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Complexo Vulcânico Principal (CP)

FASE EMERGENTE

II.2.4 Complexo Vulcânico Principal (CP)

Trata-se do complexo vulcânico que ocupa, quer em área, quer em volume, a maior parte emersa da ilha. A sua formação prolongou-se por um longo período de tempo.

Foi possível distinguir duas séries correspondentes a fases eruptivas diferentes, designadas por série superior e série inferior. Se, nalgumas áreas, é possível pô- las em evidência, noutras esse contacto dilui-se.

As rochas deste complexo são as responsáveis pelas maiores altitudes actuais, assim como pelas plataformas estruturais, que ainda hoje se encontram na ilha. Dentro da designação de Complexo Principal inferior incluem-se as primeiras erupções deste complexo caracterizadas por alternância de materiais explosivos e efusivos, representados por grandes cones de piroclastos e escoadas espessas e extensas designadas por mantos, que se encontram, desde medianamente alterados a muito alterados, com os piroclastos, na maior parte das vezes, transformados em tufos. No Faial, há mantos do CP, bastante alterados, que fazem lembrar os do Complexo Antigo; estão, porém, por cima do Depósito Conglomerático-Brechóide. Na estrada que liga a vila da Ribeira Brava à Serra de Água, observa-se um grande cone de piroclastos, fossilizados por escoadas posteriores. Nele, uma vez que se encontra cortado ao meio, é possível ver a chaminé e a inclinação das camadas de bagacina.

Uma vez que a deposição do Depósito Conglomerático-Brechóide não terá sido suficiente para preencher todas as depressões existentes na superfície topográfica do Complexo Antigo, os derrames do CP inferior foram ainda ocupar algumas depressões, principalmente as periféricas, encontrando-se, por isso, em algumas zonas, bastante inclinado.

Torna-se, às vezes, muito difícil, quando o Depósito Conglomerático-Brechóide não está presente, distinguir o CP inferior do Complexo Antigo, principalmente quando este está pouco alterado. Os critérios de separação utilizados são: o estado de alteração, que por si só não basta; a inclinação das escoadas, já que o CP inferior em geral está menos inclinado do que o Complexo Antigo, e a morfologia. O Complexo Principal, na maioria dos casos, dá relevos mais íngremes do que os do Complexo Antigo.

Admite-se poder estar, em certos locais, a confundir a série inferior do CP com o Complexo Antigo.

O Complexo Principal inferior aflora na cabeceira da Ribeira de Santa Luzia, no Funchal, na Ponta do Pargo, Fajã da Ovelha, Paul do Mar, Jardim do Mar, até à Calheta, na Serra de Água, no Curral das Freiras, em Machico, na Fajã da Nogueira, etc..

O CP superior caracteriza-se por actividade essencialmente efusiva, de origem predominantemente fissural, que originou empilhamentos de espessos mantos, com alguns níveis de piroclastos intercalados, de pequena espessura e extensão. As escoadas desta série são sub-horizontais, inclinando suavemente para a periferia da ilha.

A separação entre a série inferior e a superior é essencialmente morfológica, apresentando, em geral, os derrames desta última escarpados mais íngremes do que a inferior, uma vez que é essencialmente constituída, como já referimos, por um empilhamento de mantos sub-horizontais. Verificam-se ainda algumas diferenças na inclinação das escoadas: maior no CP inferior do que no superior e, no tipo de materiais expelidos, aumento do vulcanismo efusivo e diminuição do explosivo, no CP mais recente.

Da série superior são os níveis freatomagmáticos e de pedra pomes que se encontram na costa sul da ilha, desde a Calheta até ao Funchal. Existem, pelo menos, dois níveis com espessuras diferentes conforme os locais. No Funchal,

por detrás da escola secundária Francisco Franco, existem níveis espessos de pedra pomes branca e também cinzenta, sob níveis freáticos. Ainda no Funchal, numa arriba, a leste do Forte de Santiago, há um conjunto de camadas de fluxo (freatomagmáticos) que estão sob uma escoada basáltica (Fotografia II.19). O topo do depósito encontra-se cozido por esta escoada, apresentando-se desagregado em prismas de 10 a 20 cm de altura, de cor vermelha, cor esta que vai desaparecendo em profundidade. Esta zona cozida, com cerca de 50 a 70 cm de espessura, é muito compacta e resistente ao martelo. No Areeiro, em São Martinho, os depósitos freatomagmáticos têm três níveis de pedra pomes intercalada, sendo a espessura máxima do depósito cerca de 5 m. Em São Gonçalo, onde se encontram intercalados em escoadas basálticas, os freatomagmáticos apresentam a espessura máxima conhecida, mais de 6 m.

