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O homem primitivo habitava em cavernas, caçava ou apanhava seus alimentos; mas a fixação na terra só co­ meçou por ocasião da primeira revolução agrícola, quando ele percebeu que as sementes dos cereais po­ diam ser plantadas e a colheita ceifada. Era necessário morar junto aos campos, e os melhores campos nem sempre ficavam perto das cavernas onde moravam. Mais tarde a caça diminuiu, embora Ninrode (Gn 10.9) e Esaú (Gn 27.5) fossem ambos caçadores. Isaque dis­ se a Esaú que levasse suas armas, sua aljava e seu arco, e fosse para os campos apanhar caça (Gn 27.3).

Quando o povo judeu ocupou Canaã, a caça pare­ ce ter sido uma necessidade porque eram tão poucos

P â n ta n o de p a p iro s no L ag o H u leh , Á g u a s do M e ro m a n tig o , um a re g iã o bem c o n h e c id a p o r s eu s leõ e s nos te m p o s b íb lic o s .

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que havia uma possibilidade dos animais se m ultipli­ carem contra eles (Ex 23.29). Nas montanhas do Lí­ bano e da Síria havia grande quantidade de vida sel­ vagem, assim como no desfiladeiro do Jordão. O Vale dos Refains

(Rift)

do Jordão tem uma garganta escar­ pada em dois níveis. No nível mais baixo, o rio inun­ dava as margens na primavera e isso, combinado com o calor intenso do verão, formava uma floresta tropi­ cal densa que abrigava vários animais selvagens. As águas de Merom (Lago Huleh) eram bem conheci­ das pelos seus leões (Jr 49.19) e até o deserto parece ter sido uma guarida para as feras (Mc 1.13).

No Egito e na Assíria, tudo indica que a caçada tenha constituído um esporte. Os reis assírios m anti­ nham grandes reservas de caça e havia muitas caça­ das no vale do Nilo. Nos tempos romanos, os ani­ mais eram caçados para uso nas guerras e circos.

Caçadas

A caçada não era uma ocupação fácil. Armadilhas eram construídas para prender os grandes animais. As covas eram cobertas com folhas e galhos e no ge-

R elevo a s s írio de um a ral se faziam vias de acesso para atrair os animais em

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nhado numa dessas armadilhas. Ele emprega a ilus­ tração como um exemplo do que acontecerá aos prín­ cipes de Israel (Jr 48.44; Ez 19.1-4). Em outros ca­ sos era usada uma rede, suspendendo-a algumas ve­ zes sobre a armadilha e outras presa ao solo. Em al­ guns casos a rede provavelmente cobria o animal.

Jó 18.8-10 se refere a alguns dos métodos de pren­ der animais — nesse caso com respeito a um homem perverso:

“Porque por seus próprios pés

é

lançado na rede e andará na boca de forje. A armadilha o apanhará pelo calcanhar, e o laço o prenderá. A corda está escondi­ da na terra, e a armadilha, na vereda”.

Uma vez preso o animal, ele era morto com arco e flecha, lança ou laca (veja também Ec 9.12; Is 51.20; Ez 12.13; Am 3.5).

As leis de alimentação do Antigo Testamento proi­ biam que muitos animais fossem comidos (Lv 11) e outras leis estabeleciam como os animais deviam ser mortos antes de serem comidos (Lv 17.13; Dt 12.15). O sangue do animal tinha de ser escorrido. Se o ca­ çador apanhasse algo que não tivesse matado, por ter morrido naturalmente ou sido morto por outro ani­ mal, ele se tornava ritualmente impuro (Lv 17.15,16).

124/0 Indivíduo na Vida Familiar P ág in a o p o s ta : A pesca co n tin u a s e n d o um a a tiv id a d e im p o rta n te no M ar da G a lilé ia. Pesca

Os povos judeus primitivos não pareciam ser bons pes­ cadores, embora gostassem de peixe (Nm 11.5). Os únicos navios que possuíam afundaram no porto numa tempestade em Eziom-Geber (1 Rs 22.49). Os filisteus navegavam de Chipre e os fenícios eram uma nação de navegadores, mas pouco se ouve falar da pesca.

Não foi senão nos dias do Novo Testamento que a pesca se desenvolveu, e isso no M ar da G aliléia. Magdala era urn dos centros da indústria pesqueira; o nome

Magdala

significa na verdade "salga de pei­ xes”. Havia um grande mercado nas circunvizinhanças da Galiléia.

E difícil visualizar, quando vemos fotos da Galiléia rural de hoje, que o lago era cercado por grandes ci­ dades entremeadas de pequenas aldeias, e que não era fácil para Jesus encontrar um lugar deserto ao re­ dor do lago onde pudesse descansar longe das m ulti­ dões. Pedro, André, Tiago e João, sócios num a em­ presa de pesca, não eram homens pobres mas com­ partilhavam de uma indústria viável. A pesca nunca se desenvolveu no Mar Morto. A 400m abaixo do nível do mar, a evaporação da água no M ar Morto correspondia ao volume que entrava, e sua água se tornou cada vez mais impregnada de sais químicos. Só na área muito lim itada em que as correntes de água fresca entram no Mar Morto é que alguns pei­ xes podem ser encontrados.

