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Como se produz morte em nome da defesa da vida

Alexandra Maria Campelo Ximendes1

Carolina dos Reis2

Rafael Wolski3

Sobre algumas verdades interessadas

O cenário noturno de uma grande cidade proporciona cenas que, muitas vezes, deixam mais do que apenas vestígios para aqueles que circulam por suas vias após a alvorada. Naquela noite algo do mesmo produzia a diferença que estava por vir. Não era a agitação da popula- ção embaixo dos viadutos que conversava no entorno da fogueira im- provisada, compartilhando histórias, alimento e também substâncias psicoativas lícitas e/ou ilícitas. Tampouco eram os frequentadores dos bares noturnos que estendiam a euforia da celebração para o meio da rua. Muito menos aqueles que tentavam dormir embaixo das marqui- ses, testemunhando em silêncio os acontecimentos noturnos que, se contassem, muitos duvidariam.

Naquela noite os trabalhadores que montam outdoor colavam os cartazes apressadamente. Era verão e o dia estava a clarear, trazendo

1 Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional da Universi- dade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS e Conselheira na Gestão Composição no Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul – CRPRS. Presidente na Comissão de Políticas Pú- blicas do CRPRS.

2 Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional da UFRGS. Assessora de Políticas Públicas no Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas - CREPOP do CRPRS.

3 Mestre em Psicologia Social e Institucional pela UFRGS. Conselheiro na Gestão Composição do CRPRS. Presidente na Comissão de Direitos Humanos do CRPRS entre 2012 e 2013.

consigo outra cidade que ainda dormia. Os fragmentos da imagem que comporia o outdoor eram colados um a um, atualizando a publicidade estampada em via pública, atingindo um contingente diverso de con- sumidores. Qual produto seria ofertado naquele espaço publicitário?

Naquela manhã a população da cidade de Porto Alegre visualizou uma nova campanha. Em diversos pontos da metrópole a propaganda com o slogan “Crack Nem Pensar” estava disponível para o consumo, pro- duzindo um novo consumidor. A pauta já era diária na versão impressa e televisiva da maior rede de comunicação do estado. A campanha ganha às ruas, produzindo também subjetividades na população que não assiste ao noticiário ou sequer compra jornal. A mídia comprova, mais uma vez, que aquilo que é repetido exaustivamente, torna-se verdade.

A campanha massiva rendeu diversos prêmios publicitários ao idea- lizador e ao veículo de comunicação. Em audiência pública na OAB do Rio Grande do Sul, o idealizador da campanha fala da gênese da peça publicitária: surgiu após uma pesquisa de opinião pública dos assinan- tes do jornal, que consistia em uma pergunta sobre qual droga seria mais prejudicial para população gaúcha. O premiado jornalista conta que a principal droga apontada pelos gaúchos como prejudicial foi o álcool, em segundo lugar ficou o crack. Já que realizar uma campanha para prevenir o uso do álcool iria confrontar diretamente os patroci- nadores da rede de comunicação da qual fazia parte, optou por realizar uma campanha contra o uso do Crack, confessa o jornalista de destaque. No outdoor, a imagem dos modelos maquiados para parecerem zumbis (fotografados em cenário cinzento e decadente, somados a fra- ses do tipo: “experimentar a sensação de bater em sua mãe? Crack Nem Pensar”) ganhavam proporções grandiosas, comparadas as páginas in- teiras do jornal ou mesmo a propaganda televisiva. A publicidade a ser consumida na cidade era atualizada, assim como também atualizava o estigma dos usuários de substâncias psicoativas, das quais o consu- mo era proibido por lei. Produzia-se um novo discurso de verdade, um novo pânico social.

A serviço de quais interesses a garantia de direitos humanos é pau- tada na atualidade?

