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CONCLUSÕESDOESTUDOECONSIDERAÇÕESFINAIS

Atividade física, Qualidade de Vida, Docentes – que relação?

É este o tema central da presente dissertação que, ao longo de diversos capítulos, foi equacionado com a colaboração de vasta e diversificada bibliografia e de um trabalho prático de investigação.

Na primeira parte da dissertação, a revisão de literatura alertou para a relação estreita entre a Qualidade de Vida e o nível de Atividade Física, ou, pelo contrário, o Sedentarismo dos indivíduos – um dos fatores de risco na origem de doenças crónicas não transmissíveis.

Verificou-se que a Qualidade de Vida está, também, intimamente relacionada com a Saúde, interferindo com a mortalidade e a longevidade.

Equacionou-se, depois, a profissão docente, enunciando fatores de risco entre os quais problemas de ordem física e de ordem mental, ou psicológica, incluindo o stress.

Tentou-se explicitar o atual panorama da profissionalidade docente, onde avulta a sobrecarga horária, com o aumento do período que os professores passam nas escolas, diminuindo, por conseguinte, o seu tempo livre e de lazer. Deste modo, pretendia-se evidenciar que a atividade educativa intensa que é vivida atualmente acarretará problemas de Saúde e Sedentarismo – uma vez que dificulta aos docentes a prática de Atividade Física em tempo de lazer, devido à falta de tempo.

Para o efeito, procedeu-se a um estudo webométrico, dedicado a conhecer eventuais investigações nesta área – nomeadamente quanto à relação entre Atividade Física, Qualidade de Vida e profissão docente. No entanto, os resultados deste estudo foram escassos.

Pretendeu-se, também, identificar investigações que tivessem recorrido à versão em língua portuguesa do questionário Baecke, na sua versão online – uma vez que esta modalidade se pressupunha mais vantajosa face à escassez de tempo e ao aglomerar de tarefas burocráticas dos docentes. Esta busca não teve resultados tendo apenas sido identificados dois estudos relativos a traduções para a realidade nacional e validações do questionário, mas na sua versão em papel.

______________________________________________________________________- 122 - Deste modo, a justificação para a presente investigação viu-se acrescida – pese embora se torne mais difícil a comparação com estudos similares.

Finalmente, delineou-se o estudo, focalizado na população docente de um dado agrupamento e dedicado a conhecer as suas conceções, hábitos, constrangimentos e nível de Atividade Física, bem como as suas opiniões acerca da possível influência mútua entre a Atividade Física desenvolvida e a sua Qualidade de Vida. Interessava, ainda, contribuir para facilitar e uniformizar a utilização do questionário Baecke, na sua versão online, no nosso país.

Após a recolha de dados, procedeu-se ao seu tratamento.

Focando os resultados obtidos, lembra-se que se optou (em função dos objetivos principais desta dissertação) por não recorrer a um estudo apoiado na ferramenta estatística SPSS. Tentou-se manter o estudo simples e concreto, de maneira que fosse facilmente percetível pelos docentes do agrupamento – uma vez que os seus resultados, além de publicados, iriam e discutidos internamente, no sentido de informar e simultaneamente promover a Atividade Física na profissão docente como fator de melhoria da sua Qualidade de Vida. Houve, no entanto, necessidade de utilizar alguns procedimentos de estatística descritiva, em função das debilidades do questionário, no que concerne à identificação clara das categorias do índice de Atividade Física Habitual (inativo, moderadamente ativo, ativo, muito ativo).

Foi possível chegar a algumas conclusões, que, embora não sendo passíveis de generalização, poderão, de algum modo, contribuir para posteriores investigações nesta área e, bem assim, para que os docentes do agrupamento inquirido atentem mais nas questões da Atividade física e da sua relação com a sua própria Qualidade de Vida.

Atendendo a que, os três domínios do BQHPA podem ser avaliados separadamente, numa fase inicial do estudo, pensou-se em prescindir das questões relativas à Atividade Física Ocupacional, justificada pela investigação ser alusiva a uma comunidade docente, pensado que, entre os docentes não haver diferenças consideradas significativas. Contudo, os dados contestaram esta ideia apoiando, assim, o trilho empreendido.

