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CONCEITOS DA TEORIA COMUNICACIONAL

CAPÍTULO 2 – A PERSPECTIVA DAS TEORIAS DOS SISTEMAS E COMUNICACIONAL

2.2. CONCEITOS DA TEORIA COMUNICACIONAL

A Teoria Geral dos Sistemas é, pois, uma teoria interdisciplinar que se revela comum nas várias ciências, através da presença dos elementos lingüísticos em comum.

A linguagem pode ser vista como um código de comunicação. Direito é linguagem.

A comunicação se desenvolve por meio do modelo clássico da transmissão de uma mensagem, a partir de um emissor para um receptor, podendo haver pluralidade de emissores, receptores ou mesmo de mensagens.

Carvalho salienta:

“A linguagem é um pressuposto lógico, condição necessária da comunicação. Não é possível comunicar se não por meio de uma linguagem.

[...]. A linguagem pode ser vista também como um sistema, cujos elementos são os signos.

[...]. E como comunicação, a linguagem é um sistema dinâmico complexo e auto-organizativo.

[...]. Note-se que na transmissão de mensagens o sentido não é enviado, oferece-se apenas para ser captado pelo receptor. O

receptor constrói o sentido a partir do código comum que compartilha com o emissor da mensagem.

[...] . Pois bem. Uma vez que o emissor envia a mensagem dotada de sentido lógico e semântico, em código comum com o receptor, este, por sua vez, captará a mensagem, construindo o seu sentido – obtendo informação. Conseqüentemente, o receptor enviará uma resposta ao emissor, que igualmente construirá o seu sentido. A partir desse momento, temos instaurado um processo comunicacional”110 .

Dentro da complexidade da Teoria Comunicacional existem conceitos que podem ser aplicados a todos os sistemas complexos nos quais há a presença ou a interferência humanas, dentre os quais se destacam os seguintes:

a) Feedback111

No desenvolvimento do processo comunicacional, o emissor envia uma mensagem ao receptor. Este receberá a mensagem, a processará internamente, e devolverá uma resposta àquele emissor. O modo positivo, negativo ou neutro com o qual o emissor absorverá essa resposta, gerando uma ação igualmente positiva ou negativa, determina-se

Feedback. É o processamento que o emissor faz, analisando a resposta do receptor, e transformando-a em nova informação. Se o Feedback for negativo, significa que o emissor, apesar da resposta do receptor, manteve seu equilíbrio interno, comportando-se negativamente à mudança proposta pela resposta. Ao contrário, o Feedback positivo é o que pode desequilibrar o emissor, a partir do conteúdo da resposta do receptor, que influenciou drasticamente as informações que o emissor possuía. Interessa aqui saber que o Feedback, seja positivo ou negativo, é produzido pelo próprio sistema.

Um exemplo sobre a dinâmica do Feedback será dado ao final do capítulo 5.

A palavra Feedback também tem uso corrente de retorno ou avaliação que

alguém faz sobre o trabalho ou atividade de outrem.

No campo do Direito Previdenciário, todas as pessoas que nele participam de alguma forma – o jurista, o advogado, o legislador, o político, o segurado, o Estado etc. -, e mesmo o próprio sistema jurídico inserido no processo comunicacional, podem emitir

feedbacks positivos ou negativos ao se depararem com os princípios constitucionais, particularmente nas diversas instâncias do universo da Seguridade, ou diante de eventuais

desvios encontrados no desenrolar dos comandos e informações emanados do sistema jurídico.

111 Tradução livre: resposta, ou uma informação sobre algo que já foi feito ou que já ocorreu, com o objetivo de

b) Homoestase

Trata-se do equilíbrio interno de um sistema. É homoestático o sistema que possui um eficiente mecanismo de Feedback negativo. Carvalho assim esclarece:

“Um exemplo, exaustivamente utilizado, é o do termostato. O termostato é um mecanismo extremamente simples que tem por função manter o equilíbrio térmico de um determinado local. Este local se mantém em determinada temperatura por um período temporal; no entanto, a inafastável segunda lei da termodinâmica (ou entropia, como veremos adiante) age e, em conseqüência, o local passa a perder a qualidade de ambiente refrigerado; imediatamente, o termostato aciona o dispositivo da refrigeração que corrige o desvio. Explicando em termos cibernéticos, temos que o local (ou sistema) passou a receber informações do meio ambiente. Graças ao mecanismo calibrador, o termostato, tal informação converteu-se em

Feedback negativo, corrigindo o desvio”112 .

