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3. A Assembleia de Turma – Conceções de alunos e professores

3.4. Apresentação e discussão dos resultados

3.4.2. Conceções das professoras

Para a análise das entrevistas das professoras, procedemos exatamente do mesmo modo como para as dos alunos, e voltámos a identificar três grandes temas: (i) conceções da professora sobre a Assembleia de Turma; (ii) fatores facilitadores e dificultadores da participação na Assembleia de Turma e; (iii) balanço das Assembleias.

Na totalidade dos três temas, inferimos dezanove categorias para tratamento de dados que apresentamos e descrevemos em seguida, por ordem temática e organizado em torno dos temas analisados. Para ser mais fácil compreender o processo de análise, iremos apresentando os respetivos indicadores para cada categoria.

Sempre que possível tentámos manter as mesmas categorias e indicadores utilizados com os alunos para depois ser mais fácil o cruzamento dos dados entre as conceções dos alunos e das professoras.

À semelhança do subcapítulo anterior, todos os resultados apresentados e discutidos podem ser consultados nos Anexo P – Transcrição da entrevista à professora S, Anexo Q – Transcrição da entrevista à professora C e Anexo S – Análise de conteúdo das entrevistas das professoras.

Assim, o primeiro tema designado conceções da professora sobre a Assembleia

de Turma foi dividido em 8 categorias: (i) funcionamento; (ii) participantes; (iii)

assuntos/ temas tratados; (iv) assuntos/ temas mais frequentes; (v) situações conducentes à maior participação dos alunos; (v) motivos conducentes à maior participação dos alunos; (vi) motivos conducentes à menor participação dos alunos; (vii) funções e; (viii) vantagens.

No que diz respeito ao funcionamento, uma das professoras cingiu-se aos temas tratados e ao debate promovido a partir deles, enquanto que a outra fez uma descrição mais pormenorizada na qual frisou a existência de um presidente e secretário, da descrição das funções de cada um deles e da discussão e resolução conjunta dos temas.

Quanto aos participantes, ambas as professoras referiram que todos podem participar. No entanto, C foi mais descritiva, assinalando as funções das duas professoras (professora titular e psicóloga).

Relativamente à categoria assuntos/ temas tratados, ambas falaram nos mesmos temas, mas enquanto uma se referiu às designações instituídas em Diário de Turma, a outra não, tendo-se verificado exatamente o mesmo na categoria seguinte assuntos/

temas mais frequentes.

Nas situações conducentes a maior participação dos alunos ambas mencionaram os conflitos no recreio (embora S os tenha englobado no tema “preciso de ajuda”). No entanto C juntou-lhe as situações de partilha de brincadeiras de que os alunos gostaram.

Na categoria motivos conducentes a maior participação dos alunos, as respostas divergem um pouco, enquanto S fala em desentendimentos no recreio, C aborda a questão das partilhas quer seja de coisas que gostem, de assuntos que gostariam de ver

melhor esclarecidos ou de injustiças perante decisões já tomadas ou versões contadas por colegas.

O mesmo acontece com os motivos conducentes a menor participação dos alunos. Neste caso, enquanto C afirma que são as propostas, S refere que são “O que fiz por mim” e Assembleias muito longas que acabam por cansar os alunos.

Quanto às funções da Assembleia detetámos algo que na nossa opinião é curioso. Embora os três grandes temas abordados no Diário de Turma sejam a resolução de problemas, a partilha e propostas, só a resolução de problemas foi identificada como função por ambas. Relativamente à partilha só uma tocou no assunto e nas propostas ninguém falou. Para além disso, uma das professoras abordou as funções da assembleia na ótica dos professores e não na ótica dos alunos (para os professores saberem o que se passa no recreio e para saberem a visão que os alunos têm sobre assuntos da escola).

Por fim, na última categoria do 1.º tema, vantagens, enquanto C frisa as mesmas que definiu como funções, S destaca o desenvolvimento do espírito de grupo, da inter- ajuda, da união, da partilha e da compreensão assim como da moralidade dos alunos.

No segundo tema fatores facilitadores e dificultadores da participação na

Assembleia de Turma identificámos 8 categorias: (i) fatores facilitadores; (ii) fatores

dificultadores; (iii) aspeto mais difícil de gerir; (iv) estratégias para resolução de situações difíceis de gerir; (v) papel/ funções dos alunos na dinamização da Assembleia; (vi) papel da professora na dinamização da Assembleia; (vii) resolução de conflitos e; (viii) passos para a resolução de conflitos.

