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Mapa 06 Rota das embarcações apreendidas em 1835

2. O CEARÁ NA REPRESSÃO AO TRÁFICO DO ATLÂNTICO

2.2. Combater o tráfico com “todo o rigor das leis”: o pós 1850

O ministro da justiça, Antonio Manoel de Campos Melo, a pedido do ministro da fazenda, exigiu em 23 de junho de 1848, providências contra a “desmoralização e corrupção”, que ocorria por todo o litoral brasileiro, que afetava as autoridades locais e produzia defraudação das rendas nacionais. Pelas informações que recebeu “nos portos da costa publicamente desembarcam não só Africanos, mas como mercadorias por contrabando, entre outras, grande quantidade de tartaruga, cera e marfim”.67 Recuperar esta correspondência

evidencia os problemas enfrentados pelo governo central em se fazer cumprir as ordens estabelecidas nos locais mais distantes do Império. Combater o tráfico não era um problema fácil de ser solucionado, porque muitas autoridades locais, responsáveis por esta tarefa, estavam sob a influência de poderosos negociantes, que em grande parte, eram traficantes ou compradores de escravos.

A Lei de 1850 foi um passo decisivo do governo para suprimir o tráfico de africanos. Mas a documentação mostrou que ele ainda continuou por alguns anos após a publicação da dita lei, em menor escala, diga-se de passagem, mas ainda vivo o bastante para tirar o sossego das autoridades e dos negros da África.

Em um Aviso circular de 18 de janeiro de 1851, o ministro da justiça pedia informações a respeito de apreensões de africanos ocorridas nas províncias, com declaração de “número, e se forão julgados livres; se houve apprensão de algum navio, e qual o julgamento ou destino que se lhe deo; se houve prisão de alguém, qual o seo nome, e que andamento e decisão teve o respectivo processo”.68 Está foi a primeira de uma série de

solicitações encontradas. É interessante que no período anterior, de 1830 a 1850, houve uma série de denúncias, ou mesmo participação de apreensões, como foi o caso de 1835 no Ceará, mas o governo central não estava interessado nos pormenores. Após a Lei de 1850, exigia-se todo o rigor. O presidente do Ceará ordenou que se respondesse negativamente.69 Em 19 de

abril de 1852 uma nova solicitação foi enviada. O detalhe curioso é que “mesmo que não haja

67 APEC. Fundo: Ministérios. Livro de Registros do Ministério da Justiça aos Presidentes do Ceará, n° 41, 1847-1849. Aviso do ministro da justiça, Antonio Manoel de Campos Melo, ao presidente da província do Ceará, Fausto Augusto de Aguiar, s/n, 23 de junho de 1848.

68 Idem. Ibidem, n° 42, 1850-1853. Aviso do ministro da justiça, Eusébio de Queirós Coutinho Mattoso Camara, ao presidente da província do Ceará, Inácio Francisco Silveira da Mota, s/n, 18 de janeiro de 1851.

69 AN. Série Justiça: Gabinete do Ministro. Correspondência dos Ministros da Justiça com os Presidentes da Província do Ceará, 1850-1851, IJ1 264. Ofício do presidente da província do Ceará, Inácio Francisco Silveira da Mota, ao ministro da justiça, Eusébio de Queirós Coutinho Mattoso Camara, n° 45, 28 de fevereiro de 1851.

certeza de taes desembarques, mas simplesmente probabilidade, ou vago rumor, disso mesmo V. Exa. fará especificada menção”.70

Da mesma data, uma participação interessantíssima das conexões realizadas pelos contrabandistas na segunda metade do século XIX. Ao governo imperial, foi informado que estava organizada (ou para se organizar) uma associação para fazer o tráfico de africanos para os portos do Brasil,

Tendo ramificações em Lisboa, Ilhas dos Açores, Havana, Montivideo e no Imperio, e que muito provavelmente se servirá em suas especulações criminosas das bandeiras Americana e Sarda, recommendo muito particularmente a V. Exa. que dê todas as providencias com o fim de evitar que tal associação tenha bom exito em seu intento, que se sirva d’aquellas bandeiras, quer de qualquer outra, e desde ja previno a V. Exa. que ha rasões para presumir que o Brigue “Pedro 2°”, construido em Spezia (sic) por conta de Thomaz da Costa Ramos, já foi comprado ou sel-o há por essa mesma associação, e assim é necessario redobrar de vigilancia a respeito d’esse navio, já recommendado como suspeito de destinar-se ao trafico de Africanos.71

Thomaz da Costa Ramos e Francisco Rivaroza y Urgeles eram notórios traficantes. Segundo Jaime Rodrigues, expulsos do Brasil, “basearam em Lisboa, e por meio de suas ligações com a África, enviaram, com sucesso, diversos carregamentos para Havana”.72As “ramificações” atingiam diversos pontos do Atlântico, formando uma rede, que

ligava os três continentes. É possível ver que as autoridades estavam atentas e acompanhavam a situação de perto. Rodrigues observou que as atividades dos dois eram mantidas sob vigilância da legação brasileira em Portugal, como pode ser observado na circular de 23 de maio de 1857.

