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COMPLEXO VULCÂNICO S ROQUE/PAUL (SRP) 6 EPISÓDIOS VULCÂNICOS RECENTES (VR)

II.1.3 Petrologia e Geoquímica

5- COMPLEXO VULCÂNICO S ROQUE/PAUL (SRP) 6 EPISÓDIOS VULCÂNICOS RECENTES (VR)

7- DEPÓSITOS DE VERTENTE (dv), FAJÃS (fj), QUEBRADAS (q), DEPÓSITOS DE ENXURRADA RECENTES (dr), AREIAS DE PRAIA (ap), DUNAS FÓSSEIS (df), TERRAÇOS (t), E ALUVIÕES (a)

II.2.1 Complexo Vulcânico Antigo (CA)

Para melhor compreensão do conceito de Complexo Antigo, teremos de atender ao crescimento de uma ilha vulcânica, onde os primeiros derrames acabam por ficar englobados no interior do cone, quando ele atinge grandes dimensões.

No caso concreto da Ilha da Madeira, um edifício vulcânico com um volume total de 9,2x103 km3 (parte emersa e imersa), dos quais apenas 0,4x103 km3 se encontram emersos, o que corresponde a 4,2% do volume total, Schmincke (1982), o Complexo Antigo compreende os afloramentos das rochas mais antigas da parte emersa, no actual nível de erosão da ilha.

Embora, actualmente, bastante destruído, o CA constitui ainda uma grande mancha que as mais profundas ribeiras e a abrasão marinha vão pondo a

descoberto, desde os 1600 m de altitude, nas zonas centrais da proto-ilha, até ao nível do mar. Aflora, a norte, nos vales da Ribeira da Janela, Ribeira de S. Vicente, na Ponta Delgada, na Ribeira do Porco, no Arco de S. Jorge, no Faial, nas Ribeiras Seca, da Metade e Ribeiro Frio, no Porto da Cruz, estendendo-se, pela costa, até ao Caniçal e Ponta de S. Lourenço. A sul, aflora no vale de Machico, dos Socorridos, da Ribeira Brava e da Ribeira da Ponta do Sol.

Nos vulcões em escudo, categoria na qual a Madeira se inclui, o crescimento não se faz apenas a expensas de uma única conduta, a chaminé principal, mas por grande número de condutas, principalmente, filões. No caso particular da Madeira, como sugere, não só a sua configuração - perímetro alongado e irregular e ausência de caldeira de subsidência ou de explosão - não oferece dúvidas a classificação.

No CA, uma vez que a quantidade de filões que cortam as formações mais antigas é tanto maior quanto mais intensa for a actividade vulcânica posterior, a densidade dos filões é tal que, muitas vezes, não é possível dizer se o conjunto é formado apenas por filões, ou se parte não corresponderá à rocha encaixante que ficou compreendida entre dois deles (Fotografia II.1). Com excepção dos relacionados com as actividades vulcânicas mais recentes, os filões contemporâneos do CA estão, em geral, bastante alterados, com cores cinzentas claras e também acastanhadas. Encontram-se muitas falhas a cortarem o CA, tendo-se instalado, em algumas delas, filões. As caixas de falha possuem, na maioria dos casos, material milonitizado.

Resultante de actividade subaérea, efusiva e explosiva, o CA é constituído por escoadas, cones e vastos campos de piroclastos, de todas as dimensões. Em certos locais, como no Maciço Central, verifica-se um claro predomínio da actividade explosiva, representada por espessos depósitos piroclásticos predominantemente grosseiros. Estes piroclastos encontram-se fortemente compactados e consolidados, designando-se por tufos. Estes materiais

vulcânicos, devido à forma como se depositam, apresentam-se inclinados, em contraste com os derrames dos complexos vulcânicos posteriores. Estão, como já se referiu, profusamente cortados por filões.

Fotografia II.1- Densidade de filões que atravessam o Complexo Antigo.

O vulcanitos submarinos têm expressão quase nula, quer no CA, quer nos complexos vulcânicos posteriores. Foi referida a sua existência por Alves e Forjaz (1991) e por A. Serralheiro (comunicação oral) na Baía de Abra. A sua quase ausência pode ficar a dever-se ao elevado grau de alteração em que se encontra a maior parte dos materiais aflorantes do CA e à erosão, principalmente marinha, como o recuo das arribas. Pode também suceder não se ter realmente depositado aquele tipo de materiais.

Os afloramentos de CA encontram-se desde sãos até profundamente alterados. De maneira geral, os afloramentos estão muito alterados em materiais argilosos, com comportamento semelhante ao das regiões de modelado argiloso, o que se

traduz pela rede hidrogáfica com interflúvios adoçados, com excepção dos protegidos por retalhos de mantos ou pelo Depósito Conglomerático-Brechóide. Na Fajã do Mar, no Faial, encontram-se separadas apenas por alguns metros, escoadas do CA em fase final de arenização a passar a argilificação, chegando-se a poder confundir com o CB (Fotografia II.2), quando bastante alterado, e outra, completamente sã, com apenas disjunção prismática bem desenvolvida (Fotografia II.3). Por este facto, o critério alteração é considerado secundário na separação das diferentes unidades, sendo fundamental o estratigráfico e também, apesar de menos importante, o morfológico.

Fotografia II.2- Escoadas pertencentes ao Complexo Antigo, profundamente alteradas, no Faial.

