• Nenhum resultado encontrado

2.6 COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL

2.6.2 Comunicação organizacional e processo decisório

Anderson (1983) salienta que o processo decisório dentro das organizações é um ato social.

Assim, a tomada de decisão envolve, entre outros aspectos, interação social, busca de informações e divulgação das decisões tomadas. Portanto a decisão como interação social é atividade permeada de processos de comunicação. De acordo com Simon (1965, p. 180):

A possibilidade de permitir que determinado indivíduo tome uma decisão concreta dependerá frequentemente da possibilidade de ser-lhe transmitida a informação de que precisa para tomar a decisão apropriada, e de sua capacidade para transmiti-la aos demais membros da organização em cujo comportamento se supõe essa decisão deverá influir.

Outros dois aspectos relacionam a comunicação com processo decisório. O primeiro está relacionado à questão da ambigüidade e da incerteza, característica dos processos decisórios (CLEMEN, 2001; DAFT; LENGEL, 1986). Como já foi apresentado, Menezes (1973, p. 157) acredita que:

A comunicação é, por natureza, um processo aleatório, variável, probabilístico: só ocorre comunicação quando a conduta comporta certo grau de incerteza. Com efeito, se pudéssemos predizer com antecedência exatamente aquilo que alguém vai proferir... não haveria necessidade de que ele falasse, e excluiríamos assim a possibilidade de ocorrência do fenômeno comunicativo.

O segundo é a questão da informação, pois para Miller (1970) as organizações podem ser entendidas como redes de comunicação, porque qualquer operação realizada que pode ser observada e registrada constitui informação em potencial, e um decisor utiliza essas informações para tomar suas decisões, que chegam ao seu conhecimento por meio de processos de comunicação.

March e Simon (1966) apresentam uma classificação da comunicação dentro do processo decisório:

ƒ Comunicação para atividade não programada, categoria vala comum.

ƒ Comunicação para iniciar ou criar programas, incluindo os de adaptação mútua ou de coordenação de programas.

ƒ Comunicação para fornecer dados8 para aplicação de estratégias, necessários para a execução futura de programas.

ƒ Comunicação para evocar programas, ou seja, comunicação que serve de estímulo.

8 Todos os tipos de comunicação estão relacionados à transmissão de uma informação ou dado. Porém, essa classificação se refere às informações mais próximas a execução concreta de atividades.

ƒ Comunicação para a execução e para fornecer feedback sobre as atividades executadas.

Nesta dissertação, apenas os quatro últimos tópicos serão utilizados para classificar a comunicação na modelagem síntese de análise sugerida.

Mintzberg, Raisinghani e Théorêt (1976, p. 261) abordam a comunicação como atividade que permeia todo o processo decisório:

... escaneando o ambiente para estímulos, procurando intensivamente por informações de diagnóstico e informações sobre alternativas e suas conseqüências, transmitindo informações para cima na hierarquia para facilitar a autorização, e monitorando o progresso do processo decisório em si.

Além de ser uma rotina central de suporte, ela está presente nas rotinas de diagnóstico, busca e autorização. Como fase específica, de acordo com Mintzberg, Raisinghani e Théorêt (1976), a comunicação possui três rotinas: exploração, investigação e disseminação9.

ƒ A rotina de exploração está relacionada com uma busca geral de informações solicitadas, ou não, para a tomada de decisão; é usada na construção de modelos conceituais e desenvolvimento de bancos dados.

ƒ A investigação envolve buscas e pesquisas específicas de informações especiais para a tomada de decisão, com o objetivo de confirmar as informações que serão utilizadas pela decisão.

ƒ A disseminação está ligada à divulgação do andamento do processo; quanto maior o número de pessoas envolvidas ou influenciadas pela decisão a ser tomada, maior o tempo gasto nessa rotina.

9 Etapas do processo de comunicação para tomada de decisão que serão abordadas por esta dissertação.

Em relação à rotina de disseminação, Simon (1965) afirma que ela é um dos aspectos do processo decisório ignorado ou precariamente realizado. As organizações determinam que a decisão tomada seja executada sem levar em consideração como ela influencia no comportamento dos seus membros, sem se preocupar se o conteúdo divulgado realmente informa a respeito da decisão tomada.

Outros pontos levantados por Mintzberg, Raisinghani e Théorêt (1976) a respeito dos processos de comunicação organizacional dentro da tomada decisão são: a atividade funciona como sistema de monitoramento do processo; e, na rotina de investigação, boa parte do trabalho executado recai em canais informais e verbais de comunicação.

Braga (1988) estudou os comportamentos comunicativos dos decisores durante o processo decisório. Neste estudo foram identificados cinco tópicos influenciados por comportamentos comunicativos: busca de informação, troca de informação, definição de problemas, avaliação de alternativas e atingir a decisão e/ou escolha do alternativo de ação.

O primeiro tópico se divide em dois: tipo de busca de informação e estilos de busca. Foram encontrados quatro tipos de buscas: rotineira, no meio ambiente, não-rotineira e persuasiva. A rotineira está ligada às tarefas ou manutenção das atividades cotidianas; no meio ambiente busca informações de como a organização está funcionando em relação ao ambiente; a não-rotineira se refere a informações novas de situações ou assuntos novos relacionados à organização; persuasiva diz respeito às buscas que possuem o objetivo de manipular pessoas (BRAGA, 1988). Foram identificados três estilos de busca: busca, espera e delegação. A busca é o estilo de pesquisar ativamente o ambiente; o estilo de espera está ligado a

comportamentos em que a pessoa espera as informações chegarem até ela; e a delegação ocorre quando é delegada a função de buscar as informações (BRAGA, 1988).

