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Comportamento informacional

No documento O SECRETÁRIO EXECUTIVO COMO (páginas 75-79)

2.3 CONTRIBUIÇÕES DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

2.3.2 Estudo de Usuários versus Comportamento Informacional

2.3.2.4 Comportamento informacional

Tendo como princípio a perspectiva da busca da informação centrada no indivíduo, e vista como uma construção pessoal, autores como Wilson (2000) consideraram a busca e o uso da informação como componentes de uma área do conhecimento denominada comportamento informacional. Essa nova terminologia é entendida por Case (2006, p. 293) como mais apropriada para o campo estudos de usuários, por agregar, como componente central desse comportamento, a noção de interação.

Torna-se relevante lembrar a definição de informação no âmbito da CI que, no olhar de Belkin (1978), deverá necessariamente atender a oito requisitos, entre os quais se destaca considerar a informação como um processo de comunicação social entre seres humanos. Este autor introduz o conceito de estado anômalo do conhecimento, assegurando que necessidades de informação, busca e uso da informação constituem o estudo de comportamento informacional.

Do Profissional da Informação é requerido um olhar plural e o seu foco deverá necessariamente estar voltado ao atendimento das necessidades daquele que se posiciona como o cerne da razão da existência de qualquer sistema de informação: o usuário. A função social de facilitar a comunicação entre os produtores e os usuários da informação demanda do Profissional da Informação um estudo acurado do destinatário dos seus serviços, requerendo análise de suas necessidades e características próprias da natureza de cada uma delas. Recorrendo novamente a Allen (1996), salienta-se que este autor mostra que os cientistas se comportam de maneira diferente quando se relacionam, e por isso tanto a comunicação formal como a informal desempenham importantes papéis.

Lembra-se que para o desenho de qualquer sistema de informação é requerido o prévio conhecimento das necessidades de informações às quais o sistema deve responder. Em outras palavras, é primordial a compreensão das necessidades de informação do usuário e a ativação desta compreensão, de maneira que os serviços oferecidos venham a se afinizar com aquilo que o usuário procura, atendendo aos seus requisitos.

A recuperação da informação necessita abordar a informação como um objeto passível e possível de ser organizado e armazenado. O valor da informação depende dos requerimentos de informações e do contexto organizacional. O centro da atenção no estudo das necessidades da informação e do comportamento do usuário para sanar as suas necessidades informacionais permite construir um estoque de informações útil para as comunidades de interesse e de prática.

Estudos relacionados à abordagem sistêmica da informação ressaltam a cognição e capacidade individual e coletiva de interpretar as informações que lhe são disponibilizadas. Recorrendo novamente a Belkin (1978) e o estado anômalo do conhecimento, vale incluir nesta análise, que ao encontrar a informação que necessita, automaticamente o usuário sofre uma alteração no seu estado de conhecimento. Viu-se que o conhecimento organizacional vem sendo compreendido como principal recurso e fonte de vantagem competitiva para as organizações e, embora consagrado como matéria-prima da trama das decisões e do poder, permanece restrito a um pequeno grupo. O conhecimento codificado (rule-based

knowledge) e o conhecimento tácito (tacit knowledge) são cruciais para as

De fato, a característica dinâmica da informação vem exigindo progressivamente que as necessidades dos usuários sejam mapeadas e entendidas em suas particularidades, com o objetivo de prestar contribuição à CI.

Torna-se importante ressaltar que estudos de usuários focavam em conhecer as necessidades dos usuários em matérias de informação ou a avaliação do atendimento das necessidades informacionais pelas bibliotecas e centros de informação. Ampliando significativamente esta ideia, autores como Wilson (2000) e Pettigrew, Fidel e Bruce (2001) compreendem os estudos de necessidades e uso dentro de uma perspectiva mais abrangente, inseridos no campo do comportamento humano e denominados de comportamento informacional. Case (2006, p. 293) discute o termo como a totalidade do comportamento humano em relação às fontes e canais de informação, incluindo as ações ativas e passivas de busca e uso da informação. Courtrigh (2007, p. 275-276) amplia tais discussões, discutindo os diferentes contextos (context-centered models) que têm influência nas práticas informacionais.