No mesmo ano da campanha contra o Crack, protagonizada pela maior rede de comunicação do estado do Rio Grande do Sul, a Secre- taria da Saúde do governo do estado aprova o credenciamento das co- munidades terapêuticas com financiamento público, como resposta ao apelo social e midiático à questão. O financiamento público é destinado para cada usuário internado, fixado no valor de R$ 1.000,00 por mês, durante o prazo máximo de seis meses. Houve o credenciamento de aproximadamente 300 Comunidades Terapêuticas no estado. De acor- do com Fossi (2013), instituições – na sua maioria – de caráter con- fessional, ou seja, vinculadas a alguma religião, afastadas dos centros urbanos e tendo como proposta terapêutica a religiosidade, o trabalho e a disciplina, em regime fechado de internação. Rapidamente os muni- cípios ampliaram o encaminhamento dos usuários de Crack para estes locais afastados. A terapêutica consiste em abstinência e ascensão espi- ritual para aqueles que perambulam pelas ruas, vistos como os zumbis estampados nos outdoors.

O afastamento do convívio social dos ditos anormais como “prática terapêutica”, não é novidade na história da humanidade (FOUCAULT, 2001). O discurso que tem como base a associação direta o uso de uma substância à uma “epidemia” em saúde se espalha pelas cidades, pressiona a emergência de soluções como a internação compulsória. O ex-secretá- rio de saúde do estado à época da campanha publicitária vira, posterior- mente, deputado federal. Pauta no legislativo federal o projeto de lei que classifica as substâncias de acordo com “a capacidade da droga em causar dependência, apresentando, no mínimo, uma escala com três categorias: baixa, média e alta” (TERRA, 2010). Propõe em seu texto a valorização de parcerias com instituições religiosas e serviços do terceiro setor na abor- dagem das questões da sexualidade e uso das drogas, assim como destaca a internação compulsória como medida emergente.

A ideia de epidemia toma conta do país, os locais de uso de subs- tâncias ganham visibilidade na mídia. Nasce o termo “cracolândia” para designar estes locais. Na lógica punitiva, com o debate acirrado acer- ca da internação compulsória, duas ações do poder público adquirem destaque nacional. Os mutirões de compulsórias nas “cracolândias” nas

cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, com equipes compostas por po- liciais, trabalhadores da saúde, da assistência social e os missionários religiosos realizavam o que era chamado de “acolhimento”. Em todos os cantos do país se assistem, em imagens reproduzidas em tempo real pela rede televisiva, as cenas do corre-corre. Inclusive em ângulos filma- dos a partir de helicópteros, mostravam que o “acolhimento” mais pa- reciam perseguições, capturas em massa. O termo utilizado para desig- nar aqueles vistos como zumbis é noia. Para muitos, os noias enfeiam e desvalorizam determinadas áreas das cidades que, em breve, receberão os turistas e jornalistas do mundo todo para apreciar a copa do mundo. Em nível nacional, o governo federal lança o projeto “Crack é Possível Vencer”, o credenciamento e financiamento público das comunidades te- rapêuticas tem agora recursos do Ministério da Saúde. A limpeza urbana fica evidente nas ações nas “cracolândias”. O projeto de lei da internação compulsória como indicativo de tratamento em saúde ganha adeptos no legislativo de municípios grandes e pequenos. Multiplica-se através de vereadores que pautam nos âmbitos da suas cidades para dar conta da chamada epidemia. O aumento das internações e do reforço da guerra as drogas, tem como efeito a construção de políticas públicas e mudanças nas legislações, legitimado pela demanda social de reforço punitivo.

Ao mesmo tempo em que o debate neste âmbito se acirra, crescem os posicionamentos e organizações em torno da defesa de um cuidado em liberdade, de uma atenção em saúde por equipes interdisciplinares, da solicitação de aumento de CAPS AD para possibilitar o acesso dos usuários de álcool e outras drogas nestes serviços, do reforço da utili- zação da estratégia da Redução de Danos como princípio de cuidado aos usuários. Esses posicionamentos vêm, principalmente, por via da militância pela reforma psiquiátrica, com a prerrogativa de que “tratar não é prender”.