Assim, o sistema jurídico mantém sua homoestase ao não permitir a permanência interna de qualquer tipo de influência tendente a desestabilizá-lo. No caso do sistema jurídico, o desequilíbrio pode ser causado pela presença de leis inconstitucionais, por exemplo. Ou ainda a existência de possíveis desvios na aplicação dos recursos arrecadados para a Seguridade Social.

c) Ruído

O ruído é uma expressão utilizada dentro da Teoria da Comunicação para indicar tudo o que perturba em diversos níveis a transmissão da mensagem. O ruído já é, em si mesmo, um tipo de desordem que, ao interferir no processo comunicacional, ocasiona o erro. Qualquer perturbação pode ser classificada, nesse contexto, como ruído, desde uma perturbação na comunicação escrita, até a visual ou sonora. Não se trata de onda sonora, mas de interferência na correta transmissão original de uma mensagem.

Por exemplo, na relação intersistêmica entre os sistemas social e jurídico, o sistema social desenvolve mensagens eventualmente geradoras de ruído, na direção do

sistema jurídico. Por seu lado, o sistema jurídico, da mesma forma, é capaz de criar ruídos em relação aos sistemas econômico ou político, os quais têm que enfrentar, numa hipótese, os ruídos gerados pelos sistemas que com ele interagem pelos canais de abertura113.

De certo modo, a antinomia jurídica – ou a presença simultânea de duas normas contraditórias no sistema – se assemelha ao conceito de ruído, na medida em que uma delas deturpa o processo comunicacional do sistema considerado em seu todo.

d) Entropia

A entropia é o oposto da homoestase. Todo sistema tem por pressuposto sua ordem interna. Seu contrário é a medida de desordem de um sistema, chamada de entropia. Como afirma Morin, ao tratar de uma particularidade do mundo físico, possível de ser aplicada metaforicamente à realidade jurídica:

“Todo o sistema físico organizado sofre, sem remissão, o efeito do segundo princípio da termodinâmica, isto é, o aumento da entropia no seio do sistema, que se traduz pelo aumento da desordem em detrimento da ordem, da homogeneidade em detrimento da heterogeneidade (a diversidade dos elementos constitutivos), em resumo, da desorganização em detrimento da organização”114

Os sistemas auto-reguláveis, bem como os comunicacionais, que possuem capacidade de Feedback negativo, estão aptos a vencer a tendência entrópica, mantendo a ordem interna, isto é, homoestase.

O sistema jurídico, por sua natural complexidade, possui em seu bojo, dentro do enfoque da teoria da comunicação, a ocorrência constante de feedbacks, homoestase, entropia e ruído.

O equilíbrio interno do sistema jurídico, ou sua homoestase, possui sua base de sustentação nos princípios constitucionais, que visam impedir o surgimento de feedbacks que possam desnaturar o sentido e o alcance dos objetivos da norma e, no nosso estudo, da

113 A própria realidade da comunicação é um canal de abertura dentro do sistema jurídico.

114 MORIN, Edgar. Ciência com consciência. Sintra: Publicações Europa-América, 1990. Trad. Maria Gabriela

Seguridade Social. A observância dos princípios evita que o sistema entre em colapso (entropia).

Por fim, a elaboração de legislação que consiste, por óbvio, em processo comunicacional, que afronte os princípios constitucionais, configura ruído que deve ser, imediatamente, rechaçado pelo sistema115.

115 Um meio para evitar a permanência de tal legislação no sistema jurídico é a denominada Ação Direta de Inconstitucionalidade, prevista pela Lei 9.868/99.