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O componente político da avaliação

CAPÍTULO 2 A ADMINISTRAÇÃO DO SISTEMA DE ENSINO SUPERIOR NO

2.2 O componente político da avaliação

Pelas suas implicações, pelo público e interesses que envolve, o processo de avaliação tem um importante componente político (TOUSIGNANT, 1987, p. 72). Para que tal processo tenha efeito, é necessário não só que o trabalho seja tecnicamente bem feito, mas que seja considerado legítimo por parte significativa do sistema de ensino superior e da opinião

pública relevante. A legitimidade, por sua vez, repousa fortemente na identidade de quem procede a avaliação. Algumas alternativas à questão de "quem avalia?" são descritas e comentadas a seguir:

Auto-avaliação. Por este processo, são as próprias instituições de ensino superior que se avaliam. As vantagens deste procedimento são os níveis de participação e aprendizagem gerados no processo, e a grande legitimidade dos resultados entre os participantes. Por outro lado, esta abordagem tende a perder de vista um aspecto central de qualquer avaliação, ou seja, o estabelecimento de padrões externos de comparação.

A avaliação governamental. As vantagens são a disponibilidade de recursos e a autoridade de que os resultados são revestidos, de que goza a administração. A experiência demonstra, no entanto, que as informações de que dispõem as administrações dificilmente permitem conclusões satisfatórias sobre a qualidade dos cursos. Isto se deve, em parte, à abrangência nem sempre suficiente dos dados; mais fundamentalmente, no entanto, informações de tipo "objetivo" normalmente obtidas por repartições governamentais são inadequadas para o tipo de resultados que se deseja. Por isto, os melhores sistemas governamentais de avaliação são os que combinam estes dados com aqueles proporcionados pela própria comunidade.

Avaliação pela comunidade ou por uma determinada corporação. Aqui a avaliação é feita por pessoas ligadas a profissão ou disciplina acadêmica dos cursos. Em muitos países, este tipo de avaliação é aplicada regularmente pelas associações profissionais e científicas, ou por órgãos governamentais e instituições de pesquisa que se valem de comissões especializadas. É um dos tipos mais satisfatórios de avaliação, ainda que sujeito a conhecidos "efeitos de halo" (quando a qualidade de alguns cursos é generalizada para os demais cursos)

e de prestígio (quando reputações, boas ou más, permanecem no tempo apesar das transformações da realidade).

O caso mais conhecido deste tipo de avaliação é a realizada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que atribui ou não aos Cursos de Direito o selo “OAB Recomenda”1.

Avaliações independentes. São avaliações feitas por instituições que não dependem nem do governo, nem da comunidade profissional, nem das universidades. A vantagem potencial é a isenção, decorrente do prestígio científico e técnico da instituição que realiza o trabalho. A desvantagem é a dificuldade eventual dessas instituições obterem as informações e o envolvimento da comunidade profissional e científica no processo avaliativo.

Ante o exposto, cabe ressaltar que a avaliação institucional constitui-se, na atualidade, em assunto de crucial importância para as Instituições de Ensino Superior, face ao crescente interesse e necessidade da eficiência institucional e melhoria da qualidade das atividades desenvolvidas nas Instituições de Ensino Superior brasileiras.

O governo federal brasileiro, por meio do MEC, é responsável pela administração direta de uma rede de universidades e instituições de ensino superior, que consome a maior parte dos recursos oriundos dos 18% da receita de impostos destinados à educação. Além da administração direta de sua rede de estabelecimentos de ensino superior, o MEC é responsável por um programa nacional de apoio à pós-graduação, administrado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), que avalia os cursos de pós-graduação e fornece bolsas de estudo para cursos no país e no o exterior, e pelo

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NUNES, Edson, NOGUEIRA, André M. e RIBEIRO, Leandro M. Futuros possíveis, passados indesejáveis -

Programa de Crédito Educativo, que, no seu apogeu, funcionou como uma forma indireta, mas bastante significativa, de subsídios ao ensino superior privado.

