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Capítulo II – Competências sociais

4. O perfil pragmático dos indivíduos com Síndrome de Williams

4.2. Comportamentos socioemocionais

Neste ponto do trabalho irá dar-se ênfase a uma das características mais frequentemente associada ao fenótipo comportamental dos indivíduos com SW – a sua sociabilidade (também associada ao termo Cocktail Party Speech). Esta característica sugere ser reflexo da intencionalidade comunicativa que faz parte da natureza destes indivíduos, fazendo com que se envolvam facilmente numa situação de comunicação (Rossi et al. 2007). As informações serão apresentadas em função de aspetos relacionados com características típicas das relações interpessoais que estabelecem.

Os indivíduos com SW apresentam uma compreensão limitada das normas sociais básicas o que os leva a experienciar problemas nas interações com os pares e relacionamentos instáveis, apesar da sua atração e interesse nas interações sociais (Jawaid et al., 2011). A este nível, o seu fenótipo comportamental é pautado pela facilidade de interação social (fenótipo da hipersociabilidade) e atração por pessoas estranhas (não se inibindo perante interlocutores desconhecidos) sendo que, de um modo geral, estes indivíduos encontram-se menos ajustados socialmente (Rossi, 2010).

De acordo com Jawaid et al. (2011) o fenótipo da hipersociabilidade tem sido associado ao papel desempenhado pela amígdala e pelo lobo frontal. Os indivíduos com SW apresentam alterações na estrutura e funcionamento da amígdala, o que para Jawaid et al. (2008) referidos pelos mesmos autores, é um importante fator para explicar a hipersociabilidade nesta síndrome. Outra hipótese explicativa encontra-se relacionada com o fato de os indivíduos com SW apresentarem uma disfunção no lobo frontal; neste sentido e, tendo em conta as suas funções, pode explicar-se o comprometimento destes indivíduos ao nível da resposta à inibição, no controlo da atenção e em determinados comportamentos sociais (Mobbs et al, 2007).

Os indivíduos com SW podem apresentar-se inseguros e ansiosos, com necessidade de chamar a atenção para si mesmos, com fobias, hipersensibilidade a sentimentos de frustração, podendo mesmo manifestar episódios de raiva. Em situações difíceis podem tentar envolver socialmente o parceiro de comunicação, evitando o desafio (Mervis & John, 2010). O fenótipo comportamental destes indivíduos é, também, marcado pela desinibição, impulsividade e comportamento extrovertido (Rossi, 2010). São também referidos na literatura, de uma forma generalizada, os seguintes comportamentos que podem fazer parte do reportório destes indivíduos: morder outras crianças, desobediência, obstinação, inquietação, hábito de seguir estranhos, mentir e sentimentos de vergonha.

Teixeira et al. (2010) identificaram, na amostra do seu estudo, outras características possíveis dos indivíduos com SW, como sendo ciúmes nas relações sociais, comportamentos de imitação e preferências na interação com indivíduos mais jovens. Ao aplicarem uma escala que avalia o número de interações sociais (indicador de sociabilidade), verificaram que o grupo de indivíduos com SW não diferiu do grupo de controlo, pelo que concluíram que, na sua amostra, as crianças e adolescentes com SW apresentaram níveis adequados de sociabilidade. Relativamente a este último resultado, os autores ressaltam a importância da avaliação da qualidade das interações nesta síndrome.

O aspeto da sociabilidade característico da SW é um dos mais referidos pelos autores mas, também, um dos menos estudados (Fishman et al., 2011). O fenótipo comportamental dos indivíduos com SW tem sido marcado, também, por traços opostos de sociabilidade na medida em que estes apresentam dificuldades no seguimento das regras sociais básicas (Gosch, et al, 1994 referidos por Rossi, 2010). Neste sentido, as características da sociabilidade dos indivíduos com SW têm sido apontadas como ambíguas. Num estudo publicado por Gosch, et al. (1994) referidos por Rossi (2010), as suas características de sociabilidade são constantemente referenciadas pelos pais como uma preocupação social (sobretudo o facto de interagirem com estranhos e de preferência com idade superior à deles). No mesmo estudo, o comportamento extrovertido e amigável é apontado pelos pais como um ponto positivo por facilitar a interação social. Assim sendo, o apoio parental afigura-se como extremamente importante na redução da ansiedade e orientação face a aspetos específicos do âmbito social.

