretor e do ego-auxiliar que favorecem ou não a realização de um ato, o sucesso ou não dele, a sua qualidade terapêutica e a avaliação do encontro tanto entre a equipe de profissionais como para com os participantes.

As entrevistas ocorreram entre os dias 8 de setembro e 24 de novembro de 2017. Tiveram uma duração média de 54 minutos. No total foram realizadas seis entrevistas, sendo cinco delas realizadas por Skype com um psicodramatista, e uma das entrevistas realizadas pessoalmente, com dois psicodramatistas, simultaneamente, na cidade de São Paulo. Totalizando sete especialistas entrevistados, quatro mulheres e três homens. Todas as entrevistas foram filmadas, gravadas e transcritas na íntegra.

Tabela 1. Relação de especialistas, suas características e forma de contato.

Especialista Gênero Formação Meio

E1 M Psiquiatra Skype E2 F Psicóloga Skype E3 F Psicóloga Skype E4 M Psicólogo Skype E5 F Psicóloga Presencial E6 F Psicóloga Skype E7 M Psicólogo Presencial

Todos os especialistas são psicodramatistas há mais de 10 anos, possuem experiência clínica em consultório e experiência na realização de atos públicos e possuem trabalhos publicados. Eles mostraram interesse em participar e contribuir com o conhecimento acerca da temática. A fala trazida pelos especialistas está em consonância com o que pede a bibliografia estudada, mostrando que eles estão afinados com a teoria, como mostra nossa seção de resultados e discussão.

3.2 Grupos Terapêuticos

Para ilustrar aspectos levantados pela pesquisa foram realizados dois grupos, que aconteceram nos dias 22 de novembro e 21 de dezembro de 2017. Cada grupo contou com a presença de dois participantes, um homem e uma mulher em cada dia. A divulgação dos grupos foi realizada pela internet por e-mail e pela página no Facebook, Instagram e Blog. Os sujeitos participaram do grupo espontaneamente e foram devidamente informados dos acordos éticos da pesquisa, tais como sigilo, voluntariedade em participar e possibilidade de retirar o consentimento a qualquer momento, tendo concordado em assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Tabela 2. Relação de participante dos grupos.

Participante Gênero Idade Tema

G1.1 F 67 E essa tal assertividade?

G1.2 M 57 E essa tal assertividade?

G2.1 F 33 O que será do amanhã?

G2.2 M 23 O que será do amanhã?

Os dois grupos começaram com um contrato terapêutico, momento de explicar como funciona o grupo, o caráter breve da sessão, o respeito com a fala do outro, o convite aos

participantes a cuidarem uns dos outros, se engajarem em realizar alguma criação conjunta e esclarecerem as eventuais dúvidas. Em seguida, cada um dos participantes falou como se relacionava com o tema, o motivo da ida ao encontro e suas expectativas. Dentro dessa conversa, foi pedido que eles trouxessem uma cena concreta em que vivenciaram aquilo que trouxeram nos comentários iniciais. Os participantes, então, escolhiam qual das duas cenas gostariam de ver trabalhada e iniciava-se o aquecimento específico, momento de preparar a cena, montando os personagens e o cenário.

Na medida que a cena é construída, inicia-se a dramatização, em que os personagens presentes interagem e desenvolvem uma história. Nesse momento, tanto o ego-auxiliar como o outro participante, também ego-auxiliar, assumem o papel de algum personagem da trama (por indicação do diretor, ou espontaneamente), e o diretor se coloca junto ao protagonista, utilizando-se das técnicas psicodramáticas, principalmente duplos, algumas vezes colocando-o em outros papéis ou tirando-o da cena para ver de fora, com técnicas de inversão de papéis e espelho, buscando alguma forma diferente de lidar com a questão trazida. O diretor e os egos- auxiliares ajudam o protagonista a encontrar novas maneiras de lidar com a situação, procurando encontrar uma cena reparatória para o que foi trazido.

No primeiro grupo, devido ao tempo, só foi possível realizar o aprofundamento de uma cena. A segunda cena foi comentada e relacionada com a cena realizada, de maneira verbal, na última etapa do compartilhar. No segundo grupo, as duas cenas foram realizadas chegando a um desfecho. Os participantes de ambos os grupos fizeram o papel de ego-auxiliar, participando da cena do outro como personagem. No momento do compartilhar, nos dois grupos, os participantes trouxeram impressões e sentimentos a respeito da experiência vivida. Depois de um mês decorrido do grupo, os participantes receberam por e-mail a pergunta: "o que eu levei do encontro?".