Do mesmo modo, bem conservadas encontram-se, no leito da Ribeira Seca, e no canal do norte, junto do Paredão, uma chaminé vulcânica e um filão chaminé, respectivamente, ambos contemporâneos do CA (Fotografias II.4 e II.5).

Fotografia II.3- Escoada pertencente ao Complexo Antigo, sã, com disjunção prismática, no Faial.

Tivemos oportunidade de observar o CA dentro de túneis rodoviários e hidráulicos em execução. As escoadas, de natureza basáltica, na maioria, mas também de natureza intermédia, em avaliação feita em amostra de mão, encontram-se desde pouco alteradas a muito alteradas, predominando estas últimas. Os piroclastos encontram-se bem consolidados. Todo o complexo se encontra profusamente atravessado por filões e falhas, nos quais, normalmente circula água.

Na parte inferior de certos vales, onde aflora o Complexo Antigo, em fase avançada de alteração, há tendência para a formação de vales em V, com inclinações suaves que contrastam com a parte superior dos mesmos, de perfil subvertical. São exemplos os vales de S. Vicente, dos Socorridos, de Machico e outros.

Fotografia II.4- Chaminé vulcânica contemporânea do CA, posta a descoberto, no leito da Ribeira Seca.

O Complexo Antigo está coberto, em grande parte, pelo Complexo Principal, apesar de estratigraficamente não ser a unidade que se lhe segue, pelo Depósito Conglomerático-Brechóide, menos frequentemente, por escoadas e cones de piroclastos do Complexo S. Roque/Paul e, pontualmente, pelos calcários recifais, nomeadamente no sítio dos Lameiros.

A erosão pôs a descoberto uma intrusão de rochas granulares que afloram no sítio do Massapez, na área da levada Nova, na cota 250 m, numa extensão de mais de 400 m. Um outro afloramento, provavelmente ainda não conhecido, foi encontrado no talvegue da Ribeira da Cruz da Guarda ou do Fundão, não tendo sido possível, devido à vegetação intensa, determinar a sua extensão.

Estes afloramentos representam os testemunhos da cristalização dos magmas alcalinos em bolsadas, no interior do edifício vulcânico. Dado que estão instalados no conjunto que forma o CA, poderão ser contemporâneos do final do Complexo Antigo ou da primeira fase do Complexo Principal.

As rochas granulares da Madeira foram descritas, entre outros, por Gagel. (1912) e Silva et al. (1975), tendo estes autores demonstrado estar-se em presença de litótipos, variando entre os gabros com feldspatóides e os essexitos (Figura II. 4). Nestes, segundo Mata (1996), são particularmente evidentes os efeitos de processos metassomáticos de alcalinização sódica e potássica, o que, tendo sido posto em evidência por observação em lâmina delgada, foi confirmado do ponto de vista químico.

As rochas do Complexo Antigo, que constituem a formação encaixante, encontram-se, naquela zona, profundamente alteradas, transformadas em argila, assim como a maior parte dos filões que o atravessam, o que leva a crer poderem ser contemporâneos desta fase.

Os gabros e essexitos encontram-se, também, bastante alterados, com zonas em fase de disjunção em bolas, arenização grosseira e zonas argilificadas. Apenas se encontram amostras sãs nos núcleos das bolas de disjunção (Fotografia II.6).

Estão intensamente cortados por filões basálticos, a maior parte deles bastante alterados, sendo, no entanto, ainda possível, em alguns, observar xenólitos de rochas granulares.

Figura II.4- Projecção das rochas granulares da Madeira no diagrama QAPF, extraído de Silva

et al. (1975).

Quanto à definição espacio-temporal do Complexo Antigo, deduz-se dos estudos de geocronologia absoluta que os vários autores realizaram sobre as rochas da Ilha da Madeira (veja-se Watkins e Abdel-Monem, 1971; Ferreira et al., 1975 e 1988; Feraud et al., 1984; Mata et al., 1995 e Mata, 1996), socorrendo-se, para o efeito, do método K-Ar.

A idade radiométrica mais antiga, 24,1 Ma (Ma, abreviatura de mega annum, significa milhões de anos), foi obtida por Forjaz (in Alves e Forjaz, 1991), em escoadas aflorando junto do farol da Ponta de S. Lourenço, integradas no que aquele autor designou por Complexo Vulcânico do Caniçal (> 20 Ma), a unidade mais antiga aflorando na Ilha da Madeira.

Fotografia II.6- Afloramento de rochas granulares, sendo visíveis as bolas de disjunção.

Todas as outras idades obtidas, e que se encontram sintetizadas na Figura II.5, são significativamente diferentes deste valor, aconselhando a sua singularidade a

uma certa prudência e à realização de mais datações isotópicas no referido local, de forma que possa, de modo indubitável, ser confirmado ou infirmado aquele valor (Mata, 1996).

Ferreira et al. (1998) dataram isotopicamente uma escoada, que, segundo estes autores, se encontra subjacente aos calcários dos Lameiros, tendo obtido o valor de 5,2 Ma. Note-se, contudo, que esta escoada não se posiciona nos níveis inferiores do Complexo Antigo, não sendo, portanto, de excluir que se venham a obter idades mais antigas para as rochas vulcânicas aflorantes na Madeira.

Com base nestes dados, poder-se-á, pois, considerar que o Complexo Antigo se terá desenvolvido entre >5,2 Ma e 24,1 Ma, talvez, até há 5,2 Ma.

0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5 5.0

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