Fotografia II.19- Arriba constituída por um conjunto de camadas de fluxo (freatomagmáticos) que estão sob uma escoada basáltica, provavelmente do Complexo Principal.

fossilizados pelas escoadas deste complexo, vários depósitos de ribeira e depósitos conglomeráticos-brechóides, resultantes da erosão durante as pausas da actividade vulcânica.

Na Ponta do Pargo, junto do farol, sobre uma série de mantos e alguns cones de piroclastos muito alterados, pertencentes à série inferior do CP, existe um depósito conglomerático brechóide pouco espesso e ocupando pequena área. Na estrada que liga a Encumeada ao Paul da Serra, encontra-se outro nível pouco espesso de um conglomerado-brechóide, do qual se desconhece a extensão. Este depósito é constituído por elementos de menores dimensões e matriz muito mais fina do que o Depósito Conglomerático-Brechóide anteriormente descrito. Ainda na mesma estrada, existe um depósito de vertente fossilizado por escoadas e cortado por um filão, único caso conhecido na ilha.

Existem, também, vários antigos depósitos de ribeira fossilizados por escoadas do Complexo Principal. Encontram-se, na Ribeira Brava, junto da foz, na margem esquerda, na cota 60 m, com mais de 8 m de espessura; no cutelo entre a Ribeira Brava e a Ribeira do Espigão, na Meia Légua, na cota 250 m; na foz da Ribeira de São Tiago, nos Canhas, na margem direita da ribeira, na cota 50 m (Fotografia II.20); na Ribeira de Santa Luzia, na Fundoa, na margem direita da ribeira, na cota 200 m.

O Complexo Principal aflora em toda a costa sul da ilha, desde a Ponta do Pargo até ao Caniçal; no maciço do Paul da Serra, constituindo a sua base, com uma espessura de cerca de 500 m; no topo da Penha de Águia, com uma espessura média de 300 m; nas vertentes do vale da Ribeira do Seixal, Ribeira de João Delgado e Ribeira do Inferno; na parte superior dos vales de São Vicente e Boaventura; em São Jorge; em Santana, nas zonas mais altas do Faial e São Roque do Faial e no Porto da Cruz, prolongando-se pela parte superior da arriba até W do Caniçal. Constitui ainda a parte superior dos picos do Maciço Central (Picos Ruivo, do Gato, Cidrão, Areeiro, etc.).

Fotografia II.20- Depósito de ribeira intercalado em escoadas do Complexo Principal, na Ribeira de S. Tiago.

Na Ponta de S. Lourenço, existem dois cones de piroclastos, contemporâneos desta fase, um situado junto do v.g. “Cancela” e o outro, a leste deste, no sítio da Ponta, os quais ainda mantêm a cratera conservada. Deles devem ter saído as

leste do Caniçal, junto do cruzamento para a Marconi”, de 1,62 e 1,72 Ma, respectivamente, o que as coloca no Complexo Principal superior.

Percorrendo, de barco, a costa, desde o Funchal até a Ponta do Pargo, pudemos constatar que todo o litoral é constituído por séries de escoadas e piroclastos intercalados, do CP. Há, também intercalados, alguns cones de piroclastos muito grandes, vendo-se, na arriba, só parte deles. Estão todos cortados por filões verticais ou subverticais. As arribas, em geral verticais, constituem paredões com muitas escoadas, algumas delas com muitas vindas, vendo-se, às vezes, filões com formação em soleira e níveis freatomagmáticos.

Uma das arribas, entre o Campanário e a Ribeira Brava, tem escoadas alternadas com piroclastos, cortados por filões, por sua vez cortados por uma falha inclinada cerca de 80º e, posteriormente, cortada por outro filão (Fotografia II.21).

Em alguns basaltos deste complexo, no Porto Moniz, por exemplo, verifica-se a presença de xenólitos mantélicos, o que, segundo Mata (1996), indica que aquelas lavas atingiram a superfície, sem passarem por câmaras magmáticas relativamente superficiais. Tais reservatórios, actuando como filtros hidráulicos, impedem que os xenólitos carreados pelos magmas em ascensão prossigam o seu trajecto para a superfície.

De acordo com Munhá et al., (1990), as várias espécies de xenólitos madeirenses (colhidos no Porto da Cruz, na Fonte da Pedra e em Gaula), subdividem-se em dois grupos: DWWC (dunito/websterito/werhlito/clinopiroxenito) e harzburgítico /herzolítico. Os primeiros, com textura típica de acumulação, foram interpretados como cumulados cristalizados, a cerca de 1150-1300 ºC, a partir dos magmas alcalinos madeirenses, em reservatórios localizados a cerca de 36-45 km de profundidade (12 a 15 kb), e os segundos, como testemunhos de litosfera oceânica variavelmente enriquecida durante os processos magmáticos associados à génese da Madeira, Mata (1996).

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