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Como nascem os gatekeepers

No documento O SECRETÁRIO EXECUTIVO COMO (páginas 104-109)

2.4 CONTRIBUIÇÕES DA LITERATURA SOBRE O GATEKEEPER

2.4.3 Como nascem os gatekeepers

Foi mencionado anteriormente que diversos autores (ZIPF, 1949; ALLEN, 1969; KRACKHARDT e HANSON, 1997; WURMAN, 2003; COLEN et al, 2004; LU, 2007) asseguram que, por confiarem em recursos pessoais de informação, as pessoas optam por adquirir informação principalmente por meio de pontos estratégicos em grupos primários.

Lu (2007, p. 109) explorou como os gatekeepers se originam, abordando os seus tipos geralmente identificados e as suas características comuns. Para proceder a essa análise, o referido autor utilizou as tipologias de líderes de opinião, defendidas por Katz e Lazarsfeld (1965). Quando se recorreu às fontes originais no intuito de expandir o entendimento sobre o assunto, constatou-se que esses autores utilizaram inicialmente o termo ‘líderes moleculares’ para designação dessa classe, o qual foi posteriormente alterado para ‘líderes de opinião’.

O conceito inicial adotado por Katz e Lazarsfeld (1965) para a categoria, como já anteriormente mencionado, dizia respeito a pessoas que são influentes em suas comunidades e que são capazes de mudar as decisões ou de influenciar outras pessoas no seu ambiente imediato. Para eles, as tipologias de líderes de opinião apresentavam as seguintes categorias: nomeados, socialmente posicionados, e culturalmente certificados.

O esquema adotado por esses autores para os líderes de opinião foi aplicado por Lu (2007) para classificar os gatekeepers. Lu (p. 110) defende que as duas classes são altamente comparáveis, embora não equivalentes, por adquirirem o seu status através da acumulação e da familiarização com informação privilegiada, desenvolverem atividades que consistem em filtrar e transmitir informações e por contarem com estruturas de comunidade e condições sociais semelhantes. A principal diferença entre o líder de opinião e o seu seguidor, assegura o autor, é que o primeiro utiliza fontes de informação de mais alta qualidade, tem natural interesse em ler informação especializada e tem mais contatos com especialistas do que o segundo.

Parece especialmente apropriado expor as classificações e o resumo dos principais argumentos defendidos pelo autor mencionado – por considerá-las uniformes com o propósito deste trabalho – o que é feito nos parágrafos seguintes.

2.4.3.1 Gatekeepers culturalmente certificados

Convenções diferentes, práticas e normas culturais prevalecem em sociedades diferentes e têm tradicionalmente legitimado algumas pessoas como possuidoras de autoridade em transmitir certa informação. Katz e Lazarsfeld (1965, p. 115), afirmam que em algumas sociedades, uma mãe é normalmente o

gatekeeper (ao transferir segredos de arte culinária da família); o filho mais velho

também o é (ao retransmitir notícias da comunidade à família). Tais indivíduos se tornaram gatekeepers não em virtude da sua expertise ou posse de recursos de informação, mas porque a cultura os elevou.

2.4.3.2 Gatekeepers nomeados

Com o passar do tempo algumas pessoas com quem se convive são identificadas como gatekeepers em um grupo ou comunidade. Tais pessoas são mais familiarizadas com os recursos de informação em certos assuntos e gostam de interagir com os colegas para discutir coisas devido à sua expertise e envolvimento ativo nos eventos atuais ou problemas. Este tipo de gatekeeper também pode emergir fora da interação com membros do grupo em uma determinada situação.

Esse tipo de gatekeepers, entendidos por Lu (2007) como ‘nomeados’ possuem uma classificação mais complexa, dividindo-se em dois tipos distintos.

2.4.3.2.1 Gatekeepers nomeados em um contexto cultural

Dentre os estudos sobre o assunto, destaca-se especialmente a pesquisa desenvolvida por Metoyer-Duran (1993), que analisou estudos relativos a pesquisas de gatekeeping em Ciências da Saúde, Educação, Ciência e Tecnologia, Estudos em Comunicação, Jornalismo e Ciência da Informação. O autor comparou o comportamento de busca de informação dos gatekeepers e diferenciou o gatekeeper informal do formal, o nomeado e o socialmente posicionado.

Foram identificados todos os gatekeepers informais nos seus dados por meio de referências e recomendações dos residentes de comunidade locais e dos meios de comunicação de massa. Gatekeepers formais são normalmente mais diligentes e efetivos que os informais. Os dados empíricos seguintes verificaram o processo social através do qual surge o gatekeeper informal: reconhecimento e nomeação por membros do grupo.

Crianças compõem um grupo especial de gatekeepers nomeados em comunidades de etnolinguística devido à sua alfabetização no idioma do país anfitrião. Investigadores observaram que essas crianças imigrantes não apenas

retransmitem, mas mediam informação, isto é, eles não dão necessariamente todas as informações, palavra por palavra como um tradutor, mas seletivamente transmitem informação aos seus pais e parentes de língua inglesa limitada, por causa de eficiência e claridade (LU, 2007, p. 112).