O ensino superior privado funciona sob a supervisão do Conselho Nacional de Educação. Na prática, o papel do Conselho Nacional em relação ao ensino superior privado tem se limitado ao processamento burocrático de pedidos de criação de novos estabelecimentos e a movimentos espasmódicos no sentido de tentar frear a expansão do ensino naquelas áreas que mais afetam as profissões estabelecidas. No ensino superior a expansão relativamente pequena do setor público, controlada pelos exames de ingresso e pela manutenção de padrões de seletividade relativamente altos em muitas instituições, permitiu que o sistema privado se expandisse para atender principalmente, a uma clientela cujas condições educacionais prévias não permitiam o acesso às universidades públicas (DURHAM, 1993, p. 21).

Vale acrescentar que a oferta de novas vagas nas IES públicas tem sido irrisória, não atendendo a demanda. Sobre isso importa adicionar, as considerações de TAFFAREL e CASAGRANDE (2005, p. 02) de que “ a meta de expansão de vagas no ensino superior público até 2011 não encontra eco no orçamento da União e que os dispositivos de Desvinculação de Recursos da União (DRU), retiram da educação vultosa soma a cada ano.

Ao longo dos anos e em função da tradição burocrática brasileira, os instrumentos normativos regulatórios do sistema de ensino assumiram uma importância desmesurada. Criou-se um aparelhamento estatal voltado para a educação extremamente detalhado de regras e, concomitantemente, um grande sistema burocrático, cuja função primordial é verificar o cumprimento das normas. Os defeitos de um sistema deste tipo são múltiplos.

De um lado, privilegia uma forma de atuação do Estado que consiste em verificar a observância dos aspectos legais e formais, em detrimento de uma avaliação dos problemas e

do desempenho do sistema de ensino, da proposta de soluções inovadoras, da coordenação de esforços educacionais.

De outro, torna todo o sistema extremamente rígido, pela multiplicação e crescente detalhamento das normas. Em um sistema como este, que multiplica normas universais, é impossível uma adequação de soluções às peculiaridades regionais, locais e mesmo de cada instituição. Finalmente, a multiplicação de controles burocráticos estimula uma excessiva concentração de recursos e pessoal nos órgãos de administração e fiscalização, em detrimento daqueles que exercem as atividades-fim (FARAH,1995, p. 117-118).

Os problemas organizacionais são agravados pela instabilidade administrativa. Na prática brasileira, a eleição de novos governadores e prefeitos tende a levar ao poder partidos que estavam na oposição, o que promove o abandono de iniciativas anteriores. Por isto, todo o sistema se ressente da ausência de medidas de mais longo alcance, que possam trazer correções cumulativas (FARAH,1995, p. 136).

A questão da eqüidade no ensino superior é diferente da dos demais níveis educacionais, já que nenhum país tem a universalização do ensino superior como objetivo, e as ampliações recentes de matrícula havida em muitos países - principalmente nos Estados Unidos - têm sido feitas pela diversificação dos sistemas de ensino superior em uma pluralidade de institutos, escolas de formação profissional e "colleges", dentro dos quais as universidades em sentido estrito são uma minoria.

O Brasil, neste sentido, pretende ser mais democrático, já que todos os cursos de nível pós-secundário são igualmente considerados "universitários". No entanto, o fato de que somente uma pequena parcela, da faixa etária correspondente ao nível superior, consegue entrar em algum tipo de estabelecimento de ensino condizente com seu nível, mostra o caráter

restrito deste sistema. A existência de um conjunto de universidades públicas e gratuitas, que selecionam seus alunos pelo mérito, seria um outro aspecto democrático.

No entanto, a chance que tem um estudante de ser aprovado nos exames de seleção dos cursos mais prestigiosos das universidades públicas, depende, primeiro: de que ele tenha conseguido terminar com sucesso o ensino médio; e segundo: que ele tenha feito este curso em escolas de qualidade pelo menos razoável, que tendem a ser privadas e caras. Os que não conseguem ingresso nas universidades públicas terminam por ter acesso a instituições privadas, onde os custos podem ser altos, e a qualidade do ensino nem sempre confiável.