Tais dados contemplam uma perceção da atividade ocupacional como sendo, para muitos, uma tarefa pesada e cansativa – facto que orienta em vários sentidos de pensamento:

______________________________________________________________________- 123 - i) por um lado, que os docentes indissociam o conceito de tarefa pesada de fatores de ordem psicológica e de stress profissional, derivado dos contextos educacionais atuais, diversos de tempos anteriores, bem como da quantidade de tempo que passam na escola, ocupados em diversas tarefas que vão para além da componente estritamente letiva. As atribuições da componente letiva aumentaram consideravelmente, não apenas sob a forma de reuniões, ou serviço burocrático, como com acompanhamento de alunos; ii) este cansaço, muitas vezes, implica suor o que pode indicar que, em muitas situações, existe, realmente, um esforço físico – por exemplo, movimentações de materiais que, anteriormente, ficariam a cargo de pessoal auxiliar mas que, cada vez mais, cabe aos professores, em função da escassez de funcionários que acomete os estabelecimentos. Outro exemplo é o do acompanhamento de crianças/alunos com necessidades educativas especiais, que implica, frequentemente, desgaste físico; iii) por outro lado, evidencia-se, claramente, haver departamentos, ou grupos disciplinares com comportamentos distintos e, por conseguinte, com perceções distintas das suas tarefas profissionais e do cansaço que elas lhes provocam. É o caso dos docentes de educação física e de expressões, mas, também, da educação pré-escolar, entre outros; iv) em face desta situação, seria importante rever a forma como é categorizada a profissão docente, nas escalas de AF. Seria interessante um estudo suscetível de clarificar e contribuir para a discussão desta questão; v) por último, considera-se, em face da aplicação do questionário Baecke online, que uma reformulação do mesmo seria adequada – seja quanto à clarificação de conceitos, com possível alteração da forma como as questões são colocadas (o que, aliás, foi empreendido quanto ao questionário na versão em papel, traduzida e adaptada à realidade portuguesa, como se observou com Almeida e Ribeiro (2014), seja nas próprias questões do questionário e na forma como as suas três componentes estão estruturadas, por parecer haver alguma sobreposição de itens. No caso da presente investigação optou-se pela sua utilização, por uma questão de facilidade, por já estar validado e porque o objetivo central não era esse, mas equaciona-se, nesta fase final, de conclusões, a pertinência de uma investigação centrada no próprio questionário e na sua reformulação.

Ainda quanto aos resultados sobre o nível de atividade dos docentes, constata-se que, relativamente à AFD, apesar de uma grande diversidade de práticas, só uma parte dos inquiridos pratica desporto. Relativamente à AFL, uma maior percentagem realiza as suas tarefas habituais exercitando a locomoção, sobretudo a pé.

______________________________________________________________________- 124 - De facto, uma das conclusões do estudo aponta no sentido de que, mesmo entre os docentes respondentes considerados inativos, onde os índices, de uma forma global, são razoavelmente baixos, uma grande parte dos respondentes demonstrou equilibrar o seu tempo de trabalho ou de atividade escolar com o tempo dedicado ao lazer, com destaque para a AFL.

Outra conclusão do estudo prende-se com a elevada dispersão dos resultados – facto que dificulta a realização de correlações com algum proveito, ou interesse para a investigação e que impede, também, chegar a conclusões gerais do estudo, passíveis de serem corroboradas, ou contrariadas por outras investigações publicadas. Esta situação conduz à ideia de que a especificidade do setor educativo será feita de uma grande heterogeneidade de caraterísticas e que merecerá um outro tipo de tratamento – eventualmente isolando e inquirindo por grupos específicos para se obter um conhecimento mais claro do qual possam ser inferidas conclusões mais assertivas.

Constatou-se, assim, que a relação entre o género e o índice de AF varia: há situações em que é mais clara a relevância do género, sendo, neste caso, as mulheres as mais ativas, mas outros há em que tal variável não pode ser considerada. O mesmo acontece com a idade- que, aliás, tende para alguma homogeneidade (com exceção de um departamento que apresenta caraterísticas muito diversas dos restantes, quer quanto à dispersão etária, quer quanto ao género preponderante masculino, contrastando com os restantes, em que ele é exclusivamente, ou preponderantemente feminino).