Constando ao Governo Imperial que Francisco Riveroza, traficante de Africanos notoriamente conhecido, comprara em Vigo um barco que carregava em Lisboa com destino para a Costa da d’Africa, e sendo de presumir que esse barco se destine ao trafico, cumpre que V Exa. esteja prevenido para frustar qualquer tentativa desse homem audaz.73

O ministro da justiça passou a cobrar dos presidentes das províncias bastante atenção com Rivaroza, esse “homem audaz”. Recomendou que qualquer boato de importação de africanos “por mais infundada que seja” deveria ser investigado, “até que se descubra a

70 APEC. Fundo: Ministérios. Livro de Registros do Ministério da Justiça aos Presidentes do Ceará, n° 42, 1850-1853. Aviso do ministro da justiça, Eusébio de Queirós Coutinho Mattoso Camara, ao presidente da província do Ceará, Joaquim Marcos de Almeida Rego, s/n, 19 de abril de 1852, fl. 17.

71 Id. Ibid, fl. 18.

72 RODRIGUES, Jaime. Op. Cit., p. 137-8.

73 BR.CEAPEC.GP.CP.CORE. 62 (1857), Caixa 21. Aviso do ministro da justiça, Bernardo Pereira de Vasconcellos, ao presidente da província do Ceará, Joaquim Mendes da Cruz Guimarães, 12 de junho de 1857.

verdade”.74 No início de 1858, sabia-se da intenção de “D. Francisco Rivaroza y Urgelles de

combinação com alguns Fazendeiros da Prova. de S. Paulo” de importar africanos para o

Brasil.75

O brigue Pedro 2° também estava sendo monitorado já algum tempo, pois em 10 de dezembro de 1851 o governo do Ceará acusou a recepção de uma nota com as dimensões principais do “Bergantim – Pedro Segundo, de 26 peças”.76 Já no dia 20 de janeiro de 1852, o

presidente comunicou o recebimento de mais um aviso ministerial a respeito do navio, com a informação de que “sahio de Genova, para o porto do Rio de Janeiro, tocando em Marselha”.77

As informações a respeito de navios que estavam sendo preparados para o “escandolozo comercio” eram constantes e tão rápidas que, literalmente, circulavam com a “força dos ventos”. Nesse sentido, o governo central pediu a maior vigilância para os navios “Enrico e General Garsen, que se acham no Rio da Prata”, na tentativa de impedir que “realisem os intentos dos traficantes, que taes navios comandão”.78 O patacho português Paquete de Loanda, que saiu do Rio de Janeiro para a Costa da África, também esteve na mira.79 O brigue Pensamento, ao sair em 02 de maio de 1856, de Tenerife para Benguela,

também tornou-se “suspeito de empregar-se no trafico de africanos”,80 por estar a bordo o

irmão de Rivarosa.81 Em 09 de fevereiro de 1856, o governo imperial expediu atenção a duas

embarcações norte-americanas, “uma escuna de uma gavea ‘Vilcol’ e outra”, que haviam chegado em um dos portos da costa da África, “entre o cabo Lopes e Loango”, para “carregar escravos com destino a costa do Brasil”.82 Outro navio que levantou muitas suspeitas pelo

procedimento adotado por seu comandante foi o patacho português Roberto,

74 Idem. Ibidem.

75 AN. Série Justiça: Gabinete do Ministro. Correspondência dos Ministros da Justiça com os Presidentes da Província do Ceará, 1858, IJ1 723. Ofício do presidente da província do Ceará, João Silveira de Souza, ao ministro da justiça, Francisco Diogo Pereira de Vasconcellos, s/n, 16 de março de 1858.

76 Idem. Ibidem, 1855, IJ1 721. Ofício do presidente da província do Ceará, Joaquim Marcos de Almeida Rego, ao ministro da justiça, Eusébio de Queirós Coutinho Mattoso Camara, n° 162, 10 de dezembro de 1851.

