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1. TRAÇANDO AS FASES METODOLÓGICAS DA PESQUISA AVALIATIVA

2.1 Concepções de Avaliação Educacional

Para adentrar no campo conceitual da avaliação institucional dentro do sistema educacional, cabe a este fazer uma diferença entre avaliação educacional e avaliação da aprendizagem ou do desempenho escolar, uma vez que a avaliação no campo da educação passou por longas datas limitadas a avaliação da aprendizagem dos alunos em sala de aula.

A avaliação educacional está voltada para a aprendizagem dos alunos por meio das avaliações internas realizadas nas escolas através de provas, trabalhos, etc, e também para o desempenho dos alunos verificado por meio das avaliações externas.

A avaliação da aprendizagem tem sido objeto de estudo por alguns autores, tais como Luckesi (2011, p.89), que a identifica como um instrumento de classificação, pois vem sendo

exercida “como um mecanismo mediador da reprodução e conservação da sociedade, no

contexto das pedagogias domesticadoras7; para tanto, a avaliação necessita de autoridade

exacerbada” (p.89), característica presente na sociedade capitalista. Assim, o autor define que

a avaliação classificatória sendo herdada do ensino tradicional centra-se na transmissão de

conteúdos e na aquisição de habilidades, com base no “saber fazer”. O que pode ser

compreendido como uma forma de moldar o aluno para tal competência bloqueando o pensamento crítico e a construção do conhecimento.

Para Luckesi (2011), a avaliação classificatória se dá no final da etapa do processo de aprendizagem e tem como foco a aferição do produto final, o qual servirá como um

7 Para aprofundar a leitura sobre pedagogias domesticadoras e a relação entre avaliação educacional e posturas

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mecanismo de coleta de “nota”, que “taxa” os alunos como “bons”, “médios” ou “inferiores”,

sem levar em conta um processo de reflexão autônoma.

Hadji (2001) expressa que a quantidade de conhecimento nem sempre sinaliza a qualidade. Segundo a autora, a multicorreção, ou seja, a prioridade dada ao quantitativo pelo professor, sem a intenção de observar se o aluno está interiorizando o conhecimento e superando dificuldades não é o ideal.

Em crítica a esse tipo de avaliação, referenciada pelos autores acima, refletiu-se então o papel do professor, pois, no caso da avaliação classificatória, o professor apenas molda o aluno, inibindo a capacidade de pensar, de criar e de interagir.

Como afirma Luckesi:

Com a função classificatória, a avaliação constitui-se num instrumento estático e frenador do processo de crescimento. [...] O educando como sujeito humano e histórico; contudo, julgado e classificado, ficará para o resto da vida, do ponto de vista do modelo escolar vigente, estigmatizado, pois as anotações e registros permanecerão, em definitivo, nos arquivos e nos históricos escolares, que se transformam em documentos legalmente definidos (LUCKESI, 2011, p.82-83).

Concordando com a afirmativa acima é pertinente uma reflexão sobre a finalidade da avaliação da aprendizagem, afinal o resultado que se obtém dessa avaliação deve servir como

“ponto de partida” a fim de mover o professor a pensar em sua prática pedagógica e assim ser

um facilitador do processo ensino aprendizagem, como ressalta Freire (2001): não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que conotam , não se reduzem à condição de objeto um do outro. “Quem ensina aprende ao

ensinar e quem aprende ensina ao aprender (p.12).”

Luckesi (2011, p.41-65), também identifica nesse processo o que ele chama de

“fetiche da avaliação”, a qual, segundo ele “prioriza o produto final (nota, resultado),

omitindo toda a construção do processo avaliativo”.

Ocorre que se pode identificar nos sistemas de avaliação educacional em larga escala, a exemplo do SAEB, SPAECE alguns aspectos da avaliação classificatória, uma vez que são políticas que se desenham valorizando a construção de rankings.

Sobre esse aspecto, Foucault (1999, P.113), ao procurar analisar em sua obra a relação de força e poder entre aqueles que detêm a organização política e administrativa do Estado e a sociedade no século XVIII, através de relatos e reflexões sobre os suplícios vividos

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pelos criminosos daquele tempo, faz uma menção sobre a organização dos sistemas de ensino já com essa lógica de classificação, quantificação, obediência. Características estas, presentes no sistema capitalista. Então, dentro dessa lógica, a educação foi se organizando para favorecer a produtividade, adequando seus conteúdos e diretrizes à lógica do mercado, onde o saber fazer suplanta a formação integral do cidadão.

Então com base nessa concepção de avaliação classificatória, compreende-se que as avaliações em larga escala, externas, ao classificarem alunos e instituições, desconsideram essencialmente as relações que permeiam nos espaços escolares, as múltiplas culturas e as origens socioeconômicas e culturais de todos os envolvidos no processo, e essas questões não podem ser medidas quantitativamente.

