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No final deste percurso dedicado à investigação sobre a transmissão intergeracional do bordado de Viana do Castelo, é chegado o momento dedicado às conclusões e reflexões que podemos obter, tendo por base o trabalho desenvolvido.

Ao realizar esta investigação, tentei entender se existe transmissão intergeracional e como esta se processa, tendo plena consciência de que é importante cuidar das memórias de um povo. Assim, com esta investigação pretendi dinamizar um pouco das memórias, que com certeza estão a ser esquecidas ou até mesmo desvalorizadas, não lhes sendo dada a importância que estas merecem. Pois estas, certamente que perduram na memória das pessoas mais idosas que tiveram a oportunidade de experimentar as particularidades de algumas tradições da sua terra, neste caso especial, os Bordados de Viana do Castelo.

Foi, pois, a pensar nisso e indo à procura destas memórias através das gerações mais velhas, que pensei numa investigação que invadisse o espaço e a comunidade do meio envolvente, com a intenção de transmitir às gerações mais novas, para que o respeito pela nossa história não se perca, bem como todos aqueles saberes que foram tecidos ao longo dos tempos.

Porém, refiro com enorme prazer e satisfação, que as crianças se mostraram verdadeiramente ativas nesta investigação, sendo-lhes proposto que se disponibilizassem a ser sujeitos do estudo. Assim, o papel por elas desempenhado, tal como eu pretendia desde início, mostrou-me que este estudo “dependeu” das ações, vontades e também opiniões das crianças. Com isto, posso dizer que todas as crianças, para além de participantes deste estudo, são consideradas “investigadoras”, tanto por aquilo que juntamente comigo investigaram, como também naquilo que aprenderam através das suas interações. Como exemplo da atividade em que estivemos envolvidos com a Avó Olívia, que nos transmitiu conhecimentos diversos, sobre a execução dos bordados, para além do importantíssimo relacionamento entre crianças e adultos.

Embora consciente, de que quando se trata de investigar com crianças, e neste caso concreto de baixo nível etário, se manifestam diversas questões sobre isto, pois estas têm formas de comunicação e conhecimento do mundo muito distantes das dos adultos, mas talvez seja isto uma riqueza, pois devemos permitir que as crianças

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“tenham voz e sejam ainda ouvidas”. Daqui nasceu a minha preocupação em envolver fortemente estas crianças com o meio que as acolhe e a comunidade com quem elas desenvolvem laços de afetividade, pois não é somente na escola que as crianças aprendem e adquirem conhecimento acerca do mundo que as rodeia. E como nos diz, (Fraulkner e Miell), “as crianças trabalham melhor com quem lhes é mais familiar e

ainda melhor quando fazem par com o seu melhor amigo e não tanto quando se trata de um simples conhecido”. (cit in ARAÚJO, 2006:144).

A problemática que está subjacente a este trabalho de investigação, é sem dúvida um aspeto que me preocupa. Assim, a grande preocupação ao longo deste estudo foi sem dúvida a de investigar se existe transmissão intergeracional da tradição dos bordados de Viana do Castelo, e como se processa. Contudo, tive ainda curiosidade em saber se seria a família o elemento fundamental, para que acontecesse tal transmissão. No entanto considero ter dado resposta a esta problemática com que me deparei inicialmente. Para além disso, todas as atividades desenvolvidas durante este processo de investigação, foram pensadas e planeadas com atenção e empenho, para que tudo decorresse dentro do melhor, proporcionando às crianças momentos de aprendizagem e conhecimento mútuo.

É importante referir aquele que foi o meu papel durante este estudo, o de educadora- investigadora. Como é fácil de imaginar, este papel nem sempre foi fácil de desempenhar, pois ter que conciliar as duas ações, tornou-se um pouco difícil em certas situações, na medida em que era exigida concentração por parte da observação e não esquecendo que tinha de manter-me envolvida no processo, nunca esquecendo os objetivos do estudo. Da mesma forma que, gerir o tempo de implementação, gerir o grupo e atividade em si, também não foi propriamente fácil, o que exigiu bastante ritmo, responsabilidade e controlo próprio.

Contudo, sinto que esta investigação teve um certo impacto, tanto nas crianças, como na comunidade envolvente, constituindo assim uma oportunidade para proporcionar melhoria no contexto deste prática pedagógica. Percebi que, anteriormente a esta investigação, não havia um relacionamento muito forte entre escola-família, e que isto se devia a uma falha talvez por parte da escola, pois não havia uma lacuna a nível de comunicação por parte da educadora. Pois, tanto na receção como na entrega das crianças ao final do dia, não aconteciam momentos de

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diálogo entre pais e educadora, ou até mesmo nós estagiárias e a própria auxiliar, os pais pareciam-me muito distantes da Educadora. O que para mim era um momento de desconforto, pois não era essa a ideia que eu tinha deste contacto entre os responsáveis pela educação das crianças.

Com isto, penso que a lacuna seria da responsabilidade da própria educadora, pois quando solicitei os pais para a participação neste estudo todos os familiares se mostraram bastante interessados e participativos. Mostrando uma certa admiração por tal acontecimento.

Para além destas melhorias no contexto onde decorreu a investigação, também senti melhorias em mim, enquanto futura profissional de educação, responsável por organizar, gerir, dinamizar e promover interações significativas para as crianças, à semelhança desta que ocorreu. Considero ainda importante esta investigação, na medida em que contribuiu para o aprofundamento dos meus conhecimentos e competências no âmbito da investigação-ação, que esteve centrada num tema da área do conhecimento do mundo, mais especificamente o meio social. Fico ainda satisfeita por ter desenvolvido um estudo que se debruçou numa das áreas conteúdo que era um pouco esquecida no contexto escolar em que me envolvi.

Independentemente, dos resultados obtidos, penso que este desafio proporcionado às crianças tenha sido válido, tendo em conta o contributo ofertado às crianças, ao nível da dinamização pelo interesse em cultivar as tradições, mais especificamente, manter viva a tradição dos bordados de Viana do Castelo.

Para além disso, foi minha preocupação que as crianças adquirissem conhecimento do seu meio envolvente, promovendo assim a importância de cultivar as tradições e para tal promover as trocas entre gerações.

Apesar de tudo, não considero este trabalho acabado, ou seja, muitas mais coisas poderiam ser desenvolvidas dentro deste âmbito, atrevo-me até a dizer, que se permanecesse neste contexto por mais tempo, talvez viesse a organizar um ateliê dedicado à arte de bordar. Para tal seria necessário ter a participação de pessoas do meio envolvente, que se disponibilizassem para apoiar e encaminhar as crianças, na execução de bordados, transmitindo-lhes os seus conhecimentos e práticas da arte de bordar.

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Como futura educadora, tenho plena consciência da importância deste tema e da área de conteúdo onde ela é incluída, o que me deixa desconfortável quando penso que muitos profissionais não valorizam este tipo de atividades, não refletindo sobre a importância que tem a área do conhecimento do mundo no desenvolvimento e crescimento pessoal de qualquer criança em EPE.

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