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O presente trabalho buscou evidenciar o cenário de concentração bancária nacional e a necessidade de promoção da concorrência para a melhoria do bem-estar dos consumidores. Questões como a quantidade elevada de desbancarizados, elevados spreads bancários e exercício de poder de mercado por parte dos bancos corroboram e motivam a necessidade de promoção da concorrência no sistema financeiro nacional.

Para tal finalidade, inicialmente buscou-se apresentar a evolução do cenário de concentração bancária nacional destacando o processo de transformação e consolidação no sistema bancário a partir da adoção do Plano Real em 1994, sendo presenciada uma série de liquidações, fusões, aquisições privatizações e a entrada de bancos estrangeiros no setor. O resultado das inúmeras alterações na composição do setor pode ser percebido pela redução do quantitativo de instituições financeiras atuantes no sistema nacional (entre 2008 e 2019 o número caiu de 2.423 para 1.629 instituições, respectivamente).

Por meio da análise dos índices de concentração e competitividade percebe-se uma leve redução da concentração bancária (apesar desta ainda se manter em patamares elevados) e uma melhora nas condições de concorrência na área de crédito e serviços quando comparados os períodos pré e pós crise de 2008. O período pós crise de 2008 também propiciou o surgimento de empresas que fornecem soluções financeiras através de tecnologias inovadoras (fintechs) e vem ganhando espaço ano após ano em áreas onde a tecnologia está obsoleta ou nas quais há omissões do mercado financeiro tradicional.

As fintechs chegam ao mercado financeiro sob supervisão limitada ou inexistente dos reguladores. Conforme abordam Arner e Barberis (2015) haveria diferentes abordagens regulatórias relacionadas aos diferentes modelos de crescimento das empresas, necessitando a readaptação dos reguladores à evolução dos diferentes estágios de desenvolvimento. No estágio “too small to care’’ haveria riscos reduzidos, enquanto nos estágios “too large to ignore" e “too big too fail' problemas ocasionados por essas empresas poderiam trazer riscos a estabilidade do sistema financeiro.

A rápida evolução do estágio “too small to care’’ para o “too large to ignore” e “too big to fail” propiciada pela adoção de novas tecnologias no sistema financeiro faz com que haja um descasamento entre os normativos vigentes e os novos modelos de negócio nascentes, exigindo que haja uma ação do regulador voltada ao encontro da reconexão regulatória.

Adicionalmente aos problemas que o gap normativo pode ocasionar, o regulador se depara com o difícil trilema apresentado por Brummer e Yadav (2018): coordenar inovação financeira, integridade dos mercados e normas regulatórias claras. Neste trilema, os reguladores poderiam obter apenas dois desses objetivos, estando expostos aos riscos do objetivo não abarcado.

Foram apresentados três estudos de casos para apresentar os desafios vivenciados por fintechs em diferentes estágios de desenvolvimento tanto para o seu crescimento quanto para sua consolidação no mercado financeiro. Por meio dos casos Fairplace e GuiaBolso fica exemplificado os problemas que a desconexão regulatória pode gerar em empresas em estágio inicial e numa empresa já estabelecida, respectivamente. Através do caso Itaú Unibanco e XP Investimentos mostrou-se a clássica estratégia adotada por grandes empresas para diminuição da concorrência: a aquisição de competidores.

Analisando sob a ótica do trilema as alterações regulatórias recentes promovidas pelos reguladores do sistema financeiro nacional, parecem claros os objetivos escolhidos por estes: promoção da inovação financeira e normas regulatórias claras. Um exemplo dessa iniciativa proativa do regulador como forma de fomentar a inovação e promover a reconexão regulatória é a iniciativa promovida pelo Banco Central, simbolizada através da Agenda BC# que possui como pauta de trabalho a evolução tecnológica como meio de desenvolver questões estruturais do sistema financeiro.

No âmbito da Agenda BC# foram apresentadas iniciativas e avanços regulatórios no sentido de promover a concorrência, inovação e eficiência no sistema financeiro nacional, como exemplo estão a Resolução n° 4.656/18 que institui as SEP’s e SCD’s e promove a reconexão regulatória das fintechs de crédito, o Open Banking que dá mais autonomia aos clientes quanto ao uso de seus dados no sistema financeiro e o Sandbox Regulatório, que permite que negócios disruptivos possam inovar e testar seus produtos e serviços em um ambiente controlado e supervisionado pelo regulador com regras mais brandas

para a atuação, sendo uma mão dupla entre fomento de inovação e contenção de riscos potenciais.

Assim, o presente trabalho buscou trazer os desafios e o panorama regulatório nacional para a promoção da concorrência no sistema financeiro nacional em meio ao avanço de novos agentes e novas tecnologias.

Sugestões para trabalhos futuros vão no sentido de monitorar a evolução dos indicadores de concentração e competição no sistema financeiro nacional, com disseminação das novas tecnologias e a adesão em maior escala dos produtos e serviços ofertados pelas fintechs e BigTechs, de forma a averiguar se houve materialização do aumento da concorrência, diminuição da concentração no setor bancário e melhoria do bem-estar dos consumidores, fato esperado pela entrada de novos players no mercado financeiro.

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