Todas as questões anteriormente analisadas levam ao termo vulnerabilidade social, o qual se reporta às desvantagens que o indivíduo tem que enfrentar enquanto ele ou ela se esforçam para sobreviver como um membro produtivo da sociedade; sob a égide deste termo podem ser consideradas as seguintes situações que podem ser experimentas pelos indivíduos com SW: isolamento social, desemprego, bullying, assédio físico e moral, entre outras (Jawaid et al., 2011).

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A questão da vulnerabilidade social na SW é um tópico pouco estudado apesar de ser uma questão extremamente importante. O facto de os indivíduos com SW fazerem avaliações socias inadequadas de outras pessoas, bem como a interpretação errada que algumas pessoas poderão fazer da sua hipersociabilidade, poderá causar-lhes inúmeras situações problemáticas. Para além disso, de acordo com Jawaid et al., (2011) os défices sócio-cognitivos característicos da SW têm sido associados a problemas de saúde mental, contudo este dado requer confirmação através estudos longitudinais. Todas estas questões deverão ser equacionadas para que estes indivíduos não sofram exclusão social.

Em termos de intervenção, e como forma de evitar a exclusão social, propõem-se a criação de, e.g., programas específicos ao nível das competências sociais capazes de responder às dificuldades específicas dos indivíduos com SW descritas neste capítulo. Veja-se de que forma se podem relacionar os conceitos estes conceitos.

5. Relacionando conceitos

A SW apresenta um fenótipo específico que se caracteriza a nível cognitivo, linguístico e comportamental. As características peculiares do seu fenótipo da linguagem e do comportamento conferem aos indivíduos com esta síndrome um perfil pragmático específico expresso, de uma forma geral, por dificuldades ao nível do relacionamento interpessoal. Este tipo de dificuldades pode dar origem a níveis baixos de envolvimento nas relações interpessoais que estabelecem, bem como dificuldades ao nível do comportamento adaptativo.

Assim sendo, a avaliação destes aspetos (através, e.g., de uma grelha de observação do comportamento) materializada na construção de um programa de promoção de competências sociais, é essencial na abordagem interventiva com indivíduos com SW. Os resultados da aplicação deste tipo de programas poderão facilitar a sua inclusão através da melhoria da adaptação social dos mesmos.

Esta relação conceptual pode ser analisada através da consulta do Esquema 3 apresentado na página seguinte.

Esquema 3 – Relação entre a SW e os conceitos de perfil pragmático, grelha de observação do comportamento, programa de promoção de competências sociais e inclusão.

Inclusão Melhorias a estes três níveis Síndrome de Williams Fenótipo de linguagem Fenótipo comportamental Fenótipo cognitivo Comportamentos peculiares (comunicação verbal, comportamentos socioemocionais) Grelha de observação do comportamento Programa de promoção de competências sociais Níveis baixos de envolvimento nas relações interpessoais Dificuldades ao nível do comportamento adaptativo Perfil pragmático específico Dificuldades de relacionamento interpessoal

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Capítulo IV – Enquadramento Metodológico

“Uma pesquisa é sempre, de alguma, forma, um relato de longa viagem empreendida por um sujeito cujo olhar vasculha lugares muitas vezes visitados. Nada de absolutamente original, portanto, mas um modo diferente de olhar e pensar determinada realidade a partir de uma experiência e de uma apropriação de conhecimento que são, aí sim, bastante pessoais.”

(R. Duarte, 2002, p. 140)

1. Introdução

Com o presente capítulo pretende-se enquadrar, com relação à teoria, o plano de trabalho desta investigação através da apresentação de aspetos de natureza metodológica relativos ao estudo empírico.

Assim sendo, são apresentados no seguimento deste capítulo, aspetos relacionados com a contextualização do estudo através da definição do problema de investigação, com a enunciação dos objetivos e das questões de investigação e com a justificação do tipo de estudo através da caracterização da metodologia utilizada. Relativamente a este último ponto vão ser descritas as opções tomadas ao longo do percurso de investigação relacionadas com os instrumentos e técnicas de recolha de dados e com os procedimentos utilizados no decurso da mesma. A caracterização da criança em estudo também é uma parte integrante deste capítulo, pelo que serão apresentados aspetos relativos aos dados da anamnese e à sua avaliação antes da implementação do programa de intervenção.