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O objectivo proposto na introdução deste estudo era o de verificar o impacto das recentes crises económico-financeiras no financiamento bancário concedido às PME, direccionando- se o exame para o sector da construção, sempre que a informação disponível assim o permitisse.

A análise efectuada aos dados obtidos permitiu concluir que a restritividade imposta, desde o final de 2008, nos mercados internacionais de dívida por grosso, provocou grandes dificuldades no financiamento do sector bancário português, que acabou por reflectir essas limitações no financiamento às PME, através de maiores restrições ao crédito e de um processo de análise mais criterioso. Naturalmente, as dificuldades na obtenção de financiamento bancário foram sentidas, em primeira instância, pelas empresas e sectores de actividade mais fragilizados.

Para além de resultar numa quebra dos indicadores de confiança, a crise tem também um impacto visível nos indicadores económicos apresentados pelas PME. Constatou-se que as empresas de menor dimensão tiveram necessidade de dispensar colaboradores, tendo o número médio de funcionários das PME diminuído. De igual modo, verificaram-se quebras no volume de negócios, margem bruta e resultado líquido do exercício e aumentos nos prazos médios de pagamentos e recebimentos, sobretudo desde o ano de 2008, e com uma maior incidência no sector da construção, quando comparado com a média de todos os sectores.

Paralelamente, a análise efectuada permitiu ainda confirmar a existência de um incremento nos spreads praticados pelo sector bancário, tendo a variação sido mais pronunciada no ano de 2009, um agravamento dos indicadores de sinistralidade da carteira de crédito concedido a PME, bem como um aumento do número de insolvências.

As respostas aos questionários remetidos a bancos e instituições financeiras de crédito permitiram, na sua maioria, confirmar as conclusões obtidas na tese e, ao mesmo tempo, reforçar as ideias vertidas no estudo com as opiniões das instituições de crédito.

69 As instituições de crédito participantes, quando questionadas sobre um eventual reforço do financiamento às PME, diferenciaram claramente o sector da construção das PME em geral, devido, nomeadamente, ao risco sectorial acrescido e ao elevado número de produto final disponível. Os aumentos verificados no crédito vencido e no número de insolvências das empresas do sector da construção fortaleceram a ideia transmitida pelas instituições.

A diferenciação foi também visível nas políticas de risco de crédito praticadas pelas instituições. As respostas obtidas foram no sentido das políticas afectas às PME serem, em termos gerais, moderadas mas restritivas se aplicadas ao sector da construção.

Da análise efectuada aos questionários, foi ainda possível confirmar que as dificuldades sentidas pelas instituições de crédito no acesso aos mercados internacionais de dívida se reflectiram nas condições exigidas aos clientes, tendo-se verificado um agravamento generalizado dos spreads praticados, bem como um reforço dos colaterais exigidos às empresas do sector da construção.

No que se refere à elaboração de um modelo estatístico que permitisse verificar em que medida o contributo do crédito bancário para o financiamento da actividade das PME do sector da construção era significativamente influenciado por um conjunto de indicadores e rácios económico-financeiros, salienta-se que o modelo elaborado apresentou uma abordagem diferenciada dos restantes trabalhos na área da estrutura de capital, na medida em que se focou apenas no financiamento bancário e não na repartição entre capital alheio e capitais próprios, para além de ter sido direccionado, em exclusivo, para as PME do sector da construção.

De acordo com o modelo de regressão linear múltipla produzido, foram consideradas como variáveis independentes estatisticamente significativas, a estrutura de endividamento de curto prazo, os rácios de liquidez geral e reduzida, os prazos médios de recebimentos e pagamentos, bem como a composição do activo e os outros benefícios fiscais obtidos pela empresa, sendo que os dois últimos indicadores já haviam sido considerados em anteriores investigações sobre estrutura de capital. Apesar de apresentar uma relevância menor, foi ainda incluída a cobertura do serviço da dívida. Adicionalmente, na análise ao modelo foi

70 possível concluir que, quando se procedeu à segregação dos dados ano a ano, as principais variáveis explicativas se revelaram resistentes aos impactos da crise financeira.

No que se refere às limitações sentidas na elaboração do presente estudo, considera-se que, não obstante a percentagem de respostas obtidas ao questionário remetido a bancos e instituições de crédito se encontrar em linha com outras investigações na área financeira, uma cobertura superior a 23% teria garantido uma maior representatividade das opiniões do sector bancário.

De igual modo, salienta-se o facto dos dados utilizados na análise empírica reflectirem um desfasamento temporal face à conclusão da tese de, aproximadamente, meio ano, no caso do questionário e de praticamente dois anos, no caso do modelo estatístico. Paralelamente, na análise efectuada aos indicadores financeiros da média das PME em geral e das PME do sector da construção, foram utilizados dados relativos ao final do exercício de 2009. Tendo em consideração a velocidade com que, recentemente, têm surgido novos acontecimentos na sociedade portuguesa, sobretudo, relacionados com a crise da dívida soberana, pode-se considerar o referido desfasamento temporal como um constrangimento importante.

Atendendo ao coeficiente de determinação ajustado obtido pelo modelo, de cerca de 42%, considera-se que existirão outros factores com poder explicativo significativo que não terão sido considerados na presente investigação e que poderão ser utilizados em futuros trabalhos, designadamente, os indicadores macro-económicos, a idade das empresas ou factores qualitativos, mais relacionados com a própria estratégia da empresa.

Para uma conclusão mais aprofundada sobre os indicadores financeiros que justificam o financiamento do universo das PME portuguesas, o modelo poderá ser, igualmente, transposto para um conjunto mais alargado de sectores de actividade.

De igual modo, considera-se que a realização de uma análise comparativa entre as políticas de financiamento das PME e grandes empresas, bem como entre o impacto das crises económico-financeiras nas respectivas actividades constituiria uma ideia interessante para um trabalho futuro sobre a matéria em análise.

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