No âmbito de uma revisão bibliográfica pode-se dizer que o termo comportamento informacional começou a ser utilizado e discutido quando o paradigma dos anos 1980 foi consolidado pela abordagem mais centrada nos usuários (users-centered paradigm) do que nos sistemas (systems-centered

paradigm). Agora baseados em processos cognitivos, Crawford (1978) defende que

tais processos podem operar em diferentes níveis de consciência ou percepção e, consequentemente, podem não ser sempre claros para a própria pessoa que tem a necessidade. Os novos estudos relacionavam-se, portanto, com as características dos usuários e com as áreas de conhecimento que ofereciam subsídios para melhor compreendê-los. Assim, apresentavam um caráter mais interdisciplinar do que os anteriores. Pettigrew; Fidel e Bruce (2001, p. 47) sustentam que as estruturas de conhecimento representam o centro da visão cognitiva, a qual reconhece a influência do modelo ou visão do mundo do processador da informação nos processos de necessitar, procurar, dar ou usar informação dos quais ele participa.

À terminologia ‘abordagem cognitiva’, adotada por Matheus (2005), no final da década de 1980, sucede a abordagem social, que buscou compreender o contexto sociocultural e a sua relevância para o usuário, tendo se destacado nesse ângulo as estruturas propostas por Chatman (1999): a teoria da pobreza de informações, a teoria do ciclo da vida e a teoria do comportamento normativo. A

abordagem multifacetada, que procura lidar com os diferentes tipos de contextos, como o cognitivo, o social e o organizacional (PETTIGREW; FIDEL e BRUCE, 2001), no início dos anos 1990, toma corpo e se torna objeto de análises.

O comportamento informacional, pois, ganha diferentes tonalidades dependendo da abordagem a que estiver acoplada, seja a abordagem cognitivista, em que o indivíduo é o foco (CRAWFORD, 1978); social, em que o contexto é o foco (CHATMAN, 1999) ou multifacetada, que foca o indivíduo e o contexto ao mesmo tempo (PETTIGREW; FIDEL e BRUCE, 2001).

A discussão sobre a adequação do termo comportamento informacional para se referir aos estudos de necessidades de busca e uso de informação se iniciou no final da década de 1990. Os argumentos a favor do termo se baseavam nas observações de que o comportamento informacional é uma área de pesquisa que fornece um contexto suficientemente amplo de estudo para que se possa compreender melhor as necessidades, a busca e o uso da informação pelos indivíduos, nos mais variados contextos (WILSON, 2000, p. 53).

Os argumentos contrários sustentavam-se na ideia de que o termo comportamento poderia ser inadequado, pelo fato da informação não possuir comportamento: quem se comporta na verdade é o usuário – diante da informação. Kari e Savolainen (2003, apud COURTRIGH, 2007, p. 275) rejeitam a terminologia por a entenderem muito próxima com o paradigma behaviorista da Psicologia. Tais argumentações de certa forma parecem ter fundamentação: mesmo em inglês, o termo apresenta significado truncado. O que foi possível observar foi que a expressão Information Use Behavior, foi, talvez por motivo de conveniência, reduzida para Information Behavior e traduzida para português como comportamento informacional.

Ao término das análises relacionadas ao uso dos termos estudos de usuário

versus comportamento informacional, considerando a inadequação gramatical ou

não, foi verificado que o termo comportamento informacional traz ao termo estudo de usuários certa inovação, a qual parece agradar os pesquisadores da Ciência da Informação.

Esta inovação pode ser uma adaptação às mudanças sociais ocorridas no último século. A priorização do protagonista menor, e a maior importância atribuída às suas necessidades e ao seu comportamento em relação à informação revela um novo olhar da Ciência da Informação sobre esse tema.

Cumpre-se ressaltar, neste instante, que grande parte da força de trabalho mundial encontra-se desenvolvendo atividades voltadas para o processamento da informação, sendo que muitos profissionais não se dão conta de que aí reside o centro de suas atividades. Profissões como o bibliotecário ou o arquivista consagraram-se como responsáveis pelo gerenciamento das informações.

A explosão da informação passou a exigir um posicionamento mais arrojado por parte deste profissional. Para a consecução dessa análise, cumpre examinar, neste passo, o papel por ele desempenhado, investigando a sua atuação e competências, no intuito de responder a algumas perguntas.

Quem é o profissional da Informação? Quais as atividades desempenhadas por ele? Quais as competências que lhe são exigidas? O que mudou com relação ao papel deste profissional? Existe futuro para o profissional da Informação? Reconhece-se a presença de outras profissões no exercício das atividades informacionais? Pretende-se analisar detidamente estas questões no próximo item desta tese.

No documento O SECRETÁRIO EXECUTIVO COMO (páginas 75-79)