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CONCEPÇÕES SOCIAL-DEMOCRATA E NEOLIBERAL DE POLÍTICAS DE EMPREGO

No documento ANA LÚCIA DE OLIVEIRA MONTEIRO (páginas 110-113)

SOCIAL-DEMOCRATA (histórica) NEOLIBERAL (recente)

Os interesses dos trabalhadores são elevados ao

status da universalidade; Prevalência de interesses individuais, tendo na concorrência o princípio da eliminação de empregos e empresas menos capazes;

Cada pessoa interessada em trabalhar deve ter direito ao trabalho, patrocinado pela existência de emprego com salários adequados ou pela garantia de renda, por meio da política social, que contribui para transformar as pessoas em consumidores e cidadãos (segurança de renda e emprego);

A capacidade individual de cada um é que define sua transformação de cidadão em consumidor, predominando a insegurança na renda e no emprego. Quanto mais livre o funcionamento do mercado de trabalho, mais fácil o alcance do pleno emprego;

O Estado deve se fazer presente em todas as oportunidades que favoreçam a construção de uma sociedade menos desigual, como forma de corrigir as distorções do mercado, aumentando, quando necessária, a participação no excedente econômico (sistema tributário progressivo);

O Estado deve deter a menor participação possível no excedente econômico, com sistema tributário proporcional e maior espaço para decisões privadas;

A definição e construção do Estado de Bem-Estar Social é importante, não apenas devido à sua capacidade de geração de emprego no setor de serviços (saúde, educação, serviços privados), mas como forma de alcançar padrões mais homogêneos de consumo;

As áreas sociais devem se limitar ao contexto da seletividade e da complementaridade ao setor privado, voltadas exclusivamente para parcelas minoritárias da população;

O sindicato aumenta seu poder de força quando há relações democráticas de trabalho, maior presença no local de trabalho, contratação coletiva

centralizada e pleno emprego;

O sindicato possui papel reduzido, mais orientado para definição de reivindicações dos trabalhadores por empresa, permitindo que os salários e a jornada de trabalho estejam associados à produtividade e às oscilações da economia; Defesa de mecanismos institucionais, regulados

para a constituição de um mercado de trabalho estruturado, com menos formas heterogêneas possíveis de ocupação e renda;

O mercado de trabalho deve ser a expressão da relação entre oferta e demanda de mão de obra, permitindo formas heterogêneas de ocupação e menores salários de acordo com a produtividade nas empresas;

Restrições administrativas e econômicas para as demissões e esforços para a ampliação dos contratos de longa duração;

A flexibilização dos contratos e trabalho é necessária para adequar o custo da mão de obra às oscilações do mercado, com baixas restrições econômicas e administrativas nos casos de demissão;

Ampliação das políticas de garantias de mínimos de renda (seguro-desemprego) vinculadas ao programa de treinamento; subsídios para formação e treinamento de mão de obra.

Diminuição dos benefícios públicos e criação de mecanismos de garantia de renda com menor valor possível para segmentos de mais jovens do mercado de trabalho, com o objetivo de estimular a aceitação de emprego com salários menores, se necessário, promovendo ocupações em pequenos negócios (auto-emprego).

Fonte: Quadro extraído de Pochmann (1997) p. 34-35.

O entendimento acerca do funcionamento do mercado de trabalho não tem sido consensual. Os estudos a respeito são marcados por concepções teóricas muito distintas e

que implicam em medidas e proposições divergentes para o enfrentamento da questão do emprego.

Pochmann (1997) assinala que as visões tradicionais partem do pressuposto de que as forças do mercado de trabalho são capazes de resolver o problema do desemprego, porém a realidade brasileira demonstra a inconsistência dessas interpretações. No curso histórico, o crescimento econômico, por si só, não foi suficiente para gerar emprego para todos e não possibilitou, ao mesmo tempo, as condições adequadas para o enfrentamento do desemprego.

Por outro lado, ainda segundo Pochmann (1997), as visões que sustentam não haver problemas de emprego no Brasil simplificam a complexidade da realidade brasileira, assim como o funcionamento do mercado de trabalho. O autor confirma que persistem as formas tradicionais de reprodução da precariedade do mercado de trabalho brasileiro, crescendo o segmento das sub-ocupações ou terceirizações, com prevalência de baixos salários e precarização dos contratos de trabalho.