Não obstante, a questão etária poderá, tendencialmente vir a denotar maior influência no aumento de percentagens no nível inativo, com o passar do tempo e no seguimento das políticas educativas vigentes, que se repercutem no envelhecimento dos profissionais docentes em atividade – aliás uma realidade já observável nas escolas.

Uma outra variável que os estudos analisados indiciavam ser relevante era a dos dependentes a cargo como fator inibidor das práticas de AF, seja desportivas, seja de lazer e locomoção. Ora os resultados obtidos evidenciam, mais uma vez, uma dispersão de resultados inconclusiva: em alguns casos, parece evidenciar-se que os docentes com dependentes a cargo são, até, mais ativos.

______________________________________________________________________- 125 - Verifica-se, neste ponto, mais uma vez, uma grande indissociação, por parte dos inquiridos, entre o que é a sua QDV e o contributo para tal, da saúde e da profissão. Como afirma a Diretora do Agrupamento entrevistada, as problemáticas que, atualmente se vivem na escola condicionam os docentes e interferem na globalidade do seu bem-estar. Aliás, parece notar-se que este fator será mais relevante do que o da própria saúde em si mesma, porque há uma boa percentagem de respondentes referindo necessitar de tratamentos diários, ou frequentes, mas não deixam de considerar terem uma boa saúde, mas já não é tanto assim, relativamente à sua perceção da QDV.

Assim, quanto ao cumprimento dos objetivos, conclui-se:

O objetivo 1, Conhecer conceções e hábitos de AF dos docentes, não foi atingido, porque a disparidade de resultados não permite uma perceção conclusiva de comportamentos de AF dos docentes;

O objetivo 2, Determinar o nível de AF do corpo docente (por departamento), foi atingido.

O objetivo 3, Conhecer as condicionantes presentes na prática, ou na sua ausência, e as opiniões acerca da possível influência entre a AF e a QDV, foi atingido parcialmente: as condicionantes presentes na prática/ausência de AF são muito díspares, embora haja alguns casos de relevância de alguns itens. As opiniões acerca da possível influência entre a AF e a QDV são díspares e inconclusivas. Excetua-se a interdependência entre AFO e QDV, pela indissociação que os docentes fazem entre a profissão e a vida pessoal.

O objetivo 4, Contribuir para facilitar e uniformizar a utilização do questionário BQHPA online foi atingido sendo que o questionário mostrou-se válido, de fácil acesso e preenchimento e pelos docentes e que a percentagem de respondentes foi elevada. Pondera-se, não obstante, o interesse da construção e validação de uma versão online adequada à realidade portuguesa (à semelhança de Ribeiro e Almeida, 2014) e, inclusivamente, a pertinência de uma adaptação com questões específicas para docentes.

A encerrar este estudo, considera-se pertinente deixar uma nota de alerta e de reforço: torna-se essencial, contrariar a tendência crescente nos países civilizados para o sedentarismo.

______________________________________________________________________- 126 - Torna-se imprescindível promover a alteração de hábitos sob pena de se inverter a tendência das últimas décadas para a longevidade dos indivíduos e para a sua qualidade de vida envelhecimento. No caso específico dos docentes – considerando que é uma profissão de risco, entre outras razões, pelas agravantes de stress dos seus contextos laborais, será imprescindível a tomada de consciência da necessidade que existe em contrariar o estilo de vida sedentário de muitos deles.

Assim, sugere-se o desenvolvimento de intervenções específicas, compatibilizando o aparecimento de atividades que se adaptem aos hábitos quotidianos da população docente, fazendo com que os locais de trabalho, o ambiente físico escolar, ou circundante e ainda, os escassos encontros sociais, perdidos pela falta de tempo, passem a representar outras tantas oportunidades de práticas de atividades físicas e/ou desportivas.

Como considerações finais, seria importante destacar os seguintes pontos:

Este trabalho não se dá por concluído – antes pelo contrário, foi um mero ponto de partida para uma investigação mais aprofundada em várias direções. Por exemplo:

A) Sendo que as respostas dos docentes não traduzem uma relação direta entre a AF e a QDV, pondera-se: se houvesse maior índice de AFD e AFL seria mais positiva a satisfação com a QDV? Se houvesse oferta sistemática de práticas de AFD no Agrupamento, os docentes refletiriam uma melhor QDV? Quais são as sugestões dos docentes para intensificar a AF na escola?