O cenário político e social nacional em torno do uso de substân- cias psicoativas nos mostram duas grandes visões em debate: se por um lado temos aqueles que vão afirmar que essas medidas punitivas e de “cuidado” via internação são uma forma de defesa da vida e do direito à saúde, por outro lado, temos aqueles que defendem a garantia do direito

à liberdade, autonomia e de diminuição do Estado Penal e que decla- ram a falência do modelo da guerra às drogas. Diante disso, as questões que colocamos são: como é possível que, em nome da defesa da vida e dos direitos humanos, sejam realizadas ações autoritárias e promotoras de agravamento das condições de vulnerabilidade dos usuários de dro- gas, tais como os recolhimentos compulsórios (REIS, 2012) e a política de guerra as drogas (CID, 2013)? Ainda: o que leva os interesses econômicos, religiosos, políticos e sociais vinculados às políticas sobre drogas a se arti- cular em prol da construção dessas políticas punitivas?

Produção do medo como forma de governabilidade

Para que possamos compreender como se dá a inversão dos discur- sos protecionistas em práticas vulnerabilizantes, precisamos colocar em análise esse discurso que opera em nome da garantia de direitos huma- nos e evidenciar os modos como as lutas em torno da garantia de direi- tos vão sendo capturadas, constituindo-se como estratégias de governo dessa população de usuários de drogas. Para tanto, iniciamos analisando como se torna aceitável, na contemporaneidade, a implementação dessas tecnologias de governo. Nesse sentido, evidenciamos que é a acoplagem da imagem dos usuários de drogas à violência, fortemente afirmada nas campanhas midiáticas, que vai favorecer a disseminação de sentimentos de insegurança junto à população, consolidando a ideia de que esta é uma população potencialmente perigosa ao país. É nessa proliferação do dis- curso do medo que se vê a emergência da demanda de novos dispositivos de regulamentação biopolítica (SPOSITO, 2007). Para Foucault, (2008) é essa estratégia que coloca em ação a produção de algo que ele denominou como mecanismos de segurança contra determinados grupos populacio- nais. Esses mecanismos constituem-se como ações de governo orientadas para a proteção da sociedade frente às condutas consideradas desviantes, daqueles que ousam insurgir-se contra a sua ordem. Não se referem ape- nas a instituições como a polícia, mas a todas as instituições e funções sociais ramificada em diferentes pontos da sociedade que servem para assegurar o cumprimento dos regulamentos e o funcionamento dos po- deres do Estado (OLIVEIRA, 2009).

Nesse sentido, evidencia-se que o que tem servido de fundamento para o fortalecimento desse processo de governo das condutas de usuá- rios de drogas, através de ferramentas como a internação compulsória, e para adoção de práticas de extermínio como a guerra as drogas, é o aumento da demanda social por segurança. A segurança tem se consti- tuído como um eixo organizador da vida política desde a estruturação da vida coletiva do homem em torno da polis até contemporaneamen- te, produzindo efeitos na distribuição dos espaços urbanos, nos modos como nos vestimos; como circulamos no dia a dia das cidades, como nos relacionamos com outros, ou mesmo na forma como elegemos nos- sos representantes políticos.

Se pensarmos nas análises a respeito dos motivos que levam os ho- mens a se organizarem coletivamente em torno de estruturas como o Estado, identificaremos que estas têm como eixo central a segurança. As teorias contratualistas, protagonizadas por pensadores como Hob- bes, Rousseau e Locke, partem da análise sobre o que seria o “estado de natureza do homem”, afirmando-o como intrinsecamente violento. Isto significa pensar que sem mecanismos de controle, os homens ficariam entregues à barbárie e ao caos social. Seria por oposição a isso que os homens aceitariam aderir ao contrato social (BOBBIO, 2004). Neste os sujeitos abrem mão de algumas liberdades individuais em nome de um poder centralizado que assegure proteção e ordem. O Estado seria esse órgão central de controle que, por meio da violência legítima que lhe foi concedida pelos indivíduos, impõe-se frente às formas de violência exercidas por entes privados.