77 Id. Ibid, n° 06, 20 de janeiro de 1852.

78 Ibidem, 1852-1853, IJ1 265. Ofício do presidente da província do Ceará, Joaquim Vilella de Castro Tavares, ao ministro da justiça, José Thomás Nabuco de Araújo, s/n, 09 de novembro de 1853.

79 Ibid., 1855, IJ1 721. Ofício do presidente da província do Ceará, Joaquim Marcos de Almeida Rego, ao ministro da justiça, José Ildefonso de Souza Ramos, s/n, 13 de julho de 1852.

80 Ibid, Série Justiça: Africanos. Ofício do presidente da província do Ceará, Francisco Xavier Paes Barreto, ao ministro da justiça, José Thomaz Nabuco de Araujo, s/n, 22 de julho de 1856.

81 APEC. Fundo: Ministérios. Livro de Registros do Ministério da Justiça aos Presidentes do Ceará, n° 01, 1854-1857. Aviso do ministro da justiça, José Thomaz Nabuco de Araujo, ao presidente da província do Ceará, Francisco Xavier Paes Barreto, s/n, 25 de junho de 1856.

Sahira do porto de S. Martinho, na costa Norte de Portugal, o patacho portuguez

Roberto propriedade de Alexandre Magno Fernandes, o qual suspeita-se dever empregar-se no trafico de Africanos, não só pela grande quantidade de mantimentos e aguada com que sahio, como tambem por ter deixado furtivamente as águas do referido porto, evitando assim as averiguações e pesquizas das autoridades locaes.83

O patacho Roberto tinha “101 toneladas, o seo cumprimento é de 1024 palmos com 261 de boca, e 12 de pontal”. Os detalhes minuciosos a respeito do patacho mostravam que as autoridades estavam bem atentas. Percebe-se que apesar da Lei de 1850 a movimentação dos traficantes era intensa e exigiu uma maior vigilância. As correspondências revelam que o tráfico era uma atividade transnacional, como apontou Jaime Rodrigues, pois envolvia diversos pontos do Atlântico, que “uma vez dificultado no Brasil, voltava-se para Cuba e vice-versa, com conexões na Europa e Estados Unidos”.84

Por informações do ministro inglês na Corte, o governo central soube que mais quatro navios de “propriedade da mesma associação a que pertencia o Mary Smith, apresado na barra de S. Matheus, são esperados com africanos”.85 O primeiro deles a chegar seria o Mary Stuart.

Tendo no dia 2 de setembro de ultimo despachado no Vice-consulado da ilha da Madeira com destino do porto do Rio de Janeiro o Patacho Americano – W – M. Stuart. – de 260 toneladas e nove pêssoas de tripulação, do qual é mestre Dujant., e tendo circulado dias depois da sua sahida o boato de que, antes de vir pa. aquelle porto, iria o dito Patacho á costa da Africa carregar Africanos, recommendo-lhe toda a vigilância possivel, para que a respeito do referido patacho se proceda com todo o rigor das leis [...]”.86

Em 24 de novembro de 1857, o presidente do Ceará, João Silveira de Souza comunicou que expediu as ordens necessárias para que as autoridades policiais do litoral estivessem de sobreaviso para proceder “com todo o rigor das leis” contra qualquer desembarque de africanos que fosse tentado pelo patacho americano W. M. Stuart.87 A

correspondência permitiu mapear os locais que ainda estavam conectados pelo tráfico. Os dados em geral, revelaram o porto de saída dos navios, os locais na África onde os traficantes iriam comprar os cativos e o seu destino final.

83 Id. Ibid, 07 de março de 1856.

84 RODRIGUES, Jaime. Op. Cit., p. 157.

85 APEC. Fundo: Ministérios. Livro de Registros do Ministério da Justiça aos Presidentes do Ceará, n° 01, 1854-1857. Aviso do ministro da justiça, José Thomaz Nabuco de Araujo, ao presidente da província do Ceará, Francisco Xavier Paes Barreto, s/n, 10 de março de 1856.

86 BR.CEAPEC.GP.CP.CORE. 62 (1857), Caixa 21. Ofício do presidente da província do Ceará João Silveira de Souza, ao chefe de polícia, 06 de novembro de 1857.

87 AN. Série Justiça: Gabinete do Ministro, 1857, IJ1 722. Ofício do presidente da província do Ceará, João Silveira de Sousa, ao ministro da justiça, Francisco Diogo Pereira de Vasconcellos, s/n, 24 de novembro de 1857.