Como fatores facilitadores S destacou um presidente e um secretário muito eficientes no desempenho das suas funções e C o cumprimento das regras de participação na Assembleia. E, inversamente, como fatores dificultadores referiram ambas o oposto, um presidente que não sabe desempenhar o seu papel (S) e não cumprir as regras de participação (C).

Deste modo, em consonância com as respostas anteriores, C destacou como o aspeto mais difícil de gerir as regras de participação, enquanto que S escolhe algo completamente diferente e fala em situações que envolvem terceiros (“outros adultos”) e que não são resolvidos como a professora pensa que deviam ser.

Nas estratégias para resolução de situações difíceis de gerir, ambas as professoras seguem o mesmo raciocínio, embora não recorram exatamente às mesmas palavras. Ambas referem que os assuntos são lidos para toda a turma, os alunos têm oportunidade de se pronunciarem e de fazerem propostas de resolução e depois a decisão é tomada conjuntamente.

Relativamente à categoria papel/ funções dos alunos na dinamização da

Assembleia, enquanto C se preocupa com a generalidade da turma e aborda a resolução

dos assuntos, S evoca os três diferentes papéis e as funções inerentes a cada um deles. Quanto ao papel da professora na dinamização da Assembleia voltamos a ter unanimidade entre as docentes, uma vez que ambas alertam para a questão da ajuda à dinamização, ficando assim numa posição secundária.

Também no que à resolução de conflitos e aos passos necessários para os resolver diz respeito, ambas as professoras estão em consonância. As duas consideram que na maioria dos casos os conflitos ficam efetivamente resolvidos e em Assembleia procede-se à leitura dos problemas, à discussão (primeiro dos implicados e posteriormente alargada à restante turma) e, no fim, à resolução do conflito.

Por fim, o terceiro tema balanço das Assembleias foi dividido em três categorias: (i) avaliação; (ii) contributo para o desenvolvimento da socialização e do sentido de pertença da turma e; (iii) eventuais alterações a introduzir.

Contrariamente ao que nós assistimos enquanto participámos nas Assembleias de Turma, uma das professoras (S) avalia as Assembleias como correndo normalmente bem. No entanto, neste ponto as duas docentes não estão de acordo, uma vez que a outra docente (C) vem ao encontro das nossas observações, referindo que, no início do ano letivo, período em que nós estivemos no contexto, as Assembleias eram muito difíceis e que foram melhorando ao longo do ano.

Relativamente ao contributo para o desenvolvimento da socialização e do sentido de pertença da turma, ambas as docentes estão de acordo no aumento de confiança na turma, assim como o facto de não deixar assuntos por resolver. Para além disso, C menciona também melhorias ao nível da capacidade de argumentação e na resolução dos conflitos pela via do diálogo.

Por fim, em termos de melhorias, à semelhança do que havia acontecido com os alunos, também as docentes sugeriram melhorias que estão intimamente relacionadas com os fatores dificultadores identificados anteriormente. Assim, S propunha escolher sempre o mesmo presidente e secretário, enquanto que C exigia maior rigidez no respeito das regras de participação.

Em suma, embora as duas docentes estejam em sintonia na situações que conduzem a maior participação dos alunos na Assembleia como sendo os conflitos, o mesmo não acontece com os motivos conducentes a maior ou a menor participação dos alunos, em que cada uma delas dá respostas diferentes. No que diz respeito às funções da Assembleia, a resolução de problemas surge enunciada por ambas, no entanto, nas vantagens as docentes voltam a divergir. Quando se trata das estratégias para a resolução de situações difíceis de gerir, ambas seguem a mesma linha de raciocínio, mostrando, mais uma vez que estão em sintonia, bem como com o papel da professora na dinamização da Assembleia, com a resolução de conflitos e com os passos necessários para a sua resolução. As docentes voltam a estar em desacordo na forma como as Assembleias correm na generalidade, tendo uma classificado como normalmente bem (contrariando as nossas observações), enquanto que a outra refere que inicialmente eram muito difíceis, tal como nós observámos. Por fim, ambas as docentes estão de acordo em salientar o aumento de confiança na turma e o não ficarem assuntos por resolver como contributo da Assembleia de Turma para o desenvolvimento da socialização e do sentido de pertença da turma e como propostas de melhoria salientam aspetos que visam erradicar os fatores dificultadores por si identificados.

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