Em contraposição com a avaliação classificatória, Dias Sobrinho (2000) lembra que o conceito de avaliação institucional emancipatória e democrática nas instituições e sistemas de ensino é um processo necessário para se construir rupturas importantes com a lógica da avaliação meritocrática, classificatória, punitiva, excludente e de controle, típica do sistema capitalista em que vivemos.

Para Saul (2010) a decisão democrática consiste no envolvimento de todos os que participam de um programa na tomada de decisão tanto na formulação da proposta avaliativa quanto nos rumos do programa. A autora, por exemplo, identifica esta como um princípio que estimula uma participação ampla e diversificada dos elementos, contemplando-se tanto o consenso quanto o dissenso.

Ainda sobre a avaliação classificatória, Boughton e Cintra (2005) entendem que esse tipo de avaliação tem também suas vantagens de importância para a educação. Dizem os autores que:

[...] O primeiro diz respeito às avaliações nacionais para todo o sistema, feitas para fornecer informações estatísticas aos órgãos federais sobre o desempenho dos estudantes, estes inseridos em diversos subgrupos divididos por critérios, tais como gênero, carga cultural, região e assim por diante (BOUGHTON; CINTRA, 2005, p. 376).

Na visão dos autores, as avaliações podem permitir aos órgãos governamentais uma visão geral do sistema educativo, trazendo dados estatísticos do desempenho de grupos específicos e podem abrir caminhos para o acesso à educação superior, como é o caso do

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Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM)8. Tal ponto de vista deve ser questionado, uma vez que esse tipo de avaliação não contempla o sistema na sua totalidade, ponto que será discutido adiante na abordagem sobre os princípios que norteiam a avaliação institucional, dentre estes, o princípio da globalidade. Além dessa referência faremos uma reflexão sobre a avaliação na perspectiva da qualidade negociada.

Outra definição de avaliação da aprendizagem que pode contribuir para a reflexão de caráter institucional é aquela que assume uma natureza diagnóstica. Trata-se do tipo de

avaliação que visa “fazer um levantamento das capacidades dos estudantes, busca-se

identificar as aptidões iniciais, necessidades e interesses dos estudantes com vistas a

determinar os conteúdos e as estratégias de ensino mais adequadas” (GIL, 2006, p.247).

Oliveira (2001) vê na avaliação diagnóstica uma perspectiva de pensar criticamente sobre o que se está fazendo. Nessa mesma perspectiva, Luckesi (2011) aponta que:

De fato, o momento de avaliação deveria ser um “momento de fôlego” na escalada, para, em seguida, ocorrer a retomada da marcha de forma mais adequada, e nunca como um ponto definitivo de chegada, especialmente quando o objeto da ação avaliativa é dinâmico como, no caso, a aprendizagem. Com a função classificatória, a avaliação não auxilia em nada o avanço e o crescimento. Somente com a função diagnóstica ela pode servir para essa finalidade (LUCKESI, 2011, p. 82).

Sobre a avaliação das instituições de ensino, pode-se fazer uma relação entre a concepção de avaliação diagnóstica (Luckesi, 2011), com a autoavaliação institucional, uma vez que a mesma implica num conhecimento da instituição como um todo, conforme descreve-se no tópico.

Foi destacada a concepção de Belonni (2001) por compreender que a autora traz uma definição de avaliação de instituições educacionais de forma mais abrangente, o que vem coadunar com as percepções de autores como Dias Sobrinho (2002), Bondioli(2004) e outros referenciados na pesquisa. Para Belloni(2001) a avaliação institucional define-se como:

Análise do desempenho global da instituição, considerando todos os fatores envolvidos, em face dos objetivos ou missão da instituição, no contexto social,

8 O ENEM é uma avaliação externa em larga escala, aplicada em âmbito nacional aos egressos do Ensino

Médio. Instituído pelo MEC em 1998, teve inicialmente como um de seus objetivos ser uma avaliação de referência para autoavaliação, bem como servir como alternativa para o ingresso no mercado de trabalho e para o acesso a cursos profissionalizantes e ao ensino superior.(BRASIL,2001).

Em 2009 o ENEM passou por mudanças em sua nomenclatura sendo chamado de Novo ENEM, bem como nos seus objetivos e funções, conforme portarias Nº 109 de 28 de maio de 2009 e Nº 807 de 18 de junho de 2010, disponíveis no portal do INEP: http://www.inep.gov.br. Acesso em 02/09/2014.

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econômico, político e cultural no qual está inserida. Envolve avaliar seus processos de funcionamento e seus resultados, inseridos na realidade social, identificando os fatores favoráveis ao bom andamento e aqueles responsáveis pelas dificuldades, com vistas à sua superação (BELONNI, 2001, p. 115).

2.2.Um enfoque teórico-reflexivo sobre Avaliação Institucional na perspectiva da qualidade

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