O tópico troca de informação é dividido em modos e tipos de trocas, e controle seletivo de trocas. Os modos foram classificados em três tipos: interações grupais estruturadas (reuniões);

atividades planejadas e com objetivos predeterminados; comunicações escritas, atividades operacionalizadas por relatórios, atas e circulares internas; e encontros espontâneos, atividades e interações não estruturadas. O controle seletivo de trocas se refere ao fato de pessoas que possuem acesso a informações privilegiadas e podem exercer algum tipo de poder sobre as que não possuem acesso (BRAGA, 1988).

Definição de problemas é o terceiro tópico abordado. Os problemas na situação estudada foram levantados por meio de reuniões, informações de subordinados, conversas informais, comunicação escrita, comunicações de fora da organização e de conselheiros e diretores. O principal problema que afeta esse tópico é a falta de confiança. Foram identificados quatro tipos de mensagens sinalizadoras de problemas: mensagem com informações inconsistentes, aquelas em que o conteúdo é ambíguo; mensagens enfáticas, aquelas que reforçam a urgência e gravidade de um problema; mensagens antecipatórias, aquelas que buscam prever conseqüências futuras de uma atividade; e mensagens de risco/oportunidade, aquelas que sinalizam situações favoráveis ou desfavoráveis para uma atividade (BRAGA, 1988).

O quarto tópico é a avaliação de alternativas e se refere à análise dos possíveis cursos de ação na busca da solução dos problemas (BRAGA, 1988). As mensagens de avaliação de alternativas podem ser: mensagens que visam ganhar aliados para determinada opção; piadas;

mensagens utópicas, referentes a objetivos que não podem ser atingidos; e metáforas na

abordagem de avaliação. Em relação aos modos de avaliação, foram encontrados quatro estilos de negociação: pressionar para favorecer determinada opção; retardar a decisão, com o objetivo de fortalecer uma argumentação; confronto se refere à proposição de soluções alternativas; e compromisso, quando a ação é declinar da confrontação e assumir a solução aprovada.

Segundo Braga (1988), o quinto tópico reúne todos os quatros anteriores e o resultado é a tomada de decisão em si e os comportamentos comunicativos encontrados nessa etapa foram cinco: sugestão de curso de ação, concordância com a sugestão proposta, o terceiro é a discordância da proposta (avaliação), o quarto foi a delegação das responsabilidades pela decisão tomada e o quinto foi a justificação da escolha feita.

Jones (1973) é outro autor que relaciona a comunicação com o processo decisório. O composto teórico desenvolvido por ele divide a comunicação em dois tipos. O primeiro se refere à transmissão de informações temporariamente valiosas que são aquelas que devem percorrer a organização até cumprirem seu objetivo de informar ao decisor determinado assunto. O segundo tipo é o que autor chama de treinamento e se refere às informações permanentemente valiosas utilizadas pela organização na tomada de grande número de decisões durante largo período de tempo.

De acordo com Jones (1973), a comunicação para informações temporariamente valiosas é dividida em seis etapas:

1) Apurar de quais premissas o destinatário precisa, a fim de tomar as decisões pelas quais é responsável: se refere a uma ação que busca retirar do fluxo de

comunicação informações desnecessárias e transmitir apenas aquilo que for realmente necessário para a decisão ser tomada.

2) Determinar onde estão as melhores fontes ou origens para tais premissas:

consiste em descobrir fontes de informação regulares e padronizadas. A parte mais trabalhosa está em encontrar fontes para informações não-padronizadas que necessitam ser procuradas em diferentes fontes e, às vezes, serem cruzadas.

3) Determinar os melhores veículos para conduzi-las com precisão da fonte até o destino final: consiste em escolher o melhor meio para a transmissão que pode ser oral ou escrito.

4) Escolher um caminho de livre trânsito que elas possam rapidamente percorrer:

relacionadas à escolha dos canais de comunicação que nas organizações podem ser verticais e horizontais.

5) Criar sistemas de realimentação das informações: fundamental para a tomada de decisões, porque o decisor precisa saber como está a compreensão da decisão que foi tomada.

6) Assegurar que o fluxo de premissas seja realmente transmitido: se refere ao desencadeamento do fluxo de comunicação e depende das pessoas responsáveis por ele.

O segundo tipo de comunicação apresentado por Jones (1973), que é o treinamento, busca reduzir os custos de comunicação para a organização, bem como aprimorar o processo decisório. As idéias desenvolvidas pelo autor nessa etapa dizem respeito a processos de seleção e treinamento de funcionários e executivos; portanto estão ligadas à comunicação de maneira indireta. O processo se refere aos aspectos que podem ser normatizados dentro das organizações, a exemplo de manuais e métodos de raciocínio. E o esforço das organizações está em fazer com que os seus membros absorvam essa lógica de funcionamento.

O último tópico a ser abordado dentro do referencial teórico-empírico para concluir a lógica da proposta de estudo desta dissertação é a questão da efetividade da comunicação organizacional.