Em 11 de março de 1861, o presidente do Ceará, Antonio Marcelino Nunes Gonçales, informou ao chefe de polícia a realização de um embarque de escravos “nos portos de Benguella velha e do rio ‘Cuanza’ ao sul de Angola”, sendo o responsável pela empreitada um “Oliveira Botelho, que foi outr’ora n’aquella cidade o consignatário dos navios ‘Orytia e Pedreira’ que navegavão para este Imperio e Havana”.88

O último indício encontrado a respeito do contrabando de africanos ocorreu em 13 de junho de 1866. O governo imperial tinha sido informado que no reino do Congo “diversos commerciantes pareciam esperar do Brasil encomendas de escravos, mostrando-se preparados para satisfazel-as”.89 Já nos anos derradeiros do tráfico, a referência já não é mais sobre

navios, mas, sim, sobre comerciantes estabelecidos na África que ainda insistiam em manter suas atividades.

Alguns casos de desembarque envolveram direta ou indiretamente o Ceará. Segundo informações do governo do Ceará, em 1859 se projetava um desembarque na Ilha de Itamaracá e que “o navio negreiro perseguido por um vapor de guerra sahido do Recife fisera no rumo do Norte”.90 O que deixou os governos da Paraíba, Rio Grande do Norte e do Ceará

todos em estado de alerta. Neste último, dedicou-se maior atenção para os portos de amarração, “Gericacuara” (Jericoacoara) e do de Camocim por ser o “de maior frequencia, a onde depende maior cuido”.91 Mas nenhuma denúncia causou tanta confusão e uma extensa

correspondência como a realizada pelo vice-cônsul inglês na Paraíba, em 22 de junho de 1856. A denúncia referia-se a um desembarque de africanos na Bahia da Traição situada na mesma província.

Em officio de 9 de junho communica o Presidente da Provincia da Parahyba que o Vice Consul inglez, referindo-se a uma carta que recebeu da Bahia da Traição com data de 22 de junho [no original está desta forma] affirmára que no dia 10 do mesmo mez havião chegado á bahia de Camaratuba trez navios negreiros com 1.800 Africanos; - que pessoas da tripolação e parte do carregamento desembarcarão para o Engenho de Camaratuba, propriedade de Manoel Antonio de Siqueira e Mello, e para o Engenho de Itauna de Christiano Barroso de Carvalho; - que porem sabendo- se haver na visinhança um destacamento comandado pelo alferes José de Avila Bittencourt Neiva, homem probo e inimigo de Manoel Antonio, tornarão a embarcar todos; - que gente do logar fora a bordo; - que os Africanos quase todos fallavão portugues; - e que de terra se tinhão mandado 3 barricas de farinha [sic] e 3 bois, o

88 BR.CEAPEC.GP.CP.CORE. 69 (1861), Caixa 23. Ofício do presidente da província do Ceará Antonio Marcelino Nunes Gonçalves, ao chefe de polícia, 11 de março de 1861.

89 BR.CEAPEC.GP.CP.CORE. 103C (1866), Caixa 26. Aviso do ministro da justiça, José Thomaz Nabuco de Araújo, ao presidente da província do Ceará, Francisco inácio Marcondes Homem de Mello, 13 de junho de 1866.

90 BR.CEAPEC.GP.CP.CORE 50 (1859), Caixa 19. Ofício do presidente da província do Ceará João Silveira de Souza, ao chefe de polícia, 15 de julho de 1859.

91 BR.CEAPEC.GP.CP.CORE 61 (1857), Caixa 21. Ofício do delegado de polícia da cidade de Granja, ao chefe de polícia da província do Ceará, Abílio José Tavares da Silva, 08 de agosto de 1857.

que dera logar a um pequeno conflicto. – Acrescentou o vice consul que sabia terem- se dirigido os navios, um para Goyanna, em Pernmco., outro para Macau , Ro. Grande do Norte, e o terceiro para Pipa na mesma Prova.92

A notícia logo se espalhou entre os representantes ingleses nos consulados de Pernambuco, Rio Grande do Norte e do Ceará, que, por sua vez, informaram aos governos locais. O presidente da Paraíba se opôs à denúncia e questionou diversos pontos do relato, uma das principais falhas seria “que o proprio vice-cônsul recebera a noticia 12 dias depois do facto, sendo que levou 15 dias a percorrer um espaço que se venceu em horas”.93 Mas, mesmo

assim, mandou averiguar o fato, e mandou comunicar aos chefes de polícia de Pernambuco e do Rio Grande do Norte. Apesar da tentativa de apurar os fatos, as autoridades brasileiras não acreditavam no relato do vice-cônsul inglês e buscavam apontar falhas e as incoerências.