Existem várias maneiras de pescar, como segue:

Pesca com vara e linha

Isaías profetiza que o rio Nilo vai secar como parte do juízo de Deus (Is 19.5-8) e se refere a “todos os que lançam anzol ao rio”. Temos um exemplo do Novo Testamento, quando Jesus disse a Pedro que usasse um anzol para pescar um peixe com uma mo­ eda na boca, a fim de pagar o tributo do templo: “Vai ao mar, lança o anzol, tira o primeiro peixe que subir...” (M t 17.24-27).

Pesca com lança

Deus perguntou a Jó qual o meio que usaria para pescar o leviatã, a grande criatura marinha: “Enche­ rás a sua pele de ganchos, ou a sua cabeça de arpéus de pescadores?” (Jó 41.7). Homens saíam à noite com

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Pesca com rede um a lanterna pendurada na proa do barco. Os pei-

na G a lile ia. xes emm arpoados quando saltavam atraídos pela luz. Pesca com rede especial

A rede especial era circular, com cerca de cinco metros de diâmetro, com pesos nas bordas. Uma corda com­ prida ficava presa ao centro da mesma. Quando um cardume de peixes era visto na água rasa, jogavam sobre ele a rede. Os pesos faziam com que descesse e os peixes ficavam presos debaixo dela. A rede era en­ tão puxada para a praia. Pedro e André estavam usan­ do esse tipo de rede quando foram chamados por Jesus (M c 1.16,17). Essas redes eram também joga­ das dos barcos e depois puxadas para a praia, desde que as águas não fossem profundas.

Quando a pessoa está acima da linha da praia, é muitas vezes fácil ver cardumes de peixes que ao nível da praia não podem ser vistos. Portanto, é possível que alguém dum ponto mais alto possa dizer ao pescador onde lançar a rede. Quem sabe foi isso que aconteceu quando Jesus disse aos discípulos de que lado do bote lançar a rede (Jo 21.4-6). Eles estavam pescando no raso, porque Pedro pôde andar até a praia para encon­ trar Jesus, e estavam ao alcance da voz dele.

A rede trazia tudo que se achava no leito do lago e, quando puxada para a praia, era necessário separar os peixes bons dos ruins, sendo estes então devolvi­ dos à água (M t 13.47,48).

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Pesca com rede do tipo Seine

(Ez 26.5; Hc 1.15; Lc 5.4.) A rede

seine

rinha cerca de três metros de largura e vários metros de compri­ mento. Ela ficava suspensa na água como uma cerca, sendo mantida flutuando por meio de rolhas, e pe­ dras eram colocadas nas beiradas para mantê-la na vertical. Um único barco fazia um círculo com a rede, ou dois barcos suspendiam a mesma entre eles e fazi­ am uma varredura em direção à praia. Quando a rede ficava num círculo apertado, era possível puxar a cor­ da inferior para que se formasse uma enorme bolsa, da qual os peixes não podiam escapar.

Os barcos usados para pescar não eram geralmente muito espaçosos, levando apenas cerca de quatro

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homens confortavelmente. Uma grande vela trian­ gular era presa num suporte de madeira e suspensa no mastro central para que pudesse apanhar o ven­ to. O piloto do barco ficava na parte de trás, com um remo grande que servia de leme. Dois homens podiam pilotar um barco, e quase sempre trabalha­ vam em conjunto com outra embarcação. O barco usado por Jesus e os doze discípulos deveria ter o mesmo desenho básico, sendo, porém, maior. Quan­ do os discípulos são citados em pares na Bíblia (Si- mão e seu irmão André; Tiago filho de Zebedeu e seu irmão João; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus,

P es c ad o res de dois b arco s c o m b in a m fo rças para p u x ar um a rede seine s u sp e n s a e n tre suas e m b a rc a ç õ e s . N ote q ue a m aio ria d o s pe sc ad o res e stá d e sp id a até a cintura.

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Galiléia

C id ad e s p e s q u e ira s da G alilé ia nos te m p o s b íb lico s . T e m p e s ta d e s p odem v arre r s u b ita m e n te o lago, vin d as das

m o n tan h as qu e o c erc am .

o cobrador de impostos; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; Simão o zelote e Judas Iscariotes, que o traiu — M t 10.2-4), os pares podem representar a ma­ neira como se sentavam no barco e remavam ju n ­ tos, como visto na posição de Jesus que se sentou na popa (Mc 4.38).

Em vista de os barcos serem m uito pequenos, eram vulneráveis num a tem pestade. O M ar da G aliléia fica a cerca de 200 metros abaixo do nível do mar e é cercado por serras. A água evapora sob o sol quente do verão. Se a corrente de ar vertical se encontra com o ar mais fresco do M editerrâneo, há uma grande turbulência e uma tempestade inespe­ rada se abate. Pode ser isso que aconteceu quando os discípulos foram apanhados em uma tempestade inesperada no lago (M c 4.35-41). Quando o vento pára, o lago se acalma rapidamente por não ser uma faixa muito extensa de água (cerca de vinte quilô­ metros de comprimento e dez de largura na parte mais larga).

Quando a pesca terminava, as redes eram estendi­ das na praia para secar (Ez 26.5) e quaisquer estragos consertados.