O que passa a ser naturalizado nessas teorias acerca do controle so- cial, por exemplo, é a existência de uma demanda de ordem social e da necessidade de sua defesa. Entretanto, como apontado por Reishoffer e Bicalho (2009), é preciso questionar: de qual ordem estamos falando, em quais momentos históricos e vinculada a quais saberes? Em sinto- nia com essa afirmação, de que precisamos problematizar determina- das noções de ordem social, Coimbra, Lobo e Nascimento (2008, p. 93) atentam para o fato de que:

O surgimento de uma concepção do humano e da universali- zação dos direitos não se deu da forma grandiosa e afirmativa como nos querem fazer acreditar as revoluções burguesas e suas declarações. Naquele mesmo período, no século XVII, foi neces- sário dar visibilidade científica ao chamado indivíduo perigoso, através do saber médico e da reforma das práticas de punição, para que uma nova forma de ordenação social pudesse se man- ter: a normalização das populações.

Isto permite que se desmistifique a ideia de que qualquer ordem so- cial seria natural. Ainda, possibilita que pensemos como essas noções de ordem social articulam-se aos mecanismos biopolíticos de controle das condutas individuais e coletivas. É preciso reinscrever os discursos que atravessam o campo da atenção aos usuários de drogas no escopo político dos quais são supostamente afastados pelas máscaras da ciên- cia, da tecnicidade e do humanismo. Essas políticas de “proteção e cui- dado” precisam ser compreendidas no interior de uma razão de Estado.

Isto nos auxilia, inclusive, a problematizar essa oposição entre a bar- bárie e a civilização, supostamente garantida pelos Direitos Humanos. Permite que levantemos questões como: se, de fato, a positivação dos Di- reitos Humanos pelas constituições estatais impõe a construção de políti- cas públicas que garantam a proteção à vida, como é possível explicar as ações violentas e vulnerabilizantes protagonizadas pelo Estado na atenção aos usuários de drogas? Ainda: como, em meio ao Estado democrático de direito, torna-se possível o desenvolvimento de políticas violadoras de di- reitos? Como afirmamos anteriormente, para nos aproximarmos dessas questões é preciso colocar em análise a própria construção dos Direitos Humanos, evidenciando-os não somente como uma ferramenta de con- tra-poder4, mas como algo que também opera modos de governamento.

Em seu curso intitulado “O Nascimento da Biopolítica”, Foucault (2008b) analisa a forma como essa racionalidade de governo, que ope- ra através de tecnologias biopolíticas, emerge, em parte, impulsionada pelo desenvolvimento dos ideais liberais no século XVIII. A necessida-

de de expansão dos mercados impunha uma demanda de restrição das intervenções do Estado no sistema econômico. Neste mesmo período, o crescimento populacional tornava necessário o desenvolvimento de tecnologias de governo que dessem conta de administrar não somen- te os sujeitos individuais, mas esse conjunto da população. Para que esse modelo de governo produzisse efeito no conjunto da população era preciso que os sujeitos fossem livres para gerir suas condutas. Nesse sentido, os mecanismos de governo biopolíticos vão atuar como ações sobre ações, de forma cada vez menos coercitiva, permitindo o aumen- to da autonomia da população, respondendo também a demanda de produção de sujeitos livres para atuarem no jogo de mercado (GUA- RESCHI; LARA; ADEGAS, 2010).

A primeira declaração de direitos, a Declaração Universal dos Direi- tos do Homem e do Cidadão, de 1789, emerge articulada a essa neces- sidade de restrição dos poderes soberanos. A primeira declaração bus- cava a proteção dos cidadãos em relação às violências produzidas pelos Estados ditatoriais e totalitários, afirmando o direito à integridade, se- gurança e às diversas formas de liberdade. A formulação desses direitos, ainda que atrelada a um processo de lutas sociais contra os excessos dos governos absolutistas, é também o que vai ancorar o desenvolvimento dos Estados modernos e do capitalismo.