O vice-cônsul inglês do Ceará, ao informar ao governo da província sobre o ocorrido na Paraíba, disse que tinha “motivos muito fortes para suppor que se tenta fazer hum desembarque de africanos entre esta Provincia e a do Rio Grande do Norte”. Além disso, acrescentou “que mais dois navios desse odiozo trafico se auzentarão ha poucos dias das agoas da Paraíba e segundo se suppõe, hum com destino ao lugar denominado Pipa, - e outro a Macão”.94 A versão apresentada pelo vice-cônsul foi modificada na intenção de convencer o

chefe do executivo a expedir ordens para obstar qualquer desembarque de africanos. O governo requisitou ao presidente do Maranhão que mandasse um ou mais navios para patrulhar o litoral da província e o do Rio Grande do Norte. Do Maranhão partiu o brigue Xingú. Ao “bater” a costa o comandante informou ao governo cearense que “não encontrara o menor indicio da supposta tentativa”.95

A documentação gerada pela denúncia mostrou a intensa movimentação das autoridades para investigar se os fatos relatados eram realmente verídicos. Os ingleses, com informações “privilegiadas” pressionavam as autoridades a averiguar qualquer indício, suposição, ou até mesmo um boato, a respeito do desembarque de africanos no litoral brasileiro. Apesar da vigilância, os agentes do “odiozo trafico” ainda conseguiam formas de burlar a repressão.

92 AN. Série: Justiça – Africanos. IJ6 522. Ofício do presidente da província da Paraíba, Antonio da Costa Pinto Silva, ao ministro da justiça, José Thomaz Nabuco de Araujo, s/n, 26 de julho de 1856.

93 Idem. Ibidem.

94 AN. Série: Justiça. Ofício do presidente da província do Ceará, Francisco Xavier Paes Barreto, ao ministro da justiça, José Thomaz Nabuco de Araujo, s/n, 09 de agosto de 1856.

Para levar adiante a política de vigilância, o ministro da justiça, José Ildefonso de Sousa Ramos, recomendou em 29 de maio de 1852 que tornasse público nos lugares da costa do Ceará onde “facilmente se possa verificar algum desembarque de Africanos” que os habitantes do litoral teriam direito aos mesmos prêmios concedidos aos que apreendiam africanos no mar.96

Além disso, passou a disponibilizar recursos financeiros. Em 05 de agosto de 1853, o ministro da justiça, Luis Antonio Barbosa, informou ao presidente do Ceará, que havia “a quantia de dois contos de reis, para despesas secretas de policia”. A recomendação era que se da quantia fosse preciso gastar alguma soma para obstar o contrabando, “VExa.

deverá ordenar que semelhante despesa se escripture em separado, communicando-me immediatamente para se indenizar a verba de “policia” pela ‘repressão do trafico de africanos’”.97

Não se percebeu movimentação na província do Ceará para efetivar as ordens do ministro da justiça. É possível que a apreensão de 162 africanos em Serinhaém, em Pernambuco, em outubro de 1855, tenha mudado o panorama. Segundo participação do ministro da justiça, “esse facto [desembarque de africanos] não é isolado, exigem da parte das autoridades do litoral todo zelo na repressão ao trafico”.98 O caso do desembarque de

Serinhaém foi bastante notório pelo envolvimento e conivência de algumas autoridades locais com o tráfico e a proteção dada ao capitão e a sua tripulação, que se evadiram das mãos da justiça.99 Por causa disso, o ministro aconselhou ao presidente do Ceará, a importância de

despertar a “vigilancia das ditas autoridades, devendo substituir aquellas que não inspirarem confiança, e forem suspeitas de conivência ou negligência”.100

Em 24 de setembro de 1857, o presidente da província, João Silveira de Sousa, comunicou ao chefe de polícia o desejo de empregar em alguns pontos do litoral, “onde se possa receiar qual quer desembarque de Africanos”, agentes que informassem tudo a este

96 AN. Série: Justiça – Gabinete do Ministro. Correspondência dos Ministros da Justiça com os Presidentes da Província do Ceará, 1852-1853, IJ1 265. Ofício do presidente da província do Ceará, Joaquim Marcos de Almeida Rego, ao ministro da justiça, José Ildefonso de Sousa Ramos, n° 56, 29 de maio de 1852.

97 APEC. Fundo: Ministérios. Livro de Registros do Ministério da Justiça aos Presidentes do Ceará, n° 42, 1850-1853. Aviso do ministro da justiça, Luis Antonio Barbosa, ao presidente da província do Ceará, Joaquim