B) Seria, igualmente, interessante acompanhar estes docentes por alguns anos e averiguar se alteram as suas práticas de AF.

C) As conclusões apontam para um maior índice de AF dos docentes de expressões onde se incluem docentes de Educação Física. Talvez fosse interessante fazer um estudo mais focalizado, através de entrevistas aos docentes deste departamento e identificar de facto, se serão os docentes de Educação Física mais, ou menos adeptos de AF.

D) Analogamente, perceber as razões que justificaram o facto dos docentes do departamento do 1º ciclo, tenham obtido as contribuições mais elevadas no nível inativo, em todos os índices de AF.

______________________________________________________________________- 127 - Uma limitação subjacente ao presente estudo foi a realização de um único caso, que embora apropriado para o estudo, apresenta certas desvantagens, nomeadamente a aludida por Gil (1999), quando refere que constitui uma limitação aos estudos que utilizam o procedimento metodológico de estudo de caso por não permitem a generalização dos resultados obtidos.

A preocupação primordial deste estudo era muito direta e interna: pretendia-se que o estudo contribuísse para chamar a atenção dos docentes para a questão essencial da Atividade Física, mas, também, para a sua Qualidade de Vida. Tentar arranjar tempo para si próprios para além da escola, com vista a um melhor bem-estar, o qual, depois, também se irá refletir na sua atividade docente.

Quanto a este intuito, pode afirmar-se que foi um desafio ganho. Todos os docentes questionam e aguardam com alguma curiosidade os resultados do estudo. É um tema que passou a ser falado no seio do agrupamento.

Sabendo que o esclarecimento e o conhecimento dos mecanismos que influenciam os sujeitos na participação ou na inclusão da Atividade Física nos seus comportamentos e hábitos diários parecem ser essenciais para o desenvolvimento de programas de intervenção potencialmente mais efetivos (Sallis e Owen, 1999; Prochaska et al., 2002), espera-se ter contribuído na identificação das variáveis que influenciam as práticas da AF dos docentes, as quais, sendo passiveis de ser alteradas, então, e muito provavelmente, os seus comportamentos poderão ser modificáveis.

Por outro lado, com o presente estudo inquietou-se a direção do agrupamento, a qual se mostrou recetiva a este desafio de contribuir para maximizar as oportunidades para que os docentes pratiquem mais AF, nos próprios espaços e tempos livres durante a sua permanência na escola.

São estas as palavras da diretora de incentivo e de desafio aos docentes:

Entendo que seria de grande interesse criar essa possibilidade em meio escolar. Desde logo porque aumentaria os níveis de bem-estar dos docentes e melhoraria os seus indicadores de saúde, o que tem reflexos diretos na qualidade da ação profissional. Depois, porque permitiria um relacionamento para lá do que são os momentos formais ou informais de trabalho em conjunto, num contexto mais aprazível e descontraído, favorecendo o reforço das ligações afetivas. Isto é o suficiente para desbloquear situações de conflito, para aproximar pontos de vista antagónicos e para potenciar a resolução de problemas.

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Não me parece, no entanto, que esta possa ser uma situação forçada. Obviamente a estrutura escolar pode criar a possibilidade ou mesmo promover e incentivar a prática de atividade física em meio escolar, mas não pode dar-lhe caráter de obrigatoriedade.

É curioso que alguns docentes criaram já o hábito de se encontrarem em determinado horário, com bastante regularidade, para praticarem atividade desportiva, fora do recinto escolar. É um grupo muito aberto e, pelo que consta, a conquistar novos adeptos todos os dias.

Parece-me que a escola poderá aproveitar esta predisposição e desencadear algumas iniciativas neste sentido. No entanto, não há enquadramento legal para, por exemplo, alocar horas da componente não letiva a este tipo de atividade… (§ 127 a 142).

Como remate, num sentimento positivo do devir, ficam as palavras de Joaquim Escola – uma certeza de que os docentes saberão enfrentar mais este desafio recorrendo à prática de Atividade Física como uma estratégia positiva para suplantar as adversidades e aumentar a sua Qualidade de Vida: “As várias crises da educação recordam exatamente a capacidade que os educadores tiveram para lidar com a mudança”. (Escola, 2005, p. 353).

REFERÊNCIAS