Norberto Bobbio (2004) analisa a íntima relação entre as afirma- ções de Direitos Humanos e o desenvolvimento de uma concepção individualista. Para ele, o que ocorre na primeira declaração de direi- tos é uma inversão que coloca o indivíduo como anterior ao Estado. Segundo referido no texto da própria declaração: “A conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem é o objetivo de toda as- sociação política” (DDHC, 1789). Nesta inversão, a finalidade do Es- tado estaria vinculada ao crescimento dos indivíduos e a ampliação de sua autonomia. Para o autor, o individualismo estaria também na base do ideal democrático, uma vez que todos os sujeitos são livres para tomar as decisões que lhes dizem respeito. Não se tem um olhar para o todo, pois o interesse coletivo é representado pela soma dos interesses individuais.

Embora a segunda Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, tenha tido como foco a afirmação dos direitos econômicos e sociais, como a saúde, educação, assistência social, trabalho, moradia, entre outros, em uma oposição clara as mazelas produzidas pelo ca- pitalismo, seus efeitos não podem ser analisados senão dentro de uma lógica de mercado e em interface com essa perspectiva individualista. Ao buscar garantir a melhoria das condições de vida da população, essa segunda declaração vai impulsionar o desenvolvimento de políticas pú- blicas que terão como foco o desenvolvimento da autonomia, traduzi- da, na grande maioria das vezes, como a possibilidade de sobrevivên- cia dos indivíduos dentro do jogo de mercado (GUARESCHI; LARA; ADEGAS, 2010). Logo, ao analisarmos os movimentos de defesa dos Direitos Humanos e a construção de políticas públicas, precisamos es- tar atentos para os jogos de interesse que estão articulados a elas.

Ao listarmos rapidamente alguns dos interesses que estão em jogo em torno da internação compulsória de usuários de drogas temos:as comunidades terapêuticas e os hospitais privados, que recebem verbas governamentais para atender casos que não conseguem ser absorvidos pela rede pública de saúde; o aumento do valor pago pelo leito de in- ternação para usuários de drogas como um incentivo aos hospitais, que precisam adaptar-se a essa demanda; as indústrias farmacêuticas, que vendem drogas que auxiliam na abstinência de outras drogas; a forma- ção médica envelhecida e enrijecida frente às mudanças nas práticas de saúde que apontam para uma saúde coletiva, retirando a primazia desse campo de saber; os grandes centros de pesquisa, que não disfar- çam seu desejo de transformar os ainda restantes hospitais psiquiátri- cos e seus pacientes em objetos de estudo; os familiares de usuários de drogas, cansados do convívio diário com as situações de violência que são associadas ao uso; as escolas impotentes em relação à sua função forma(tiza)dora; as grandes mídias, que ganham audiência através da midiatização do sofrimento transformado em tragédia; os ditos “cida- dãos de bem”, que não teriam nada a ver com isso, não fosse pelo fato de se sentirem importunados por usuários de drogas que vêm lhes pedir dinheiro, assaltar, “sujar as ruas por onde passam”; os candidatos a car- gos públicos, que com medidas populistas adquirem destaque entre os

eleitores;e não nos esqueçamos dos próprios usuários de drogas, quan- do se tornam sujeitos desse discurso de impotência frente a droga.

Então, se por um lado é esse contrato social, representado pelas ga- rantias constitucionais dos Estados-Nação, que proporciona a possibili- dade de efetivação dos Direitos Humanos, por outro lado, é esse mesmo mecanismo que dá abertura e legitimidade para que esses interesses se articulem a ações de governo do Estado de uso e práticas autoritárias, que embora operem em nome da defesa da vida, estão imersas em jogos políticos e econômicos.

As mortes de quem são necessárias para proteger as vidas de outrem? Nesse sentido, trazemos aqui a questão dos excessos do biopoder