Os anos compreendidos entre 1950 e 1980 registram um índice de crescimento da economia brasileira sem paralelo no cenário internacional. Nem por isso foram discutidas e implementadas no período políticas públicas de promoção do emprego e renda, já que o problema era visto como resultante de um mercado em formação que, apesar do seu dinamismo não era capaz de absorver a crescente população dos centros urbanos do país (DIEESE, 2001).

Assim, havia um entendimento de que a falta relativa de postos de trabalho seria superada, com o passar do tempo, com o volume de investimentos externos no país. Isso resultaria na integração de amplas parcelas da população que até então se encontravam marginalizadas do processo de industrialização. Esse entendimento também contemplava que o cenário estabelecido asseguraria melhores condições de vida e melhor distribuição da renda nacional.

A partir dos anos 1980 ficou visível a incapacidade do país continuar a sustentar altas taxas de crescimento da economia, aliadas ao processo de redemocratização, e veio à tona o aumento da desigualdade social e do desemprego, afetando o núcleo duro do mercado de trabalho.

Nesse cenário, a postura oficial do governo de desvincular as questões relativas à geração do emprego com as políticas macroeconômicas direcionou o modelo das políticas governamentais para o mercado de trabalho, onde o emprego é visto como um produto

secundário do crescimento econômico e não como um objetivo que orienta as políticas econômicas do governo. Nesse contexto não se questiona a qualidade do emprego, tratado como resultado dos desequilíbrios internos do próprio mercado de trabalho e do desencontro entre oferta e demanda inerentes à atividade econômica (DIEESE, 2001).

Estudo do DIEESE de 2001 demonstra que a desvinculação entre a pobreza e a situação do mercado de trabalho é um aspecto importante do tratamento da questão do emprego no Brasil. A pobreza é combatida com políticas públicas específicas, mas desconectadas de ações voltadas para o mercado de trabalho. As políticas sociais de emprego e renda ainda não estão articuladas com as questões da formação e da qualificação profissional, do emprego e do mercado de trabalho.

Mesmo que estejam articuladas e alinhadas com as políticas de desenvolvimento, as políticas de emprego devem ter um objetivo próprio, de modo a garantir o desenvolvimento econômico e social do país. Nesse sentido, para Pochmann (1997), uma política de geração de emprego, além de estar incorporada em um projeto de desenvolvimento nacional sustentado, deveria tratar diretamente sobre a terra, a infra- estrutura, a distribuição de renda, os serviços sociais e as relações de trabalho como elementos-chave para o enfrentamento do problema do desemprego nacional.

O processo de aceleração da globalização, a partir dos anos 1990, representou grandes transições sociais e econômicas para o país, que passou de uma realidade com altas taxas de inflação para um regime de estabilidade de preços, aumento no grau de abertura da economia levando o Estado a mudar seu papel de Estado investidor para Estado voltado para a regulação (CHAHAD, 2011). Ao mesmo tempo, o país ainda sofria as consequências da recessão econômica sofrida, cujos efeitos ainda podiam ser vistos na alta concentração e renda, o aumento da informalidade e os altos índices de desemprego.

Para enfrentar este cenário, o Estado necessitava de instrumentos de intervenção que, atuando diretamente no mercado de trabalho, proporcionasse as transformações necessárias nos agentes econômicos e nos ambientes em que estes atuam, já que as ações governamentais tradicionais estavam cada vez mais se tornando restritas e com menores possibilidades de respostas rápidas.

Esta intervenção materializa-se por meio da oferta de serviços básicos, como concessão de crédito aos desempregados e trabalhadores autônomos, melhoria da qualidade da mão-de-obra por meio do treinamento e da recolocação do desempregado utilizando a intermediação da mão-de-obra. Essas políticas, designadas de Políticas Ativas

do Mercado de Trabalho (PAMT), associadas ao seguro-desemprego e a outras formas de assistência aos desempregados, atuam no sentido de promover a geração de emprego, elevar o nível de rendimentos e garantir melhor bem-estar aos trabalhadores em geral (CHAHAD, 2011).

Já as Políticas Passivas do Mercado de Trabalho (PPMT), ou políticas compensatórias, compreendem majoritariamente transferências monetárias para os trabalhadores desempregados e não aumentam necessariamente a empregabilidade do trabalhador (MACHADO & NETO, 2011).

Os Quadros 3 e 4 abaixo sintetizam as Principais Políticas Ativas e Passivas do Mercado de Trabalho:

QUADRO 3

No documento ANA LÚCIA DE OLIVEIRA MONTEIRO (páginas 110-113)

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