Algumas características comuns dos gatekeepers nomeados no contexto cultural:

a) ter educação relativamente superior ou mais alta alfabetização de idioma; b) ser principalmente multilíngue e multiliterato (em um ambiente transversal-

cultural);

c) ter maior participação social, especialmente, na comunidade local; d) ser gregário, conhecido, e admirado na comunidade;

e) ter maior exposição a tipos diferentes de recursos de informação.

2.4.3.2.2 Gatekeepers nomeados em ciência e tecnologia

Allen (1969) constatou que a rede pessoal é o canal preferido pela maioria dos engenheiros nas organizações estudadas e identificou os gatekeepers tecnológicos como a chave para o fluxo de informação em laboratórios de P&D.

Tushman e Katz (1980) examinaram o mecanismo e efetividade da transferência de informação informal e as suas relações para aumentar o desempenho, concluindo que os gatekeepers não apenas transmitem informação de fontes externas, mas também incentivam os seus pares a utilizarem estes recursos.

Gatekeepers tecnológicos devem ser:

a) mais experientes, tendo trabalhado muito tempo e em uma variedade de colocações;

b) profissionalmente mais ativos, lendo mais livros e jornais, assistindo mais conferências e seminários, e se afiliando com mais associações,

c) consistentes e efetivos em manter redes externas.

A maioria dos gatekeepers nomeados não ocupa nível mais alto ou posições administrativas nas organizações (ALLEN e COHEN, 1969). Os autores inclusive sugerem que estes gatekeepers não ocupem posições administrativas para poderem se dedicar com afinco à transmissão de informação.

Para Lu (2007, p. 112-113) estes exemplos, e muitos outros constantes de sua revisão bibliográfica, fornecem evidência da existência de gatekeepers nomeados, e a pesquisa também indica que o posicionamento social dos

gatekeepers coexiste com a dos nomeados. Para o autor, muitos gatekeepers

nomeados são frequentemente transformados em socialmente posicionados com o tempo; enquanto alguns socialmente posicionados também têm as características dos nomeados, ou seja, incentivo próprio para dominar recursos de informação e unir a outras pessoas.

Prosseguindo com a exposição da análise de Lu (2007, p. 113-114), a seguir é apresentada a terceira categorização das tipologias de líderes de opinião aplicada aos gatekeepers.

2.4.3.3 Gatekeepers socialmente posicionados

Socialmente ou estruturalmente posicionados, os gatekeepers são pessoas que, em virtude da sua locação estrutural em um grupo, têm maior acesso a todos os elementos pertinentes a certos assuntos.

Elas se tornam gatekeeper porque as pessoas frequentemente os procuram para consulta. Tal categoria também se subdivide, tomando por base o contexto cultural e social.

2.4.3.3.1 Gatekeepers socialmente posicionados em um contexto cultural

Kurtz (1968, apud Barzilai-Nahon, 2009)8 estudou o processo de aculturação

de uma população espanhola, emigrante de áreas rurais para um ambiente urbano, constatando a confiança dos recém-chegados nos gatekeepers, pelo seu acesso a recursos que eles precisavam no novo cenário urbano.

O autor assegura que a maioria dos gatekeepers identificados na amostra se tornou assim devido às suas posições publicamente sustentadas: um grupo deles era de empregados públicos cujos deveres oficiais eram ajudar as pessoas em necessidade, outro era de pessoas afiliadas a igrejas locais onde suas posições lhes proporcionaram um contexto social para gatekeeping. O terceiro tipo era composto

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por políticos bem sucedidos da região e o quarto tipo era formado por pessoas que tinham poder político na comunidade local.

Foi através das suas posições sociais que os gatekeepers adquiriram a vantagem de possuir recursos de informação enquanto outros não puderam conseguir isso, e essas posições, entretanto, os obrigava a servir as pessoas, conclui o mesmo autor.

Os gatekeepers culturais socialmente posicionados emergem também como os exemplos de gatekeepers nomeados. Todos os dados ilustram que posições socialmente estratégicas em um grupo podem dotar indivíduos com acesso imediato a recursos não disponíveis. Por outro lado, se estes indivíduos estiverem dispostos a unir estes recursos para agrupar os membros, eles se tornam gatekeepers socialmente posicionados.

3.4.3.3.2 Gatekeepers tecnológicos socialmente posicionados

Foram encontrados gatekeepers tecnológicos socialmente posicionados nas pesquisas descritas anteriormente (ALLEN e COHEN, 1969; TUSHMAN e KATZ, 1980).

Nochur e Allen (1992) estudaram gatekeepers que ocupam posição formal e, ao contrário da análise de Metoyer-Duran (1993) que considerou os gatekeepers culturais posicionados socialmente como mais eficientes e diligentes que os

gatekeepers nomeados, concluíram que os gatekeepers socialmente posicionados

são menos influentes e persuasivos porque eles não mantêm as conexões extensas com os colegas na mesma medida com que os gatekeepers nomeados o fazem.

No documento O SECRETÁRIO EXECUTIVO COMO (páginas 104-109)